ESTRESSE E BURNOUT NOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE

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Transcrição:

25 a 28 de Outubro de 2011 ISBN 978-85-8084-055-1 ESTRESSE E BURNOUT NOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE Solange Franci Raimundo Yaegashi 1 ; Ana Maria Teresa Benevides Pereira 2 ; Luciana Maria Caetano 3 RESUMO: O presente estudo teve como objetivo investigar os níveis de estresse e burnout em 499 professores do ensino público fundamental de 25 cidades paranaenses. Para a realização do estudo, foram utilizados os seguintes instrumentos: 1) Questionário sócio-demográfico para caracterização da amostra; 2) ISE Inventário de Sintomatologia de Estresse; e 3) MBI (Maslach Burnout Inventory). Os resultados do estudo revelam que os professores da amostra possuem não só sintomas de estresse, mas também de burnout. Isso evidencia a necessidade de uma melhor qualidade laboral para estes docentes, uma vez que o estresse e o burnout interferem de forma significativa na relação professor-aluno e, conseqüentemente, no processo de aprendizagem. Chegou-se à conclusão que os professores que apresentam um quadro instalado de estresse e/ou burnout faltam com mais frequência ao trabalho, afastam-se para licenças médicas em virtude de inúmeras doenças que desenvolvem e demonstram sofrimento psíquico por não conseguirem lidar com as demandas do meio. PALAVRAS-CHAVE: Estresse; Burnout; Prática Docente. 1 INTRODUÇÃO Todas as pessoas, independentemente do sexo e idade podem desenvolver o estresse. Entretanto uma das variáveis que tem merecido destaque nos estudos realizados nas duas últimas décadas é a profissão, uma vez que as características do trabalho são decisivas para o adoecimento psíquico e físico (YAEGASHI, 2008; YAEGASHI; BENEVIDES-PEREIRA; ALVES, 2009; CANOVA; PORTO, 2010). Segundo Lazarus e Folkman (1984), o estresse se dá quando a avaliação sobre um determinado evento ou situação indica que não existem recursos suficientes para o enfrentamento. No estresse há um rompimento do equilíbrio interno homeostase -, sendo que o organismo, através de uma série de mecanismos, tenta recuperar o equilíbrio perdido. O processo de estresse possui três etapas: a) alarme, quando o agente estressor é percebido, ativando de forma intensa o organismo para seu enfrentamento; b) resistência, em que há uma adaptação em função da ameaça sentida; c) e de 1 Docente do Curso de Pedagogia. Departamento Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá - UEM. e-mail: sfryaegashi@uem.br 2 Docente do Mestrado em Educação para a Ciência e o Ensino de Matemática da Universidade Estadual de Maringá - UEM. e-mail: anamariabenevides@hotmail.com 3 Docente do Curso de Pedagogia. Departamento Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá - UEM. e-mail: luma.caetano@uol.com.br

esgotamento, quando o organismo, após o emprego das estratégias possíveis, se desgasta, vindo muitas vezes a sucumbir. Desta forma, a pessoa começa a apresentar uma série de sintomas psicossomáticos que se intensificam, caso este estado perdure, podendo acarretar problemas sérios, até mesmo a morte. O estresse característico do ambiente de trabalho é denominado estresse ocupacional. Quando ocorre a cronificação do estresse ocupacional, como resposta e forma, mesmo que inadequada de enfretamento, pode vir a ocorrer o que tem sido designado como síndrome de burnout. Para Harrison (1999), o Burnout é o resultado do estresse crônico que é típico do ambiente de trabalho, principalmente quando neste estão presentes situações de excessiva pressão, conflitos, poucas recompensas emocionais e pouco reconhecimento. Além disso, inúmeras pesquisas têm apontado que os profissionais que trabalham diretamente com outras pessoas, assistindo-as, ou como responsáveis pelo seu desenvolvimento e bem-estar, encontram-se mais susceptíveis ao desenvolvimento do Burnout. Dentre estes profissionais destacam-se os profissionais da saúde e os educadores (YAEGASHI, 2009). Segundo Malasch, Schaufeli e Leiter (2001), o Burnout é considerado um fenômeno psicossocial constituído por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e sentimento de baixa realização profissional. Benevides-Pereira (2002) ressalta que a Síndrome de Burnout tem sido considerada um problema social de extrema relevância, pois se encontra vinculada a grandes custos organizacionais, devido à rotatividade pessoal, absenteísmo, problemas de produtividade e qualidade e também por encontrar-se associada a vários tipos de disfunções pessoais. Segundo essa autora, na literatura pode-se encontrar uma lista bastante extensa de diversos sintomas associados ao Burnout, sendo os mesmos subdivididos em físicos, psíquicos, comportamentais e defensivos. Uma pessoa com a Síndrome de Burnout não necessariamente apresenta todos estes sintomas. Segundo Benevides-Pereira (2002), o grau, o tipo e o número de manifestações apresentadas dependerá da configuração de fatores individuais (como predisposição genética, experiências socioeducacionais), fatores ambientais (locais de trabalho ou cidades com maior incidência de poluição, por exemplo) e da etapa em que a pessoa se encontra no processo de desenvolvimento da Síndrome. A intensidade, a freqüência, bem como a concomitância de agentes estressores também influenciam, podendo acelerar e/ou agravar os transtornos. No que se refere ao trabalho docente, inúmeros estudos têm demonstrado que os índices de rotatividade de pessoal, absenteísmo e licenças médicas entre docentes de diferentes níveis de ensino têm aumentado significativamente nas últimas décadas (YAEGASHI; BENEVIDES-PEREIRA, 2010), o que justifica a necessidade de investigarmos quais as variáveis que afetam a saúde física e mental destes profissionais. Neste sentido, o objetivo o presente estudo é investigar os níveis de estresse e burnout em 499 professores do ensino público fundamental de 25 cidades paranaenses. 2 MATERIAL E MÉTODOS Participaram da pesquisa 499 professores do ensino fundamental provenientes de 25 municípios do Estado do Paraná. Para a coleta dos dados foram utilizados os seguintes instrumentos: Questionário sóciodemográfico e profissional; b) ISE Inventário de Sintomatologia de Estresse; c) MBI - Maslach Burnout Inventory; e d) Termo de Esclarecimento e Compromisso, conforme o disposto pela Resolução nº169/1996. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados referentes ao Inventário de Sintomatologia de Estresse - ISE, média, desvio-padrão, valor mínimo e máximo para cada um dos fatores, apresentados pelo grupo, podem ser observados na Tabela 1. Tabela 1: Médias, desvios padrão, valores mínimo e máximo dos fatores do ISE Dimensões Média DP Mínimo Máximo SP 29,04 13,00 0,00 67,00 SF 9,35 4,91 0,00 31,00 ISE 38,38 16,59 0,00 93,00 SP= sintomatologia psicológica; SF= sintomatologia física; ISE= Sintomatologia de Estresse. Observa-se que os docentes deste grupo revelaram sintomas de estresse predominantemente de ordem psicológica acima da média (SP, M=29,04), bem como os físicos (SF, M=9,35), refletindo sintomatologia geral de estresse elevada (ISE, M=38,38). Considerando que o número de itens de SP é muito maior do que o de SF, para que houvesse a possibilidade de comparação entre os fatores, as médias obtidas foram divididas pelo número de itens de cada fator para obter as médias ponderadas. Nota-se que o resultado de SP preponderou sobre o de SF (Figura 1), ou seja, a sintomatologia psicológica predominou significativamente sobre a física no grupo estudado (t= 4,55; p= 0,000). 1,5 1,45 1,452 SP SF 1,4 1,3353 1,35 1,3 1,25 Média Figura 1: Médias ponderadas dos fatores do ISE SP= sintomatologia psicológica; SF= sintomatologia física. Quanto aos resultados relativos ao Maslach Burnout Inventory - MBI, 44,8% dos participantes (N=47) afirmaram que podiam entender com facilidade o que sentem seus alunos todos os dias, enquanto que 14,3% (N=15) se davam conta que trabalhar todos os dias com pessoas lhes exigia um grande esforço, mas 44,8% (N=47) consideravam que conseguiam lidar de forma eficaz com os problemas dos alunos e 35,2 (N=37) acreditavam influenciar positivamente a vida de outros através do seu trabalho. No entanto, 21,9% (N=23) dos respondentes relataram sentir diariamente que seus alunos os culpavam por alguns de seus problemas. Os padrões considerados para a análise foram os encontrados por Benevides-Pereira (2002). Para que houvesse uma melhor comparação dos dados, os valores de cada dimensão foram divididos pelo número de itens. No caso da dimensão de realização pessoal, para que a comparação fosse realizada segundo o que se leva em consideração na atribuição da síndrome, foi aferida a reduzida realização pessoal no trabalho invertendo-se os valores atribuídos pelos respondentes. O resultado segue expresso na Figura 2.

3 2,5 2,75 1,62 EE DE rrp 2 1,13 1,5 1 0,5 0 Figura 2: Médias ponderadas das dimensões do MBI EE=exaustão emocional; DE=desumanização; rrp=reduzida realização pessoal. Como pode ser notado, o fator que mais se salientou entre os demais foi exaustão emocional (M=2,75), seguido pela reduzida realização pessoal nas atividades docentes (M=1,62). Desumanização foi o fator menos proeminente entre os três (M=1,13). 4 CONCLUSÃO O presente estudo teve como objetivo investigar os níveis de estresse e burnout em professores do ensino fundamental que compõem o quadro docente da rede estadual de ensino de diversas cidades paranaenses. Os resultados encontrados no ISE (Inventário de Sintomatologia de Estresse) revelaram que os professores que participaram da pesquisa apresentaram uma sintomatologia geral de estresse elevada, o que coincide com os estudos realizados por outros pesquisadores (YAEGASHI; BENEVIDES-PEREIRA, 2010; LIPP, 2006). Além disso, verificou-se que a sintomatologia psicológica se mostrou um preditor significativo para exaustão emocional. No que se refere ao burnout, por meio dos resultados encontrados no MBI (Maslach Burnout Inventory), verificou-se que a exaustão emocional foi o fator que mais se salientou entre os demais (reduzida realização profissional e despersonalização). Tais dados também foram encontrados em outros estudos realizados no Brasil (GOMES; BRITO, 2006; REIS et al., 2006). Vale ressaltar, que 12,24% (N=62) dos participantes da amostra já apresentavam um quadro de burnout, segundo os critérios de Malasch, Jackson e Leiter (1986), ou seja, apresentaram valores acima da média para exaustão emocional e desumanização, bem como abaixo da média em realização profissional. De acordo com Lipp (2006), a profissão e o trabalho irão determinar grande parte de nossas vidas. Portanto, o trabalho satisfatório determina prazer, alegria e saúde. Contudo, quando o trabalho é desprovido de significação, não é reconhecido ou é fonte de ameaças à integridade física e/ou psíquica, acaba gerando sofrimento no trabalhador. No caso específico do professor, vários autores apontam uma série de eventos que podem ser causadores do estresse, tais como: falta de reconhecimento, falta de respeito dos alunos, dos governantes e sociedade em geral, falta de remuneração adequada, sobrecarga de trabalho, conflito de papéis, baixa participação direta na gestão e planejamento do trabalho, exigência de muito envolvimento com o aluno, inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais em classes de ensino regular, dentre outros (YAEGASHI; BENEVIDES-PEREIRA; ALVES, 2009) Tudo isso pode levar o professor à insatisfação, desestímulo e à falta de perspectiva de crescimento, chegando inclusive a desenvolver a Síndrome de Burnout. Neste sentido, é de suma importância que seja propiciada uma melhor qualidade laboral para estes docentes, uma vez que o

estresse e o burnout interferem de forma significativa na relação professor-aluno e, conseqüentemente, no processo de aprendizagem. REFERÊNCIAS BENEVIDES-PEREIRA, A.M.T. (org.). Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. CANOVA, C.R; PORTO, J.B. O impacto dos valores organizacionais no estresse ocupacional: um estudo com professores do ensino médio. Revista de Administração Mackenzie, 1(5), 4-31, 2010. GOMES, L.;BRITO, J. Desafios e possibilidades ao trabalho docente e a sua relação com a saúde. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 6, n 1, p.24-46, 2006. HARRISON, B. J. Are you to burn out? Fund Raising Management, 30 (3), 25-28, 1999. LAZARUS, R.S.; FOLKMAN, S. Stress, appraisal and coping. Nova York: Springer, 1984. LIPP, M.N. O stress do professor. Campinas: Papirus, 2006. MASLACH, C.; JACKSON, S. E.; LEITER, M. P. Maslach Burnout Inventory Manual. Palo Alto, C.A: Consulting Psychologist Press, 1996. MASLACH, C.; SCHAUFELI, W.B.; LEITER, M. P. Job burnout. Annual Review of Psychology. v.52, p.397-422, 2001. REIS, E. J. F. B; ARAÚJO, T. M.; CARVALHO, F. M.; BARBALHO, L.; SILVA, M. O. Docência e exaustão emocional. Educação & Sociedade, v. 27, n. 94, p.229-253, 2006. YAEGASHI, S. F. R. Estresse e síndrome de Burnout: uma reflexão sobre os desafios do trabalho docente. In: Rodrigues, E.; Rosin, S. M. (Org.). Pesquisa em Educação: a diversidade do campo. Curitiba: Instituto Memória / Juruá Editora, 2008, p. 179-192. YAEGASHI, S. F. R. Profissão Docente e Qualidade de Vida: o estresse e a síndrome de burnout no contexto escolar. In: Rodrigues, E.; Rosin, S. M.. (Org.). Pedagogia 35 anos: história e Memória. 1 ed. Curitiba: Instituto Memória, 2009, p. 245-263. YAEGASHI, S. F. R.; BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T.; ALVES, I. C. B. A Síndrome de Burnout e a Docência no Ensino Fundamental. In: Marquezine, M. C.; Manzini, E. J.; Busto, R.M.; Tanaka, E. D.O; Fijisawa, D. S. (Org.). Políticas Públicas e Formação de Recursos Humanos em Educação Especial. 1ª ed. Londrina: ABPEE, 2009, p. 223-232. YAEGASHI, S. F. R. & BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. Profissão docente, estresse e burnout: a necessidade de um ambiente de trabalho humanizador. In: Chaves,M; Setoguti, R. I; M. Moraes, S.P.G.. (Org.). A formação de professores e intervenções pedagógicas humanizadoras. 1 ed. Curitiba - PR: Instituto Memória, 2010, p. 185-202.