Análise dos fatores desencadeadores da síndrome de burnout em professores da Escola Municipal Antilhon Ribeiro Soares
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- Rodrigo Campos Fagundes
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1 Análise dos fatores desencadeadores da síndrome de burnout em professores da Escola Municipal Antilhon Ribeiro Soares Autora: Vannessa Monteiro Beserra da Silva 1 Orientadora: Naíla Kelly do Nascimento Lima 2 RESUMO O presente trabalho discorre sobre os fatores de caráter pessoal, organizacional ou profissional que trazem consigo o risco de o indivíduo desenvolver a Síndrome de burnout. Trata-se de uma pesquisa descritiva, cujo objetivo é analisar em que medida os fatores desencadeadores de burnout apresentados pelos professores da Escola Municipal Professor Antilhon Ribeiro Soares propiciam a manifestação da síndrome. Buscou-se descrever os principais sintomas fisiológicos e psicológicos decorrentes do exercício da docência. Nesse contexto foram aplicados questionários a 28 professores da Escola Municipal Professor Antilhon Ribeiro Soares, dos quais a maioria é do sexo feminino, graduada e não possui parceiro fixo. Para o tratamento dos dados, utilizou-se metodologia quantitativa, por meio da aplicação de quatro questionários: um estruturado com base no MBI Maslach burnout Inventory, um questionário de sintomas somáticos, outro referente aos fatores organizacionais e o quarto referente aos fatores sócio-demográficos. Os resultados indicaram que as três dimensões do MBI possuem alto nível de burnout. Dentre os fatores organizacionais verificou-se o excesso de trabalho como o mais citado dentre os professores (71%). Quanto aos sintomas somáticos, verificou-se que os mais frequentes entre os professores são: cansaço mental (57%), pouco tempo para si (57%), dificuldades com o sono (43%) e fadiga generalizada (43%) e problemas alérgicos (43%). Após analisados os dados da pesquisa, ficou evidenciado o risco de manifestação de burnout nos docentes da escola pesquisada. Palavras-Chaves: Síndrome de burnout; MBI; professores. 1 Bacharel em Administração Universidade Estadual do Piauí. Pós graduanda em Contabilidade, Auditoria e Controladoria Faculdade Piauiense. rodrigovannessa@hotmail.com 2 Mestre em Administração Universidade Federal do Rio Grande do Norte. naylakelly@hotmail.com
2 2 INTRODUÇÃO As mudanças tecnológicas no processo produtivo possibilitaram o aumento da produtividade e dos lucros, trazendo impactos à saúde do trabalhador, com manifestações físicas e psíquicas. Assim, a educação não ficou isenta às novidades introduzidas no mundo do trabalho. Dessa maneira, estudar problemas como insatisfação profissional, produtividade do trabalho, absenteísmo e algumas doenças ocupacionais podem permitir a proposição de intervenções e busca de soluções. Entre as consequências psíquicas geradas por problemas ocupacionais surgiu a Síndrome de Burnout que é definida por Maslach e Jackson (1981) como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente quando esses estão preocupados ou com problemas. (apud FERENHOF e FERENHOF,2002) Trata-se de um fenômeno relacionado diretamente à situação laboral que afeta os profissionais e suas relações de trabalho, acarretando desânimo e desmotivação e podendo culminar em doenças psicossomáticas. Devido à relação entre burnout e profissionais que lidam diretamente com pessoas, a maioria dos autores considera áreas assistenciais como medicina, enfermagem, psicologia e educação, as de maior predisposição à síndrome. No Brasil, Codo (1999), em seu livro Educação: carinho e trabalho, relata o resultado de uma pesquisa feita com 52 mil professores de escolas públicas de 27 Estados da Federação e conclui que 48% manifestam algum sintoma de burnout. (CARVALHO, 2002) Diante dessa alarmante estatística e da deficiência de estudos sobre a síndrome percebeu-se a importância de conhecer diagnósticos e mecanismos de prevenção de burnout em professores. Todos que frequentam ou já frequentaram uma escola podem ter na memória a imagem de um professor desanimado, que parece não perceber a importância do seu trabalho na formação dos alunos. Ao ver isso os estudantes estão cada vez menos interessados nessa profissão. Esse fato se tornou uma preocupação nacional. Recentemente o Governo Federal, junto ao Ministério da educação MEC, lançou uma campanha publicitária na qual fez o apelo: Seja um professor!. Essa atitude do governo é devido ao decrescente número de interessados no magistério.
3 3 Dados do Sindicato dos trabalhadores em Educação Básica Pública - SINTE revelam que em muitas faculdades brasileiras sobram vagas nas áreas de licenciatura e pedagogia. No Piauí, em 2009 faltaram professores em alguns municípios por falta de inscritos nos concursos públicos. Isso ocorre pela falta de incentivos aos educadores, o que resulta, além da não renovação do quadro de professores da rede pública de ensino, na insatisfação dos que ali trabalham, tornando a atividade ineficaz, conduzindo ao agravamento da saúde psicossocial dos docentes e consequentemente refletindo no cotidiano escolar. A falta de interesse em ser professor ocorre principalmente em razão dos baixos salários e a pouca valorização social da carreira. (...) Outro fator que desestimula a carreira do magistério é a violência nas escolas. (...) Para motivar os jovens que estão ingressando no ensino superior a seguir a carreira do magistério, enfrentar a sala de aula, ter orgulho da profissão que escolheu é necessário proporcionar salário justo e condições de trabalho adequadas. (SINTE PI, em 10/02/2009) Desse modo a pesquisa apresenta como tema: Análise dos fatores desencadeadores da síndrome de Burnout em professores da Escola Municipal Professor Antilhon Ribeiro Soares e busca através de estudos bibliográficos e de um estudo de caso do assunto mencionado discorrer sobre Em que medida os fatores desencadeadores de burnout apresentados pelos professores da Escola Municipal Professor Antilhon Ribeiro Soares propiciam a manifestação da síndrome? Os vários tipos de doenças psicossociais que podem ser desencadeados possuem sintomas semelhantes, o que dificulta o diagnostico de burnout, uma vez que esta ainda é uma síndrome pouco conhecida, sendo essa uma das razões que apontam a necessidade da realização de estudos sobre o tema a ser abordado. A importância desse tema justifica-se no fato de que a presença de um quadro sintomático da síndrome de burnout em professores é extremamente preocupante, uma vez que afeta significativamente a prática docente e, portanto, a qualidade da educação. A Escola Municipal Professor Antilhon Ribeiro Soares foi escolhida como campo de estudo dessa pesquisa pelo fácil acesso e por se tratar de uma escola de Ensino Fundamental Maior, cujo corpo discente é composto em cerca de 75% por adolescentes com idades entre 11 e 17 anos, fase considerada problemática. Tudo isso tem efeitos diretos na sala de aula: o professor passa a ver os estudantes apenas de forma negativa e não se importa mais em entendê-los. As conseqüências são piores no Ensino Fundamental, quando o aprendizado dos alunos depende mais do professor. (JORNAL HOJE, 17/06/2008).
4 4 Buscando relacionar os conteúdos bibliográficos já publicados, e observando a importância do estudo da síndrome de burnout para elucidar professores quanto às suas causas, consequências e formas de tratamento, decidiu-se desenvolver um estudo de caso na Escola Municipal Professor Antilhon Ribeiro Soares a fim de conhecer na prática a situação na qual se encontram os professores de Ensino Fundamental Maior em Escola Pública. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Inicialmente foi realizado um contato com a direção da instituição de ensino, quando foi apresentado o objetivo do estudo a fim de obter a autorização para a aplicação do instrumento. Os questionários foram, então, aplicados na sala dos professores nos horários de intervalo, quando os docentes se retiravam de sala de aula e se reuniam neste ambiente. Várias foram as limitações para realização desta pesquisa, uma vez que as aulas dos professores são em dias e horários alternados, não sendo possível encontrar todos eles em uma única visita. Outro fator que dificultou o trabalho da pesquisadora foi o fato de alguns professores levarem os questionários para serem preenchidos em casa não os devolvendo. Além disso, alguns professores não quiseram responder e outros mostraram desinteresse, deixando de responder algumas partes do questionário. Essas limitações resultaram na impossibilidade de se obter uma amostra semelhante à população estudada, sendo que somente 88% dos professores se habilitaram espontaneamente a responderem os questionários. Os protocolos respondidos foram digitados em planilha (Microsoft Excel) para estruturação de tabelas, com a finalidade de estudar as variáveis estabelecidas para a pesquisa, em função das características sócio-demográficas, dos resultados obtidos nas dimensões que compõem a síndrome de burnout, dos fatores organizacionais identificados como preditores de burnout e da sintomatologia física percebida pelos profissionais. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA A população de interesse é formada por 32 docentes lotados na Escola Municipal Professor Antilhon Ribeiro Soares. A amostra, composta de 28 professores, que participaram espontaneamente respondendo aos instrumentos de pesquisa, corresponde a
5 5 88% da população de interesse (32 professores). Essa amostra, que não é intencional, ocorreu devido ao desinteresse de alguns professores em responderem aos questionários. Entre os docentes que participaram da pesquisa, o gênero que predominou foi o sexo feminino, havendo predomínio de docentes com faixa etária acima de 40 anos. Já em relação ao estado civil, 57% responderam que não tem companheiro fixo e o mesmo percentual afirma ter entre 1 e 3 filhos. Vale ressaltar que 14% dos participantes não responderam a essas duas questões. Existem 36% desses docentes que além de lecionarem em turmas de Ensino Fundamental Maior também trabalham com estudantes de Ensino Médio. E a maioria dos alunos desses professores tem idade entre 13 e 15 anos. Segundo Benevides-Pereira (2002), há maior incidência de burnout em profissionais que ingressam no mercado de trabalho, ou seja, profissionais com tempo após o término da graduação no período de 1 a 5 anos, provavelmente devido à pouca experiência na profissão e/ou na organização. Nas condições apresentadas na tabela 01, os profissionais desta instituição de ensino não possuem grandes tendências ao aparecimento de burnout, já que 57% possui mais de 20 anos de profissão e a maioria leciona na E. M. Professor Antilhon Ribeiro Soares há mais de 05 anos. A qualificação dos professores participantes da pesquisa é, em sua maioria, a mínima exigida (graduação), sendo que 43% possuem especialização, além disso, nenhum dos professores que respondeu aos questionários concluiu sua graduação a menos de 10 anos, configurando um ponto positivo quanto à propensão ao burnout uma vez que a falta de experiência é assinalada como impulsionadora aos problemas de trabalho. Com relação ao nível de atualização, 16 respondentes afirmaram que passaram por cursos de reciclagem nos últimos 4 anos. Outro fator de grande relevância nesta pesquisa diz respeito à quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho, neste item as respostas variaram entre 40 e 60 horas, indicando uma média diária de 10 horas, acima das oito horas previstas na Lei Trabalhista. De acordo com os professores, essa carga horária deve-se ao fato de que seu trabalho em sala de aula exige preparação e planejamento, além da necessidade de correção de provas e exercícios, o que, segundo eles, muitas vezes torna o trabalho fora da sala de aula muito longo. Quanto às atividades realizadas no tempo livre, a maioria (43%) afirma priorizar a leitura.
6 6 Dentre os respondentes, todos são concursados efetivos, fato que garante estabilidade no emprego, além disso, cerca de 60% dos professores praticam alguma atividade física e não pensam em mudar de profissão. Quanto ao período de tempo desde as últimas férias, somente 7% dos respondentes não têm descanso a mais de 12 meses. As respostas a essas questões podem significar que os professores desta escola mostram-se satisfeitos com seus empregos, no entanto, para uma análise exata dos fatos é imprescindível a observância dos demais questionários aplicados. TEMPO DE DOCÊNCIA TEMPO DE DOCÊNCIA NA INSTITUIÇÃO DE ENSINO ESTUDADA TITULAÇÃO SEXO RELACIONAMENTO PESSOAL FONTE: Dados da pesquisa TABELA 01 DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS VARIÁVEIS PORCENTAGEM MENOS DE 5 ANOS 0% ENTRE 5 E 10 ANOS 14% ENTRE 11 E 20 ANOS 29% MAIS DE 20 ANOS 57% MENOS DE 5 ANOS 14% ENTRE 5 E 10 ANOS 43% ENTRE 11 E 20 ANOS 29% MAIS DE 20 ANOS 14% GRADUAÇÃO 57% ESPECIALIZAÇÃO 43% FEMININO 57% MASCULINO 43% COM PARCEIRO FIXO 29% SEM PARCEIRO FIXO 57% NÃO RESPONDERAM 14% Além do questionário sócio-demográfico utilizou-se a versão atual do MBI que é formada por 22 itens sob a forma de Likert (sob a forma de afirmações), a cada um destes itens são atribuídos graus de intensidade que vão desde: 1 (nunca), 2 (algumas vezes por ano), 3 (uma vez por mês), 4 (algumas vezes por mês), 5 (uma vez por semana), 6 (algumas vezes por semanas) e 7 (todos os dias). É composto por três sub-escalas: exaustão emocional, despersonalização e realização pessoal ou envolvimento pessoal. Estas sub-escalas avaliam prováveis manifestações de burnout onde a exaustão emocional é composta por 9 questões (1, 2, 3, 6, 8, 13, 14, 16, e 20) que traduzem sentimentos de se estar emocionalmente exausto e esgotado com o trabalho; a despersonalização, formada por 5 itens (5, 10, 11, 15 e 22) que descrevem respostas
7 7 impessoais; e por último a realização pessoal, que é constituída por 8 questões (4, 7, 9, 12, 17, 18, 19 e 21), que descrevem sentimentos ao nível da capacidade e sucessos alcançados no trabalho, esta última está inversamente correlacionada com o síndrome. Assim, os resultados do MBI, em suas dimensões EE, DE e EP permitem a identificação da incidência de burnout nos sujeitos pesquisados utilizando como princípio a obtenção de classificação alta para as dimensões EE e DE e baixa para a dimensão EP. No caso da exaustão emocional é considerado um nível de burnout elevado quando existem valores acima dos 27 pontos, entre 19 e 26 é indicador de níveis médios e abaixo de 19 corresponde a níveis de burnout baixos. Quanto à despersonalização, as pontuações superiores a 10 são níveis altos, de 6 a 9 são níveis médios e inferior a 6 indica um nível baixo. Por último a realização pessoal funciona opostamente às anteriores, isto é, níveis maiores ou iguais a 40 são considerados baixos, entre 34 e 39, médios e, menor ou igual a 33 é um nível alto de burnout. Por conseguinte, o somatório total das questões que contribuem para a composição de cada fator leva à obtenção dos seguintes valores mínimos e máximos: Exaustão emocional (9-63), Despersonalização (5-35) e Realização Pessoal (8-56). Esse estudo estatístico de sub-escalas é realizado em comparação com os valores revelados no manual norte-americano de Maslach e Jackson (1986), pelo fato de não existirem estudos aferidos à população brasileira. Cabe salientar, no entanto, que não existe um consenso entre os pesquisadores do fenômeno com relação aos valores apresentados nas dimensões e a incidência de burnout, nem em relação à ordem de aparecimento dos sintomas. (S. Cruz, 2007). No que se refere à Exaustão Emocional, a média de cada uma das questões, em uma escala de 0 a 6, encontra-se entre 3,57 e 5,29, indicando que os professores sentem esses sintomas entre algumas vezes no mês e algumas vezes por semana. Esses dados encontram-se elencados na tabela 02. TABELA 02 MÉDIA DAS QUESTÕES EE QUESTÕES EE MÉDIA Q01 Sinto-me esgotado (a) emocionalmente em relação ao meu trabalho 4,71 Q02 Sinto-me cansado ao final de um dia de trabalho 5,00 Q03 Levanto-me cansado e sem disposição para realizar o meu trabalho 4,71 Q06 Trabalhar com pessoas o dia todo me exige um grande esforço. 5,14 Q08 Meu trabalho deixa-me exausto/a. 4,71
8 8 Q13 Sinto-me frustrado/a em meu trabalho. 4,43 Q14 Sinto que estou trabalhando em demasia. 5,29 Q16 Trabalhar diretamente com pessoas causa-me estresse. 3,71 Q20 Sinto que atingi o limite de minhas possibilidades 3,57 TOTAL 41,27 FONTE: Dados da pesquisa, 2010 Na pesquisa realizada foi encontrado um escore referente à Exaustão Emocional igual a 41,27 pontos, conforme a tabela 02. De acordo com os dados já informados, esse escore indica que a maior parte dos respondentes possui um elevado nível de propensão ao burnout, estando entre as médias mínima e máxima reveladas por Maslach e Jackson (apud S. Cruz, 2007) Foi possível perceber que dentre os 28 participantes, 12 sentem-se diariamente esgotados com o trabalho, 8 estão exaustos ao final de todos os dias e algumas vezes por semana 24 professores iniciam o dia sem disposição. Embora 43% dos respondentes tenham pontuado em 6 a frequência com que consideram trabalhar com pessoas uma atividade que exige esforço, nenhum dos pesquisados admite frequência 6 ao fato de o trabalho direto com pessoas ser causador de estresse. Em relação à dimensão Despersonalização o escore encontrado (tabela 3) foi 12 pontos, que por ser superior a 10, indica tal qual a Exaustão Emocional um alto nível de burnout. Essa dimensão revela a perda temporária da capacidade de trabalhar com pessoas, tratando-as com impessoalidade. Na tabela abaixo, percebe-se que mesmo a média das pontuações sendo baixa em relação às médias das questões EE, o nível de burnout é considerado alto, isso se deve ao fato desta dimensão ser a que melhor caracteriza a síndrome de burnout, uma vez que o principal fator causador da síndrome está relacionado ao trabalho constante e direto com pessoas. TABELA 03 MÉDIA DAS QUESTÕES DE QUESTÕES DE MÉDIA Q05 Creio que trato alguns alunos como se fossem objetos impessoais. 1,57 Q10 Q11 Tenho me tornado mais insensível com as pessoas desde que exerço este trabalho. Preocupa-me o fato de que este trabalho esteja-me endurecendo emocionalmente. 2,86 3,57
9 9 Q15 Não me preocupo realmente com o que ocorre com alguns alunos que ensino. Q22 Sinto que alguns alunos culpam-me por alguns de seus problemas. 2,86 TOTAL 12 FONTE: Dados da pesquisa, ,14 Foi possível observar que 12 participantes afirmam nunca tratarem seus alunos com impessoalidade e 57% se preocupam com o que ocorre com seus alunos. A maior parte dos questionados admite que após o início da carreira docente, ao menos uma vez ao mês tem se tornado insensível com as pessoas. Já a preocupação destes em relação a estarem endurecendo emocionalmente devido ao trabalho, é pontuada por 71% com frequência maior que 3. Por ultimo, será analisada a dimensão Envolvimento Profissional EP que, como já foi citado, é inversa às demais porque quanto menor a pontuação, maior será o nível de burnout. Acerca dessa dimensão Lima (2007) ressalta que O agravamento da síndrome ocorre quando a pessoa se sente incompetente para realizar suas atividades ou pouco motivada, levando ao descomprometimento do desempenho, à redução do sentimento de realização pessoal ou ainda ao baixo envolvimento pessoal. Para Formighieri (2003) essa dimensão é caracterizada pela falta de motivação e insatisfação com o trabalho, ambas ocasionadas pela sensação de insuficiência. O indivíduo se julga incapaz de cumprir demandas de sua função. Torna-se presente uma sensação de menor rendimento, insatisfação com o seu desenvolvimento profissional e um sentimento de inadequação no trabalho. A auto-estima e autoconfiança desaparecem. Essa pesquisa revela que os professores possuem, em relação à realização profissional, um escore igual a 30,58 pontos, conforme a tabela 04. Escores abaixo de 33 refletem em alto nível de burnout. Embora a maior parte das pontuações indique frequências acima de 3 (algumas vezes ao mês), o somatório das respostas não foi suficiente para alcançar o valor mínimo indicador de falta ou menor propensão à síndrome. A tabela a seguir apresenta a média conseguida em cada uma das questões EP. Analisando os dados pode-se observar que o item que recebeu menores pontuações (entre 0-nunca e 2-uma vez ao mês), diz respeito ao número de realizações conseguidas na profissão, já o item com maiores frequências é relativo à facilidade em entender o que os alunos sentem. TABELA 04 MÉDIA DAS QUESTÕES EP
10 10 QUESTÕES EP MÉDIA Q04 Posso entender com facilidade o que sentem meus alunos. 5,43 Q07 Lido de forma eficaz com os problemas dos alunos. 4,43 Q09 Sinto que influencio positivamente a vida de outros através do meu trabalho. 3,86 Q12 Sinto-me com muita vitalidade. 3,14 Q17 Q18 Posso criar facilmente uma atmosfera relaxada para os meus alunos. Sinto-me estimulado/a depois de trabalhar em contato com os alunos. 4,29 3,29 Q19 Tenho conseguido muitas realizações em minha profissão. 2,71 Q21 Sinto que sei tratar de forma adequada os problemas emocionais no meu trabalho. 3,43 TOTAL 30,58 FONTE: Dados da pesquisa, 2010 A tabela 05 apresenta os resultados obtidos com a aplicação do questionário para identificar os sintomas que os professores experimentam no dia-a-dia de trabalho. O resultado apresentado nessa tabela demonstra a prevalência do sentimento do profissional quanto ao pouco tempo para si mesmo em função do trabalho desempenhado. Observa-se que 57% da amostra percebe este sentimento em uma frequência diária e 29%, algumas vezes por semana. Este fato indica que o professor utiliza a maior parte do seu tempo com o exercício de sua atividade, o que afirma o resultado obtido no questionário sócio-demográfico quanto à quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho. Quanto às dores diversas, as localizadas nas regiões dos ombros e da nuca são as mais frequentes entre os respondentes, sendo que 29% alegam senti-las diariamente e 57%, algumas vezes por semana; logo após, estão as dores no peito com algumas ocorrências por semana em 43% dos professores; já a cefaléia ocorre em seis das sete frequências da escala, exclusive uma vez ao ano, apresentando percentuais quase uniformes. Nos sintomas pressão arterial alta, perda/ excesso de apetite, aumento do consumo de bebidas alcoólicas e cigarros foi observada a maior parte das respostas com valor zero da escala, ou seja, nestes itens muitos dos professores pesquisados relataram nunca apresentarem estes sintomas. Já outras manifestações físicas como dificuldades sexuais, pequenas infecções e problemas gastrointestinais ocorrem em várias frequências com
11 11 percentuais semelhantes, enquanto 43% dos professores apresentam problemas alérgicos diariamente e gripes e resfriados com frequência de uma vez ao mês. Ao observar os sintomas relativos às manifestações afetivas, nota-se que algumas vezes por semana os profissionais participantes da pesquisa afirmam sentir-se sem vontade de começar nada, o sintoma irritabilidade fácil é pontuado por mais de 70% com frequência 5 ou 6, e entre essas frequências 86% dos professores afirmam sentir cansaço mental. Dos sujeitos pesquisados o sintoma perda de senso de humor aparece com 43% na frequência de algumas vezes na semana, 86% referem sentir fadiga generalizada mais de uma vez por semana ou todos os dias, somente 14% da amostra afirma que o sintoma insônia nunca foi percebido. Esses resultados confirmam os dados fornecidos com a aplicação do MBI, onde foi identificada classificação alta para a dimensão exaustão emocional. As manifestações cognitivas são manifestadas pelos sintomas de estado de aceleração contínuo e dificuldade de memória. O primeiro desses dois sintomas, nunca ocorreu em 29% dos professores, aparecendo nos demais com frequências maiores ou iguais a 3 (algumas vezes ao mês); quanto à dificuldade de memória, só não é realidade para 14% da amostra. Outro fato a ser ressaltado é a perda do desejo sexual que ocorre em 43% dos pesquisados. TABELA 05 FREQUÊNCIA DE SINTOMAS SINTOMAS TOTAL Cefaléia 14% 0% 14% 14% 14% 29% 14% 100% Irritabilidade fácil 0% 0% 0% 29% 0% 57% 14% 100% Perda/ excesso de apetite 57% 0% 0% 14% 0% 14% 14% 100% Pressão arterial alta 57% 0% 14% 14% 0% 0% 14% 100% Dores nos ombros e nuca 14% 0% 0% 0% 0% 57% 29% 100% Dor no peito 29% 0% 0% 29% 0% 43% 0% 100% Dificuldades com o sono 14% 0% 14% 14% 0% 14% 43% 100%
12 12 Cansaço mental 0% 0% 0% 14% 0% 29% 57% 100% Dificuldades sexuais 29% 0% 29% 0% 0% 29% 14% 100% Pouco tempo para si 0% 0% 0% 14% 0% 29% 57% 100% Fadiga generalizada 0% 0% 0% 14% 0% 43% 43% 100% Pequenas infecções 14% 29% 0% 14% 0% 29% 14% 100% Aumento no consumo de bebida e cigarro Dificuldade de memória e concentração Problemas gastrointestinais 71% 0% 0% 14% 0% 0% 14% 100% 14% 0% 0% 29% 0% 29% 29% 100% 14% 29% 14% 0% 0% 14% 29% 100% Problemas alérgicos 0% 29% 14% 0% 0% 14% 43% 100% Estado de aceleração contínuo Sentir-se sem vontade de começar nada 29% 0% 0% 14% 14% 29% 14% 100% 14% 0% 29% 0% 0% 57% 0% 100% Perda do senso de humor 29% 0% 0% 14% 0% 43% 14% 100% Gripes e resfriados 14% 0% 43% 0% 0% 29% 14% 100% Perda do desejo sexual 43% 14% 0% 0% 0% 29% 14% 100% FONTE: Dados da pesquisa, 2010 Na tabela 06 encontra-se o resultado do questionário de frequência dos fatores preditores de burnout constituído por 6 itens a serem respondidos conforme a escala utilizada no MBI. Cada um desses itens diz respeito a uma das seis variáveis organizacionais que, de acordo com Maslach e Leiter (1999) são desencadeadoras do desgaste físico e mental. Na análise dessa tabela, verifica-se a confirmação dos dados citados anteriormente no que diz respeito ao excesso de trabalho sentido diariamente por 71% dos professores.
13 13 Quanto à falta de controle, observando-se a estrutura organizacional da instituição de ensino pesquisada que, hierarquicamente, os professores ficam subordinados diretamente à pedagoga e à direção da escola e designados a desempenhar o trabalho de acordo com os equipamentos disponíveis na organização. A falta de controle foi identificada por apenas 14% da amostra, sendo que a maioria (57%) dos sujeitos pesquisados consideram que mantêm controle sobre as atividades a eles designadas. Os fatores recompensa suficiente e união apresentam a mesma situação, em ambos os casos 29% dos professores afirmam não serem reconhecidos nem incentivados pela instituição em que trabalham e o mesmo percentual (29%) diz exatamente o contrário: são recompensados e reconhecidos pela instituição e esta investe neles e os incentiva. A variável equidade mostra que 29% dos sujeitos pesquisados percebem respeito nas relações internas da instituição, 14% destes desacreditam nessas relações. Maslach e Leiter (1999) consideram que frente à crise de trabalho atual, as organizações encontram dificuldades em manter acordos de confiança, franqueza, transparência e respeito, que são considerados valores pelo trabalhador. Nesta pesquisa 43% da amostra afirmam que algumas vezes na semana ou todos os dias, não têm oportunidade de realizar um trabalho importante na organização onde atuam como professores, devido a esses conflitos de valores. TABELA 06 FREQUÊNCIA DOS FATORES PREDITORES DE BURNOUT QUESTÕES TOTAL Excesso de trabalho 0% 0% 0% 0% 0% 29% 71% 100% Controle 14% 0% 0% 29% 0% 43% 14% 100% Recompensas Suficientes 29% 14% 14% 0% 0% 14% 29% 100% União 29% 14% 14% 0% 0% 14% 29% 100% Equidade 14% 14% 0% 14% 14% 14% 29% 100% Conflito de valores FONTE: Dados da pesquisa, % 0% 14% 29% 0% 14% 29% 100% Fazendo-se um comparativo entre os fatores sócio-demográficos, sintomáticos e organizacionais, e as dimensões do MBI, obtiveram-se os seguintes resultados: No que tange à Exaustão Emocional Os docentes mostraram no questionário sócio-demográfico que possuem uma jornada de trabalho exaustiva e quando
14 14 perguntados sobre o tempo dedicado a si próprio, a maioria o considera pouco. Vários sintomas somáticos também revelam alto nível de exaustão emocional: irritabilidade fácil, cansaço mental, fadiga generalizada, dificuldades de memória e concentração. Quanto aos fatores organizacionais, o Excesso de Trabalho foi citado por 71% da amostra, e a maioria percebe a falta de recompensa. Esses fatores provavelmente explicam o alto índice encontrado na dimensão EE (41,28%) que é considerado como elevada propensão à manifestação de burnout. Em relação à Despersonalização os dados sócio-demográficos revelam que a maioria dos docentes não tem parceiro fixo e trabalha diariamente com alunos entre 13 e 15 anos, (idade considerada problemática por ser uma fase de autoconhecimento) fator que pode explicar a irritabilidade fácil citada pela maior parte dos pesquisados. Além disso, outros sintomas somáticos como a dor de cabeça e nos ombros e perdas do senso de humor podem ser fruto desse desgaste. No entanto, a maioria dos professores afirma ter controle sobre as atividades desempenhadas e se preocupar com o que ocorre com os alunos que ensina. Quando questionados quanto ao endurecimento emocional causado pelo trabalho, a maioria concorda que isso aconteça frequentemente. O conjunto desses fatores pode ser resultante do alto nível de burnout ocorrido na dimensão DE, o que significa que parte desses docentes pode apresentar, em grau considerado desencadeante da síndrome, atitudes negativas como o tratamento depreciativo, atitudes frias e distantes ou desconexão com os problemas dos estudantes. No que diz respeito à Realização/ Envolvimento Pessoal nos fatores sóciodemográficos a maioria dos professores diz ser adepta à prática de atividades físicas, fato que não condiz com as respostas dadas à questão 12 do MBI, onde a maioria diz não se sentir com vitalidade. Embora a maior parte dos participantes da pesquisa já lecione a mais de 20 anos, afirmam não terem conseguido muitas realizações profissionais. A falta de equidade e o conflito de valores, citados pela maioria com frequência entre 3 e 6, também podem representar fatores que influenciaram no baixo nível de Envolvimento Pessoal que significa alto grau de propensão ao burnout. Essa dimensão indica que o professor produz uma valoração negativa do próprio papel profissional.
15 15 Apesar dos resultados a maioria não pensa em mudar de profissão. Os resultados obtidos são baseados nas respostas dadas pelos professores aos questionários aplicados, no entanto, vale ressaltar que não é garantida a veracidade das respostas fornecidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para obter os resultados apontados nesta pesquisa, foram utilizados quatro questionários que analisaram sintomas, fatores organizacionais, sócio-econômicos e as três dimensões de burnout: Exaustão Emocional, Despersonalização e Realização/ Envolvimento Pessoal. Ao comparar as dimensões com os demais fatores, observou-se que o quadro de sintomas físicos e psíquicos apresentados pelos docentes é resultante dos aspectos negativos apontados nas questões referentes às situações de trabalho que estão submetidos, à relação aluno-professor, aos impasses da profissão docente e a características individuais. As três dimensões indicaram alto nível de burnout, significando que as características reveladas pelos docentes participantes da pesquisa podem levá-los à manifestação da síndrome. Frente a essa realidade é importante concluir que, embora o aparecimento de burnout também dependa do indivíduo e de sua relação consigo, a instituição na qual ele trabalha também tem grande participação na saúde do profissional, devendo atuar de forma intensa na melhoria das condições de trabalho, mantendo um ambiente saudável, tendo em vista que o complexo educacional envolve instituição, alunos, docentes e sociedade, sendo a saúde do educando indispensável ao bom funcionamento dessa engrenagem. Embora exista um perfil definido pelos estudiosos de burnout para pessoas com maior predisposição ao aparecimento da síndrome, a pesquisa aponta que não é possível partir da análise individual de cada característica, uma vez que o surgimento de burnout depende de fatores pessoais, profissionais, organizacionais e sociais e a observância dos pontos positivos e negativos desses fatores em conjunto é que determinam a situação do indivíduo. As limitações da pesquisa foram identificadas desde o início, na busca do referencial teórico e empírico, devido a escassez de pesquisas relacionadas ao tema. Outra dificuldade encontrada foi quanto aos instrumentos de avaliação da síndrome. Acredita-se
16 16 que estes deveriam estar mais bem relacionados, a fim de facilitar comparações entre pesquisas, além disso, deveria haver um consenso sobre como analisar os resultados obtidos no MBI, já que existem divergências com relação aos valores apresentados nas dimensões e a incidência de burnout. Por fim, tendo em mente que não há soluções simples para o fenômeno, sugere-se a adoção de estratégias individuais como a prática de exercícios físicos, a organização do tempo, espaço para lazer nas horas livres e a manutenção de bons relacionamentos; e a adoção de estratégias organizacionais como reconhecimento, equidade, respeito e união, possibilidade de crescimento dentro da empresa e participação nas decisões, resultando na saúde dos professores, impedindo o surgimento de burnout e, consequentemente, melhorando a qualidade dos serviços prestados, já que investir na qualidade do trabalho do educador significa bem mais que ajudar profissionais, é, na verdade, impulsionar a construção da sociedade futura.
17 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS. (2009) Falta de professores preocupa. Disponível em: Acesso em nov (2009) Síndrome da exaustão persiste entre educadores. Disponível em: 2. Acesso em: mar Professores sofrem com síndrome de burnout. Disponível em: Acesso em: nov (2007) A Nova Epidemia. Disponível em: Acesso em: dez AYRES, K. V.; SILVA, I. P da. & SOUTO-MAIOR, R. C. Stress e Qualidade de Vida no Trabalho: a Percepção de Profissionais do Setor de Hotelaria, BALLONE, G.J. Síndrome de Burnout. PsiqWeb Psiquiatria Geral, Internet, última revisão, disponível em Acesso em jan./2010. BARBOZA, H. B. Sua empresa é ética? Revista MELHOR- Gestão de Pessoas, São Paulo, n. 218, p.38-45, jan BENEVIDES-PEREIRA, A.M.T. O estado da arte do burnout no Brasil, Apresentado como conferência no I seminário Internacional sobre estresse e burnout. Paraná, BOTELHO, L. (2009) Síndrome de Burnout: o mal organizacional. Disponível em: sindrome+de+burnout+o+mal+organizacional.shtm. Acesso em: jan. /2010. BRASIL, Lei nº 8.123, de 24 de julho de Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. CAMPOS, Rosangela Galindo. Burnout: uma revisão integrativa na enfermagem oncológica. [Dissertação de mestrado em enfermagem]. Escola de enfermagem de Riberão Preto, Universidade de São Paulo, São Paulo, CARLOTTO, M. S. A Síndrome de Burnout e o Trabalho Docente. Psicologia em Estudo, Paraná, v. 7, n. 1, p , jan./jun CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalves. Análise fatorial do Maslach Burnout Inventory (MBI) em uma amostra de professores de instituições particulares. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 3, p , set./dez CARVALHO, Fatima Araujo de. (2002) A exaustão docente: subsídios para novas pesquisas sobre a síndrome de burnout em professores. Disponível em: Acesso em: dez CORTELLA, M. S. A parte e o todo. Revista MELHOR- Gestão de Pessoas, São Paulo, n. 218, p.22-25, jan. 2006
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