A IRREVOGABILIDADE DA ADOÇÃO: UM DIREITO HUMANO



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A IRREVOGABILIDADE DA ADOÇÃO: UM DIREITO HUMANO Artigo A IRREVOGABILIDADE DA ADOÇÃO: UM DIREITO HUMANO Regiane Sousa de Carvalho Presot 1 artigo recebido em 20/04/2012 artigo aprovado em 15/05/2012 RESUMO: O texto tem a finalidade de traçar uma abordagem teórica sobre o instituto da adoção à luz do princípio da proteção integral da criança, demonstrando que a irrevogabilidade da adoção consiste em um direito humano, em razão do escopo da tutela específica desses direitos. A adoção tem por principal objetivo, proporcionar uma família para o adotando, por meio da filiação jurídica de maneira irrevogável. Apesar da irrevogabilidade da adoção, efetuam-se devoluções de crianças, sob os fundamentos: ora, no vício de informação no que tange às questões de doenças preexistentes; ora, na incompatibilidade familiar. Razão pela qual a revogação da adoção não é compatível com a proteção dos direitos humanos. Palavras-chave: Irrevogabilidade da adoção. Filiação. Proteção integral da criança. Direito humano. ABSTRACT: The text has the scope to draw a theoretical approach on the institution of adoption in the light of the principle of full protection for children, demonstrating that the irrevocability of adoption is a human right, because the scope of the specific protection of these rights. In this scenario the main objective is to provide the child a family, through legal membership irrevocably. Despite the finality of adoption, returns to perform for children, under the foundation: now, the addiction of information regarding the issues of preexisting conditions; now, the incompatibility family. Reason for the revocation of adoption is not compatible with the protection of human rights. Keywords: Irrevocability of adoption. Affiliation. Full protection for children. Human right. 1 Advogada, professora de direito administrativo, doutoranda em direito pela Universidade de Buenos Aires UBA, Coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da OAB/DF. Revista Internacional de Direito e Cidadania, n. 13, p. 87-94, junho/2012 87

PRESOT, R. S. C. I Introdução A adoção é fenômeno jurídico pelo qual se atribui a alguém o estado de filiação, desvinculado dos laços de consangüinidade. A adoção rompe o vínculo com a família biológica, salvo os impedimentos matrimoniais. Ao adotado são conferidos todos os direitos e deveres pessoais e patrimoniais decorrentes da filiação. A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança de 1989 estabelece nos seus artigos 20 e 21 que toda criança permanentemente privada de seu ambiente familiar ou cujos interesses exijam que não permaneça nesse meio, terá direito à proteção e assistências especiais do Estado e da sociedade. Incluindo a colocação em lares de adoção. Nesse caso, atendendo para o fato de que a consideração primordial seja o interesse maior da criança. Nos termos do art. 1º da Convenção, criança é todo o ser humano menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo. O princípio do maior interesse ou da proteção integral do menor, base de todos os direitos que são assegurados à criança, visa primordialmente retirá-la das situações de risco e colocá-la no convívio de famílias substitutas capazes de promover as condições básicas para o pleno desenvolvimento físico, emocional e intelectual. Ademais, para alcançarem essas condições favoráveis, as crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade familiar e social precisam de um lar em que seus direitos sejam respeitados, já que sozinhos não são capazes de lutar por sua implementação. Com efeito, às crianças e adolescentes são conferidos, além de todos os direitos fundamentais consagrados a qualquer pessoa humana, ainda outros direitos, igualmente fundamentais, que lhes são específicos, tais como o direito à convivência familiar e comunitária. Essa salvaguarda especial atribuída aos direitos humanos de crianças e adolescentes encontra-se consagrada em diversos diplomas internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, de 1959 e a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, de 1989. Nesse cenário, a adoção tem por principal objetivo, agregar de forma total o adotado à família do adotante e, como consequência, ocorre o afastamento em definitivo da família de sangue, de maneira irrevogável. Com isso, depois de findos os requisitos exigidos na lei, o ingresso na família do adotante é completo. A partir daí, passa à condição de filho legítimo com todos os direitos e deveres advindos da filiação. Assim, os adotantes passam a exercer sobre o adotado os direitos e deveres inerentes ao poder familiar. No caso de descumprimento de tais deveres, inclusive o abandono, os pais adotivos poderão perder o exercício do poder familiar em processo de destituição. Deve ficar claro que na hipótese mencionada, não ocorre revogação da adoção, mas, sim, perda do exercício dos direitos decorrentes do poder familiar pela quebra dos deveres, como ocorre na filiação natural, permanecendo todos os efeitos patrimoniais, herança e alimentos. A adoção deverá ser assistida pelo poder público, sendo que se constitui por sentença judicial e somente poderá ser anulada, no caso de ofensa ao princípio da proteção integral do menor e nunca na conveniência dos adotantes, pois neste caso haverá destituição do poder familiar, permanecendo todos os direitos decorrentes da filiação, tais como alimentos e herança. Caso contrário, ocorrerá coisificação de pessoas, desconsiderando a como sujeito de direito, num contexto jurídico e ético, razão pela qual tal postura viola o núcleo intangível do princípio da dignidade da pessoa humana, eis que compromete seu conteúdo básico. II O Princípio da Proteção Integral fundamento da adoção. A proteção integral da criança consiste em um direito humano, em razão do escopo da tutela específica dos direitos humanos que normalmente é visualizada sobre duplo aspecto: por um lado, constituem restrições ao poder do Estado, e por outro, impõem condições mínimas 88 Revista Internacional de Direito e Cidadania, n. 13, p. 87-94, junho/2012

A IRREVOGABILIDADE DA ADOÇÃO: UM DIREITO HUMANO para uma existência digna assegurada a todo indivíduo. No cenário internacional contemporâneo, o principal diploma proclamador desses direitos é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das Nações Unidas em 1949. A Convenção faz menção específica às crianças, estabelecendo, em seu art. 25, 2 : A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção. Ressalta-se que o princípio da proteção integral foi previsto no art. 3º da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, in verbis: Todas as decisões relativas a crianças, adotadas por instituições públicas ou privadas de proteção social, por tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, terão primacialmente em conta o interesse superior da criança. Tais normas permitem a compreensão de que os direitos fundamentais das crianças constituem um capítulo especial na temática dos direitos humanos. Nesse sentido, a expressão direitos humanos de crianças não significa, apenas, a indicação de um grupo etário específico dentre os sujeitos titulares desses direitos. Ela significa, também, o reconhecimento de um status especial atribuído aos direitos fundamentais que possuam por titulares crianças, elegidos como sendo merecedores de distinta proteção, diante da condição de pessoa em desenvolvimento que a expõe em situação de vulnerabilidade. Além disso, todos os direitos fundamentais de que gozam as crianças e adolescentes são alcançados pelo princípio da prioridade, segundo o qual a proteção e satisfação devem ser asseguradas pelo Estado antes de quaisquer outros, ou seja, dentre os direitos fundamentais reconhecidos a todos os indivíduos, expressão de sua intrínseca dignidade, aqueles relativos às crianças serão promovidos prioritariamente. A Assembléia Geral das Nações Unidas em sua sessão de 20 de novembro de 1989 aprovou por unanimidade a Convenção sobre os direitos da criança. 2 A declaração desse instrumento jurídico internacional advém dos representantes dos 43 países membros da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, coincidente com a celebração dos 30 anos da Declaração Universal dos Direitos da Criança subscrito em 1959. A Convenção determina como prioridade imediata para as nações, a vida e o desenvolvimento normal das crianças independente de posições partidárias, políticas e econômicas dos governos. Essa prioridade absoluta deverá significar a proteção das crianças das inadequações e erros do mundo adulto. Nesse contexto, surge o princípio de prioridade imediata com caráter de aplicação universal exigindo a proteção das crianças, sobrepondo às medidas de ajustes governamentais. Definir como prioridade imediata representa também para os países signatários o compromisso de modificar seus ordenamentos jurídicos aos termos da Convenção, ou seja, adaptar toda a estrutura política, jurídica e social com base nessa nova prioridade. Segundo o jurista Antonio Fernando do Ama ral e Silva, a base jurídica da Convenção, a qual também fundamentou a Declaração Universal é a doutrina da proteção integral: Esta preconiza que o direito do menor não deve se dirigir apenas a um tipo de menor, mas deve dirigir a toda a juventude e a toda a infância e suas medidas de caráter geral devem ser aplicáveis, a todos os jovens e todas as crianças. Como medida de proteção deve abranger todos os direitos essenciais que fundamentam a Declaração Universal dos Direitos Humanos e outros documentos emanados das Nações Unidas. 3 A Convenção deverá servir como instrumento básico para as nações e para todos aqueles que direta ou indiretamente trabalham na concretização dos direitos das crianças. A Convenção declara no art. 6º o direito inerente à vida e a obrigação do Estado em assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento da criança. No seu art. 30 o Estatuto esclarece que deverão ser asseguradas por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade. Revista Internacional de Direito e Cidadania, n. 13, p. 87-94, junho/2012 89

PRESOT, R. S. C. Dentre os direitos proclamados, destacase a convivência familiar que desperta grande preocupação na concretização da convivência adequada, seja na família natural, seja na substituta e também, nos casos de guarda, tutela e adoção. Uma vez que qualquer das medidas a serem implementadas deve observar o interesse do menor e não do eventual adulto, o que se propõe é uma convivência familiar apta a proporcionar desenvolvimento da criança. No instituto da adoção a Convenção, no art. 21, adota o princípio do melhor interesse da criança e determina que se processe a adoção com todas as garantias necessárias à criança. Portanto, o Estado deve assegurar que o interesse superior da criança seja a consideração primordial neste domínio. A adoção visa, essencialmente, a proteção integral da criança e do adolescente, por isso, entre o pedido impetrado pelos adotantes e a homologação da sentença deve ocorrer o convencimento do juiz. Deve ser verificada a capacidade intelectual, afetiva, emocional e econômica dos adotantes para se avaliar as possibilidades reais do adotando encontrar, no novo lar, o equilíbrio e a normalidade familiar de que ele precisa. Todo esse estudo visa minimizar a margem de erro na colocação de uma criança ou adolescente numa família substituta equivocada. Procura-se deixar bem claro para o adotante sobre as suas obrigações e responsabilidades, assim como informá-lo sobre os efeitos que esse ato gerará e principalmente que não se trata de uma boa ação, mas de uma responsabilidade consciente para toda a vida de ambos, pais e filhos. III A Responsabilidade Humanitária no ato da Adoção e sua irrevogabilidade. O instituto da adoção é uma modalidade jurídica de filiação pela qual se aceita como filho, de forma voluntária e legal, um estranho no seio familiar pelo vínculo sócio-afetivo. Na maioria das vezes, é utilizado como meio para pessoas incapazes de terem filhos biológicos poderem desempenhar o papel da maternidade e paternidade, constituindo-se a adoção, um ato de amor e coragem, mas sobre tudo deve estar presente a responsabilidade social no ato da adoção. A evolução desse instituto tem-se direcionado basicamente a atender os interesses do adotado, servindo como meio de solucionar ou amenizar o problema de crianças órfãs e abandonadas, as quais vivem nas ruas ou em más condições de sobrevivência. Adotar é muito mais do que criar e educar uma criança que não possui o mesmo sangue ou a mesma carga genética é antes de tudo uma questão de valores, uma filosofia de vida social. A adoção é questão de consciência, responsabilidade e comprometimento com o próximo. é o ato legal e definitivo de tornar filho alguém que foi concebido por outras pessoas. é o ato jurídico que tem por finalidade criar entre duas pessoas relações jurídicas idênticas às que resultam de uma filiação de sangue. Embora existam doutrinadores que se referem à adoção como sendo de natureza contratual, o melhor juízo está com os doutrinadores que afastam a adoção de uma relação contratual, porque as relações contratuais são fundamentalmente de conteúdo econômico, ao passo que o vínculo que a adoção estabelece é essencialmente moral. A adoção deverá ser assistida pelo poder público, sendo que se constitui por sentença judicial e somente poderá ser anulada no caso de ofensa ao princípio da proteção integral do menor e nunca na conveniência dos adotantes, pois neste caso haverá uma destituição do pátrio poder, permanecendo todos os direitos decorrentes da filiação tais como alimentos e herança. Nesse sentido manifesta-se a Convenção Interamericana sobre Conflitos de Leis em Matéria de Adoção de Menores, in verbis: Artigo 12 - As adoções a que se refere o Artigo 1º serão irrevogáveis. Artigo 14 - A anulação da adoção será rígida pela lei de sua outorga. A anulação somente será decretada judicialmente, valendo-se pelos interesses do menor de acordo com o Artigo 19 desta Convenção. Artigo 19 - Os termos desta Convenção e as leis aplicáveis de acordo com ela serão interpretados 90 Revista Internacional de Direito e Cidadania, n. 13, p. 87-94, junho/2012

A IRREVOGABILIDADE DA ADOÇÃO: UM DIREITO HUMANO harmonicamente e em favor da validade da adoção em benefício do adotado. 4 O instituto da adoção produz efeitos de ordem pessoal e patrimonial a todos os envolvidos. Para Carlos Roberto Gonçalves a adoção produz efeitos de duas ordens: os de ordem pessoal dizem respeito ao parentesco, ao poder familiar e ao nome; os de ordem patrimonial concernem aos alimentos e ao direito sucessório 5. O adotante deve compreender a função social da adoção que tem por objetivo a constituição de um lar para o adotado, além de possibilitar ao julgador decidir sobre a oportunidade e conveniência para o deferimento do pedido de adoção. As leis que regulam a adoção possuem um caráter social e visam proteger a criança e o adolescente de forma a concretizar direitos fundamentais referentes à pessoa humana, à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade a e à convivência familiar e comunitária. Na adoção a pessoa adotada goza do estado de filho, portanto, adotar significa proporcionar a criança tudo que ela precisa para sobreviver e se desenvolver de forma digna. No Direito brasileiro vige o princípio da irrevogabilidade da adoção em cumprimento ao mandamento constitucional da igualdade da filiação, este consagra a regra da irrevogabilidade da adoção conforme esposado na jurisprudência (TJBA. 598 017 028. Sétima Câmara Cível. Rel. Des. José Carlos Teixeira Giorgis). Nesse sentido é a lição de Washington de Barros Monteiro: Igualmente, não é possível subordinar a adoção a termo ou condição. A adoção é puro ato, que se realiza pura e simplesmente, não tolerando as aludidas modificações dos atos jurídicos. quaisquer cláusulas que suspendam, alterem ou anulem os efeitos legais da adoção são proibidas; sua inserção na escritura anula radicalmente o ato. 6 Sendo assim, diante da adoção, os adotantes passam a exercer sobre o adotado os direitos e deveres inerentes ao poder familiar. No caso de descumprimento de tais deveres, inclusive o abandono, os pais adotivos poderão perder o exercício do poder familiar em processo de destituição. Deve ficar claro que na hipótese mencionada, não ocorre revogação da adoção, mas sim, perda do exercício dos direitos decorrentes do pátrio poder pela quebra de seus deveres, como ocorre com na filiação natural, permanecendo todos os efeitos patrimoniais, herança e alimentos. Caso contrário, ocorrerá coisificação de pessoas, desconsiderando-a como sujeito de direitos, num contexto jurídico e ético, razão pela qual tal postura viola o núcleo intangível do princípio da dignidade da pessoa humana, eis que compromete seu conteúdo básico. A pessoa humana é hoje considerada o centro da norma jurídica, pois todos os valores que o ordenamento jurídico consagra baseiam-se no valor-fonte ou raiz, que é a pessoa humana considerada a base do direito, revelando-se critério essencial de legitimidade da ordem jurídica. Nesse sentido é a lição de Edilsom Farias, in verbis: Característica fundamental do princípio jurídico da dignidade da pessoa humana que o sobreleva em importância e significado é que ele assegura um minimum de respeito ao homem só pelo fato de ser homem, uma vez que todos os homens são dotados por natureza de igual dignidade e têm direito a levar uma vida digna de seres humanos. 7 Vale dizer: o respeito à pessoa humana realiza-se independentemente da comunidade, grupo ou classe social a que aquela pertença. Ou como leciona Castanheira Neves: A dignidade pessoal postula o valor da pessoa humana e exige o respeito incondicional da sua dignidade. Dignidade da pessoa a considerar em si e por si, que o mesmo é dizer a respeitar para além e independentemente dos contextos integrantes e das situações sociais em que ela concretamente se insira. Assim, se o homem é sempre membro de uma comunidade, de um grupo, de uma classe, o que ele é em dignidade e valor não se reduz a esses modos de existência comunitária ou social. Será por isso inválido, e inadmissível, o sacrifício desse valor seu valor e dignidade pessoal a benefício simplesmente da comunidade, do grupo, da classe. Por Revista Internacional de Direito e Cidadania, n. 13, p. 87-94, junho/2012 91

PRESOT, R. S. C. outras palavras o sujeito portador do valor absoluto não é a comunidade ou a classe, mas o homem pessoal, embora existencial e socialmente em comunidade e na classe 8. A dignidade humana possui abertura valorativa, mas que deve ser concretizada por meio de uma linguagem universal especialmente nos aspectos mínimos de sua realização: respeito à integridade física e mental; assegurar a liberdade de locomoção, expressão, escolha profissional e modo de vida; direitos de natureza material como o alimento, saúde, educação; a igualdade formal e material. A sua abordagem universal depreende-se da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, promulgada pela Organização das Nações Unidas ONU que afirma no seu artigo 1º todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de Consciência devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Também o preâmbulo da Declaração refere-se a dignidade inerente a todos os membros da família humana. Jorge Miranda, considerando que aludidas disposições da Declaração prescrevem que todos os homens são dotados de razão e de consciência independentemente de suas diferenciações econômicas e sociais, formula as seguintes diretrizes básicas: 1-A dignidade da pessoa humana reporta-se a todas e cada uma das pessoas e é a dignidade da pessoa individual e concreta; 2- Cada pessoa vive em relação comunitária, mas a dignidade que possui é dela mesma, e não da situação em si; 3- O primado da pessoa é o do ser, não o do ter; a liberdade prevalece sobre a propriedade; 4- A proteção da dignidade das pessoas está para além da cidadania portuguesa e postula uma visão universalista da atribuição dos direitos. 9 IV Conclusão A criança e o adolescente têm o direito humano de possuir uma família. Seja ela natural, seja ela substituta, quando não é possível a sua convivência com a família natural. A inclusão familiar é relevante para o adequado desenvolvimento humano. A família sempre foi e continua sendo base da sociedade. O Estado através do instituto da adoção busca assegurar ao adotando a existência de um núcleo familiar que é a célula da Sociedade, pois é através do aprendizado, da convivência em família que esse indivíduo vai se identificar dentro da sua comunidade. Ressalta-se que nos dias atuais o conceito de família é amplo, pois há várias formas de constituição familiar. O instituto tem caráter humanitário. O adotante que busca na adoção uma forma de preencher o vazio, a solidão, ou compensar a esterilidade, ou qualquer outro motivo de índole pessoal, equivoca-se quanto aos verdadeiros sentidos da adoção. Concedida a adoção com decisão transitada em julgado, o ato toma-se imutável. Significa dizer que a adoção não pode ser revogada por ato particular ou por decisão judicial. Assim, o instituto da adoção é de ordem pública, materializado pura e exclusivamente por ato jurídico, onde prevalecerá a vontade dos partícipes, declarada de forma inequívoca, com um escopo comum, em uma situação jurídica permanente, do qual surgirão direitos e deveres para ambos. Ademais, adoção exige acordo de vontade, não se concretiza por vontade unilateral. Razão pela qual surge seu caráter de irrevogabilidade por tratar-se de um direito humano do adotado. Não obstante, os tribunais pátrios admitem a revogação da adoção, conforme ementas dos julgados transcritos, ad litteris: DIREITO CIVIL. ADOÇÃO SIMPLES. REVOGABILIDADE. SUPERVENIEN- CIA DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. IRRETROATI- VIDADE. RECURSO NÃO CONHECI- DO. O ADVENTO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (LEI NR. 8.069/90) NÃO TEVE O CONDÃO DE TORNAR IRREVOGAVEL ADO- ÇÃO SIMPLES DE MENOR IMPUBE- RE REALIZADA SOB A EGIDE DO REVOGADO CODIGO DE MENORES (LEI NR. 6.697/79). APLICAÇÃO DOS PRINCIPIOS TEMPUS REGIT ACTUM E DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS. 92 Revista Internacional de Direito e Cidadania, n. 13, p. 87-94, junho/2012

A IRREVOGABILIDADE DA ADOÇÃO: UM DIREITO HUMANO REsp 26834 / RJ RECURSO ESPE- CIAL1992/0022223-4. DIREITO CIVIL. ADOÇÃO. REVOGA- ÇÃO. CONFLITO INTERTEMPORAL DE NORMAS. - NÃO VERSOU A CONSTITUIÇÃO FEDERAL A RES- PEITO DA IRREVOGABILIDADE DA ADOÇÃO. O E.C.A. (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - LEI 8.069/90) A DESPEITO DE TER SIDO PUBLICADO EM 13 DE JULHO DE 1990 SOMENTE ENTROU EM VIGOR A PARTIR DE OUTUBRO DO MESMO ANO, LOGO NÃO SE APRESENTA APLICÁVEL AO TEMPO PRETéRI- TO. - A PRESENÇA DOS REqUISITOS PARA A REVOGAÇÃO DA ADOÇÃO NOS DITAMES DAS NORMAS DE DIREITO CIVIL VIGENTES À época DO PEDIDO ENSEJA O SEU ACOLHI- MENTO. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Acórdão n. 74597, APC3241894, Relator NANCY ANDRIGHI, 3ª Turma Cível, julgado em 05/12/1994, DJ 22/02/1995 p. 1.906). Apesar da irrevogabilidade da adoção, efetuam-se devoluções de crianças, sob os fundamentos: ora, no vício de informação no que tange às questões de doenças preexistentes; ora, na incompatibilidade familiar. Razão pela qual tal postura não é compatível com a proteção dos direitos humanos. O duplo abandono é uma violência psicológica que deixa seqüelas incuráveis. Diante do exposto um questionamento faz-se necessário: será que à luz dos direitos humanos pode-se tratar uma criança como se fosse uma coisa com vício redibitório, que deve ser devolvida porque não atende as expectativas dos adotantes? Notas 2 Convention on the Rights of Child por Michel Bonnet. Second Asian Regional Conference on Child Abuse and Neglect. Unicef e Governo da Thailandja, 1988, p. 71-72. 3 SILVA, Antonio Fernando de Amaral e (A). A Criança e seus Direitos. Ddebate promovido pela PUC/Rio e Funabem. PUC, 1990, 10. 4 A Convenção Interamericana sobre Conflito de Leis em Matéria de Adoção de Menores. La Paz, 1984. 5 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro - direito de família. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, vol. VI. 6 MONTEIRO, W.B. Curso de Direito Civil: Direito de Família. São Paulo: Saraiva. 2002; p. 282. 7 FARIAS, Edilsom Pereira de. Colisão de Direitos. A honra, a intimidade, a vida privada e a imagem versus a liberdade de expressão e informação. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1996. 8 Apud MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional, vol. IV. 3 ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2000, pgs. 190 e 191. 9 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. 2. Ed. Coimbra: Coimbra, 1993, tomo IV, p. 169. V Referências ALExY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estúdios Constitucuionales, 1993. ALBERGARIA, Jason Soares. Introdução ao direito do menor. Belo Horizonte: UNA, 1996. AZEVEDO, Álvaro Villaça. Do concubinato ao casamento de fato. São Paulo: Saraiva, 1991. BEVILÁqUA, Clóvis. Adoção de filho adulterino no direito civil brasileiro. Revista dos Tribunais, n. 23, v. 14, p. 14-28, dez. 1985. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa da Brasil.45. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.. Código Civil. 58 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CARVALHO, Virgílio Antonino de. Direito de Família. Rio de Janeiro: Bedeschi, 1997. CARNELUTTI, Francesco. Teoria del falso. Pádua: Cdam, 1995. CHAVES, Antônio. Filiação Adotiva. Belo Horizonte: Del Rey, 1995. CURY, Munir et alli. Estatuto da Criança e do Adolescente anotado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. FARIAS, Edilsom Pereira de. Colisão de Direitos. A honra, a intimidade, a vida privada Revista Internacional de Direito e Cidadania, n. 13, p. 87-94, junho/2012 93

PRESOT, R. S. C. e a imagem versus a liberdade de expressão e informação. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1996. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro - direito de família. 2. ed. São Paulo : Saraiva, 2006, volume VI. MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional, tomo IV 2. ed. Coimbra: Coimbra, 1993. MONTEIRO, W. B. Curso de Direito Civil: Direito de Família. 29. ed. Rio de Janeiro: Saraiva 2002. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. v.5. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. RODRIGUES, Silvio. Direito cível: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2004. v. 6. WALD, Arnoldo. O novo direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. 94 Revista Internacional de Direito e Cidadania, n. 13, p. 87-94, junho/2012