NOTAS SOBRE OS SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO JOÃO LEITE Liliam Rodrigues Ferreira¹, Homero Lacerda² ¹ Graduanda em Geografia, UnUCSEH-UEG, liliamrod@hotmail.com ² Orientador, UnUCSEH-UEG, homerolacerda@yahoo.com.br Av. JK, 146 - CEP: 75.110-390 - Anápolis (GO) PALAVRAS-CHAVE: Solo, Bacia Hidrográfica, Erosão Acelerada. 1 INTRODUÇÃO A bacia hidrográfica do Ribeirão João Leite está situada entre Goiânia e Anápolis, as duas mais importantes cidades do estado de Goiás (Figura 1). Ela também abrange os municípios de Campo Limpo, Goianápolis, Nerópolis, Ouro Verde e Teresópolis de Goiás. O Ribeirão João Leite tem grande importância para a sociedade, na medida em que serve para o abastecimento de água de Goiânia. Figura 1: Bacia hidrográfica do ribeirão João Leite. Observar a represa, projetada para o abastecimento de água de Goiânia Bacias hidrográficas são unidades naturais de análise do meio físico, principalmente quando a abordagem está relacionada com os recursos hídricos. Isto
porque todos os processos que ocorrem na bacia hidrográfica podem interferir na dinâmica dos cursos d água e na qualidade da água (Rodrigues e Adami, 2005). Dentre os processos do meio físico destaca-se a erosão acelerada, devido a sua relação com o assoreamento e deste com a degradação dos recursos hídricos (Infanti Júnior e Fornasari Filho, 1998). Os processos de erosão e assoreamento estão relacionados à cobertura pedológica, o que motivou a realização desta pesquisa sobre os solos da bacia do Ribeirão João Leite. Trata-se de um trabalho em execução, no qual será estudado também o relevo e o uso da terra, sempre tendo em vista os recursos hídricos. Os resultados ora apresentados devem ser considerados como preliminares. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho é uma pesquisa bibliográfica sobre a cartografia de solos na bacia do Ribeirão João Leite. A primeira fase do trabalho foi uma pesquisa bibliográfica onde foram utilizadas obras básicas sobre solos e meio ambiente (Kertzman e Diniz, 1995; Salomão e Antunes, 1998; Lepsch, 2002; Prado, 1995). Numa segunda etapa foram estudados os mapas pedológicos disponíveis para a área em tela: Mapa Pedológico da Bacia do Ribeirão João Leite em escala 1/100.000 (Oliveira, 1996); Mapa Exploratório de Solos da Folha SE.22 em escala 1/1.000.000, realizado pelo Projeto RadamBrasil (Novaes et al., 1983); e Mapa Pedológico da Folha Goiânia SE 22-X-B, na escala 1/250.000 (Plano Diretor da Bacia do Paranaíba, 2001). A terceira etapa foi a elaboração de uma síntese sobre os solos da área, com ênfase na sua suscetibilidade à erosão acelerada. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados são apresentados iniciando com um tópico tratando de solos e sua suscetibilidade à erosão. Prossegue com a análise dos mapas pedológicos disponíveis para a área e termina com a síntese dos resultados obtidos. 3.1 Solos e Erosão Acelerada
Este tópico é fundamentado no trabalho de Kertzman e Diniz (1995) e Salomão e Antunes (1998), complementado pelos textos de Prado (1995), Lepsch (2002) e Ross (1996). Os latossolos apresentam a sequência de horizontes A-B-C, com pouca diferença textural entre A e B. Têm grande espessura, são homogêneos, com alta porosidade e grande capacidade de infiltração de água. Geralmente são solos de regiões planas ou de relevo suave, como a do Centro-oeste brasileiro. São solos onde a intensidade do intemperismo foi muito intensa e, portanto, são pobres em nutrientes. Apresentam pouca suscetibilidade à erosão, conforme assinalado pelos diversos autores (Kertzman e Diniz, 1995; Salomão e Antunes, 1998). No entanto, quando ocorre o uso inadequado do solo, com aumento do escoamento e sua concentração, podem ocorrer erosões em ravinas de grande porte e voçorocas. Os autores citados assinalam também a compactação, que compromete a capacidade de infiltração destes solos. Os solos podzólicos (ou argissolos) são profundos, caracterizando-se por um gradiente textural, com o horizonte A mais arenoso e o horizonte B mais argiloso. Ocorrem geralmente em regiões de declividade média, sendo mais suscetíveis à erosão em relação aos latossolos. Os cambissolos por sua vez são pouco evoluídos e apresentam uma espessura pequena. São característicos de áreas de declividade superior a 20 e são mais suscetíveis à erosão em relação aos latossolos, de acordo com Kertzman e Diniz (1995) e Ross (1996). Os solos litólicos (ou neossolos litólicos) são pouco evoluídos e tem espessura reduzida, ocorrendo em áreas montanhosas. São suscetívies a escorregamentos e queda de blocos. Solos hidromórficos (gleissolos) são aqueles que ocorrem em áreas onde o lençol freático é superficial e, portanto, são saturados em água. São solos de fundos de vales, onde o relevo é plano e sujeito à inundações. 3.2 Mapas Pedológicos da Bacia Hidrográfica do Ribeirão João Leite Foram analisados três mapas pedológicos que abrangem toda a área da Bacia Hidrográfica do Ribeirão João Leite: Mapa Pedológico da Folha Goiânia SE 22-X-B, publicado na escala 1/250.000 (Plano Diretor da Bacia do Paranaíba, 2001);
Mapa Exploratório de Solos da Folha SE.22 em escala 1/1.000.000, realizado pelo Projeto RadamBrasil (Novaes et al., 1983); e Mapa Pedológico da Bacia do Ribeirão João Leite em escala 1/100.000 (Oliveira, 1996). Os dois primeiros são similares na área em tela, razão pela qual serão comentados apenas os mapas de Oliveira (1996) e Novaes et al. (1983). O mapa pedológico de Oliveira (1996) está representado na Figura 2A, numa versão simplificada a partir do mapa original. Os principais solos presentes na bacia são Latossolos Vermelhos, Argissolos Vermelho Amarelos e Cambissolos. Predominam os Latossolos Vermelhos, que ocorrem ao longo do eixo da bacia hidrográfica. Os latossolos têm textura argilosa e ocorrem em áreas de relevo suave ondulado e plano, mais raramente em áreas de relevo ondulado. Argissolos Vermelho Amarelos ocorrem predominantemente ao longo das bordas da bacia, principalmente nas porções leste e norte. Na média e baixa bacia os argissolos ocupam também o eixo da bacia hidrográfica, em alternância com os latossolos. Argissolos ocorrem ainda em manchas menores na alta bacia. A textura é caracterizada por Oliveira (1996) como média cascalhenta/argilosa cascalhenta e média/argilosa. Os argissolos ocorrem em áreas de relevo forte ondulado e ondulado. As manchas cartografadas como Cambisolos aparecem em duas pequenas porções, uma na extremidade nordeste e outra na parte sudeste da bacia hidrográfica. A textura é argilosa cascalhenta a argilosa e o relevo é ondulado a forte ondulado. Ressalta-se que as áreas cartografadas como Argissolos contém proporções menores de Cambissolos. Na cartografia proposta por Oliveira (1996) aparecem ainda Plintossolos Pétricos e Gleissolos Melânicos, bastante subordinados em termos de área ocupada.
Figura 2: Mapas pedológicos da Bacia Hidrográfica do Ribeirão João Leite. À esquerda (2A), mapa pedológico simplificado a partir de Oliveira (1996) e a direita (2B) mapa pedológico simplificado a partir de Novaes et al. (1983). O mapa pedológico publicado por Novaes et al. (1983) foi elaborado com base nas classificações de EMBRAPA (1982 in Novaes et al. 1983) e EUA (1960 in Novaes et al. 1983). Os solos dominantes são Latossolos, Podzólicos e Cambissolos. Latossolo Vermelho Escuro e Latossolo Roxo, ambos com textura argilosa a muito argilosa, ocupam a maior parte da área e sua localização é no eixo da bacia e na sua borda oeste, em áreas de relevo plano a suave ondulado. Podzólico Vermelho - Escuro com textura média argilosa ou argilosa ocorre na forma de uma faixa ao longo nas bordas da bacia, nos seus limites norte e leste, em áreas de relevo ondulado a suave ondulado. Novaes et. al. (1983) também individualizaram uma mancha de Podzólico Vermelho - Escuro Latossólico, com características intermediárias entre podzólicos e latossolos. Cambissolos ocorrem na média e baixa bacia, tem textura média cascalhenta e estão associados à Podzólico Vermelho-Amarelo e Solos Litólicos. O relevo é descrito como ondulado a forte ondulado. 4 CONCLUSÃO
A partir dos mapas analisados pode-se dizer que os Latossolos Vermelhos são os solos predominantes, ocorrendo no eixo da bacia hidrográfica, principalmente na sua parte central e norte. A textura é argilosa e o relevo é plano a suave ondulado. Latossolos tem pouca suscetibilidade à erosão. No entanto, se a intervenção antrópica provocar aumento e concentração do escoamento ou compactação do solo, podem ocorrer ravinas de grande porte e voçorocas. Argissolos (ou Podzólicos) ocorrem principalmente como uma faixa ao longo dos divisores da bacia, associado a Cambissolos, em áreas de relevo suave ondulado, ondulado e forte ondulado. Na cartografia proposta por Oliveira (1996) estes solos também ocorrem no eixo da bacia. Esta associação de Argissolos e Cambissolos em área de relevo ondulado a forte ondulado configura áreas com maior suscetibilidade à erosão. Assim, considerando o parâmetro solo, estas áreas são as que têm maior potencial para desenvolvimento de erosão acelerada, que poderia resultar na degração dos recursos hídricos tanto pelo assoreamento do reservatório como no carreamento de cargas poluidoras para os mananciais. REFERÊNCIAS INFANTI JÚNIOR, N.; FORNASARI FILHO, N. Processos de dinâmica superficial. In OLIVEIRA, A. M. dos.; BRITO, S. N. S. de (Org.). Geologia de Engenharia. São Paulo: ABGE, 1998, p. 131-152. KERTZMAN, F. F.; DINIZ, N. C. As abordagens de solo utilizadas na geologia aplicada ao meio ambiente. In BITAR, O. Y. (Org.). Geologia de Engenharia. São Paulo: ABGE/ IPT, 1995, p.19-30. LEPSCH, I. F. Formação e Conservação dos Solos. São Paulo: Oficina de textos, 2002. NOVAES, A. S. et al. Solos. In: MME/SG/Projeto RadamBrasil Levantamento de recursos naturais v. 31, Folha SE. 22 GOIÂNIA. Projeto Radam Brasil. Rio de Janeiro: MME/SG/ Projeto Radam Brasil, 1983, p. 301-376. OLIVEIRA, V. A. Mapa de solo ao nível de alta intensidade da bacia hidrográfica do Rio João Leite na escala 1/100.000. Goiânia: Agência Rural, 1996. RODRIGUES, C.; ADAMI, S. Técnicas fundamentais para o estudo de bacias hidrográficas. In VENTURI, L. A. B. (Org.) Praticando geografia: técnicas de campo e laboratório em geografia e análise ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2005, p. 147-166.
SALOMÃO, F. X. T. e ANTUNES, F. S. Solos em Pedologia. In: OLIVEIRA, A. M. S. & BRITO, S. N. A. (Org.). Geologia de Engenharia. São Paulo: ABGE-Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 1998, p. 87-99. PRADO, H. de. A Pedologia Simplificada. Arquivo do agrônomo. 2 Edição. Potafos: Piracicaba- SP, nº 1, s.d. PLANO DIRETOR DA BACIA DO PARANAÍBA Mapa de Solos 1/250.000 Folha Goiânia S.E.22-X-B (2001). Disponível em <http://www.sieg.go.gov.br/> acesso em Março de 2010. ROSS, J. L. S. Geomorfologia aplicada aos EIAs-RIMAs. In: (GUERRA, Antonio J. T. e CUNHA, Sandra B. (org.) Geomorfologia e Meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.291-336, 1996.