UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE EXTENSÃO E CULTURA Atendimento odontológico ao paciente com câncer bucal na cidade de Goiânia* VIEIRA,Denise Ferreira 1 ; SOARES,Mariana Silveira 2 ; SILVA, Clóvis Martins 3 da; MENDONÇA,Elismauro Francisco de 4. Palavras chave: câncer de boca; radioterapia, osteorradionecrose. Introdução/Justificativa O câncer de boca é considerado uma doença crônica que provoca invalidez exigindo internação hospitalar e acompanhamento ambulatorial freqüente. (Cruz et al., 2002). De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2012) a estimativa de incidência de novos casos de câncer de boca para o ano de 2012 é de 14.170, sendo que para o estado de Goiás, são estimados 370 novos casos. O câncer na região cabeça e pescoço (CCP) tem alta taxa de morbidade em todo o mundo. O tratamento do CCP é principalmente cirúrgico, mas em aproximadamente 80% dos casos pode estar associado à radioterapia (RT) e/ou quimioterapia (QT). Cada modalidade, QT ou RT apresenta diferentes toxidades e efeitos adversos na função física, e essas toxidades podem ser temporárias ou permanentes, podendo ter efeitos substanciais na qualidade de vida (QV) (MARUR, 2008). No Estado de Goiás, os pacientes portadores de neoplasia maligna recebem o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Hospital Araújo Jorge (HAJ), mantido pela Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG). Durante o tratamento oncológico, há necessidade de cuidados com a saúde bucal, principalmente quando as terapias adjuvantes como RT e QT são prescritas como partes do tratamento. Os principais efeitos adversos destas modalidades de tratamento são: a Mucosite oral (MO), a Xerostomia (boca seca), a Cárie por radiação e outras alterações que podem gerar vários
problemas para o paciente impedindo a continuidade necessária para um tratamento eficaz. (CARIBÉ-GOMES et al., 2003). A principal complicação e muitas vezes motivo de interrupção da RT e/ou QT é a MO. Trata-se de uma lesão de natureza inflamatória e de evolução aguda com risco de infecção gerando uma lesão clínica com sintomatologia dolorosa intensa e de difícil controle, podendo comprometer a deglutição, higiene oral e a capacidade de comunicação do paciente. Na dependência da severidade da MO, muitas vezes é indicado a interrupção da RT e ou QT por semanas gerando alterações no plano de tratamento interferindo no prognóstico do paciente. (ELTING et al., 2007). Com referencia a prevenção e controle da MO há estudos que observaram que o Laser de Baixa Potencia (LBP) apresenta efeitos benéficos com relação à prevenção e tratamento da MO. Estudo de Oton-Leite e colaboradores em 2012 demonstraram que o uso de LBP em pacientes com CCP em tratamento com terapias adjuvantes como RT/QT melhora substancialmente a qualidade de vida destes pacientes portadores de MO. Além do LBP, outras medidas devem estar associadas para estabelecer uma melhor QV do paciente, como utilização de protocolos de higiene oral e fluorterapia orientados por Cirurgiões Dentistas (VISSINK et al., 2003). Metodologia No ano de 2011, graças ao Programa de Extensão Universitária, alunos de graduação e pós-graduação em odontologia da UFG puderam acompanhar a equipe do Serviço de Odontologia e Cabeça e Pescoço do HAJ. De acordo com o protocolo do hospital, os pacientes que recebem indicação de submeter RT e ou QT na região de cabeça e pescoço, independentemente do tipo de tumor, devem passar por uma avaliação odontológica e posterior preparo da cavidade oral para receberem as terapias. Os pacientes que precisarem de qualquer tratamento odontológico são orientados a realizá-los antes do tratamento oncológico. Além disso, os pacientes são orientados em relação aos efeitos adversos do tratamento, como a xerostomia (boca seca) e a necessidade de hidratar a cavidade oral constantemente para reduzir o risco de desenvolvimento de cárie. Associado à hidratação constante todo paciente com
dentes recebem a prescrição de bochechos com flúor por 5 anos após o tratamento. Para o controle da MO os pacientes são orientados quanto aos efeitos benéficos da laserterapia e de acordo com a disponibilidade recebem aplicações semanais durante o processo de RT/QT. Durante o tratamento os pacientes recebem orientações semanais e posterior as etapas de RT/QT são acompanhados mensalmente nos primeiros 6 meses e trimestralmente durante os 4 anos e 6 meses pós-terapia. Este protocolo possibilita a manutenção dos cuidados da saúde bucal do paciente oncológico e a aderência do paciente ao protocolo implica na sua qualidade de vida. Além da aplicação do protocolo,quando necessário, pequenas cirurgias e biópsias também são desenvolvidas pela equipe participante do projeto. Objetivos Os objetivos do Projeto de Extensão são: avaliar a condição bucal dos pacientes com diagnóstico de carcinoma espinocelular (CEC) da cavidade bucal antes de iniciar o tratamento oncológico; orientá-los quanto aos cuidados com a cavidade bucal e as possíveis alterações e efeitos colaterais decorrentes do tratamento antineoplásico, seja ele, cirúrgico, radio ou quimioterápico; orientar quanto aos cuidados de higiene bucal e fluorterapia; acompanhar as fases de diagnóstico de lesões bucais sejam elas por imagem, cirúrgicas ou por exames anatomopatológicos. Resultados Durante o período de março de 2011 a março de 2012, foram realizadas 1733 consultas odontológicas no HAJ, sendo que maior parte destas, foram de orientações pré-tratamento oncológico e acompanhamento dos pacientes em tratamento. Foram realizadas ainda cerca de 50 pequenas cirurgias entre biópsias incisionais, excisionais, exodontias e cirurgias exploratórias. Além disso, o projeto de extensão propicia a oportunidade de realização de pesquisa de iniciação científica. No ano de 2011, um caso clínico de linfoma de cavidade oral proveniente dos atendimentos durante a Extensão foi apresentado no Congresso Internacional de Odontologia de Goiás (CIOGO).
Discussão Os pacientes com diagnóstico de carcinoma espinocelular na cavidade bucal são submetidos a tratamentos que possuem diversas implicações na microbiota e fisiologia da cavidade oral. Além disso, devido às alterações sistêmicas provocadas pelo tratamento estão mais susceptíveis a infecções oportunistas (FUNG et al., 2004). São inúmeras as complicações decorrentes do tratamento radio e quimioterápico, estando entre as mais frequentes a candidose oral, mucosite, osteorradionecrose, cáries de progressão rápida, entre outras. Estas alterações, dependendo de sua gravidade e ocorrência, podem até mesmo levar a uma suspensão temporária no tratamento do paciente, interferindo de forma negativa no prognóstico da doença (ELTING et al., 2007). Devido ao grande número de alterações bucais e a influência das mesmas na qualidade de vida e na continuidade do tratamento destes pacientes, é fundamental a avaliação e orientação realizadas pelo cirurgiãodentista. A extensão possibilitou aos graduandos e pós-graduação o contato com os pacientes com câncer antes, durante e após o tratamento oncológico, o que é muito importante para seu futuro profissional, pois o acadêmico tem contato com necessidades que envolvem o tratamento odontológico do paciente com câncer. Conclusão A avaliação criteriosa da condição bucal antes de iniciar o tratamento antineoplásico é fundamental para a prevenção das complicações bucais, contribuindo para que o paciente possa realizar o tratamento de forma contínua, melhorando qualidade de vida. O contato do acadêmico com essas situações é muito importante para a ampliação de seu conhecimento em relação à atuação do cirurgião dentista no tratamento de pacientes com câncer, que podem aparecer em sua rotina clínica. Referências
1. CARIBÉ-GOMES, F.; CHIMENOS-KÜSTNER, E; LÓPEZ-LÓPEZ, J,et al. Dental management of the complications of radio and chemotherapy in oral cancer. Med Oral. 2003;8(3):178-87. 2. CARL, W. Oral complications of local and systemic cancer treatment. Curr Opin Oncol. 1995;7(4):320-4. 3. CRUZ, G.D. et al. Oral cancer knowledge, risk factors and characteristics of subjects in alarge oral cancer screening program. Journal of the American Dental Association, v.133,p.1064-1071, 2002. 4. ELTING, L.S.; COOKSLEY, C.D.; CHAMBERS, M.S.; et al. Risk, outcomes, and costs of radiation-induced oral mucositis among patients with head-and-neck malignancies. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 2007;68(4):1110-20. 5. FALL-DICKSON, J.M.; RAMSAY, E.S.; CASTRO, K.; et al. Oral mucositis-related oropharyngeal pain and correlative tumor necrosis factor-alpha expression in adult oncology patients undergoing hematopoietic stem cell transplantation. Clin Ther. 2007;29 Suppl:2547-61. 6. INCA 2012, Estimativa da incidência de novos casos de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2012. 7. MARUR, S.; FORASTIERE, A.A. Head and neck cancer: changing epidemiology, diagnosis, and treatment. Mayo Clin Proc. 2008;83(4):489-501. 8. VISSINK, A.; BURLAGE, F.R.; SPIJKERVET, F.K., et al. Prevention and treatment of the consequences of head and neck radiotherapy. Crit Rev Oral Biol Med. 2003;14(3):213-25.