1 INFLUÊNCIA DA AMAMENTAÇÃO NATURAL NO DESENVOLVIMENTO DE HÁBITOS DE SUCÇÃO NÃO NUTRITIVOS Elizabeth Lima Costa 1 José Ferreira Costa 2 Mayra Moura Franco 3 Roberta Maria Serra de Brito 4 Resumo: Foram avaliadas 130 crianças de 2 a 5 anos de idade da creche Maria de Jesus Carvalho em São Luís-MA. Questionários foram aplicados às mães e analisados através do teste estatístico do qui-quadrado (0,05%). 52,3% tinham algum tipo de hábito não nutritivo, sendo 47,7% a sucção de chupeta e 7,7% a sucção digital; 36,9% realizaram aleitamento natural exclusivo, 3,1%, aleitamento artificial exclusivo e 60% misto. Conclui-se que existe uma associação positiva entre o tempo e forma de aleitamento e a presença de hábitos de sucção não-nutritivos e a prevalência do hábito de sucção de chupeta e o tipo de amamentação. Palavras-chave: aleitamento materno; hábitos de chupeta; sucção digital. Abstract: They were evaluated 130 infants from 2 to 5 years of age in a Day Care Maria de Jesus Carvalho in São Luís, MA. Questionnaires were applied to the mothers and analyzed through the statistical test of chi-square (0,05%). 52,3% had some kind of non-nutritious habit, being 47,7% through the pacifier suction and 7,7% through the digital suction; 36,9% realized exclusive natural breast-feeding, 3,1%, exclusive artificial breast-feeding and 60% mixed. It is concluded that exists a positive association between the time and forms of breastfeeding and the non-nutritious suction habits presence and the prevalence of the pacifier suction habit and the kind of breastfeeding. Keywords: maternal breastfeeding; habits of pacifier; digital suction. 1 Mestre e Professor do Curso de Odontologia-UFMA.E-Mail: bet.lima@terra.com.br 2 Doutor e Professor do Curso de Odontologia-UFMA.E-Mail: jfcosta@usp.br 3 Estudante do Curso de Odontologia-UFMA.E-Mail: mayra_myra@hotmail.com 4 Estudante do Curso de Odontologia-UFMA.E-Mail: roberta_brito17@hotmail.com
2 1 INTRODUÇÃO Amamentar, além de ser um ato de amor, é um verdadeiro exercício para o bebê, pois colabora para seu correto desenvolvimento crânio-facial, sua saúde mental e psíquica. (HERINGER et al., 2005). A amamentação natural durante os seis primeiros meses de vida é importante não apenas para a nutrição, mas também para o fortalecimento do sistema imunológico e para o correto desenvolvimento da oclusão decídua, além de prevenir a instalação de hábitos viciosos (Neiva et al, 2003). As funções realizadas através da amamentação promovem estímulos neurais adequados ao crescimento ósseo e muscular para prevenir maloclusões por hipo desenvolvimento (QUELUZ; GIMENEZ, 2000). São muitas as vantagens da amamentação: nutrição, carinho, aconchego, afeto, relação mãe/filho, proteção imunológica, respiração, sendo muito importantes também os exercícios funcionais, realizados pela língua, lábios e bochechas. O processo de amamentação natural desencadeia o trabalho de um conjunto de músculos, de modo a estimular o crescimento e o desenvolvimento ósseos que influenciam a forma da face e a harmonia dos dentes (ARONIS, FIORINI, 2000). Em um âmbito mais abrangente, o aleitamento materno está intimamente relacionado ao estabelecimento da fonação, da deglutição, da respiração correta, além de promover o crescimento harmônico de todo sistema estomatognático (MEDEIROS et al., 2000). As crianças que são amamentadas no seio possuem menor probabilidade de adquirir hábitos orais nocivos; tendem a sugar o dedo para exercitar sua musculatura, saciando a sua fome por meio de outros artifícios nutricionais, sem portanto, saciar sua sucção. Nesse momento o hábito se instala (FERREIRA,TPLEDO,1997). A sucção do polegar também pode ser decorrente de problemas ambientais, tais como carência afetiva, ansiedade, ciúmes, podendo ser prejudicial à criança (CAVASSANI, 2003). Além disso, sabe-se, no entanto, que nem todos os benefícios oriundos
3 da amamentação no peito são supridos pelo aleitamento artificial, visto que o primeiro além de seu aspecto nutricional incontestável promove benefícios de ordem afetiva, importante para o desenvolvimento psicoemocional do bebê (MEDEIROS et al., 2000). Os hábitos se instalam com maior freqüência em crianças que não tiveram amamentação natural, pois o impulso neural da sucção está presente desde a vida intra-uterina e é normal na criança, garantindo sua sobrevivência e sendo até mesmo considerada como a primeira fase da mastigação (SILVESTRE, 2002). Quando a criança tem a amamentação por mamadeiras, o fluxo de leite é bem maior que a amamentação natural, portanto a criança se satisfaz nutricionalmente em menor tempo e com menor esforço. A êxtase emocional com relação ao impulso da sucção não é atingido, e a criança para isso procura substitutos como o dedo, a chupeta e objetos para satisfazer-se (SERRA-NEGRA et al., 1997). Os hábitos bucais de sucção quando persistem além da fase oral da criança (3 anos) estão relacionados ao surgimento de maloclusões dentárias, destacando-se a mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e prognatismo maxilar (BITENCOURT et al, 2001). É sabido, porém, que a gravidade dos problemas advindos do hábito de sucção depende também da duração, freqüência e intensidade de seu uso, como também da predisposição individual, com presença ou não de doenças somáticas (QUELUZ, GIMENEZ, 2000). A sucção é considerada um instinto fisiológico, um reflexo primitivo, através do qual, o bebê busca satisfazer suas necessidades nutricionais e afetivas. Sendo assim, a criança costuma continuar sugando o peito materno mesmo após ter se alimentado suficientemente, buscando desta maneira, satisfazer suas necessidades psicológicas. Este hábito de sucção é um reflexo que ocorre na fase oral do desenvolvimento que tende a desaparecer, aproximadamente, entre um e três anos e meio (CUNHA et al.,2007). O uso prolongado de chupeta pode alterar a postura de lábios e língua; prejudicar a tonicidade dos músculos dos lábios, língua e face, deixando-os flácidos;
4 induzir movimentos incorretos da língua na deglutição; prejudicar as arcadas dentárias; alterar a mastigação; provocar a respiração oral; prejudicar a emissão correta dos sons e favorecer o descontrole da saliva (CUNHA, 2001). A mamadeira não deve ser utilizada, pois condiciona o recém-nascido à sucção diferente daquela a que ele está acostumado quando mama no seio, contribui para o desmame precoce, devido a confusão de bico (Gamburgo et al., 2002). Em casos de dificuldades com a amamentação, o leite materno deve ser ordenhado e fornecido em colheres ou copos (GAVA -SIMIONI et al., 2001). O aleitamento materno hoje é considerado uma questão de saúde pública e as vantagens da lactação são reconhecidas em todo mundo, o qual deve ser estimulado até os seis meses de idade, como único alimento e líquido fornecido ao bebê, assim que atingir essa idade pode ser iniciado outro tipo de alimentação (HERINGER, 2005; ASSIS, 2007). O Odontopediatra, sendo um profissional da área de saúde, orientar a gestante e as mães quanto à necessidade do aleitamento do bebê ao seio, de preferência como fonte exclusiva até os seis meses de idade (MEDEIROS et al., 2000). O presente estudo teve por objetivo avaliar a importância da amamentação natural e sua influência no desenvolvimento de hábitos de sucção não nutritivos. 2 METODOLOGIA Foi realizado um estudo transversal em 130 crianças de ambos os sexo, na faixa etária de 2 a 5 anos de idade, matriculados na Creche Escola Maria de Jesus Carvalho, pertencente à Secretaria Municipal de Educação em São Luís-MA (CEP: Nº23115005359/2008-34). Os dados foram coletados através da aplicação de um questionário às mães, durante uma reunião de pais e mestres, no qual as perguntas elaboradas, buscavam avaliar o período em que as crianças foram amamentadas no seio
5 materno, época do desmame e a presença de hábitos de sucção não nutritivos (chupeta e/ou sucção digital). Em seguida, analisados através da estatística descritiva apresentados em forma de Tabelas de Freqüência e aplicado o teste do Qui-Quadrado (X 2 ) de independência, com nível de significância de 5%. 3 RESUTADOS Tabela 1- Relação entre o tipo de amamentação até a idade que mamou no peito Idade que mamou no peito Amamentação Natural Artificial Mista Total nunca 0 4 0 4 Até 2 2 0 11 13 4 a 6 3 0 17 20 7 a 12 8 0 18 26 Maior que 12 35 0 32 67 Total 48 4 78 130 X 2 = 44,075 p<0,001 Tabela 2 - Relação entre o tempo de amamentação natural e hábito de chupeta Usa chupeta Amamentação Natural Artificial Mista Total sim 8 3 51 62 não 40 0 26 66 Total 48 3 77 128 X 2 = 41,589 p<0,001 Tabela 3 - Relação entre o tipo de alimentação e o hábito de chupar dedo Chupar dedo Amamentação Natural Artificial Mista Total sim 1 1 8 10
6 não 46 3 70 119 Total 47 4 78 129 X 2 = 4,427 p=0,109 4 DISCUSSÃO A importância do aleitamento materno para o adequado desenvolvimento físico e emocional da criança é conhecida entre os profissionais da saúde, estando relacionada a fatores nutricional, emocional e afetivos, além da importância no desenvolvimento das estruturas orofaciais, já que os movimentos musculares realizados durante a amamentação são diferentes daqueles realizados com auxílio de mamadeira (MEDEIROS et al., 2000; BALDRIGHI et al., 2001; SILVESTRE, 2002). No presente estudo, podemos observar que as crianças que foram amamentadas no seio materno, não apresentaram hábitos de sucção não nutritivos. Por outro lado, evidenciamos uma maior prevalência em crianças que fizeram alimentação mista, o que corrobora com os estudos realizados por ARONIS, FIORINI, 2000; BITTENCOURT et al., 2001; CUNHA et al., 2007. Podemos também evidenciar que os hábitos encontrados com maior freqüência foram à sucção de chupeta quando a criança se alimentava do leite materno em associação com a mamadeira (mista). Isto se deve ao fato da sucção ser considerada um instinto fisiológico, através do qual, o bebê busca satisfazer suas necessidades em menor tempo e menor esforço. Estes dados são semelhantes aos encontrados em diversos estudos, onde a sucção de chupeta foi o hábito mais citado, seguido, em ordem decrescente, pela onicofagia e sucção de dedos (SERRA-NETO et al.,1997; FERREIRA, TOLEDO, 1997; BALDRIHTHI et al.,2001). Em relação ao tipo de amamentação e a presença de hábito de sucção não nutritiva, as crianças que nunca foram amamentadas no peito e que consequentemente utilizam a mamadeira para alimentação, estão mais propensas a
7 desenvolver hábitos bucais nocivos, constituindo-se num dos principais fatores etiológicos das maloclusóes dentárias, anulação da excitação da articulação têmporo-mandibular (Assis, 2007) e aumento do risco de desenvolver a cárie de estabelecimento precoce. Opiniões análogas estão apresentadas nos trabalhos de (ARONIS, FIORINI,2000; QUELUZ, GEMENEZ, 2000; BALDRIGHI et al., 2001; SILVESTRE,2002; CAVASSANI, 2003; HERINGER, 2005; FERREIRA, TOLEDO, 2007). Estudo realizado por Kobayashi, Scavone Jr (2007) sobre amamentação e hábitos de sucção não nutritiva em 1.377 crianças de 3 a 6 anos de idade amamentadas por um período superior a doze meses, concluiu que a amamentação exclusiva contribui para reduzir em 93% a possibilidade das crianças desenvolverem problemas ortodônticos no futuro. Trabalho análogo foi realizado por Zuanon (2000) que relata que a amamentação no peito até os 12 meses de idade proporcionou menor possibilidade de desenvolvimento de hábitos de sucção não nutritiva, através da chupeta, ou mesmo do próprio dedo. Estes resultados são extremamente importantes, pois fornecem embasamento científico essencial para a realização de campanhas educativas e preventivas, para estimular a amamentação natural, no mínimo, até os seis meses de idade, tendo em vista os inúmeros benefícios que este oferece, como o fortalecimento do sistema imunológico e dos laços afetivos entre mãe e filho. Entretanto, devendo ser enfatizada a higiene bucal das crianças após a amamentação. CONCLUSÃO 1- Existe uma associação significativa entre o tempo, tipo e forma de aleitamento e a ocorrência de hábitos de sucção não-nutritivos; 2- Existe associação significativa entre a prevalência do hábito de sucção de chupeta e o tipo de amamentação; 3- Não foi observada associação significativa entre o tipo de amamentação e
8 hábito de sucção digital. REFERÊNCIAS Aronis EA, Fiorini MDCN. Aleitamento materno e alimentação na primeira infância sob enfoque foniaudiológico. [on-line] Centro de Estudos Avançados Odontofono 2000.Disponível:htpp://www.ceaodontofono.com.br/índex_single. Assis C de. Aleitamento Materno: um ato de amor e respeito diante da vida. Rev RBO 2007;64(3/4):216-9. Bittencourt LP, Modesto A, Bastos EPS. Influência do aleitamento sobre a freqüência dos hábitos de sucção. Rev Bras Odontol 2001;5(3):191-3. Cavassani VGS. Hábitos orais de sucção: estudo piloto em população de baixa renda. Rev Bras Otorrinolaringol 2003; 69(1):106-10. Cunha RF, Costa MMTM, Sanches PAG, Nery RS. Influência da amamentação natural e artificial sobre a ocorrência de hábitos de sucção não nutritivos. RevAssoc Paul. Cir Dent 2007;61(5):411-4. Cunha VLO. Prevenindo problemas na fala pelo uso adequado das funções orais: manual de orientação. Pró-fono 2001;34-61. Ferreira MIDT, Toledo OA. Relação entre tempo de aleitamento materno e hábitos bucais. Rev ABO Nac 1997;5(6):317-20. Gamburgo LJL, Munhoz SPM, Amstalden LG. Alimentação do recém-nascido: aleitamento natural, mamadeira e copinho. Fono Atual 2002;5(20):5-10. Gava-Simioni LR, Jacinto SR, Gavião MBD, Puppin Rontani RM. Amamentação e odontologia. J Bras Odontop Odontol Bebê 2001;4(18):125-31. Heringer MRC. A influência da amamentação natural no desenvolvimento dos hábitos orais. Rev CEFAC 2005;7(3):307-10. Kobayashi HM, Scavone Jr H. Os períodos de amamentação exclusiva e sua relação como fator de risco para o desenvolvimento de alterações na oclusão dentária. In: 24ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO): 2007; Atibaia. Anais. São Paulo: Centro de Convenções de Atibaia; 2007. p.50-65. Medeiros UV, Souza MIC, Prado F, Carneiro F, Montenegro C, Máximo F.
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