AS CONSEQUÊNCIAS DO VÍCIO DO CONSENTIMENTO NO RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA RESUMO

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Transcrição:

153 AS CONSEQUÊNCIAS DO VÍCIO DO CONSENTIMENTO NO RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA RESUMO Mônica Viana BRAMBATTI 1 Ronaldo Carvalho SILVA FILHO 2 O conceito de família atualmente tem adotado uma nova formação, os institutos da paternidade e da filiação foram redefinidos e a família deixou de ser exclusivamente aquela constituída através de laços genéticos. Este trabalho tem por objetivo principal uma análise sobre a paternidade socioafetiva buscando o real sentido da filiação no âmbito jurídico, biológico e afetivo no estabelecimento do vínculo paterno. Para tanto, aborda a real existência da filiação no sentido jurídico, biológico e socioafetivo, para melhor compreensão das relações psicoemocionais que envolvem pais e filhos dentro desta situação. Ao longo deste trabalho busca-se evidenciar a ausência de dispositivos legais sobre o tema, que recorre a entendimentos doutrinários e jurisprudenciais escassos para demonstrar o elo paterno-filial entre aqueles que não se encontram dentro dos parâmetros legais e biológicos do estado de filiação. Palavras-chave: Paternidade socioafetiva. Vício de consentimento. Anulação de registro civil. 1 INTRODUÇÃO O conceito de família tem adotado novos contornos em nossa sociedade, e não se baseia unicamente no modelo patriarcal fundado pela instituição do casamento como base para a formação familiar. Atualmente, a formação familiar pode ser constituída não só pela consanguinidade, mas também pelos laços que se formam entre pessoas que não compartilham nenhum vinculo biológico. Com o advento da carta magna de 1988, houve profundas alterações dentro do direito de família, e em consequência houve também mudanças significativas quanto a matéria de estado de filiação. Depois da promulgação da atual constituição, o conceito de família deixou de ser fundado no matrimônio, de modelo patriarcal e hierarquizada. As relações de filiação sofreram profundas mudanças ao longo do tempo. O casamento deixou ser a única maneira de se estabelecer a paternidade, e em razão disso a discriminação contra os filhos concebidos fora da união matrimonial deixou de existir. Antes da promulgação da atual constituição, os filhos concebidos fora do casamento eram 1 Graduanda em Direito, Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA, Iturama/MG. monicabrambatti@gmail.com 2 Especialização em Direito Empresarial e Tributário (Centro Universitário de Rio Preto UNIRP/SP). Especialização em Direito do Trabalho (Faculdade Aldete Maria Alves, Iturama/MG). Bacharel em Direito (Faculdades Integradas Toledo Araçatuba). Professor do curso de Direito da Faculdade Aldete Maria Alves/FAMA, Iturama/MG. rocasifi@hotmail.com

154 considerados ilegítimos e não gozavam dos mesmos direitos dos filhos concebidos dentro da união entre um homem e uma mulher na constância do matrimônio. Atualmente, o conceito de família é mais abrangente acompanhando as mudanças da sociedade; hodiernamente considera-se família todo conjunto de pessoas que dividem o mesmo teto, compartilham de todas as tristezas e alegrias proporcionadas pela vida, assim consideradas pelo amor e pelo respeito que as une. A família idealizada pela nossa atual constituição é amparada no princípio da dignidade da pessoa humana, e não é limitada por laços genéticos, pode também ser formada por fortes liames afetivos, tornando o vínculo afetivo tão importante quanto o vínculo biológico, podendo em alguns casos prevalecer a ele. 2 A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA O modelo patriarcal de família deixou de ser a única base para a formação familiar na sociedade brasileira, devido às mudanças provocadas pela modernização social e emancipação econômica da mulher. Atualmente, o conceito de família não tem se baseado unicamente pela formação de laços genéticos. Os modelos tradicionais de família se tornaram obsoletos e em nada contribuem na relação entre pais e filho. O direito de família passou a ser interpretado sob a luz da Constituição Federal (BRASIL, 1988), conforme evidenciado no artigo 227, 6º, in verbis: Art.227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. [...] 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação (BRASIL, 1988 in VADE MECUM, 2011, p. 79-80). O atual Código Civil (BRASIL, 2002), não traz expressamente em seu texto legal nenhum dispositivo que trate diretamente sobre a paternidade socioafetiva, mas em seu artigo 1.593 deixa margem para interpretação de outras formas de parentesco. Assim vejamos: Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem (BRASIL, 2002 in VADE MECUM, 2011, p. 277). Para Martins e Salomão (2011), a família socioafetiva tem sofrido com as injustiças devido à falta de amparo legal, já que o Código Civil não reflete a atual realidade da família

155 contemporânea expressa pela Constituição Federal, que proibiu qualquer forma de discriminação relativa à filiação. A relação paternal fundada na afetividade gera, além do vínculo afetivo, responsabilidade, oriunda da convivência entre pais e filhos independentemente do vínculo consanguíneo, uma vez que a paternidade socioafetiva está intrínseca em todas as formas que a paternidade é exercida. Ser pai é um ato de amor, respeito, carinho e doação ao próximo. Mesmo a relação paterno-filial oriunda da afetividade existe a responsabilidade do pai afetivo em relação aos filhos mesmo que estes estejam ligados apenas pelos laços de afetividade, relação esta que implica em direitos e deveres recíprocos entre pais e filhos, tanto de cunho moral como patrimonial. Estes direitos são a consequência natural do vínculo criado a partir da existência da paternidade, e protegido pela Carta Magna que concedeu direitos iguais aos filhos, sendo vedada qualquer forma de discriminação relativa à filiação. A respeito do tema, Maria Helena Diniz assim se posiciona: Pai e mãe (biológicos ou afetivos) é quem cria e educa. A relação paterno-maternofilial não se esgota na hereditariedade, mas em fortes liames afetivos, numa trajetória marcada por alegrias e tristezas, podendo ser oriunda da verdade socioafetiva. Daí dizer João Baptista Villela que se pode ter a desbiologização da paternidade. Por isso pode-se afirmar que o vínculo socioafetivo não é menos importante que o biológico, devendo em certos casos prevalecer sobre ele, ante o principio do melhor interesse da criança. A afetividade revela uma história de amor e carinho. A busca da verdade biológica, por isso, não poderá ser absoluta; é preciso, em certos casos, valorizar a paternidade ou maternidade socioafetiva. (DINIZ, 2010, p. 516). Ainda de acordo com Maria Helena Diniz, o importante é o ânimo de se exercer a paternidade independente da forma como esta é constituída. Segunda ela: A verdade real da filiação pode ser biológica ou socioafetiva; o que importa é a vontade procriacional conscientemente assumida e a afetividade. O laço que une pais e filhos funda-se no amor e na convivência familiar. Enfim, ser pai e ser mãe requer um ato de amor, e o amor não conhece fronteiras. O importante, para o filho, é a comunhão material e espiritual, o respeito aos seus direitos da personalidade e a sua dignidade como ser humano; o afeto; a solidariedade; e a convivência familiar, para que possa se atingir seu pleno desenvolvimento físico e psíquico, sua segurança emocional e sua realização pessoal. (DINIZ, 2010, p. 516). Paternidade é se comprometer com os direitos e deveres recíprocos que surgem na relação afetiva estabelecida entre pais e filhos, que se torna fundamental para a formação moral e psicológica dos filhos. Segundo Lôbo (2006), a paternidade é muito mais que prover alimentos ou partilha de bens através da ordem hereditária, envolve a construção de valores e

156 da personalidade da pessoa e de sua dignidade humana, adquiridos com convivência familiar durante a infância e a adolescência. O estado de filiação compreende todos os deveres elencados no artigo 227 da Constituição Federal. Tem efetivamente a posse do estado de filho quem embora não tendo nenhum laço genético se dispõe a trazer para si a responsabilidade de educar, cuidar, de prover todas as necessidades básicas, amar e ensinar através do convívio familiar as regras morais necessárias para a formação pessoal daquele que é considerado como filho. Maria Berenice Dias, em sua obra Manual do direito das Famílias, menciona que para o reconhecimento do estado de posse de filho a doutrina deve se atentar para três aspectos: Para o reconhecimento da posse do estado de filho, a doutrina atenta a três aspectos: (a) tractatus quando o filho é tratado como tal, criado, educado e apresentado como filho pelo pai e pela mãe, (b) nominativo usa o nome da família e assim se apresenta e (c) reputatio é conhecido pela opinião pública como pertencente à família de seus pais. (DIAS, 2006, p. 306-307). Sempre que restar configurado dentro de uma convivência familiar estruturada, o estado de filiação, estando presente a paternidade socioafetiva torna-se impossível sua desconstituição ou impugnação através da investigação de paternidade, ou alegação de vício de consentimento. No direito de família é possível se observar a presença da afetividade em todas as relações familiares, seja biológica, por adoção, inseminação artificial heteróloga ou posse de estado de filiação, em nosso ordenamento jurídico não é possível a desconstituição da paternidade não biológica estabelecida através da adoção e da configuração da posse de estado de filiação. A afetividade tornou-se um principio jurídico estabelecido implicitamente pela Constituição Federal, capaz de impor direitos e deveres a todos que compartilham da mesma afetividade ainda que esta posteriormente deixe de existir. 3 O VÍCIO DO CONSENTIMENTO Previsto no artigo 1.609 do Código Civil e artigo 1º da lei nº 8.560, o reconhecimento da paternidade é ato irrevogável que somente pode ser questionado em situações excepcionais mediante a comprovação plena de erro de consentimento.

157 Nesse mesmo sentido, o artigo 1.604 do Código Civil dispõe que ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro (BRASIL, 2002 in VADE MECUM, 2011, p. 278). Assim, mesmo prevalecendo a irrevogabilidade do reconhecimento da paternidade como regra, se houver elementos precisos que indiquem a ocorrência de um dos defeitos jurídicos (erro, dolo, coação, etc.), pode ser que o registro civil seja anulado. 3.1 As Consequências do Vício do Consentimento no Reconhecimento da Paternidade Socioafetiva O estabelecimento da figura paterna durante a formação pessoal da criança é de suma importância, pois contribui para a formação da personalidade dos filhos, dessa forma não é conveniente que esta relação seja desconstituída por qualquer motivo. Sendo assim, quando houver conflito entre a paternidade biológica e a paternidade socioafetiva, nem sempre os interesses dos pais biológicos irão prevalecer, o que deverá ser observado é o melhor interesse da criança. O reconhecimento de paternidade gera uma série de obrigações emocionais e patrimoniais para o pai afetivo e o filho assim reconhecido, uma vez perdido o interesse em exercer a paternidade, recorre-se a alegação do vicio do consentimento, para buscar a anulação do registro de nascimento. Há situações dentro do nosso ordenamento jurídico que exemplificam a impossibilidade de desconstituição da paternidade socioafetiva, uma delas é a adoção a brasileira, onde a criança é registrada como se filho biológico fosse dos pais afetivos. Nesse sentido, Silva Filha (2008): Em sede de registro de paternidade, pode ocorrer que o declarante do vinculo de filiação o faça reconhecendo a inexistência de descendência, isto é, sabendo que não é o pai. [...] Nesses casos, tem-se a chamada adoção à brasileira, criando-se a paternidade através de simples manifestação de vontade diante do registro público. Considere-se a inexistência, nessa hipótese, do vicio do consentimento do erro, eis que claramente toda a situação de inexistência do vinculo filial é conhecida por aquele que manifesta a vontade, sendo incabível a argumentação de qualquer defeito em sua exteriorização. (SILVA FILHA, 2008, p. 42). Para Maria Helena Diniz (2010), o reconhecimento de paternidade feito por quem tinha ciência de que não era o verdadeiro pai, apesar de ser ilegal e contrariar os moldes legais para a adoção, gera paternidade socioafetiva, sendo impossível sua desconstituição posterior. Segundo ela:

158 Registro de nascimento feito por quem sabia não ser o verdadeiro pai é tido como adoção simulada e gera paternidade socioafetiva. Ter-se-á adoção à brasileira, que advém de declaração falsa assumindo paternidade ou maternidade alheia, sem observância das exigências legais para adoção, apesar de ser ilegal e de atentar contra a fé publica cartorária, acata o art. 227 da CF, no sentido de dar a alguém uma convivência familiar (DINIZ, 2010, p. 490). O reconhecimento da paternidade nos casos em que se sabia da ausência de vínculo biológico não poderá ensejar a anulação do registro civil do reconhecido, uma vez que este reconhecimento encontrou amparo dentro da norma constitucional atingindo sua finalidade e produzindo efeitos jurídicos, colocando o reconhecido no patamar de filho legítimo. A propósito, a Apelação Cível nº70052669280/rs, 7ª Câmara Cível, Relator Des. Liselena Schifino Robles Ribeiro, julgado em 27/02/2013, assim ementa: Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. EXISTENCIA DE PAI REGISTRAL. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. AUSENCIA DE VICIO DE CONSENTIMENTO. O reconhecimento da paternidade é ato irrevogável, a teor do art. 1º da Lei nº 8560/92 e art. 1609 do Código Civil. A retificação do registro civil de nascimento, com supressão do nome do genitor, somente é possível quando há prova de ocorrência de vício de consentimento no ato registral ou, em situação excepcional, demonstração de cabal ausência de qualquer relação socioafetiva entre pai e filho. RECURSO PROVIDO. (Apelação Cível Nº7005266280, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 27/02/2013) (apud DIAS, 2006, p. 547). Nos casos em que o homem tenha sido induzido a acreditar que era o pai biológico da criança e realizado o registro, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça vem adotando o posicionamento de que uma vez estabelecida a posse de estado de filho e se consolidado a paternidade socioafetiva se torna impossível sua desconstituição posterior. Confira-se: DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE C/C ANULATÓRIA DE REGISTRO DE NASCIMENTO. AUSÊNCIA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO. RELAÇÃO SOCIOAFETIVA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO: ARTIGOS ANALISADOS: ARTS. 1.604 e 1.609 do Código Civil. 1. Ação negatória de paternidade, ajuizada em fevereiro de 2006. Recurso especial concluso ao Gabinete em 26.11.2012. 2. Discussão relativa à nulidade do registro de nascimento em razão de vício de consentimento, diante da demonstração da ausência de vínculo genético entre as partes. 3. A regra inserta no caput do art. 1.609 do CC-02 tem por escopo a proteção da criança registrada, evitando que seu estado de filiação fique à mercê da volatilidade dos relacionamentos amorosos. Por tal razão, o art. 1.604 do mesmo diploma legal permite a alteração do assento de nascimento excepcionalmente nos casos de comprovado erro ou falsidade do registro. 4. Para que fique caracterizado o erro, é necessária a prova do engano não intencional na manifestação da vontade de registrar. 5. Inexiste meio de desfazer um ato levado a efeito com perfeita demonstração da vontade daquele que, um dia declarou perante a sociedade, em ato solene e de reconhecimento público, ser pai da criança, valendo-se, para tanto, da verdade

159 socialmente construída com base no afeto, demonstrando, dessa forma, a efetiva existência de vínculo familiar. 6. Permitir a desconstituição de reconhecimento de paternidade amparado em relação de afeto teria o condão de extirpar da criança preponderante fator de construção de sua identidade e de definição de sua personalidade. E a identidade dessa pessoa, resgatada pelo afeto, não pode ficar à deriva em face das incertezas, instabilidades ou até mesmo interesses meramente patrimoniais de terceiros submersos em conflitos familiares. 7. Recurso especial desprovido. (Resp. 1383408/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2014, DJe 30/05/2014). (BRASIL, STJ, 2014). A paternidade socioafetiva se desenvolve com a convivência ao longo do tempo, criando laços de afeto e sendo base fundamental para a formação da identidade pessoal, familiares e morais do filho afetivo. O direito de crescer com a presença paterna é respaldado pelo principio da dignidade da pessoa humana, é um direito fundamental de toda criança, e em contrapartida há o exercício da paternidade de forma responsável de maneira afetiva e solidária independentemente de existência laços de consanguinidade. O interesse da criança deve sempre ser colocado em primeiro lugar em situações como estas, já que a convivência permanente com pessoas estranhas ao vínculo familiar consanguíneo gera uma relação de confiança, amor e afeto que ultrapassa qualquer grau de parentesco biológico. Um vínculo que não pode ser destruído apenas pela ausência de parentesco consanguíneo, por afrontar o melhor interesse da criança, causando uma instabilidade jurídica e principalmente emocional. Diferente ocorre quando não existem vínculos biológicos e afetivos. Nesta hipótese é perfeitamente possível a desconstituição da paternidade e a consequente a anulação do registro de nascimento. Não se deve manter um vínculo entre pai e filho, meramente formal através do registro de nascimento quando não existe se quer os laços de afetividade que configurariam a paternidade socioafetiva. Na ausência de qualquer vínculo entre o pai registral e a criança, não se pode obrigar que as obrigações oriundas do exercício da paternidade sejam impostas a quem nunca demonstrou a intenção de exercer de fato o dom da paternidade ou que não possui nenhum vínculo consanguíneo com a criança. Além do que, o princípio do melhor interesse da criança assegura o direito ao reconhecimento verdadeiro da paternidade que é exercida voluntariamente pelo pai biológico. Nesse sentido, assim a jurisprudência se posiciona: Ementa: RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO NEGATORIA DE PATERIDADE. LEGITIMDADE ORDINÁRIA ATIVA. AÇÃO DE ESTADO. DIRIETO PERSONALISSIMO E INDISPONIVEL DO GENITOR (ART. 27 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE). SUB-ROGAÇÃO DOS AVÓS. IMPOSSIBILIDADE. EXAME DE DNA. RESULTADO DIVERSO DA PATERNIDADE REGISTRAL.

160 AUSENCIA DE VINCULO DE PARENTESCO ENTRE AS PARTES. FILIAÇÃO AFETIVA NÃO CONFIGURADA. ESTADO FILIAÇÃO RECONHECIDO VOLUNTARIAMENTE PELO PAI BIOLÓGICO. SUPREMACIA DO INTERRESSE DO MENOR. VERDADE REAL SE SOBREPÔE Á FICTÍCIA. ART. 511, 2º, DO CPC. AUSENCIA DE NULIDADE. PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF. REEXAMEN DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INVIABILIDADE. SÚMULAS NºS 83,211, 7/STJ E 284/STF. INCIDÊNCIA. 1. A legitimidade ordinária ativa da ação negatória de paternidade compete exclusivamente ao pai registral por ser ação de estado, que protege direito personalíssimo e indisponível do genitor (art. 27 do ECA), não comportando subrogação dos avós, porquanto direito intransmissível, impondo-se manter a decisão de carência de ação (art. 267, VI, do CPC), mormente quando o interesse dos recorrentes não é jurídico, mas meramente afetivo e patrimonial. 2. O estado de filiação decorre da estabilidade dos laços construídos no cotidiano do pai e do filho (afetividade) ou da consanguinidade. 3. A realização do exame pelo método DNA apto a comprovar cientificamente a inexistência do vínculo genético confere ao marido a possibilidade de obter, por meio de ação negatória de paternidade, a anulação do registro ocorrido com vício de consentimento. 4. O erro a que foi induzido o pai registral de criança nascida na constância do seu casamento com a genitora, com quem o suposto pai não estreitou afetividade suficiente para que desfrutasse da paternidade socioafetiva (posse de estado de filho), desafia a eficácia constitutiva negativa de estado pleiteada na inicial, com a consequente alteração do registro público de nascimento da criança, para fazer constar o nome do pai biológico, excluindo-se, consectariamente, o nome dos avós registrais paternos. 5. O registro público tem por princípio conferir segurança jurídica às relações civis e deve espelhar a verdade real e não fictícia. 6. É consectário da dignidade humana que os documentos oficiais de identificação reflitam a veracidade dos fatos da vida, desde que a retificação não atente contra a ordem pública. 7. O princípio da supremacia do interesse do menor impõe que se assegure seu direito ao reconhecimento do verdadeiro estado de filiação, que já é voluntariamente exercida pelo pai biológico. 8. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte. 9. A ausência de prequestionamento da matéria suscitada no recurso especial, a despeito da oposição de embargos declaratórios, impede o conhecimento do recurso especial (Súmula nº 211/STJ). 10. A mera circunstância de não haver o "visto" do revisor que recebe os autos em seu gabinete, pede dia para julgamento e participa plenamente da sessão não contraria o art. 511, 2º, do Código de Processo Civil, à falta de nulidade processual e da demonstração de qualquer prejuízo às partes (pas de nullité sans grief). 11. A reforma do julgado demandaria interpretação de matéria fático-probatória, procedimento vedado na estreita via do recurso especial, a teor da Súmula nº 7/STJ. 12. A perfeita harmonia entre o acórdão recorrido e a jurisprudência dominante desta Corte impõe a aplicação, à hipótese dos autos, do enunciado nº 83 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. 13. A divergência jurisprudencial com fundamento na alínea "c" do permissivo constitucional, nos termos do art. 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil e do art. 255, 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, requisita comprovação e demonstração, esta, em qualquer caso, com a transcrição dos trechos dos acórdãos que configurem o dissídio, a evidenciar a similitude fática entre os casos apontados e a divergência de interpretações. 14. Tendo sido interposto à moda de apelação, ou seja, deixando de indicar especificamente de que forma teria o acórdão incorrido na violação de dispositivos legais sequer apontados para configurar suposta nulidade processual, o recurso

161 especial encontra-se inviabilizado nesta instância especial, a teor da Súmula nº 284 do Supremo Tribunal Federal. 15. Recurso especial parcialmente conhecido, e nesta parte, desprovido. (Resp. 1328306 / DF, Rel. Ministra RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/05/2013, DJe 20/05/2013). (BRASIL, STJ, 2013). Nos casos em que o próprio filho é quem busca o reconhecimento da sua origem biológica, é possível que esta prevaleça sobre a paternidade socioafetiva. A análise da preponderância da paternidade afetiva sobre a paternidade biológica deve ser analisada de acordo com o caso concreto. A paternidade socioafetiva há de prevalecer sobre a paternidade biológica para garantia do melhor interesse da criança. Há entendimento contrário da jurisprudência quando é o filho que busca o reconhecimento da paternidade biológica, o filho é o maior interessado em manter o vínculo afetivo com o pai registral, e se mesmo assim lhe for conveniente buscar o reconhecimento da sua origem biológica, este não pode ser prejudicado pela existência de uma situação para a qual não contribuiu. Nesta hipótese o vínculo biológico gera uma responsabilidade natural que nasce junto com a criança e não se desfaz com a existência do vínculo afetivo, embora este tenha se formado pelos mias nobres dos motivos. Sendo assim o filho não pode ser privado de buscar sua filiação biológica, mesmo que reconhecido afetivamente pelo pai registral. Assim a jurisprudência entende: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE C/C ANULAÇÃO DE REGISTRO DE NASCIMENTO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE OPORTUNIDADE PARA OITIVA DE TESTEMUNHAS PARA AVERIGUAR A PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. DESNECESSIDADE. EXAME DE DNA POSITIVO. PATERNIDADE BIOLÓGICA RECONHECIDA. HIGIDEZ DA PROVA PERICIAL. PREFACIAL AFASTADA. RELAÇÃO AFETIVA EXISTENTE COM O PAI REGISTRAL. IRRELEVÂNCIA NO CASO CONCRETO. DEMANDA INGRESSADA PELA FILHA PARA PERQUIRIR A VERDADE REAL DA FILIAÇÃO. EVENTUAL EXISTÊNCIA DE PATERNIDADE SOCIOAFETIVA QUE NÃO OBSTA O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE BIOLÓGICA. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ALTERAÇÃO DO ASSENTAMENTO CIVIL MANTIDO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. A tese segundo a qual a paternidade socioafetiva sempre prevalece sobre a biológica deve ser analisada com bastante ponderação, e depende sempre do exame do caso concreto. É que, em diversos precedentes desta Corte, a prevalência da paternidade socioafetiva sobre a biológica foi proclamada em um contexto de ação negatória de paternidade ajuizada pelo pai registral (ou por terceiros), situação bem diversa da que ocorre quando o filho registral é quem busca sua paternidade biológica, sobretudo no cenário da chamada "adoção à brasileira". 2. De fato, é de prevalecer a paternidade socioafetiva sobre a biológica para garantir direitos aos filhos, na esteira do princípio do melhor interesse da prole, sem que, necessariamente, a assertiva seja verdadeira quando é o filho que busca a paternidade biológica em detrimento da socioafetiva. No caso de ser o filho - o maior interessado na manutenção do vínculo civil resultante do liame socioafetivo -

162 quem vindica estado contrário ao que consta no registro civil, socorre-lhe a existência de "erro ou falsidade" (art. 1.604 do CC/02) para os quais não contribuiu. Afastar a possibilidade de o filho pleitear o reconhecimento da paternidade biológica, no caso de "adoção à brasileira", significa impor-lhe que se conforme com essa situação criada à sua revelia e à margem da lei [...] (Resp. 1167993/RS, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18-12-2012, DJe 15-3-2013). (BRASIL, STJ, 2013). 4 CONCLUSÃO Com o advento da Carta Magna de 1988, foram conquistados grandes avanços dentro da matéria de estado de filiação. Começando pela igualdade de direitos entre os filhos legítimos, concebidos dentro do matrimonio e os filhos ilegítimos que eram concebidos em relacionamentos diversos do casamento. Pouco tempo depois entrava em vigor o novo código civil dando mais força aos direitos ligados a filiação. Hoje, nosso ordenamento jurídico ainda se encontra carente de leis que amparem algumas situações consideradas novas, mas que se tornam cada vez mais cotidianas, ficando a cargo dos entendimentos jurisprudenciais com base na nossa Constituição Federal dar uma resposta, as questões impostas pela sociedade. Percebe-se que nas ações desconstitutivas de paternidade a jurisprudência vem adotando posicionamentos distintos quanto ao polo ativo da ação. No caso, se quem buscar a desconstituição do registro é o pai, deverá ser observado se não está configurada a paternidade socioafetiva e sempre respeitar o melhor interesse da criança. Posicionamento diferente vem sendo adotado quando é o próprio filho quem busca a sua verdadeira origem, nestes casos a jurisprudência vem concedendo ao filho o direito de ter reconhecida sua paternidade biológica, visto que em nada contribuiu para que fosse registrado como filho afetivo daquele que o assim reconheceu, possibilitando a anulação do registro de nascimento. A jurisprudência vem adotando três posicionamentos distintos quando a ação de investigação de paternidade e anulação de registro civil. O primeiro posicionamento é no sentido de que quando houver o reconhecimento de filho, em que o pai registral tinha conhecimento a época do fato de que este não era seu filho biológico, configurando assim prática conhecida como adoção a brasileira, não será possível a desconstituição da paternidade alegando o vício do consentimento. Diferentemente acontece quando há o vicio do consentimento no reconhecimento da paternidade, em casos em que a genitora da criança induz o suposto pai a erro, fazendo-o acreditar que é o pai biológico da criança, nesta hipótese poderá o pai registral buscar a

163 desconstituição da paternidade se restar comprovado a ausência de laços afetivos com o filho reconhecido. Caso contrário, estando presentes na relação o vinculo afetivo e o estabelecimento da posse de estado de filho, não será possível a desconstituição da paternidade, em observância ao princípio da dignidade da pessoa humana, expresso na Constituição Federal. Esse tem sido o posicionamento de vários tribunais e também do Superior Tribunal de Justiça. Até o presente momento tramita no Supremo Tribunal Federal o Recurso Extraordinário com Agravo nº 692186, cujo o objeto é discussão sobre qual paternidade deve prevalecer a paternidade socioafetiva ou a paternidade biológica. THE CONSEQUENCES OF THE ADDICTION OF CONSENT IN THE RECOGNITION OF PATERNITY SOCIO-AFFECTIVE ABSTRACT The concept of family currently has adopted a new training, paternity and filiation institutes were redefined and the family no longer exclusively the one constituted by genetic ties. This work has as main objective an analysis of the socio-affective paternity seeking the real sense of membership in the legal, biological and emotional context in the paternal bond establishment. It thus explores the real existence of membership in the legal, biological and socio-emotional sense, for better understanding of the psycho-emotional relationships involving parents and children in this situation. Throughout this paper we seek to highlight the absence of legal provisions on the subject, which draws on doctrinal and jurisprudential understanding scarce to demonstrate the paternal-filial bond between those who are not within the legal and biological parameters of the membership status. Keywords: Socio-affective paternity. Addiction of consent. Civil registration cancellation. REFERÊNCIAS BRASIL, Constituição Federal (1988). Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out. 1988. Anexo. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constuicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 maio 2014.. Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992. Regula a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento e dá outras providências. Brasília: Casa Civil, 1992.. Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Casa Civil, 2002.. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 2012/0253314-0. Min. Nancy Andrighi, DJe, 30 maio 2014.

164. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial. Direito Civil Família Relações de Parentesco Investigação de Paternidade. REsp 1.167.993/RS, 4ª T., Min. Luis Felipe Salomão. DJe, 15 mar. 2013. DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. LÔBO, Paulo Luiz Netto. A paternidade socioafetiva e a verdade real. Revista CEJ, Brasilia, n. 34, p.15-21, jul/set. 2006. Disponível em: <http://www2.cjf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/viewarticle/723>. Acesso em: 17 out. 2014. MARTINS, Geislaine Oliveira; SALOMÃO, Rosa Maria Seba. A família socioafetiva As novas tendências do conceito de filiação. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n.92, set 2011. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/?artigo_id=10202&n_link=revista_artigos_leitura>. Acesso em: 05 maio 2014. SILVA FILHA, Iaci Gomes da. Paternidade socioafetiva e impossibilidade de sua desconstituição posterior. 2008. Disponível em: <http://www.ceap.br/tcc/tcc12122008111148.pdf>. Acesso em: 06 maio 2014. VADE MECUM. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes. 12. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011. Recebido em: 13 de abril de 2015 Aceito em: 10 de novembro de 2015