O PAPEL DA DINÂMICA COSTEIRA NO CONTRÔLE DOS CAMPOS DE DUNAS EÓLICAS DO SETOR LESTE DA PLANÍCIE COSTEIRA DO MARANHÃO - BR LENÇÓIS MARANHENSES Ronaldo Antonio Gonçalves Geologia/UFRJ; Jorge Hamilton Souza dos Santos Geografia/UFMA; João Wagner de Alencar Castro MN/UFRJ. Abstract. This research shows preliminary studies of coastal sedimentary dynamics dominant on east side of the coastal plane of Maranhão state, Brazil. Considering dynamics and static climates factors plus fluvial, tidal, longshore currents and wind regime, considerations about cyclic sedimentations were commented. The coastal field dunes geometries explained based on the dates obtained in two different zones of dynamics agents interactions (fluvial, tidal, longshore and wind currents). This areas represents the mainly sites of sand supply of field dunes studied. Palavras-chave: dinâmica costeira, dunas costeiras, lençóis maranhenses 1. Introdução A Planície Costeira do Estado do Maranhão é dividida em dois setores fisiograficamente bem distintos.um situado à leste da Baía de Tubarão onde dominam as praias arenosas, e outro, situado à oeste desta Baía com o domínio de planícies de maré lamosas. O setor leste guarda o maior registro de dunas costeiras e feições eólicas associadas e desenvolvidas no Quaternário (Fig. 1). Este trabalho procura abordar características da dinâmica costeira dominante no setor leste desta planície costeira, os quais possuem papel determinante nas características e distribuição dos depósitos eólicos aí presentes. 2. Metodologia Aplicada Para a formulação da proposta, foram utilizados dados de interpretações de fotografias aéreas na escala de 1: 60.000, de cartas topográficas na escala de 1:100.000, de imagens de satélite, de clima, de maré, bibliográficos e de campo. 3. Resultados e discussões Em uma escala mais ampla uma das grandes feições morfológicas dos atuais campos de dunas livres do setor leste da planície costeira, é a geometria aproximadamente triangular observada tanto no campo dentro do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, como no campo de Rio Novo (Lençóis Pequenos), (Fig.1). Observa-se que as maiores larguras estão localizadas próximo às principais desembocaduras fluviais da região, ou seja, o rio Preguiças e rio Novo e Cangatá. Estes locais, denominados de zonas de interação de agentes dinâmicos ( Gonçalves, 1997), são os locais onde ocorre o encontro dos agentes dinâmicos representados pelas correntes de maré, fluvial, litorâneos e eólicos (Fig.2). Como resultado deste encontro, tem-se área de grande aporte de areia proveniente da carga dos rios, da deriva litorânea e também da plataforma continental gerando uma progradação localizada da linha de praia nas zonas de
interação de agentes dinâmicos. Destacase que a areia da plataforma continental possui textura e composição semelhante à areia da planície costeira ( Projeto REMAC 1976, apud Gonçalves, 1997). A corrente de maré atua como represador à dispersão sedimentar, fazendo com que a carga sedimentar seja depositada à esquerda da desembocadura do rio, seguindo o sentido da corrente litorânea. A largura da praia nestes locais alcança cerca de 100 a 200 metros de superfície arenosa durante um período de variação de maré. Esta singularidade, em relação às áreas afastadas das zonas de interação, permite que um volume maior de areia ingresse planície costeira adentro. Pontais arenosos são desenvolvidos na margem direita das desembocaduras dos rios devido a grande carga sedimentar trazida pela corrente litorânea. Esses pontais em poucos anos podem crescer até1, 2 ou mais quilômetros. No entanto são rompidos devido a erosão fluvial amplificada pela corrente de maré. Estes braços de areia abortados vão sendo amalgamados lateralmente à esquerda das desembocaduras gerando uma progradação localizada da linha de praia nas zonas de interação. Como fatores controladores da dinâmica sedimentar costeira o clima tem papel fundamental através dos componentes estáticos e dinâmicos (Nimer, 1977). A região apresenta localização equatorial e relevo típico de planície costeira sem grandes obstáculos como componentes estáticos e, como dinâmicos tem-se a movimentação cíclica das grandes massas de ar (zona de convergência intertropical). A região costeira do Maranhão recebe ventos principalmente de nordeste ao longo do ano (Fig.3). A pluviosidade média anual varia de 1600 a 1800 mm/ano (NIMER, 1989). Cerca de 70% do volume total das precipitações está concentrado nos meses de janeiro a maio. Durante este período registra-se uma substancial elevação do lençol freático que anualmente forma lagos interdunares que se interligam formando drenagens intermitentes. Estas drenagens retomam ciclicamente os processos de erosão, transporte e redeposição de sedimentos e transformam a morfologia original das dunas. No entanto, o volume de areia trazido por estes tipos de drenagens não chega a ser significativo como área de saída de areia O período de estiagem ou estação seca (verão local) se estende de agosto a dezembro registrando apenas 4% do total pluviométrico (Fig. 4). As variações anuais de temperatura são pequenas apresentando médias anuais de 26 o. A temperatura controla diretamente o fenômeno da insolação/evaporação, assim durante o período de janeiro a julho é insignificante. A corrente litorânea com sentido para noroeste é um dos principais agentes de transporte de areia para as praias deste setor da costa, carreando uma carga significativa de sedimentos desde os estados do Rio Grande do Norte, passando pelo Ceará e aumentando ainda mais no Piauí junto ao delta do rio Parnaíba. O setor leste desta planície costeira está submetido a um regime de mesomaré (2 a 4 m), conforme nomenclatura de DAVIES (1964), sendo o padrão do tipo semi-diúrno com dois ciclos a cada 12 horas (Fig. 4). Outro elemento extremamente importante é a mudança do regime de maré de meso para macromaré a partir da baía de Tubarão. Esta mudança gera um obstáculo à corrente litorânea com conseqüente queda de competência. Considerando também a largura da plataforma continental, cuja contribuição sedimentar é significativa sendo os ventos de nordeste dominantes. Outro elemento importante no controle geométrico dos campos de dunas livres da área é que junto às zonas de interação, a linha de costa posiciona-se quase ortogonalmente aos ventos alísios de
nordeste dada as pequenas progradações localizadas. 4. Conclusões Com base nos dados disponíveis até o momento, é possível concluir que a planície costeira do Maranhão no setor leste representa um grande sítio deposicional de areia proveniente da deriva litorânea de areia carreada ao longo da costa nordeste com substancial incremento na foz do rio Parnaíba no Piauí. A carga sedimentar arenosa proveniente das drenagens presentes na área são fruto do retrabalhamento dos sedimentos eólicos Quaternários representando uma fonte secundária. A importância das zonas de interação de agentes dinâmicos salientadas no trabalho, são os espaços físicos onde ocorre uma grande acumulação de areia. Estas áreas com maior deposição de areia quando submetidas à ação das marés formam amplas superfícies arenosas quando comparadas às afastadas. Estas características permitem a chegada de um aporte maior de areia, conseqüentemente os campos de dunas vão apresentar maiores larguras nestes segmentos. Assim, verifica-se que as características da planície costeira do Maranhão favorecem o desenvolvimento dos maiores campos de dunas costeiras do Brasil, como em nenhum outro estado brasileiro. 5. Referências DAVIES, J.L. 1964. A morphogenic approach to world shorelines. Zeit. J. Geomorphology, 8, Mortensen Sonderheft, p. 127 142. DHN, Tábua de Maré, 1997. Diretoria de Hidrografia e Navegação, Ministério da Marinha Rio de Janeiro. GONÇALVES, R. A. 1995. Sobre as grandes superfícies do sistema deposicional eólico costeiro da região dos Lençóis Maranhenses: Maranhão Brasil. Simpósio sobre Processos Costeiros do Nordeste do Brasil. GONÇALVES, R. O sítio deposicional da desembocadura do ro Preguiças e sua importância no controle da geometria do principal campo de dunas eólicas dos Lençóis Maranhenses, MA Brasil. VI Congresso Latinoamericano de Ciências Del Mar. Mar Del Plata, Argentina. 1996. GONÇALVES, 1997. Contribuição ao Mapeamento Geológico e Geomorfológico dos Depósitos eólicos da Planície Costeira do Maranhão: Região de Barreirinhas e Rio Novo Lençóis Maranhenses MA Brasil. Porto Alegre, 235p. (Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Geociências, UFRGS). GONÇALVES, R.A. et. al., 2003. Classificação da feições eólicas dos Lençóis Maranhenses - Maranhão - Brasil. Revista de Geografia da UFC, ano 02, número 3, 2003. NIMER, E. 1989. Climatologia do Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (IBGE). Rio de Janeiro, 421p. PROJETO REMAC, 1976...
Figura 1 Setor leste da Planície Costeira do Estado do Maranhão Lençóis Maranhenses. Figura 2 As duas Zonas de Interação de Agentes Dinâmicos, veja-se os pontais arenosos que uma vez abortados, amalgamam-se lateralmente à esquerda das desembocaduras.
Figura 3 Diagrama de rosas da distribuição dos ventos estação de São Luis (1979 1988).