FATORES ASSOCIADOS A PROBLEMAS VOCAIS NA ÓPTICA DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA EM CAXIAS - MA Reinan Tiago Fernandes dos Santos 1 (ICV), Milane Oliveira dos Santos 2 (ICV), Renata Thais Nascimento dos Reis 3 (ICV), Domingos Lucas dos Santos Silva 4 (ICV), Marcelo Moizinho Oliveira 5 (PQ) (1) Aluno IFMA Campus São Luís Monte Castelo (2) IFMA -Campus São Luís Monte Castelo, Av. Getúlio Vargas, nº 04 - Monte Castelo, CEP 65025-001- São Luís -MA (3) UEMA Campus Caxias - CESC/UEMA (3) UEMA Campus Caxias - CESC/UEMA, CAXIAS - Morro do Alecrim, s/n Caxias-Maranhão (5) IFMA Campus São Luís Monte Castelo E-mail: reinantiago@hotmail.com Legenda: (PQ) Pesquisador (ICV) Iniciação científica Voluntária Resumo: Problemas de vocalização tem atingido grande parte do público docente por conta do grande esforço vocal exercido na profissão. O presente trabalho buscou verificar a prevalência de alteração vocal em educadores da rede municipal de ensino do município de Caxias - MA. Foram entrevistados 190 professores por meio de um questionário e a partir dos resultados constatou-se que os distúrbios de voz relacionados aos docentes são diversos, e dentre estes os mais citados foram rouquidão e pigarro. Palavras-chave: Voz; Professores; Pigarro. 1 INTRODUÇÃO A voz é caracterizada como o som produzido pelas cordas vocais e é um instrumento presente na comunicação social e isso não é diferente dentro da sala de aula, o professor é o interlocutor entre o conhecimento e o aluno, e, portanto sua voz é um mecanismo importante no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que ele pode impactar os alunos ao ter uma boa entonação da mesma, com isso o docente acaba por se desgastar vocalmente por esforçarse de forma exagerada (PENTEADO & BICUDO-PEREIRA, 2003; QUINTAIROS, 2000). Segundo a Organização Mundial da Saúde (2003) a qualidade de vida lida com o que as pessoas sentem sobre sua condição de saúde ou suas consequências, sendo, portanto, um construtor de bem-estar. A saúde do corpo em geral é de inteira importância para todo bom desenvolvimento físico e psicológico, assim pode-se trabalhar ou estudar de forma agradável. Desse modo em se tratando da saúde vocal não é diferente, principalmente para os profissionais que a utilizam com frequência. A mesma tem implicações na vida do professor, por ser o seu principal instrumento de trabalho onde ela se torna o recurso primário na relação de aluno/professor/conhecimento. Dentre os diversos profissionais, o professor é, pelo uso frequente e muitas vezes inadequado da voz, o profissional que nas pesquisas sobre as pessoas que apresentam frequentemente problemas com a voz, o sujeito que mais aparece, segundo pesquisas realizadas por fonoaudiólogos no Brasil (SIMÕES, 2004). A atividade exercida pelos professores é considerada de risco quanto ao desenvolvimento de alterações vocais. Essas alterações muitas vezes se agravam com o mau uso ou o abuso do mecanismo fonatório,
podendo estar associadas a diversos fatores, tais como o uso de fumo, a acústica inadequada, a presença de poeira, a carga horária excessiva, etc. (PORDEUS; PALMEIRA; PINTO, 1996). Problemas de vocalização tem atingido boa parte do público docente, por conta do grande esforço exercido pelos mesmos dentro da sala de aula e com a falta de cuidados com sua saúde vocal. Assim, dentre as principais alterações de voz que atingem estes profissionais segundo Dragone (2001) são a rouquidão, dor ao falar, cansaço ao falar, falhas na voz, falta de projeção vocal e dificuldades para falar em forte intensidade são responsáveis por um número significativo de queixas, licenças médicas, afastamentos e readaptações funcionais, representando prejuízos para o trabalhador professor, para a comunidade escolar e toda a sociedade. Os professores estão no segundo lugar, quanto aos profissionais de maior risco para apresentar problemas da voz, atrás apenas de cantores e consultores, seguidos por advogados, pastores, operadores de telemarketing, vendedores, e profissionais de saúde. No entanto, vale ressaltar que a procura de assistência médica pelo profissional da voz depende da percepção da sua importância pelo paciente, entre outros fatores (FRITZELL, 1997; TITZE et al., 1997). Simões e Latorre, (2003) perceberam que a maior parte dos professores não procura fonoaudiólogos, e resolvem seus problemas com remédios caseiros e um tempo mínimo de repouso em casa. Os docentes por condição financeira ou tempo tem um receio em procurar o tratamento correto para esse tipo de problema. Há uma preocupação com a saúde dos professores, tornando-se até caso de saúde pública, mas apesar também dos avanços nas pesquisas fonoaudiólogas percebe-se o baixo número de trabalhos publicados na área, com aprofundamento em investigação neste campo saúde vocal (PENTEADO, 2003; PENTEADO & BICUDO-PEREIRA, 2003; ROSSI, 2006). Há algum tempo, estes problemas de vocalização, também vem sendo abordada como doença relacionada ao trabalho, discutindo-se as condições clínicas e/ou enfermidades que a predispõem, assim como conceitos e evidências científicas reconhecidas e os riscos ambientais e condições em postos de trabalho, (HAMDAN et al, 2007). A cultura dos professores é caracterizada por não se preocuparem com problemas de saúde ligados a vocalização, os mesmo procuram a solução do problema por conta própria. A partir desse enfoque houve uma preocupação em saber como anda a saúde vocal dos professores do município de Caxias/Maranhão. Será que cuidam de seu aparelho vocal? Quais seriam os sintomas mais frequente aos que possuem, ou já tiveram problemas de vocalização? A que estes professores indicam serem os principais causadores destes problemas? 2 METODOLOGIA A pesquisa de caráter quantitativo, realizada no último trimestre de 2012 e nos dois primeiros meses de 2013, levou em conta uma abordagem sobre os distúrbios de voz relacionados ao trabalho dos professores, para isso, foi utilizado um levantamento exploratório com a aplicação de instrumento investigativo realizado através de questionário respondido por professores de diversas áreas do conhecimento, da cidade de Caxias, MA, estes de escolas municipais. O total de participantes dessa pesquisa foi de 190 docentes que atuam na educação da zona urbana e rural do município. Alguns recentemente inseridos no mercado de trabalho e outros bastante experientes na área de atuação. O questionário tem como objetivo verificar a realidade da saúde dos professores em relação à voz, visto que são varias as reclamações por eles referidas. O instrumento de investigação, utilizado foi um questionário apontando questionamentos sobre alteração na voz, constituído por sua vez de oito (08) questões, sendo
a última questão com a, b, c e d cada uma com sua alternativa. De início tivemos uma observação relacionada a um dado profissional. Logo após às perguntas referentes à: uma (01) relacionada se o docente tinha ou não alteração de voz (caso respondesse de forma negativa, esta primeira não deveria seguir respondendo os demais questionamentos), uma (01) relacionadas ao tempo de alteração de voz; uma (01) relacionada a opinião do docente a causa dessa alteração; uma (01) relacionada aos sintomas; uma (01) relacionada se esta ou não realizando tratamento; uma (01) relacionada a que tipo de tratamento esta fazendo; uma (01) relacionada como foi a alteração no inicio do problema; e a última relacionada a hábitos vocais, esta com 4 indagações. Os professores tiveram até uma hora para responder aos questionamentos, os dados coletados passaram por análises pelos autores do trabalho, e em seguida todos os dados foram tabulados e calculados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A prevalência de alterações vocais foi elevada na população em estudo atingindo (65,9%) dos professores, dado este em margem a um trabalho realizado por Jardim, Barreto e Assunção (2007) que consistiu em uma revisão bibliográfica, onde se procedeu através de análise de 15 artigos nacionais e internacionais com referências a alterações vocais por professores da rede municipal de ensino verificou-se uma variação de (4%) a (97%), onde o autor reporta a relação entre a alteração vocal com o exercício da profissão. Mais da metade dos professores entrevistados (51,4%) lecionam a mais de uma década, seguido dos professores que lecionam a menos de dez anos (27,8%) (Figura 1). O tempo de magistério é associado por Brasil (2010) como um fator fortemente conexo a alterações vocais. Porém os estudos de Fuess e Lorenz (2003) não confirmam a associação de tempo de magistério com problemas na voz. 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% 1 a 9 anos 10 a 19 anos 19 a 28 anos Mais que 28 anos Figura 1 - Tempo que os professores lecionam. Alteração vocal presente há mais de três anos teve prevalência de 44,9% (Figura 2). Os relatos de sintomas vocais mais frequentes foram: rouquidão (38%) e pigarro (32%). Nesse sentido, Smith et al. (1997) em uma pesquisa realizada na década de 1990, mas que reflete ainda muitos aspectos atuais no que se refere à frequência de sintomas vocais, onde os
sujeitos da pesquisa foram professores americanos, percebeu-se que os sintomas de alterações vocais estão mais frequentes em professores a qualquer outro grupo de profissionais. Quando questionados sobre as possíveis causas da alteração de voz os professores citaram o uso intensivo da voz (71,1%) como principal causa, seguido de alergia (21,4%). Segundo Farias (2005) somado aos trabalhos de Lemos (2005) os fatores associados a alterações vocais está relacionado com a fala em intensidade elevada, frequentes em sala se aula. Essas queixas podem estar relacionadas com a grande demanda de alunos por professor, falta de práticas vocais, deficiência de hidratação vocal e a poeira no ambiente de trabalho. Entender as condições de trabalho, como a rotina do professor fora da sala de aula se torna primordial para compreendermos o bem estar, ou melhor, a saúde vocal do docente, assim como perceber as práticas de prevenção que são usadas para combater os males ocasionados pelo uso em demasia da prática docente. Em contrapartida com os fatores associados à alteração de voz, os professores acometidos têm hábitos preconizados como positivos para a produção vocal, (49,1%) disseram às vezes beber água durante o uso da voz, e (48,2%) poupam a voz quando não estão dentro de sala de aula. 50,000% 40,000% 30,000% 20,000% 10,000%,000% 0 a 5 meses 6 a 11 meses 1 a 2 anos 3 a 4 anos Figura 2 Tempo em que alteração de voz está presente nos professores A maior parte dos professores pesquisados (69,5%) que admitiram sofrer de algum problema de voz nunca realizaram tratamento em decorrência desse problema, segundo eles isso se dá a motivos associados aos baixos salários impossibilitando-os de realizar procedimentos que visem a adoção de prática de prevenção. Outra problemática em decorrência disso é a falta de conhecimento dos problemas mínimos correlacionados as alterações de voz, pois eles não tendo conhecimento de medidas profiláticas acabam que por protelar a visita a um especialista. Embora ainda muitos não admitam uma postura de prevenção problemas vocais, (29,5%) dos professores pesquisados realiza ou já realizou algum tipo de tratamento, sendo que destes (60%) fazem o uso de medicamento e (12%) fazem algum tipo de terapia fonoaudiológica (Figura 3).
70% 60% 50% 40% 30% 20% Tipo de Tratamento 10% 0% Terapia Fonoaudiólogo Uso de Medicamentos Cirurgia Outros Figura 3 - Tratamento especializado para o problema de voz Parcela esta de professores que mesmo acometidos dos baixos salários, tornam uma postura de prevenção e compromete uma parcela de seu salário com medidas de tratamento. Promover treinamento e preparação para o uso adequado da voz aos docentes pode contribuir para reduzir a ocorrência de alterações vocais nesse grupo ocupacional (ARAÚJO et al., 2008). Simões e Latorre (2002) enfatiza que mesmo com a elevada taxa de professores que afirmam terem a presença de alguma alteração de voz, observou- se pequena a procura por tratamento em seu estudo, dado semelhante aos encontrados no estudo vigente. O exercício da profissão docente atrelado ao uso da sua principal ferramenta está relacionado com bom desempenho do professor em sala de aula. Então se faz necessário que esses professores compreendam o seu verdadeiro oficio, que também é o de comunicador, e dessa forma, se exige um repasse eficaz da mensagem que se propõe a transmitir (SANTOS et al., 2012). 4 CONCLUSÃO Nesta pesquisa pode-se constatar que, os distúrbios de voz relacionados com profissionais de ensino são diversificados. Contudo, em linhas gerais presenciam-se diferenças muito acentuados nos diagnósticos relacionados com alterações vocais, porém com ocorrências frequentes rouquidão e pigarro, sendo o principal precursor o uso intensivo da voz e alergia. Quanto aos procedimentos preventivos vocais, um número expressivo dos entrevistados afirma que nunca realizaram tratamentos especializados e parcelas menores destes entrevistados descrevem que fazem o uso de medicamentos seguido de terapia fonoaudiologia. Este estudo oferece dados específicos para futuras pesquisas que abrange distúrbio de voz relacionado ao trabalho dos professores e informações que subsidiem a carência de trabalhos que aprofunde esta temática. REFERÊNCIAS ARAÚJO, T. M. et al. Fatores associados a alterações vocais em Professoras. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.24, n.6, Jun. 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/csp/v24n6/04.pdf> Acesso em: 10 de Mar. de 2013.
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