A Religiosidade Como Mito Fundador de Serrolândia-Ba



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Transcrição:

1 A Religiosidade Como Mito Fundador de Serrolândia-Ba Bruna Cordeiro Saldanha 1 Humberto Cordeiro Araújo Maia 2 RESUMO Pela necessidade de procurar esclarecimentos para ocorrências consideradas muitas vezes divinas ou excelsas, os seres humanos buscaram justificar e ou compreender o que não conseguiam dominar. Essa necessidade de legitimação ocasionou ao homem um modo de externar suas crenças através de símbolos, ou melhor, trouxe o anseio e a competência de conceber determinados lugares e ou objetos como sagrados. Sem dúvida a história da fundação de Serrolândia e a ocupação subjetiva do sagrado no urbano possibilitou a construção da identidade do povo serrolandense. Assim, o objetivo maior deste trabalho é analisar e refletir alguns dos marcos geossimbólicos na cidade de Serrolândia, bem como a influência que a religiosidade trouxe na formação da identidade da população ao longo do tempo, com enfoque no mito que caracteriza sua constituição, visto que os sentimentos religiosos e os símbolos sagrados de fé conduziram a formação do município, desde seu desenvolvimento territorial à formação da identidade. Palavras-chave: Religiosidade, Sagrado, Identidade, Geossímbolo. Eixo Temático: População, turismo e identidade cultural. INTRODUÇÃO A geografia de certo modo, procura estudar a religião, sobretudo pela necessidade do geógrafo em buscar compreender e explicar os motivos pelos quais o ser humano acredita e atribui significados a lugares do espaço geográfico como sagrados. A concepção de sagrado pode variar de acordo com a definição que um dado grupo atribui ao local. Nem sempre se pode generalizar algum lugar como sagrado, ou seja, o ser humano pode atribuir a sacralidade a diferentes tipos de objetos ou causalidades. O sentimento 1 Graduanda em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia UNEB/IV. E-mail: brunasaldanha1@hotmail.com 2 Graduando em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia UNEB/IV. E-mail: betumaia2@hotmail.com

2 religioso, às vezes dotado de hierofania 3 próprio do homo religiosus, faz com que alguns fenômenos considerados incomuns se tornem sacros ou considerados como algo enviado por forças maiores. Deve ser ressaltado é que esse sentimento de religiosidade popular ou essas manifestações sagradas pode-(m), reger-(m) pessoas ou lugares constantemente. Em se tratando de um estudo local, surgiu a necessidade de uma pesquisa pautada nos sentimentos religiosos através dos símbolos sagrados de fé que conduziram a formação do município de Serrolândia, visto que os geossímbolos 4 sagrados foram determinantes na constituição do referido lugar. A modificação de certo grupo em um determinado lugar, bem como a atribuição de significados, ou ressignificações de ocorrências seculares e ou profanas, de acordo com a geografia cultural, são denominadas como geossímbolos. Ou seja, lugares conferidos como sagrados de valores simbólicos podem ser avaliados como um geossimbolo. Bonnemaison (2002) considera como geossímbolo as variações existentes em algum território, podendo ser de caráter cultural, político ou social que modificam a organização espacial segundo as necessidades particulares de cada grupo: O geossímbolo pode ser um lugar, um itinerário, uma extensão que, por razões políticas, religiosas ou culturais, aos olhos de certas pessoas e grupos étnicos assume uma dimensão simbólica que os fortalece em sua identidade. (2002, p.109) O espaço cultural ou social, estando vinculado a um entendimento sagrado e simbólico é, pois, um geossímbolo, no qual, pode realizar-se espacialmente e proporcionar um fortalecimento da identidade cultural de pessoas ou grupos. As fontes utilizadas na pesquisa são compostas por depoimentos orais, jornais da época, fontes históricas coletadas nos Arquivos da Paroquia de São Roque (APSR), fotografias referentes à Serrote entre 1936-2012, dentre outros. A análise desenvolvida é do tipo fenomenológico, a partir das leituras bibliográficas e análise das entrevistas. O estudo está pautado na identificação de expressões geossimbólicas do sagrado na formação e desenvolvimento do município, com ressalva no mito que caracteriza a sua constituição, os geossímbolos que o definem, bem como a influência da religiosidade na construção da identidade na referida localidade. 3 A manifestação do sagrado num objeto qualquer (ROSENDAHL, 1996, p. 27). 4 Um lugar, um itinerário, uma extensão que, por razões políticas, religiosas ou culturais, aos olhos de certas pessoas e grupos étnicos assume uma dimensão simbólica que os fortalece em sua identidade. (BONNEMAISON, 2002, p.109)

3 Figura 1: Mapa do Município de Serrolândia na Região do Piemonte da Chapada Diamantina O Município está localizado no Piemonte da Chapada Diamantina, noroeste da Bahia, e fica a 319,9 km da capital do Estado, Salvador. O povoado de Serrote (atual município de Serrolândia) pertencia ao município de Jacobina e foi fundado como povoado na década de 1940. No ano de1962 obteve sua emancipação política. Segundo o IBGE 2010, a população conta com 12.347 pessoas. O mapa acima (figura 1) representa a localização da área de estudo na região do Piemonte da Chapada Diamantina. A GEOGRAFIA DA RELIGIÃO E O GEOSSÍMBOLO "Um geógrafo humanista preocupado com a religião começa perguntando: qual é o significado da religião?... Ao nível individual, Albert Einstein era tão religioso quanto São Tomás de Aquino; as suas orientações diferiam, mas não as suas paixões por um cosmo significativo" (Yu-Fu Tuan, 1980, p.87). O estudo da Religião na perspectiva geográfica foi pouco analisado, passando a surgir na geografia em meados da década de 1960. Esse estudo evidencia e procura esclarecer o caráter simbólico de lugares que atraíam peregrinos. (Rosendahl, 1999).

4 De acordo Santos (2002, p. 29), o interesse de alguns geógrafos pela análise das religiões no espaço social deu-se a partir do pós-guerra, paralelamente à Geografia Tradicional e suas correntes derivadas. Segundo o citado autor, foi Pierre Deffontaines quem escreveu um dos primeiros trabalhos sobre a religião no ramo da Geografia, destacando-se como o precursor no estudo da temática, com sua obra Géographie et religions, que trata de uma análise a respeito da propagação de mensagens de fé aplicada a uma dinâmica espacial, tal qual possibilita uma expansão, interação e migração espacial transversalmente a religião e as relações entre as culturas e suas representações religiosas concretas no espaço (igrejas, cemitérios, etc). A geografia da religião é um ramo que elucida as possíveis transformações sociais e culturais que concebem uma sociedade composta por representações, vivências e simbolismos. Seu estudo confere a pluralidade religiosa dos indivíduos no espaço geográfico e espaço simbólico e demonstra qual o papel do sagrado e do profano na organização espacial. Parte dos estudos aqui apresentados constitui da Geografia Humana e Cultural, englobando explicitamente a Geografia da Religião, que se desenvolveu no Brasil acoplado a Geografia Cultural a partir da década de 1990. Rosendahl (1996) aponta que a experiência da religião e da fé, através de uma análise geográfica, é particularmente importante pelo tempo e espaço em que ela ocorre ao se pensar sobre a ação missionária de expansão de ideias e de subordinações simbólicas. Segundo a autora O estudo geográfico da religião dá a razão humana (...) uma vez que a geografia e a religião se encontram através da dimensão espacial, uma analisa o espaço e a outra, como fenômeno cultural, ocorre espacialmente. (ROSENDAHL, 1996, p.11). Todavia, a Geografia da Religião foi esporadicamente explorada, principalmente ao fazermos uma analogia com outros campos de estudo como o urbano, rural, território, etc. Santos (2002), analisa tardio o desenvolvimento da religião no campo geográfico, bem como sua marginalização e desinteresse por parte de alguns autores, visto que a Geografia Tradicional rotulava como alienação toda e qualquer relação afetiva ou simbólica do homem com a natureza, e a Geografia Marxista negava o conhecimento subjetivo. Na história do pensamento geográfico, o tema da religião foi relativamente marginalizado. Por um lado, a Geografia Tradicional, sob a forte influência do positivismo geográfico, foi responsável, em parte, pelo desinteresse dos geógrafos salvo raras exceções em relação ao fenômeno religioso. Por outro lado, a Geografia Marxista negligenciou a dimensão geográfica das religiões no espaço social. (SANTOS, 2002, p 23)

5 No Brasil, esse estudo ainda foi mais tardio, vindo a ser elaborado somente na década de 1970, em São Paulo, por Maria Cecília França, com sua tese de doutorado em Geografia pela USP, intitulado Pequenos Centros Paulistas de Função Religiosa. Santos (2002), ressalta que o espaço da religião é parte integrante do espaço geográfico e social, uma vez que a religião abrange categorias geográficas, como, por exemplo, a população e o território. Assim, no contexto do espaço geográfico imbricam-se e articulam-se múltiplos espaços sociais. O espaço pode ser demarcado e articulado por diferentes formas sociais. Diante disso, o espaço da religião pode ser aplicado como espaço visível e espaço invisível, sendo o primeiro referenciado por lugares sagrados, como igrejas, terreiros, sinagogas, mesquitas, etc., e o segundo referindo-se à subjetividade, ao imaginário, às concepções de céu, inferno, o lugar onde está o além ou o mundo espiritual. (Santos, 2002), O espaço pode ser articulado através de uma dimensão simbólica e cultural atribuída por grupos sociais. Logo, torna-se necessário estudar essa relação entre religião, simbolismo e identidade para analisar a relevância da religião e a apropriação simbólica do espaço sagrado no lugar de vivência. Haesbaert (2001) também confere ao estudo do território expressões simbólicas, de modo que os símbolos no território envolve uma dimensão simbólica, cultural, por meio de uma identidade territorial atribuída pelos grupos sociais como forma de controle simbólico do espaço onde vivem. A RELIGIOSIDADE COMO MITO FUNDADOR Tinha muito forró e a festa do padroeiro. Porque assim que abriram o povoadozinho, esses velhos aí eram todos religiosos, aí formaram uma igrejinha. Tem até uma história contada sobre esse morro... que eles um dia na fazenda, batendo papo, descobriram que tava vendo uma coisa, que era pra fazer uma penitência. Aí tentaram abrir e quando abriu o povoadozinho, que foi o pai de João [Seu Jerônimo]... Esses velhos foram quem ajudaram, fizeram a roçagem pra abrir a pracinha pra começarem a fazer o plano de um comércio. Acho que essa história começou em 1932. Fez uma igreja pequenazinha de torrão, mas duro. Começou a feirinha no domingo. E fazia festa pra São Roque pela história de São Roque. Porque aqui teve um tempo que teve uma tal de varíola, que o povo chamava bexiga, saíam umas bolhas no corpo e matava! Aqui teve uma epidemia horrível dos moradores. Aí disseram sabe de uma, o padroeiro daqui da capela vai ser São Roque. Porque na história, São Roque cuidou dos peregrinos sofridos, de doenças contagiosas. (Entrevista Aurelina Sousa Lopes, RIOS JÚNIOR, 06 out.2012). A história de Serrolândia foi esporadicamente examinada acerca de sua formação, tendo hoje como principal fonte um modelo romântico e restrito dos fatos, já que seu desenvolvimento baseia-se em suposições e estudos superficiais ao analisar a sua constituição. Esse mito que

6 visa modificar os traços reais das coisas em traços alegóricos (CAMPA, 1985, p.87) fez com que grande parte da população serrolandense tivesse como verdade a gênese de sua formação nesse protótipo poético, onde a expressão simbólica do sagrado se associa ao concreto, de forma que o mito do imaginário e religioso conduz como verdadeira a história da formação e desenvolvimento da cidade ao longo do tempo. Essa ideia assemelha-se ao pensamento de Mandoki (1998, p. 92), quando afirma que o espaço não é somente formado por elementos geográficos e de arquitetura, mas, além disso, é configurado simbolicamente por imaginários sociais de muitos complexos de organização simbólica. Conforme a narrativa do mito fundador, escrito no livro Serrote de Ontem, Serrolândia de Hoje, por Diomedes Pereira dos Reis (2010), os primeiros moradores da cidade se atentaram que havia um morro que em manhãs mais frias ficava revertido com uma densa camada de neblina, dando a sensação de um extenso manto estendido sobre as pedras. Movido pelo sentimento religioso e acreditando ser um mandato divino, um dos primeiros moradores da cidade ergueu sobre o monte uma grande cruz de madeira e atribuiu o nome do local de Serrote. O monte pode ter sido considerado um encargo divinal e o erguimento da cruz uma resposta a essa percepção, diante disso, aquele local ficou considerado sagrado. Ou seja, pela perspectiva geográfica e cultural, o Monte Serrote é uma expressão geossimbólica. Figura 2: A cruz erguida no Monte Serrote como um geossímbolo. Fonte: NUNES, Rodrigo dos Reis, 2012.

7 Como símbolo, a cruz é caracterizada por distintas apreciações, podendo ser hediondas ou integradoras, abarcando sentimentos religiosos ou não. Ou seja, simbolicamente, a cruz é uma reunião da pluralidade espaço temporal, que, de alguma forma afirma a identidade do individuo ou um dado grupo. Talvez por essa afirmação de identidade, para tornar aquele local sagrado é que os primeiros moradores fixaram a cruz no Monte Serrote. A identidade de um povo é de suma importância para a construção cultural de uma sociedade. Afinal, a identidade de uma sociedade é formada por particularidades, que exprimem aspectos inerentes à sua organização social, política e espacial. (CORRÊA, 2006). O valor oferecido ao lugar como sagrado pelos fiéis está relacionado com a necessidade de orientação, da ordem, do cosmo. (ROSENDAHL; 1996 p. 28). É essa relação de dependência do homem com o simbolismo presente nas coisas, que faz com que o ser humano ordene e hierarquize aquele objeto ou aquele local, tornando-o parte de suas ações cotidianas. O homem consagra o espaço porque ele sente necessidade de viver num mundo sagrado, de mover-se num espaço sagrado (ROSENDAHL, 1996, p. 65). Ao analisar o lugar como sacro, o morador procurou um padre da região para benzer a cruz. O Padre, no entanto, vendo toda essa manifestação propôs que fosse aberto um caminho amplo até o monte para peregrinação de fiéis. (REIS, 2010, p. 16). Essa manifestação resume parte do que Claval (2001) discute em relação à apropriação do espaço através das crenças e valores: O espaço onde se desenvolve a vida social cessa de seres nullius. De início, o grupo apropria-se coletivamente. Logo que anexe um território inabitado ou pretensamente vazio, seus representantes organizam uma cerimônia, erguem pela primeira vez as cores nacionais e erigem um monumento (...) os grupos humanos aprendem, pois, a explorar o espaço e a encerrá-lo em sistemas de representações que permitem pensa-lo. (...) Impondo-lhes suas marcas e instituindo-os, fazem deles uma categoria social. (CLAVAL 2001, p.216) Diante disso, percebe-se que esse mito influenciou os homens nos seus pensamentos e suas sensações afirmando o geossímbolo na formação da cidade. A erguida de algum monumento sagrado remete ao início da colonização do Brasil e a expansão europeia, visto que os colonizadores ao chegarem às terras brasileiras erguiam uma cruz como forma de impor o cristianismo e darem continuidade à sua fé, perpetuando assim, a religião Cristã como principal segmento adotado no território brasileiro. Mary Del Priore (1997) ratifica tal afirmação ao citar que o Brasil nasceu à sombra da cruz, afinal a coroa Portuguesa utilizou a religião como um forte

8 instrumento em seu projeto colonizador. Da mesma maneira, Souza (1986), reafirma em seu discurso o papel dos colonizadores no processo de construção e propagação da fé: Os portugueses se embutiam sinceramente de seu papel missionário Os outros homens por instituição divina tem obrigação de ser católicos: os portugueses tem obrigação de ser católico e de ser apostólico. Os outros cristãos tem a obrigação de crer a fé: o português tem a obrigação de a crer e mais a de a propagar. (SOUZA, 1986, p. 33) A história do mito fundador de Serrolândia também sintetiza o que Rosendahl e Corrêa (2003) argumentam a respeito do processo de sacralização do espaço por determinados segmentos e suas crenças Embora lugares sagrados possam resultar de processos de sacralização, as paisagens são criadas por determinados grupos religiosos, no desejo de reproduzir sua própria visão de mundo. (2003, p.215). Diante disso, pode-se dizer, que a presença do sagrado da vida urbana é muito forte, porém de difícil mensuração (ROSENDAHL, 1996, p. 37). Definir como o sagrado influenciou na forma urbana é extremamente complexo, contudo percebe-se que a religiosidade e as expressões geossimbólicas de alguma maneira estiveram presentes e acompanharam o desenvolvimento urbano de Serrolândia. Deste modo, é inegável, que a história conhecida por muitos teve grande contribuição na formação da identidade dos primeiros moradores da cidade de Serrolândia, perpetuando essa propagação de fé ao longo do tempo, originando reflexões a respeito do cotidiano espaço temporal dos habitantes, visto que desde a primeira publicação do livro Serrote de Ontem, Serrolândia de Hoje, houve uma rememoração da origem e evolução do referido município, sendo que duas características marcam profundamente essa percepção religiosa: O monte como expressão de um mandato Divino e o erguimento da cruz como resposta a essa percepção religiosa. INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE EM SERROLÂNDIA Para além da formação territorial, a fé católica, juntamente com os símbolos do sagrado, constituiu a identidade de Serrolândia. É importante observar que a religiosidade não está relacionada exclusivamente aos símbolos religiosos, mas também por oferecer ao fiel uma espécie de segurança. É a busca e o encontro de uma vida com paz, visando à salvação ou uma proteção divina, como expressão fenomenológica da propriedade específica do homem

9 naturalmente religioso. O homem consagra o espaço porque ele sente necessidade de viver num mundo sagrado, de mover-se num espaço sagrado (ROSENDAHL, 1996, p. 65). Essa contribuição/construção de identidade reflete desde a designação do primeiro padroeiro, visto que os moradores ambicionaram no primeiro momento conceder o patrocínio da cidade a São Roque. O que explica essa ocorrência é o fato de na década de 30, alastrar na Vila, uma grande epidemia de uma doença infecciosa conhecida por bexiga. Segundo informações retiradas do livro de Reis (2010): O que se sabe a respeito da origem daquela escolha tem a seguinte versão: sabemos que São Roque é considerado o santo que protege as pessoas contra a peste. E na época em que começou o povoado Serrote houve um grande surto de epidemia, caracterizada por uma doença infecciosa, muito contagiosa, conhecida vulgarmente por bexiga. Daí por ser conhecido, segundo a crença popular, como protetor das pessoas contra a peste é que São Roque ficou consagrado como o padroeiro da cidade. (REIS, 2010, p.18) Para obter informações mais concisas sobre essa consignação da escolha do padroeiro, foram coletadas informações no arquivo paroquial de São Roque (APSR), bem como entrevistas semiestruturadas orais com o primeiro prefeito da localidade, Florivaldo Magalhães de Sousa 5, no qual, relata: O nome da igreja era São Roque, mas porque houve uma grande epidemia aqui em 1939, 40, então uma criatura achou de botar o nome de Senhor do Bonfim e fez até um desenho, umas letras, cortou as letras colocou no papel e tal, pra fazer o nome. Não passou uma semana a igreja caiu uma banda certinha. Agora não sei se isso houve influência. Eu vi a igreja caída! Depois levantaram, fizeram uma igreja muito bonita com o padroeiro São Roque. Segundo Seu Florivaldo, o patrocínio da cidade foi oferecido a São Roque em decorrência da epidemia que se propagou na cidade, entretanto, alguns habitantes ansiaram pela mudança do padroeiro para Senhor do Bonfim. Nessa alteração, o sentimento religioso se integra ao visível, na crença de que o desmoronamento da igreja se dá pelo motivo das pressuposições da modificação do padroeiro; como se as dimensões religiosas ultrapassassem os fenômenos naturais, visto que segundo informações do mesmo, a igreja foi destruída em decorrência de uma forte tempestade que se sucedeu na década de 30 na localidade. Pensar sob o prisma natural ou de má formação da construção não significa reduzir a importância cultural e religiosa dos habitantes, todavia, o que deve ser pontuado é como o sentimento 5 Florivaldo Magalhães de Sousa. Entrevista concedida a Bruna Cordeiro Saldanha em 19. out. 2012.

10 religioso conduziu à formação da identidade do povo serrolandense, onde o símbolo da fé regeu a formação do município desde o processo de habitação à escolha do padroeiro. Por haver uma constante constituição de simbologias e atividades culturais na existência humana, a geografia tem um papel fundamental ao analisar o recorte espacial influenciado muitas vezes por geossímbolos do sagrado na organização da paisagem. Neste sentido, é papel do geógrafo também estudar os fatores sociais e culturais no arranjo espacial. Essas tradições e crenças supracitadas podem ser consideradas, num enfoque da geografia cultural, como geossímbolos. A fotografia abaixo (figura 3) retrata a reconstrução da igreja Matriz tendo como padroeiro da cidade São Roque. A reerguida demonstra uma verdadeira expressão de fé, quando os moradores se reúnem numa mesma intenção. A crença na sacralidade. Uma vez que, naquele arraial, a referida igreja se apresenta como símbolo, como monumento, como memória do sagrado. Figura 3: Construção da Igreja matriz, Serrolândia- Ba (sem data). Fonte: http://serrolandiaantigo.blogspot.com.br Diante do exposto, foram pesquisadas algumas fontes históricas nos arquivos da paroquia de São Roque em Serrolândia Ba, no qual encontrou-se a relíquia do jornal O Lidador demonstrando a relevância da primeira festa do padroeiro na região em 1936.

11 Serrote Vae Fazer Festa! Está marcado para se realizar a 14 e 15 de Setembro próximo vindouro, na nova igreja que se acaba de erigir no arraial do Serrote, deste município, a festa de São Roque, padroeiro do citado arraial. As solenidades religiosas serão celebradas pelo Revmo. Padre José Antonio Almeida, pároco da Freguesia de Riachão, sendo encarregado de promoverem as festividades os Srs. João Batista de Souza, Constantino Carneiro Magalhães, Vilarino Vilas-Bôas, Francisco Alves e Antonio Alves, os quaes, por nosso intermédio e para o bom êxito das festividades, apelam para os bons sentimentos do povo católico. (Arquivo da Jacográfica- Primeira Página. Nota retirada do jornal O lidador, do dia 16 de agosto de 1936). A festa de celebração ao patrono São Roque foi acatado pela população como uma excentricidade, já que até essa data a cidade não contava com uma igreja, tampouco com missas frequentes. Diante das celebrações eclesiásticas sucedidas, pode-se analisar que de alguma maneira, os símbolos dos cultos religiosos professados, vão se adentrando nas culturas locais proporcionando-as uma forte identidade. É o caso das igrejas, bem como os santos/padroeiros, cruzes e monumentos sacros para nossa cultura popular religiosa, de modo que esses memoriais e representatividades são considerados geossímbolos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelo fato de ser a única entidade religiosa até 1950, a igreja católica em Serrolândia contribuiu não tão somente no crescimento espiritual da população, como também nos movimentos socioculturais, causa que esteve presente nos anseios de algumas autoridades religiosas da época. A igreja muitas vezes desempenhou uma influência maior que a do Estado na localidade, às instituições religiosas para além da manutenção espiritual do povo, tinha sua área de atuação estendida para as questões sociais, principalmente porque o Estado naquele momento não chegava a determinadas regiões. Segundo Rosendahl (1999) os exemplos de casos de devoção popular implantados em complexos históricos, demonstram que religião e política ocorrem respectivamente num espaço e tempo específicos. Assim, a formação e desenvolvimento de Serrolândia de certa forma estiveram intrinsicamente ligados à religiosidade e aos símbolos sagrados, de modo que, de acordo com a história que caracteriza a formação do município, os primeiros habitantes ergueram, como uma manifestação de fé, um símbolo sagrado (cruz) que os representassem. Os grupos humanos aprendem, pois, a explorar o espaço e a encerrá-lo em sistemas de representações que

12 permitem pensa-lo. (...) Impondo-lhes suas marcas e instituindo-os, fazem deles uma categoria social. (CLAVAL 2001, p.216). É inegável, de tal modo, que este dado fenomenológico tenha sido essencial no desenvolvimento da identidade de Serrolândia.

13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONNEMAISON, Joël. Viagem em torno do território. In: CORREA, Roberto L. e ROSENDAHL, Zeny. Geografia cultural: um século (3). Rio de Janeiro: Eduerj, 2002. CAMPA, Riccardo - "A época das incertezas e as transformações do Estado Contemporâneo" - Difel - Instituto Italiano di Cultura - São Paulo 1985. CORRÊA, R. L.; O urbano e a cultura: alguns estudos. In. CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z.; (org.) Cultura, espaço e o urbano. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, NEPEC; 2006. CLAVAL. Paul. A geografia cultural 2ª. ed. Florianópolis: Ed da UFSC. 2001 HAESBAERTH, R. Da desterritorialização à multiterritorialidade. Anais do IX Encontro Nacional da ANPUR. Vol. 3. Rio de Janeiro: ANPUR. 2001 MANDOKI, Kátya. Sites of Symbolic Density; A relative approach to experiencied space in: Light, A. Smith, J. (eds) Philosophies of Place. New York: Rowman & Littlefield Publishers, 1998. PRIORE, Mary Del. Religião e religiosidade no Brasil Colonial. São Paulo: Àtica, 1997. REIS, Diomedes Pereira dos. Serrote de ontem, Serrolândia de hoje. 3 ed. Salvador: Press Color, 2010. RIOS JÚNIOR, Jairo Soares. Narrativas de Fé e outras histórias dos Batistas em Serrolândia. Universidade do Estado da Bahia. Santo Antônio de Jesus, 2012. ROSENDAHL, Zeny. Espaço e religião: uma abordagem geográfica. Rio de Janeiro: UERJ, NEPEC. 1996. CORRÊA, Roberto Lobato. (orgs) Manifestações da cultura no espaço. Ro de Janeiro: EdUERJ,1999. Espaço, Cultura e Religião: Dimensões de Análise. In: CORRÊA, R. L. e ROSENDAHL, Z. (Org.). Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. SANTOS, Alberto Pereira dos. Introdução à Geografia das Religiões publicado originalmente em GEOUSP _ Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 11, 2002. SOUZA, Laura de Mello. O Diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. TUAN, Y-F. Topofilia: um estudo da percepção atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: DIFEL, 1980.

14 FONTES ORAIS 01. Florivaldo Magalhães Sousa, entrevista concedida a Bruna Cordeiro Saldanha em 19 de outubro de 2012. JORNAIS Jornal O Lidador, Jacobina - 1936