Prevalência de alterações fonoaudiológicas em crianças de 5 a 9 anos de idade de escolas particulares

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Transcrição:

Prevalência de alterações fonoaudiológicas em crianças de 5 a 9 anos de idade de escolas particulares Palavras-chave: 1. Distúrbios de Fala. 2. Processamento Auditivo. 3. Fonoaudiologia Introdução Quando se estuda prevalência de alterações fonoaudiológicas, é preciso estar ciente de quais são as alterações possíveis de serem encontradas na população e a relação entre elas, abordando diferentes áreas da fonoaudiologia. O controle motor da fala se desenvolve desde o nascimento à puberdade, estando presente no adulto. É necessária a integração dos sistemas motor, sensório e auditivo, para o desenvolvimento da fala (1). O desvio fonético se caracteriza por comprometimento nas estruturas envolvidas na fala: centros nervosos da fala, vias e terminações nervosas, músculos e ossos (2). Pesquisa realizada com 20 crianças com diagnóstico de distúrbio fonológico mostrou que este distúrbio ocorre em maior proporção no sexo masculino, por volta dos 5 anos, e geralmente são crianças que possuem história de alterações de vias aéreas superiores (3). Foi realizado um estudo sobre o processamento auditivo com 24 alunos de 8 a 12 anos, todos com fracasso escolar. As crianças passaram por avaliação de linguagem e avaliação simplificada do processamento auditivo. Os autores observaram que 79,19% das crianças apresentaram alterações na avaliação da linguagem e 54,16% alterações do processamento auditivo (4). Em muitas áreas da Fonoaudiologia ainda são necessários estudos sobre a prevalência de alterações fonoaudiológicas para que se possa ter maior conhecimento de como e o quanto essas alterações aparecem nos indivíduos e interferem na sua qualidade de vida. O objetivo geral deste trabalho é investigar a prevalência de alterações do processamento auditivo, de fala e motricidade orofacial em crianças de 5 a 9 anos de idade, estudantes de escolas particulares. Sendo os objetivos específicos: analisar e descrever a ocorrência de alterações de fala, processamento auditivo e motricidade orofacial em crianças nessa faixa etária; analisar a ocorrência de alterações comportamentais, de aprendizagem, atenção, das relações familiares, sobre modelos de fala, diagnóstico de hiperatividade e doenças na infância dessas crianças e investigar se há relação entre essas alterações e as alterações de fala, processamento auditivo e motricidade orofacial. Métodos O estudo foi realizado nos municípios de Belo Horizonte e Bambuí e a amostra foi colhida em quatro escolas particulares: Escola Infantil Bem Viver, Instituto Pedagógico Elísia

Melgaço e Monteiro Lobato Educação Infantil, localizadas na cidade de Belo Horizonte, e COOPEN-BÍ (Cooperativa de Ensino de Bambuí - Rede Pitágoras), localizada em Bambuí. Os responsáveis pelas crianças convidadas a participar do estudo foram esclarecidos e orientados sobre todos os procedimentos da pesquisa. Receberam informações escritas (carta de informação e termo de consentimento pós-informado) sobre os objetivos, importância, sigilo, riscos e benefícios da pesquisa, sobre a participação voluntária e o direito de desistir de participar em qualquer momento do estudo sem a perda de qualquer de seus benefícios. A amostra deste estudo foi constituída por 71 crianças pré-escolares e escolares na faixa etária entre 5 e 9 anos, de ambos os gêneros. Foram realizadas pela pesquisadora, avaliações fonoaudiológicas e aplicação de questionários para os pais e professores das crianças. Na primeira avaliação foram verificados os apectos miofuncionais do sistema estomatognático. Foi elaborado um protocolo pela pesquisadora abrangendo aspectos da face, lábios, língua, bochechas e oclusão. Foram avaliados também tensão e mobilidade de lábios, língua e bochechas. Na segunda avaliação fonoaudiológica, foi analisada a fala destas crianças utilizando a avaliação de Fonologia do Teste de Avaliação de Linguagem ABFW. A terceira avaliação fonoaudiológica foi uma avaliação simplificada do processamento auditivo (5). Foram aplicados os seguintes testes: 1) Teste de Memória Seqüencial para Sons Não-verbais, 2) Teste de Memória Seqüencial para Sons Verbais, 3) Teste de Localização Sonora, 4) Pesquisa do Reflexo Cócleo-Palpebral. As avaliações foram realizadas no próprio ambiente escolar, em uma sala disponibilizada pela direção da escola. Foram aplicados questionários aos pais e professores das crianças, constituídos de questões de múltipla escolha abordando aspectos comportamentais, de aprendizagem, atenção, relações familiares, modelos de fala, diagnóstico de hiperatividade e doenças na infância. Foi entregue para os pais das crianças uma carta devolutiva com os resultados das avaliações. Os dados coletados foram analisados por meio de tratamento estatístico, através do software EpiInfo, versão 3.2.2 (CDC, 2005). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFMG. Resultados Os resultados do presente estudo mostram que, em relação à fala, as alterações mais encontradas foram ceceio anterior (12,7%) e desvio fonológico (5,7%). A prevalência de alterações de fala em geral foi de 26,8% (Gráfico 1).

Na avaliação do processamento auditivo, as alterações mais prevalentes foram ausência de reflexo cócleo-palpebral (11,2%), memória seqüencial não verbal (8,5%) e alteração na localização sonora (5,7%). A prevalência geral de alterações de processamento auditivo foi de 32,4% (Gráfico 1). A prevalência geral de alterações de motricidade orofacial foi de 39,4% e as alterações mais prevalentes foram língua (21,0%), lábio (18,3%) e bochecha (8,4%) (Gráfico 1). Gráfico 1 - Prevalência das alterações fonoaudiológicas 19 26,8% 28 39,4% motricidade 23 32,4% processamento auditivo fala Tabela 2 - RESPOSTAS MAIS FREQÜENTES NOS QUESTIONÁRIOS DOS PAIS Pergunta SIM (N) % NÃO (N) % TOTAL (*) boa relação familiar 42 100,0 0 0,0 42 (100,0%) Agitada 22 55,0 18 45,0 40 (100,0%) diagnóstico de hiperatividade 3 7,3 38 92,6 41 (100,0%) aparelhos de som volume alto 12 28,5 30 71,4 42 (100,0%) Modelo de fala inadequado 10 24,3 31 75,6 41 (100,0%) Otites 8 19,0 34 80,9 42 (100,0%) estimulação de fala 40 95,2 2 4,76 42 (100,0%) demorou para falar 6 14,2 36 85,7 42 (100,0%) bom rendimento escolar 38 95,0 2 5,0 40 (100,0%) * Foram devolvidos e analisados 42 questionários respondidos. As respostas ignoradas foram excluídas Tabela 3 - RESPOSTAS MAIS FREQÜENTES NOS QUESTIONÁRIOS DOS PROFESSORES Pergunta SIM (N) % NÃO (N) % TOTAL (*) presta atenção nas aulas 37 88,0 5 11,9 42 (100,0%) participa das aulas 37 92,5 3 7,5 40 (100,0%) Agitada durante as aulas 15 35,7 27 64,2 42 (100,0%) brincadeiras em sala de aula 25 60,9 16 39,0 41 (100,0%) realiza bem atividades 35 85,3 6 14,6 41 (100,0%) rendimento na média da turma 35 85,3 6 14,6 41 (100,0%) tímido e quieto nas aulas 5 12,5 35 87,5 40 (100,0%) dificuldade de entender tarefas 6 15,0 34 85,0 40 (100,0%) dificuldade de executar tarefas 8 20,0 32 80,0 40 (100,0%) * Foram devolvidos e analisados 42 questionários. As respostas ignoradas foram excluídas

Discussão Neste estudo considerou-se interessante a avaliação do processamento auditivo para se investigar se as crianças com alterações do processamento auditivo teriam maior tendência a desenvolver alterações de fala. Observou-se, no entanto, que não houve relação estatística significante entre as alterações de fala e as de processamento auditivo, discordando assim, da literatura (6). Quanto aos desvios fonológicos, as crianças que apresentaram esta alteração tinham por volta de 5 anos de idade e a maioria era do sexo masculino. Estes dados concordam com um estudo realizado em 2002 com 20 crianças brasileiras com diagnóstico de distúrbio fonológico (3). Os desvios fonéticos avaliados apareceram acompanhados de alguma alteração das estruturas envolvidas na fala, levando a criança a cometer, principalmente, distorções. O estudo também mostra que o tipo de distorção mais freqüente foi nos sibilantes e no /r/ brando. Estes dados concordam com a literatura que diz que a produção dos sons da fala depende da posição e mobilidade da língua, mobilidade dos lábios e bochechas, presença e posição dos dentes e posição da mandíbula (7). A fala mais encontrada na população estudada foi o ceceio e os fonemas mais distorcidos foram os fricativos, principalmente o /s/. Estes dados corroboram os dados encontrados na literatura (1). A tarefa que mais detectou alterações de processamento auditivo nas avaliações foi a de memória seqüencial não verbal. Estes dados concordam com a literatura (8-9). Os questionários elaborados para a pesquisa abordaram questões sobre o desenvolvimento da criança e aspectos ambientais que poderiam estar relacionadas às alterações de fonoaudiológicas (10-11). Porém, as variáveis do questionário, quando feito o cruzamento com os dados da avaliação, não mostraram relação estatisticamente significante. Foram entregues os questionários para os pais e professores de todas as crianças avaliadas, porém, nem todos foram entregues respondidos, justificando assim os valores das Tabelas 2 e 3. Conclusão Houve ocorrência de todas as alterações fonoaudiológicas esperadas na população estudada, sendo processamento auditivo (32,4%), fala (26,8%) e motricidade orofacial (39,4%). O que se percebe é que foi encontrado um índice considerável de alterações de processamento auditivo, motricidade orofacial e fala em crianças sem queixas ou diagnóstico prévio, o que nos leva a buscar estratégias para que essas alterações possam ser tratadas e prevenidas nessa população.

Não foi encontrada relação estatística significante entre as alterações de fala, processamento auditivo e motricidade orofacial e as alterações comportamentais, de aprendizagem, atenção, das relações familiares, sobre modelos de fala, diagnóstico de hiperatividade e doenças na infância. Referências (1) Felício CM. Produção da Fala. In: Felício CM. Fonoaudiologia aplicada a casos odontológicos: motricidade oral e audiologia. São Paulo: Pancast, 1999. (2) Zorzi JL. A Terapia Articulatória e a Automatização de Novos Fonemas. In: Marchesan IQ. Fundamentos em Fonoaudiologia: Aspectos Clínicos da Motricidade Oral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 89. 2ª ed. (3) Wertzner HF, Oliveira MMF. Semelhanças entre os sujeitos com distúrbio fonológico. Pró-fono, 2002;14(2):143-152. (4) Cruz PC, Pereira L. Comparação do desempenho das habilidades auditivas e de linguagem, em crianças com queixa de dificuldades de aprendizagem. Acta Awho 1996;15(1):21-26. (5) Pereira LD. Processamento auditivo central: abordagem passo a passo. In: Pereira LD & Schochat E. Processamento Auditivo Central Manual de Avaliação. São Paulo: Ed. Lovise, 1997. p. 49-59. (6) Vieira MG, Mota HB, Keske-Soares M. Relação entre idade, grau de severidade do desvio fonológico e consciência fonológica. Ver. Soc. Bras. Fonoaudiol. 2004;9(3):144-50. (7) Marchesan IQ. Alterações de Fala de Origem Musculoesquelética. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO. Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 2004. p. 292-303. (8) Silva FD, Coelho JC, Ortiz KZ. Correlação entre processamento auditivo central e a produção gráfica em escolares da 3ª série do 1º grau. Pró-Fono, 1999;11(1):42-46. (9) Corona AP, Pereira LD, Ferrite S, Rossi AG. Memória seqüencial verbal de três e quatro sílabas em escolares. Pró-Fono, 2005;17(1):27-36. (10) Lowe RJ. tradução: Domingues MAG. Fonologia: avaliação e intervenção: aplicações na patologia da fala. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 56-123. (11) Wertzner HF. Distúrbio Fonológico. In: Andrade CF, Marcondes E. Fonoaudiologia em Pediatria. São Paulo: Sarvier, 2003. p. 70-78.