Elid Silva Bittencourt Professor Adjunto Doutor em Teatro - UNIRIO Professora de Dança do Departamento de Interpretação da Escola de Teatro - UNIRIO



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Transcrição:

A Formação no Processo de Criação de Lourdes Bastos Elid Silva Bittencourt Professor Adjunto Doutor em Teatro - UNIRIO Professora de Dança do Departamento de Interpretação da Escola de Teatro - UNIRIO Resumo: O artigo aborda a influência da formação da mestra e coreógrafa carioca Lourdes Bastos no seu processo de criação coreográfica. Lourdes Bastos, atualmente com 82 anos e residindo nos EUA, foi, por mais de 30 anos, professora de dança moderna da Escola de Danças Maria Olenewa da Fundação TMRJ. Tendo coreografado para o Corpo de Baile do TMRJ, desenvolveu, principalmente, sua atividade criadora em sua companhia na década de 80. Lourdes Bastos teve sua formação com Helenita Sá Earp e principalmente com Martha Graham e José Limón, mas verificamos que o convívio com importantes artistas plásticos nacionais e internacionais, quando trabalhou no MAM do Rio de Janeiro, teve uma influência decisiva no seu processo de criação coreográfica. Palavras-chave: Lourdes Bastos, Dança Moderna, Memória da Dança, Artes Cênicas. Apesar de ter feito aulas de ballet clássico, na União das Operárias de Jesus colégio no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro com Vaslav Veltchek, grande nome do ballet clássico, Lourdes Bastos não se interessou em seguir a carreira de bailarina por não se identificar com o estilo. Porém, ao conhecer a disciplina que estava sendo ministrada por Helenita Sá Earp na Escola de Educação Física com o nome de Rítmica, Lourdes se identifica com o que experiencia e segue nesta direção seus estudos. Em 1939 era implementado o primeiro curso superior de Educação Física do país na Universidade do Brasil (1920-1965), hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Helenita Sá Earp é convidada para ser catedrática na disciplina de Ginástica Rítmica. É importante observar que a Dança, neste período, encontrava-se vinculada formalmente à disciplina Ginástica Rítmica. Helenita Sá Earp percebe que um dos objetivos da universidade era a formulação de teorias e estudos que articulassem as questões entre a práxis e o pensamento. Por caminhar dentro do âmbito universitário, sua pesquisa sobre o movimento, além de se relacionar com os pioneiros da Dança Moderna, articula-se com as diferentes áreas do conhecimento superior, fazendo com que a estruturação de seus estudos se estabelecesse sobre bases interdisciplinares. Helenita Sá Earp busca auxílio em outras linguagens e áreas do conhecimento como a Medicina, Filosofia, Artes Plásticas e a Física, entre outras. A pesquisa de Helenita foi estruturada sobre a influência de Rudolph von Laban e Isadora Duncan, mas se firmou através de um longo e árduo trabalho de pesquisa multidisciplinar na universidade. Um trabalho composto de pesquisas científicas, artísticas e didáticas, num cotidiano de experimentações que se constituíram como laboratórios

corporais para a concepção, investigação e sedimentação das pesquisas. Trabalho pioneiro no Rio de Janeiro, no sentido de pesquisa do movimento como atividade holística. Ela desenvolveu um estudo laboratorial para a composição de exercícios, seqüências e improvisações de frases coreográficas. O meio de transmissão de suas pesquisas desenvolve-se e se consolida por meio de investigações e vivências coletivas. Lourdes Bastos, em 1952, inicia seus estudos de dança moderna com Helenita Sá Earp, na Universidade do Brasil, como aluna especial, sem estar matriculada no curso oficial de formação para professor de Educação Física. Só lhe interessava a disciplina Rítmica, como era denominada a disciplina Dança naquela época. Diariamente Lourdes se dirigia para o curso e freqüentava todas as aulas dessa disciplina, e participava das discussões a respeito da mesma. De 1952 a 1958 freqüentou o curso regular, e de 1956 a 1958 fez o curso de especialização para professores de Dança Moderna. Foram anos de intenso aprendizado e colaboração nas pesquisas de Helenita Sá Earp. De 1954 a 1962 participou do Grupo de Vanguarda da Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil, colocando em prática seu aprendizado. Lourdes Bastos teve oportunidade, nesse contexto acadêmico, de debruçar-se sobre pesquisas científicas, artísticas e didáticas, através da interseção contínua entre teorias e práticas vivenciadas e debatidas em núcleos de experimentação, laboratórios propostos pela estrutura de ensino de Helenita Sá Earp. Mas Lourdes desbravará seu caminho fora do ambiente universitário da Educação Física. Estudará com importantes mestres em cursos que irá realizar nos Estados Unidos para consolidar sua formação em Dança Moderna. Será com Martha Graham e José Limón que Lourdes, como ela mesma conta, se profissionalizará em Dança Moderna. A estrutura básica e pedagógica aprendida com Helenita Sá Earp, acrescida da experiência e da influência de José Limón e Martha Graham se refletirá no trabalho de Lourdes, destacando-se aquelas educacionais na Escola de Danças do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. No curso de verão da Connecticut College School of Dance, em 1959, além de Martha Graham e José Limón no curso de Técnica Moderna, Lourdes Bastos fará também aulas com Bessie Schönberg e Pauline Koner no curso de Composição e R. Lloyd e Maddox Watson no curso de Ritmo. Esse curso possibilitará à Lourdes Bastos uma nova visão sobre a Dança que estava sendo desenvolvida nos EUA. Será de grande importância na complementação de sua formação e, principalmente, contribuirá na sua definição como coreógrafa. A obra de Martha Graham é uma das mais significativas: mostra o homem em seu tempo enfrentando e dominando as forças da natureza e da sociedade. Tendo vivido o século XX na sua tensão mais alta, Martha Graham pode criar uma linguagem nova capaz

de exprimi-lo, refletindo as angústias provocadas por uma crise econômica e por uma situação política instável no período entre guerras. Assim como Martha, Lourdes vai buscar a revelação do espírito de seu país através de suas coreografias. Podemos observar esta característica em Missa, obra composta para o Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A partir da música de Edu Lobo, sua obra coreográfica Missa vai transmitir intencionalmente através de uma movimentação sóbria, limpa e elegante, toda a essência da brasilidade de nosso povo. O mesmo acontecerá com outras obras como: as Bachianas nº 4 e Bachianas 5, coreografias criadas com música de Villa Lobos para a Escola de Danças Maria Olenewa da Fundação do Teatro Municipal e sua Cia de Dança. Lourdes bebeu na fonte de Martha Graham e soube não só transmitir sua sólida técnica, como também aproveitar sua influência e, a partir daí, desenvolver sua própria atividade criadora. Usará também o corpo de modo orquestral, preenchendo todo o espaço e numa diversidade dinâmica, tornando, dessa forma sua dança expressiva e vital. Foi no mesmo curso de verão oferecido pela Connecticut College School of Dance que Lourdes Bastos teve o primeiro contato com os ensinamentos de José Limón. Participava ativamente das aulas em que José Limón experimentava e desenvolvia novos movimentos. Tudo era novo e excepcional para Lourdes Bastos. Encorajada por José Limón a encontrar o significado do movimento da dança, Lourdes Bastos pode sentir brotar seu talento para a arte coreográfica, descobrir com o corpo a qualidade dramática do movimento criado. Este curso de verão foi decisivo para que uma nova realidade sobre a dança se revelasse para o talento de Lourdes Bastos, que voltou desta viagem com uma nova perspectiva sobre o seu futuro na dança como profissão. Como José Limón, Lourdes Bastos, em suas aulas, incita seus alunos a experimentar novos movimentos, desenvolvendo o hábito pela pesquisa corporal. Não podemos deixar de falar da importância do contato de Lourdes Bastos com as Artes Plásticas para seu desenvolvimento artístico e humano. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, fundado em 1948 por um grupo de colecionadores, uma existência mais no papel do que efetiva, não possuía acervo nem sede própria. Uma agência do Banco Boa Vista no Rio de Janeiro cedeu espaço e as obras expostas também foram emprestadas pelos líderes do empreendimento. Em 1951, assumiu a presidência da instituição a Sra. Niomar Muniz Sodré Bittencourt, cujo marido, Paulo Bittencourt, era então diretor e proprietário do Correio da Manhã, um dos mais prestigiosos jornais em circulação na cidade. Em 1952 o museu é transferido para o mezanino do edifício do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema, e, em 1953 consolida-se a doação e demarcação do terreno onde seria construído. O arquiteto Affonso Eduardo Reidy, que já havia trabalhado em equipe com Oscar Niemeyer, desenvolve o

projeto arquitetônico. Carmen Portinho, membro da diretoria do MAM, atua como engenheira responsável, e o paisagismo fica a cargo de Roberto Burle Marx. Em 1954, o Presidente da República João Café Filho crava a estaca fundamental no dia 09 de dezembro, formalizando o início da construção. Em 1956, iniciam-se as obras do Bloco de Exposições e, em 1958, o Bloco Escola é inaugurado com a presença do Presidente da República Juscelino Kubitschek. Como secretária de Niomar, de 1954 a 1960, Lourdes Bastos tinha uma convivência quase que diária com diversos artistas: Edith Behring, Aluisio Carvão, Fayga Ostrower, Ivan Serpa, Djanira da Motta e Silva e seu marido Motinha, entre outros, o que a colocava em relação com a cultura e arte moderna diretamente. No museu, uma das funções de Lourdes era receber e agradecer o envio dos livros de arte do mundo inteiro que eram destinados ao museu. Lourdes admirava esses livros e era surpreendida pelas imagens das obras de arte que via. Imagens essas que serviam de inspiração em suas coreografias. Era também tarefa de Lourdes auxiliar Niomar M. Sodré a receber as personalidades e artistas convidados para as exposições organizadas. Esse convívio com as artes plásticas, com artistas e personalidades era um verdadeiro estímulo não só para sua vida diária como também para sua atividade artística. O fato de contribuir para a construção da obra do MAM junto àqueles que, desde anônimos operários da construção civil a vultos notáveis, todos envolvidos em um mesmo projeto, um museu de arte moderna para o Rio de Janeiro, e ver este projeto se transformar em realidade, despertou em Lourdes Bastos a semente da luta por um ideal que ela exerceu sensivelmente na sua relação com a dança. A atividade criadora de Lourdes sofreu influências não só de seus mestres como também das artes plásticas, adquirida no período que trabalhou no MAM, numa constante busca pela força do movimento e sua teatralidade no corpo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOURCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. São Paulo: Martins Fontes, 1987. BURKE, Peter (org.) A Escrita da História: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora UNESP 1992. BURKE, Peter. O que é História Cultural?. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. CAMINADA, Eliana. História da Dança- Evolução Cultural. Rio de Janeiro: Sprint, 1999. CARDINAL, Roger. O Expressionismo. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. CERTEAU, Michel De. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

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