INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO ENZIMÁTICO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS REOLÓGICAS DA POLPA DE MARACUJÁ

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Transcrição:

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO ENZIMÁTICO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS REOLÓGICAS DA POLPA DE MARACUJÁ 1 Camila C. Kunz, 1 Carina Araki, 2 Sueli T.D. de Barros 1 Aluno de Iniciação Científica PIC/CNPq/UEM, discente do curso de Engenharia Química 2 Professor da Universidade Estadual de Maringá 1,2,3 Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Engenharia Química, Av. Colombo 5790, Bloco D-90, Maringá-PR, Brasil, CEP: 87020-900, Fax (44) 3261-4780 e-mail: sueli@deq.uem.br RESUMO: Atualmente, em função do crescente interesse por praticidade na vida cotidiana e pela busca de produtos naturais que agregam valores aos alimentos, o mercado de sucos clarificados tem aumentado. A microfiltração é um processo viável, e muito utilizado. Porém, este processo apresenta problemas com relação ao declínio do fluxo permeado em função do tempo de microfiltração, nesse sentido, o método proposto neste trabalho visa estudar o comportamento reológico do sobrenadante da polpa de maracujá centrifugada e tratada com a enzima comercial Pectinex Ultra SP-L fornecida pela empresa Novozymes, nas temperaturas de 30,35 e 50ºC., o que reduziria a fração péctica da polpa de maracujá que é responsável pela sua alta viscosidade, no intuito de se obter melhor performance para uma suposta microfiltração. Para cada temperatura de trabalho, variou-se as concentrações da enzima (150 e 300 ppm) nos tempos de 30, 60 e 75 minutos com um tempo de desativação de 8 minutos. As análises reométricas foram obtidas com um viscosímetro rotativo de cilindros concêntricos da marca Brookfield modelo RVT, utilizando as medidas da taxa de deformação e tensão de cisalhamento. Observou-se um comportamento pseudoplástico. Palavras-Chave: reologia, polpa, maracujá. INTRODUÇÃO Atualmente há uma tendência mundial ao aumento do consumo de frutas tropicais, sucos e bebidas à base de frutas, devido ao crescente interesse dos consumidores por produtos saudáveis que sejam práticos e prontos para o consumo. O Brasil detém grande parte do mercado de comercialização de sucos de frutas e destaca-se como um grande produtor de frutas tropicais (BALISCHI, 2002). Neste contexto, nosso país é o maior produtor mundial de maracujá, com uma área total plantada de mais de 35 mil hectares e quase 400 mil toneladas de frutos produzidos anualmente (IBGE, 2004). Praticamente toda a produção nacional está baseada em uma única espécie cultivada, Passiflora edulis Sims, conhecida como maracujá-amarelo ou maracujáazedo. Uma segunda espécie, P. alata Dryand, é cultivada de maneira incipiente no país, sendo sua produção concentrada nos estados de São Paulo, Santa Catarina e no Distrito Federal (MANICA & OLIVEIRA, 2005). Quanto aos sucos, no Brasil, a industrialização de cítricos iniciou-se na década de 60, sendo que em 1963, iniciaram-se as exportações de suco de laranja concentrado e congelado e seus subprodutos. Em 1966 o Brasil atingiu a posição de maior exportador mundial de suco concentrado e em 1999 já exportava 350 mil toneladas de suco de laranja concentrado além de produzir e exportar suco de abacaxi e maracujá, purê de banana e produtos de acerola (DA MATTA, 1999). O interesse por produtos naturais, provocado principalmente pela modificação no estilo de vida atual, tem causado novas tendências de consumo. Os consumidores hoje procuram por novos produtos a base de sabores autênticos e de fácil acesso. Em função deste novo mercado, os fabricantes de bebidas têm procurado inovar, lançando produtos à base de sucos de frutas naturais, procurando maximizar o valor agregado. Na fabricação destes produtos, o suco

clarificado tem tido um papel primordial (BARROS, 2002). A utilização de pectinases, na -desengomagem de fibras naturais, tais fabricação de sucos clarificados por como linho e juta; microfiltração ou outro processo de -preservação de madeiras; separação com membranas, pode -recuperação de óleos vegetais aumentar os rendimentos e clarificar o suco de uma gama de frutas como, por exemplo, (TRINDADE, 1996). As frutas têm paredes celulares uvas, maças, maracujás, pêras e laranjas. contendo uma grande variedade de A microfiltração é um processo viável, e muito utilizado. Porém, este processo apresenta problemas com relação ao declínio do fluxo permeado em função do tempo de microfiltração. As enzimas degradam a pectina ou polissacarídeos. Uma característica das frutas é a presença de substâncias pécticas, classificadas geralmente como pectina. As pectinas estão concentradas no meio da lamela entre as células das frutas. No tecido das pectinas existem substâncias paredes celulares permitindo que mais insolúveis chamadas de protopectina. A suco seja extraído por tonelada de fruta. pectina é um componente significante de uma fruta que forma um gel quando Em alguns casos, a adição de outros aquecido e depois resfriado, sendo muito complexos de enzimas, tais como as empregado na fabricação de geléias celulases, pode também resultar na (COOLERKIWI, 2008). melhoria dos rendimentos de suco e na A pectina é enzimaticamente melhor extração da cor, possibilitando a degradada com o envelhecimento do oferta de um produto nobre (NOVOZYMES, vegetal resultando na perda de rigidez do 1996 citado por SANTIN 2004). material estrutural, em parte compensada A ação catalítica das enzimas é pela formação de lignina que torna o tecido semelhante à dos catalisadores inorgânicos, vegetal duro. uma vez que elas não são consumidas na Outros processos como prétratamento para a separação por reação. Contudo, o que distingue uma enzima de um catalisador inorgânico, é a membrana podem ser realizados como a sua capacidade de catalisar uma reação centrifugação que irá diminuir o teor de sob condições suaves, como em soluções polpa do produto a ser clarificado aquosas à temperatura e pressão normais, resultando num aumento ainda mais com diminuição do risco de desnaturação expressivo do rendimento da filtração por térmica dos compostos termolábeis, membrana. redução das necessidades energéticas e Os sucos de frutas são os derivados mais dos efeitos corrosivos (BARROS, 2002). importantes de várias frutas, sendo bem As enzimas são proteínas aceitos por seu sabor e por suas especializadas na catálise de reações propriedades nutritivas. De acordo com as biológicas. Elas estão entre as características físico-químicas de cada biomoléculas mais notáveis devido à sua fruta, seus sucos apresentam diferentes extraordinária especificidade e poder viscosidades. catalítico, que são muito superiores aos A análise reológica se faz dos catalisadores produzidos artificialmente necessária como ferramenta indispensável (LEHNINGER, 1976). para o projeto, avaliação e operação dos A enzima pectinase, celulase e equipamentos de processos (bombas, hemicelulase são muito usadas no tubulações e sistemas de agitação), e processamento de sucos para aumentar o também como medida de qualidade desses rendimento dos mesmos, degradando produtos, na verificação de sua polissacarídeos estruturais que interferem composição. No caso de sucos clarificados na extração, filtração, clarificação e o comportamento reológico é influenciado concentração de sucos. pela sua composição quantitativa e Industrialmente, as pectinases apresentam qualitativa, que por conseqüência ampla utilização nas indústrias alimentícia dependerá do tipo de fruta e dos e de bebidas, principalmente em processos tratamentos realizados no seu processo de de: elaboração. Neste caso é possível fazer -maceração de vegetais e frutas para a tratamentos enzimáticos que afetem o teor produção de néctares e purês; de polpa, como também a viscosidade do -extração e clarificação de sucos de frutas; produto, reduzindo o tamanho de -extração de suco, cor e aroma de mostos macromoléculas presentes. de uva e clarificação de vinhos;

Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência do tratamento enzimático, com a enzima pectinex ultra sp-l sobre as características reológicas da polpa de maracujá previamente centrifugada. MATERIAIS E MÉTODOS A matéria prima utilizada neste trabalho foi o sobrenadante da polpa integral do maracujá centrifugada. A polpa foi comprada de uma empresa da região de Maringá-Pr, em embalagens de 100g e mantida sob refrigeração. Para o tratamento enzimático do sobrenadante da polpa integral previamente centrifugada foi utilizado a enzima Pectinex Ultra SP-L fornecida pela empresa Novozymes, nas concentrações de 0 (SEM ENZIMA), 150 e 300ppm nas temperaturas de hidrólise de 30, 35 e 50ºC, durante 30, 60 e 75 min, sob agitação constante. Alcançados os tempos de tratamento, pré-determinados, utilizou-se um tempo de desativação de 8 minutos, sendo que tal processo se deu colocandose as amostras em água sob a temperatura de ebulição. Após este processo inicial, partiu-se para a análise reológica, especificando-se a temperatura de 20 C, no reômetro de cilindros concêntricos, digital programável Brookfield, modelo DV III. O programa computacional RHEOCALC, versão 1.3, controlou e recolheu dados do Reômetro. RESULTADOS Feito o tratamento enzimático do sobrenadante da polpa integral do maracujá centrifugada, as amostras submetidas à analise reológica, para o estudo da viscosidade das mesmas, forneceram gráficos taxa de deformação versus tensão de cisalhamento, apresentados nos três tempos de tratamento utilizados. Os dados obtidos para a construção dos gráficos, encontramse na Tabela 01, abaixo: Tabela 01: Viscosidade aparente média com taxa de deformação medida à 20ºC do centrifugada, em diversas condições. Inicialmente, pode-se observar nestes dados, que na ausência do tratamento enzimático ocorre o aumento da viscosidade aparente com o aumento da temperatura de hidrolise, provavelmente ocasionado pela geleificação das pectinas restantes. Este estudo gerou gráficos de taxa de deformação por viscosidade apresentados nos três tempos de tratamento utilizados, mostrados abaixo (Fig. 2 a 4), e que foram resumidos nos resultados dispostos na tabela 01. Nestes resultados pôde-se perceber que apenas no tratamento de 30 min, nas temperaturas de 30ºC e 50ºC, e no tratamento de 60 min com a temperatura de 50ºC, as viscosidades reduziram em função do aumento da concentração enzimática, ao passo que nas outras condições isso não ocorreu. Pode-se observar também que, dentre estas três condições, a de 60 min e 50ºC foi a que apresentou maior redução de viscosidade a 300 ppm. Neste caso, os resultados indicam que a polpa de maracujá centrifugada perde pseudoplasticidade e fica menos viscosa à medida que a temperatura aumenta, facilitando o escoamento e a troca de calor durante o processamento. Figura 2 - Variação da viscosidade em temperaturas em 30 minutos.

Figura 3 - Variação da viscosidade em temperaturas em 60 minutos. Além disso, os resultados apresentados estão em concordância com as observações feitas por Giner (1996), ao analisar a influência da temperatura na reologia de suco clarificado de cereja, observando que um aumento na temperatura resultou no decréscimo da viscosidade aparente. Com a centrifugação, ocorre uma redução acentuada da viscosidade aparente, facilitando o escoamento do suco e a troca de calor durante o processamento. Sabe-se que quanto menor a viscosidade do fluido, menor é a perda de carga durante o escoamento, diminuindo os custos de potência com bombeamento e conseqüentemente os custos energéticos. CONCLUSÃO Em relação ao tratamento enzimático aplicado ao suco de maracujá, na maior pressão, observou-se que a enzima Pectinex Ultra SP-L contribuiu para a diminuição da formação da camada gel, uma vez que a enzima tem a função de degradação da pectina. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Figura 4 - Variação da viscosidade em temperaturas em 75 minutos. Análise da Viscosidade Aparente Pelas Figuras 1,2 e 3 observou-se, a partir da taxa de deformação de 145,2 s -1, que a viscosidade aparente tende a ficar constante para as temperaturas analisadas. Os resultados obtidos indicam uma diminuição da viscosidade aparente com o aumento da taxa de deformação, mostrando o comportamento pseudoplástico para a polpa de maracujá centrifugada, em todas as temperaturas analisadas. A temperatura é um dos fatores que mais afeta a viscosidade das polpas de frutas, já que a maioria destas apresentase na forma de sólidos dispersos em meios líquidos. Um aumento na temperatura, neste caso, faz com que a viscosidade na fase líquida diminua, aumentando a mobilidade das partículas em suspensão, diminuindo conseqüentemente a viscosidade da polpa. BALISCHI, L., 2000. Influência do tratamento enzimático sobre as características reológicas e microscópicas da polpa de acerola. Universidade Estadual de Maringá. BARROS, S.T.D., 2002, Clarificação dos sucos de acerola e abacaxi por ultrafiltração: Modelagem e simulação do fluxo de permeado e determinação dos mecanismos de Fouling. FEQ UNICAMP, Campinas/SP, 239 p. (Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação Universidade Estadual de Campinas - SP). COOLERKIWI. Disponível em <http://coolerkiwi.vilabol.uol.com.br/revisao. htm> acesso em 22 de março de 2007. DA MATTA, V.M., 1999, Estudo da Utilização dos processos de separação por membranas para obtenção de suco de acerola clarificado e concentrado. FEA UNICAMP, 181 p. (Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação Universidade Estadual de Campinas).

DOCÊ, R.C, 2008.Clarificação por microfiltração em membrana tubular e fibra oca da polpa de maracujá pré-tratada. Universidade Estadual de Maringá. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola Municipal Anual (PAM) 2003 culturas temporárias e permanentes. Vol 30, p. 1-93. Disponível em http://www.ibge.gov.br>.acessado em 16 de junho de 2005. LEHNINGER, A.L., 1976, Bioquímica, 2ªed., v.1, Edgard Blucher, São Paulo, p.265. MANICA, I. & OLIVEIRA JR., M.E., 2005, Maracujá no Brasil. In: MANICA, I.; BRANCHER, A.; SANZONOWICZ, C.; ICUMA, I.M.; AGUIAR, J.L.P.; AZEVEDO, J.A.;VASCONCELLOS, M.A.S.; JUNQUEIRA, N.T.V.(Eds.). Maracujá- Doce. Tecnologia De Produção, Pós- Colheita, Mercado. Porto Alegre, Cinco Continentes, p. 11-26. SANTIN, M. M., 2004, Aplicação de tratamento enzimático combinado a microfiltração na clarificação de suco de pêssego. URI Campos Erechim/RS. Departamento de Ciências Agrárias, 89 p. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Regional Integrada - RS). TRINDADE, V., et al., 1996, Emprego de diferentes substratos para a produção de pectinases em meio semi-sólido. Anais do V Seminário sobre Hidrólise Enzimática de Biomassas, Maringá/PR., p. 1-6. VIDAL, J.R.M.B. 1997. Estudo reológico do suco de manga - efeito dos sólidos insolúveis. UNICAMP. AGRADECIMENTOS À orientação da Prof.ª Drª Sueli Teresa Davantel de Barros.