PARECER CONSULTA N 6/2017 Processo Consulta CRM-ES nº 17/2011 Interessado: Delegacia Seccional Sul do CRM-ES Assunto: Legalidade da alta administrativa e normatização quanto ao número máximo de pacientes internados que um médico deve manter sob sua responsabilidade em uma unidade hospitalar. Relator: Dr. Álvaro Lopes Vereno Filho Aprovação Plenária: 17/01/2017 Ementa: Legalidade da alta administrativa. Inciso II dos Princípios Fundamentais e artigo 36 do CEM. Resolução CRM/ES nº 229/2010 - parâmetros a serem observados no atendimento médico e/ou de equipes médicas (anexo ao parecer). DA CONSULTA O Presidente da Delegacia Seccional Sul do CRM-ES, Dr. JCS, solicita parecer sobre os seguintes assuntos: 1) Legalidade e condições para alta administrativa. A alta administrativa é legal. A ordem constitucional que rege o país tem por virtude o cumprimento dos direitos e dos deveres. A princípio, os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) devem ser regidos por normas, tanto para quem dele necessita quanto para os que nele trabalham. É competência da administração organizar os EAS, incluindo ato contínuo do Diretor Técnico. Exemplo claro é o descumprimento das normas do hospital, podendo ser definidas as regras a serem adotadas, como os horários de visita, troca de acompanhantes, guia dos visitantes e alimentos nas unidades de internação. Como anteriormente citado, o fundamento encontra-se na: 1
Constituição da República Federativa do Brasil de 1998, Título VIII Da Ordem Social (art. 193 a 232), Seguridade Social; Lei nº 8.069, de 13/07/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA); Lei nº 8.080, de 19/09/1990, Lei Orgânica da Saúde (LOS); Lei nº 10.741, de 01/10/2003 (Estatuto do Idoso); Portaria MS/GM nº 2.418, de 02/09/2005 (Acompanhantes em trabalho de parto); e Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde Ministério da Saúde: 2006. Todas essas regras, entre outras, podem fornecer amparo para produzir normas para os EAS. Diante de toda a legislação sugerida, o médico deve primar pelo que estabelece o inciso II dos Princípios Fundamentais do CEM: O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional, e o disposto no artigo 36, que veda ao médico: Abandonar o paciente sob seus cuidados médicos. Parágrafo 1º: Ocorrendo fatos que a seu critério prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique previamente ao paciente ou a seu representante legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao médico que lhe suceder. Após esgotar todas as tentativas para restabelecer a ordem, é possível conceder alta hospitalar administrativa ao paciente que infrinja as normas administrativas e disciplinares do estabelecimento, uma vez que sua conduta pode comprometer o bem-estar dos demais pacientes. 2) Se existe normatização quanto ao número máximo de pacientes internados que um médico deve manter sob sua responsabilidade em uma unidade hospitalar. Anexo a este parecer a Resolução CRM/ES Nº 229/2010, que provavelmente atende ao consulente, ao dispor sobre os parâmetros a serem observados no atendimento médico e/ou de equipes médicas: 2
O CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO ESPÍRITO SANTO, no uso das atribuições que lhe confere a Lei Federal nº 3.268/57, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045/58, CONSIDERANDO que o Conselho Regional é órgão supervisor da ética profissional e, ao mesmo tempo, julgador e disciplinador da classe médica, cabendo-lhe zelar e trabalhar por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho ético da medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exerçam legalmente; CONSIDERANDO o disposto no Artigo 15, alíneas h e k, da Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, que determinam como sendo atribuições do Conselho Regional: h) promover, por todos os meios e o seu alcance, o perfeito desempenho técnico e moral da medicina e o prestígio e bom conceito da medicina, da profissão e dos que a exerçam; k) representar ao Conselho Federal de Medicina sobre providências necessárias para a regularidade dos serviços e da fiscalização do exercício da profissão ; CONSIDERANDO que a atividade do médico é voltada para a saúde do ser humano, razão pela qual deverá sempre desempenhar suas funções com máximo de zelo e capacidade técnica, conforme princípio ético basilar de sua conduta; CONSIDERANDO que para exercer a medicina com honra e dignidade, o médico necessita ter boas condições de trabalho e ser remunerado de forma justa; CONSIDERANDO a melhoria nas condições de trabalho do médico ou da equipe médica, em consonância com o cuidado e a atenção dispensada ao paciente, visando sempre a prestação do serviço médico com qualidade; CONSIDERANDO também que é fundamental a contribuição do Conselho Regional na qualidade do atendimento prestado aos pacientes pelos diversos serviços de saúde; 3
CONSIDERANDO a necessidade de regulamentar o atendimento médico e/ou de equipes médicas aos pacientes ambulatoriais, inclusive emergenciais e urgenciais, no intuito de se evitar qualquer prejuízo na prestação do serviço; CONSIDERANDO ainda que, conforme preceitua o novo Código de Ética Médica (Resolução CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009) é direito do médico decidir, em qualquer circunstância, levando em consideração sua experiência e capacidade profissional, o tempo a ser dedicado ao paciente, evitando que o acúmulo de encargos ou de consultas venha a prejudicá-lo (inciso VIII Capítulo II); e, CONSIDERANDO como referência a Portaria do Ministério da Saúde nº 1.101, de 12 de junho de 2002, publicada em 13 de junho de 2002. CONSIDERANDO finalmente, o decidido em Sessão Plenária realizada em 31/08/2010. RESOLVE editar a presente Resolução, nos seguintes termos: Art. 1º- Ao médico ou à equipe médica incumbe a responsabilidade pelo atendimento aos pacientes nos plantões para os quais forem escalados para a prestação do serviço, observados os limites estabelecidos nos artigos seguintes, conforme o caso. Art. 2º- O atendimento de pacientes ambulatoriais far-se-á na proporção de 16(dezesseis) pacientes para cada médico, em uma jornada de 04 (quatro) horas de trabalho, sem prejuízo desse limite vir a ser ultrapassado por decisão exclusiva do respectivo médico, em uma média de 04 (quatro) pacientes por hora. Art. 3º - Nos casos de pacientes dispostos em leitos de enfermaria, o limite acima estabelecido é de 20(vinte) pacientes por médico. Art. 4º - Nos casos de pacientes dispostos em leitos de terapia intensiva, o limite disposto no art. 2º passa a ser de 10(dez) pacientes por médico a cada 12 (doze) horas de jornada de trabalho. 4
Art. 5º - Nos setores de urgência e emergência deve ser observado o limite de atendimento de até 40 (quarenta) pacientes por médico, em uma jornada de 12 (doze) horas de trabalho. Art. 6º- Ao médico ou à equipe médica incumbe ainda, em decisão fundamentada, verificar a ausência de condições ou qualquer deficiência material, estrutural ou humano que restrinja o atendimento médico. PARÁGRAF ÚNICO: Em qualquer caso, a restrição de atendimento deve ser imediatamente registrada e comunicada à diretoria do respectivo órgão, bem como à central de regulação de leitos, sem prejuízo de se prestar o primeiro atendimento emergencial, pelo médico ou equipe, a fim de se evitar o risco de vida do paciente. Art. 7º- Nos casos do artigo 6º, a Diretoria Técnica da unidade de saúde respectiva cumpre avaliar e emitir sua opinião técnica, após ter sido cientificada acerca da referida restrição de atendimento a este Conselho Regional e ao médico ou equipe médica. Art. 8º - Esta resolução entrará em vigor no prazo de 90 (noventa) dias, após a sua publicação. Registre-se. Publique-se. Vitória, ES, em 31 de agosto de 2010. Dr. ALOÍZIO FARIA DE SOUZA Presidente do CRM/ES Dr. SEVERINO DANTAS FILHO Secretário Geral do CRM/ES Aprovada na Plenária de 31/08/2010 Publicada no Diário Oficial do Espírito Santo em 03/09/2010. Eis meu parecer, SMJ. Vitória, 21 de novembro de 2016. Dr. Álvaro Lopes Vereno Filho Conselheiro Parecerista 5