MUSEU DO ALTO SERTÃO DA BAHIA: OS PROCESSOS COMUNITÁRIOS NA FORMAÇÃO DE NÚCLEOS MUSEOLÓGICOS

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Transcrição:

MUSEU DO ALTO SERTÃO DA BAHIA: OS PROCESSOS COMUNITÁRIOS NA FORMAÇÃO DE NÚCLEOS MUSEOLÓGICOS Resumo Hilda Bárbara Maia Cezário 1 ; Zamana Brisa Souza Lima 2 Este trabalho trata-se de um relato de experiência que ressalta as iniciativas comunitárias que deram origem ao Museu do Alto Sertão da Bahia. Evidenciam-se os registros fotográficos de ações que delinearam o Plano Museológico desta instituição, que vem consolidando-se, em consonância com sua origem comunitária, como um museu de território com sede na cidade de Caetité-Ba e dez núcleos museológicos rurais e citadinos espalhados por este e outros dois municípios vizinhos Guanambi e Igaporã. Palavras-chave: Museu do Alto Sertão da Bahia; Plano Museológico; iniciativa comunitária; museuterritório; museu processo. Introdução Para a elaboração do pôster foi preciso refletir sobre o surgimento do projeto do Museu do Alto Sertão da Bahia (MASB) que nasceu no ano de 2011, atrelado a instalação de complexos eólicos no interior baiano, cujas obras demandaram licenciamentos ambientais. Nesse sentido, a origem desta instituição remonta às pesquisas arqueológicas iniciadas desde 2009 com trabalhos que facilitaram a identificação e consequente geração de grandes acervos, cujo resgate já ultrapassa 50 mil peças arqueológicas, que datam mais de 6 mil anos. Nesse processo, a falta de uma instituição que pudesse abrigar as mais de vinte mil peças encontradas àquela época na região fez com que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) direcionasse todo acervo para a Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus/BA. Em virtude disso, o MASB surgiu, inicialmente, a partir de uma demanda dos moradores da cidade de Caetité, envolvendo professores e alunos da Universidade do Estado da Bahia, representantes das Secretarias Municipais de Educação e Cultura, entre outros segmentos, entes civis e atores sociais, com o objetivo principal de criar um espaço para a guarda dos acervos arqueológicos encontrados, a priori, nos municípios de Caetité, Guanambi e Igaporã. Tal mobilização consta no Plano Museológico do MASB que, dentre outros aspectos, aponta e enfatiza que: A inexistência de instituições museológicas teria implicado na transferência desses bens patrimoniais para outra localidade, com perdas para a região, não fosse o reconhecimento dos atores locais de que estes podem e devem ser utilizados em processos voltados à construção de identidades e cidadania, e a sua mobilização para exigir a criação de condições institucionais favoráveis à manutenção desse patrimônio no local de origem. A sociedade civil organizada e instituições públicas de ensino e cultura como: Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de Caetité, Universidade do Estado da Bahia, Conselho de Cultura de Caetité, 1 Mestranda no Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da UFBA - Mestrado Multidisciplinar e Profissional em Desenvolvimento e Gestão Social. Possui graduação em Museologia (Bacharelado) pela Universidade Federal da Bahia (2011). Faz parte da Comissão Gestora da Rede de Educadores em Museus da Bahia desde 2012 e membro da Associação dos Amigos do Alto Sertão da Bahia (A 2 Possui graduação em Comunicação Social pela Universidade Salvador (2009); especialista em Educação e Gestão Ambiental pela Faculdade de Guanhães (2014); mestranda no Programa de Pós Graduação em Museologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), integrante do Grupo de Estudos sobre os Cibermuseus (GREC) e Núcleo de Pesquisas dos Ex-votos (NPE), membro da Associação dos Amigos do Alto Sertão da Bahia (AMASB) e foi eleita como membro do Colegiado Setorial de Museus na Bahia.

organizações não governamentais, entre outras, formalizaram um grupo de trabalho (GT) em setembro de 2011, devotado a debater soluções para a manutenção dos acervos mencionados na região. (PLANO MUSEOLÓGICO MASB, 2012, p. 8) (Grifos nossos). Ao grupo de atores locais envolvidos no processo iniciado em maio de 2011, foram integrados representantes da Renova Energia, uma das empresas responsáveis pela implantação do parque eólico, e da Zanettini Arqueologia, empresa terceirizada pela Renova, responsável pelas pesquisas arqueológicas, com intuito de qualificar e mediar tecnicamente os debates e dar forma aos anseios da sociedade (PLANO MUSEOLÓGICO MASB, 2012, p. 8). A formalização deste coletivo enquanto um Grupo de Trabalho (GT) foi o marco inicial e principal para criação do Plano Museológico do MASB, processo mediado pela Zanettini Arqueologia 3, através de ações que visaram alinhar as expectativas existentes em torno da implantação do primeiro museu com acervo arqueológico do interior baiano. A Vocação Territorial A construção dessa instituição foi planejada a partir da integração das seguintes tipologias de museu: Museu de Território, Ecomuseu e Museu de Arqueologia, Antropologia e História. (PLANO MUSEOLÓGICO DO MASB, 2012, p.10). Salienta-se também que: A vocação territorial desse museu foi se delineando a partir da constatação da ausência de instituições congêneres na região. Cabe destacar que essa tipologia dialoga fortemente com a política de organização dos Territórios de Identidade da Bahia, atuando nos denominados Sertão Produtivo e em parte do Velho Chico, aqui representado pelo município de Igaporã. [...] Foi a partir de um processo pautado na ação dos atores locais que o MASB nasceu e se fortaleceu. Um processo museológico que se coloca como intervenção social coletiva. (PLANO MUSEOLÓGICO DO MASB, 2012, p.10 e p. 16) Escolhida coletivamente, a tipologia de Museu de Território fora estabelecida para esta instituição com sede em Caetité, mas com núcleos museológicos espalhados em diferentes municípios envolvidos e já mencionados. Assim, o pôster evidencia alguns registros fotográficos destes núcleos, a saber: I. Escola Emiliana Nogueira Pita (Caetité) II. Espaço de Cultura (Igaporã); Figura 1. Atividade na Escola Emiliana Nogueira Pita. Disponível em: Plano Museológico do. Figura 2. Encontro com o Grupo de Idosos em Igaporã. Disponível em: Plano Museológico do 3 Projeto coordenado por Camila A. Morais Wichers, historiadora, Mestre em Arqueologia (MAE/USP) e Doutora em Museologia (Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, Portugal.

III. Colégio Municipal do Tamboril (Igaporã); IV. Comunidade Quilombola Gurunga (Igaporã); Figura 3. Desenvolvimento de atividade com o grupo do inventário turístico de Igaporã. Disponível em: Plano Museológico do MASB Figura 4. Desenvolvimento de atividade com o grupo do inventário turístico de Igaporã. Disponível em: Plano V. Comunidade Quilombola Pau-Ferro VI. Movimento de Mulheres Camponesas de Juazeiro (Caetité); (Caetité); Figura 5. Encontro com a comunidade quilombola Pau Ferro do Juazeiro. Disponível em: Plano Figura 6. Encontro com o Movimento de Mulheres Camponesas em Caetité. Disponível em: Plano VII. Instituto de Educação Anísio Teixeira (Caetité); VIII. Sítio Arqueológico Moita dos Porcos (Caetité); Figura 7. Encontro no Instituto Anísio Teixeira em Caetité. Disponível em: Plano Figura 8. Sítio Arqueológico Moita dos Porcos. Disponível em: Plano Museológico do

IX. Comunidade Curral de Varas (Guanambi); X. Comunidade Pajeú do Josefino (Guanambi). Figura 9. Encontro com a comunidade Curral de Varas em Guanambi Disponível em: Plano Figura 10. Encontro com a comunidade Pajeú do Josefino em Guanambi. Disponível em: Plano A visão inicial do potencial do acervo gerado pelas pesquisas arqueológicas deu lugar a um processo reflexivo mais amplo, envolvendo mais atores, de modo que o patrimônio cultural local passou a ser evidenciado e entendido como recurso a ser utilizado em favor do fortalecimento das diversas memórias e identidades da região. As reflexões nortearam e apontaram para o estabelecimento do MASB como instrumento de desenvolvimento de todo o território. Por museu de território entende-se aqui a definição de Varine, como: (...) a expressão do território, qualquer que seja a entidade que toma a iniciativa e a autoridade que o controla (...). Seu objetivo é a valorização desse território e, sob esse ponto de vista, é realmente um instrumento do desenvolvimento em primeiro grau. (...) o museu-território não pode realmente desempenhar seu papel no desenvolvimento sem levar em conta a comunidade ou as comunidades presentes e vivas nesse território. (VARINE, 2013, p.185-186) O Planejamento Museológico Partindo da compreensão de que membros da comunidade devem ser sujeitos e atores do museu, foram utilizadas dinâmicas e estratégias de ações que facilitaram uma elaboração coletiva do Plano Museológico, tais como: oficinas, encontros, reuniões, conversas e debates, além de Rodas de Conversa nas comunidades, Exposição Itinerante; atividades como o Museu na Escola, dentre outras atividades. (PLANO MUSEOLÓGICO DO MASB, 2012, p.21) Salienta-se que, em todo momento, as atividades cotidianas dos envolvidos foram respeitadas, assim como foram acolhidas todas as reflexões e demandas surgentes. Os espaços de diálogo com os diferentes grupos sociais gerados a partir do desenvolvimento do Plano tornaram-se espaços de formação museológica. Assim, as etapas de elaboração do Plano configuraram-se como um rico processo para todos os sujeitos envolvidos, uma vez que a reflexão e a ação desencadeada pelos encontros e questionamentos decorrentes da construção coletiva do museu, refletiam diretamente num processo de aprendizado e desenvolvimento humano, que permanece ativo. Conclusão Por fim, considera-se que o MASB, criado pela Lei Municipal Nº 761 de 15 de agosto de 2013, embora ainda em fase de implantação, já se constitui por um processo inovador e de grande relevância social. Em face à sua implantação e breve inauguração, os envolvidos neste museuprocesso compreendem que nem sempre as iniciativas comunitárias de musealização são mantidas em campos pacíficos, afinal, enquanto processo, trata-se de um organismo vivo, em constante

movimento para se adaptar as mudanças que ocorrem na comunidade a todo o tempo, como afirma Varine (2014). Por isso mesmo é que, se por um lado as dificuldades são evidenciadas, por outro, a essência comunitária da qual nasceu esta instituição deve se fortalecer em prol do desenvolvimento deste território, com o compromisso de construção contínua deste museu, expandindo o seu conhecimento e a sua proposta, agregando mais e mais pessoas na região. REFERÊNCIAS PLANO MUSEOLÓGICO DO Volume II. Plano Museológico do Museu do Alto Sertão da Bahia. 2012. CD-ROM VARINE, Hugues de. As raízes do futuro: o patrimônio a serviço do desenvolvimento local. Porto Alegre: Medianiz, 2012. VARINE, Hugues de. O museu comunitário como processo continuado. Cadernos do CEOM / Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina, v.27, n. 41, p.25-35, dez.2014.