Brasília - DF, 18 de setembro de 2012. Excelentíssimo Senhor PAULO BERNARDO D.D. Ministro de Estado das Comunicações Esplanada dos Ministérios Nesta Excelentíssimo Senhor Ministro, A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO ABERT e a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RADIODIFUSORES ABRA, entidades representativas do Setor de Radiodifusão e doravante denominadas apenas ASSOCIAÇÕES, vêm, respeitosamente à presença Vossa Excelência, por intermédio dos seus representantes subscritos, expor para, ao final, requerer o que segue. Preliminarmente, ao tempo em que respeitosamente atendem ao chamamento de Vossa Excelência acerca da utilização da faixa de 700 MHz, necessárias se fazem algumas considerações de natureza mais abrangente sobre o tema que, sem que sejam exaustivas, desde já permitem expor algumas das preocupações do setor. Assim, estas ASSOCIAÇÕES subscritoras reconhecem como notória a importância da massificação do acesso à Internet com banda larga. Afinal, o Brasil não pode abrir mão do potencial da Internet via banda larga, mas, por outro diapasão, também não pode fazê-lo em prejuízo do Setor da Radiodifusão, que é e continuará sendo, ainda por muito tempo, a única plataforma eletrônica efetiva de comunicação de massa no Brasil. E foi especialmente em razão da relevância de seu papel e do compromisso da radiodifusão com a sociedade brasileira que foram realizados, nos últimos anos, vultosos investimentos em equipamentos, antenas e transmissores, por parte dos radiodifusores, para que o conteúdo gratuito e de qualidade da televisão brasileira continue chegando a praticamente toda população, sempre de forma aberta, livre e gratuita. 1
Neste ponto, cabe desde logo destacar que, ao contrário da Internet via banda larga, a Televisão Digital ( TVD ) tem na faixa de UHF sua única possibilidade de se manter e desenvolver. Portanto, e essa é uma primeira asserção importante, as ASSOCIAÇÕES subscritoras acreditam e confiam que o uso da faixa de 700 MHz não deve ser influenciado por contextos de outros países onde a televisão aberta não é relevante. DO USO EFICIENTE DO ESPECTRO Outra condição considerada inafastável pelas ASSOCIAÇÕES subscritoras, consiste que, antes de destinar faixas de frequências para qualquer serviço, inclusive a banda larga sem fio, o administrador deveria como procedimento rotineiro desenvolver amplo e detalhado estudo sobre a utilização atual do espectro. Tal estudo, além de essencial, poderia, por exemplo, oferecer subsídios e dados para serem analisados com base no Regulamento para Avaliação da Eficiência de Uso do Espectro de Radiofrequências, já existente. Os resultados de tais análises, com certeza, poderiam orientar o Poder Público quanto à necessidade ou não de se destinar o espectro solicitado, viabilizando uma política e um planejamento do uso do espectro, que, para que sejam adequados, é imperioso e basilar conhecer a sua configuração e utilização atual. Neste sentido, vale salientar que os estudos da SET Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, demonstram quantos canais, nas regiões estudadas, são essenciais para assegurar a transição da tecnologia analógica para a digital. Aliás, neste mesmo sentido, por julgar muito importante, a ABERT levou à CITEL uma proposição de ferramenta de avaliação de uso eficiente do espectro, à semelhança do que foi feito pela Anatel, com a sugestão de levá-lo posteriormente à UIT. 2
DA DEMANDA DE ESPECTRO PARA A BANDA LARGA Noutro diapasão, cabe salientar que as ASSOCIAÇÕES ora subscritoras não tiveram acesso a qualquer documento que quantificasse uma estimativa de demanda brasileira de uso da faixa de 700 MHz para outras finalidades distintas da televisão aberta, sendo que todas as referências tornadas públicas são sobre as estimativas da UIT sobre as quais estas ASSOCIAÇÕES têm sérias restrições, especialmente decorrentes das fragilidades e inconsistências que contém. Aliás, já foram apresentadas análises sobre esse citado trabalho da UIT em várias ocasiões, muitas das quais com a presença do próprio Ministério das Comunicações e da Anatel. DA DISPONIBILIDADE DE ESPECTRO PARA O SMP NO BRASIL Outro aspecto que merece destaque é que segundo as informações disponíveis no próprio sítio da Anatel na Internet (quantidade de acessos de banda larga móvel), fica evidenciado claramente que existe capacidade ociosa no espectro licenciado em todo o país. Inclusive, os graves problemas que levaram a Anatel a intervir em várias operadoras de telefonia celular no País não guardam qualquer relação com suposta escassez de espectro. DO CONVÍVIO DA TVD COM A BANDA LARGA EM CANAIS ADJACENTES Não é possível olvidar, ainda, que a implantação de redes móveis em frequências adjacentes às utilizadas por redes de TVD é inevitavelmente acompanhada por um elevado risco de interferência. Os estudos a esse respeito, inclusive no âmbito da UIT, ainda não foram concluídos. 3
Portanto, este é um assunto que preocupa muito as ASSOCIAÇÕES e que deve ser analisado cuidadosamente antes de adotadas eventuais decisões sobre redestinação da faixa de 700 MHz no Brasil. A título de ilustração, vale mencionar que o governo britânico estima que a recepção de TVD por cerca de 2,3 milhões de residências naquele País serão afetadas pelos sistemas de banda larga móvel e, em razão disso, instituiu uma nova entidade denominada MitiCo, que terá um orçamento próprio de aproximadamente 184 milhões de libras esterlinas e a finalidade específica de resolver tais problemas. DOS DIFERENTES CONTEXTOS DOS DIVIDENDOS DIGITAIS NO MUNDO Nos EUA e Canadá foi adotado um dividendo digital de 108 MHz de largura de faixa. Já a Europa adotou seu dividendo digital de 72 MHz como um equilíbrio entre os requisitos da TVD e a demanda visível da banda larga. E numa etapa posterior, com melhor visibilidade sobre os requisitos da banda larga na Europa, será analisada a pertinência de um segundo dividendo digital. A lógica e a naturalidade da diferença das decisões adotadas por países da América do Norte e da Europa é um dos fatos que desmitificam a propalada crise do espectro, sobre a qual muito ainda tem que ser debatido. DOS SUPOSTOS COMPROMISSOS COM A UIT SOBRE A HARMONIZAÇÃO GLOBAL DO ESPECTRO E AS FAIXAS IDENTIFICADAS PARA A BANDA LARGA MÓVEL (IMT) Ao contrário do que se apregoa, a identificação de faixas para a banda larga móvel não representa compromisso dos países além da preferência nos estudos para uso pelo banda larga móvel, conforme o demonstra recomendação da UIT: A identificação de várias faixas para o IMT permite que as administrações escolham àquelas faixas ou partes destas de acordo com suas circunstâncias. 4
Uma harmonização global mínima de arranjos de frequências já será suficiente. Quando os arranjos das frequências não puderem ser harmonizados globalmente, isso se resolve com uma faixa de transmissão comum entre a base e os terminais móveis. Finalmente, é importante destacar citação do célebre Martin Cooper, considerado o pai do telefone celular que, ao comentar sobre alternativas mais eficazes de se usar o espectro como as Femto Cells ou antenas ativas, explicitou que a solução não está na re-atribuição das faixas de frequências e sim no uso eficiente do espectro através das várias alternativas já existentes. Mas que não serão plenamente utilizadas enquanto não houver incentivo e pressão por parte dos governos, enquanto houver esperança de se conseguir de forma fácil e barata faixas de freqüências atribuídas a outros serviços. Portanto, em que pese essas inúmeras considerações e apreensões anteriormente esposadas, as ASSOCIAÇÕES subscritoras reconhecem as preocupações do governo para a universalização da banda larga. DAS PREMISSAS BÁSICAS DAS ASSOCIAÇÕES De todo modo, qualquer movimento com objetivo de liberar recursos escassos destinados a radiodifusão de sons e imagens, serviço aberto, livre e gratuito, para a prestação de serviços de telecomunicações pagos, deverá atender algumas premissas básicas, a saber: Nenhum brasileiro pode ficar sem acesso a televisão aberta, livre e gratuita, independentemente do serviço ser prestado em tecnologia analógica ou digital. A faixa de freqüência atribuída à radiodifusão de sons e imagens deve contemplar canais em número suficiente para assegurar a transição 5
de todos os canais analógicos em operação; espaço para licitação de novas emissoras e condições de transição para novas tecnologias. A participação das entidades representativas do setor de radiodifusão comercial deve estar assegurada na formulação de políticas públicas. Baseados nas premissas básicas anteriormente descritas e nas ponderações iniciais, as ASSOCIAÇÕES em atendimento a solicitação de Vossa Excelência entendem que a liberação de frequências hoje destinadas para radiodifusão de sons e imagens deverão obedecer aos pleitos contidos no ANEXO I. Finalmente, as ASSOCIAÇÕES aproveitam o ensejo para sugerir, dada a relevância dos assuntos ora em debate e diante da complexidade técnica e estratégica, que o Ministério das Comunicações designe um grupo de trabalho para avaliar o assunto, formado por representantes das ASSOCIAÇÕES e desse Ministério. Reiterando nossa total disposição para contribuir, agradecemos antecipadamente a atenção ora dispensada por Vossa Excelência. Respeitosamente, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO ABERT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RADIODIFUSORES ABRA 6
ANEXO I Radiodifusão Redestinação das Frequências da Faixa de 700 MHz Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão - ABERT Associação Brasileira de Radiodifusores - ABRA 7
Premissas básicas: a. Nenhum brasileiro pode ficar sem acesso a televisão aberta, livre e gratuita, independentemente do serviço ser prestado em tecnologia analógica ou digital. b. A faixa de freqüência atribuída à radiodifusão de sons e imagens deve contemplar canais em número suficiente para assegurar: a transição de todos os canais analógicos em operação; espaço para licitação de novas emissoras e condições de adoção de novas tecnologias. c. A participação das entidades representativas do setor de radiodifusão comercial deve estar assegurada na formulação de políticas públicas destinadas ao setor. 8
Pleitos 1. Destinação dos canais da televisão aberta a. Os canais de 14 a 59 deverão ser destinados à radiodifusão comercial e educativa b. Blindagem do White Space 2. Políticas públicas para a migração do sistema analógico para o digital a. Aceleração e aumento da cobertura da televisão digital (financiamento, desoneração) b. Universalização da recepção (set-top box, massificação dos receptores) c. Criação de um fundo público para financiar a digitalização das RTVs de entes públicos d. Realocação de canais das emissoras comerciais mediante indenização/ ressarcimento 3. Fracionamento e regulamentação da cadeia de valor da internet 4. Não utilização da faixa de 3,5 GHz, de forma a evitar interferência na recepção das antenas parabólicas 5. Reserva dos canais 5 e 6 da televisão para a migração do rádio AM 6. Equacionamento de questões técnicas (RTV, RpTV e Gap Filler) 7. Remoção das barreiras das empresas de telefonia móvel e dos fabricantes de equipamentos, quanto à mobilidade da televisão digital (one seg - sinal de transmissão para celular) 8. Definição da operação do canal de retorno 9. Revisão da norma de acessibilidade quanto a legenda oculta e audiodescrição 9
Pleitos 1. Destinação dos canais da televisão aberta a. Os canais de 14 a 59 deverão ser destinados à radiodifusão comercial e educativa em regiões mais densas que venham a ser identificadas pela SET Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão. As demais regiões do país deverão integrar um segundo grupo. Os canais públicos deverão ser alocados fora desta faixa. O estudo de demanda de espectro elaborado pela SET indica a necessidade mínima de 43 canais para os municípios que constituem as áreas de Campinas/Sorocaba, com ganhos de eficiência espectral de 26%, por exemplo, sem considerar as retransmissoras secundárias e sem considerar o crescimento do setor. Este quadro que, acredita-se, deverá se repetir em outras regiões mais densas, justifica a necessidade dos canais 14 a 59. Outras regiões que são objeto de estudos complementares da SET, permitirão fixar um outro número de canais que caracterizará um segundo universo de municípios, permitindo então a identificação do dividendo digital brasileiro. b. Blindagem do White Space White Spaces são canais do PBVTD que não estão sendo usados para serviços de televisão em uma dada localidade (mesmo que temporariamente). As interferências na radiodifusão causada por serviços de telecomunicações que se utilizam dos chamados White Spaces, devem ser impedidas no Brasil. A sua utilização deve se limitar a radiodifusão e aos seus serviços auxiliares e ancilares. 10
2. Políticas públicas para a migração do sistema analógico para o digital a. Aceleração e aumento da cobertura da televisão digital (financiamento, desoneração) No que diz respeito ao quesito industrial, a aceleração da cobertura da televisão tem que ser auxiliada em muitos aspectos, entre os quais: I. Revigorar e facilitar o acesso a linha de crédito específica para a digitalização da televisão, via BNDES Pró-TVD, atualmente extremamente burocrática, para a aquisição de equipamentos de transmissão, torres, sistemas irradiantes e infraestrutura em geral. II. Promover a desoneração fiscal dos equipamentos, com redução temporária de carga tributária, medida importante para acelerar o desenvolvimento dos projetos. b. Universalização da recepção (set-top box, massificação dos receptores) Serão necessárias medidas governamentais visando contemplar que famílias de baixa renda tenham acesso aos serviços, universalizando-os, quais sejam: I. Desoneração fiscal de aparelhos receptores domésticos. II. Distribuição gratuita de receptores domésticos do tipo set-top box. c. Criação de um fundo público para financiar a digitalização das RTVs de entes públicos Atualmente, milhares de retransmissoras de televisão são mantidas e operadas por entes públicos, notadamente prefeituras. Dessa forma, é preciso constituir um fundo com vistas a financiar a digitalização das RTVs pertencentes a estes entes públicos. 11
d. Realocação de canais das emissoras comerciais mediante indenização/ ressarcimento Todas as emissoras cujos canais forem realocados devem ser prévia e diretamente indenizadas pela empresa de serviços de telecomunicações que der causa à necessidade de realocação. As emissoras, mesmo aquelas que já operem em tecnologia digital, que por necessidade de otimização de espectro ou outra causa qualquer precisarem ser realocadas, deverão ser indenizadas por um fundo especialmente formado para cobrir tais gastos. 3. Fracionamento e regulamentação da cadeia de valor da internet Para a preservação do espírito das normas constitucionais que regem as comunicações sociais e do ambiente concorrencial, é fundamental a limitação a no máximo 30% de participação de estrangeiros e de detentores de redes de telecomunicações no capital de empresas que produzam e programem conteúdos audiovisuais para a internet, bem como das empresas que exerçam atividades jornalísticas nesta plataforma. 4. Não utilização da faixa de 3,5 GHz, de forma a evitar interferência na recepção das antenas parabólicas É imperativo que novos licenciamentos para uso da faixa de 3,5 GHz por sistemas de banda larga só aconteçam depois de tomadas providências efetivas para melhorar a qualidade dos equipamentos das TVROs instaladas de forma a garantir a proteção dos usuários. Os estudos do subgrupo de trabalho da Anatel, encarregado de encontrar uma solução de convívio entre os serviços de banda larga fixa e as aplicações por satélite, demonstraram que a convivência em toda a extensão da faixa de 3.400 a 3.600 MHz, é inviável. 12
5. Reserva dos canais 5 e 6 da televisão para a migração do rádio AM É necessário resguardar o rádio AM das interferências causadas pelo aumento do ruído eletromagnético, desta forma as ASSOCIAÇÕES solicitam que: I. Os canais 5 e 6, atualmente destinados à radiodifusão de sons e imagens, sejam reservados à radiodifusão sonora, a fim de que as rádios AM, que assim o desejarem, possam realizar a migração para FM, independentemente da definição do padrão brasileiro de rádio digital; II. Seja estabelecida, sob a coordenação do Ministério das Comunicações, uma política industrial que viabilize a produção de receptores de rádio com a faixa de FM estendida, desde 76 MHz até 108 MHz. 6. Equacionamento de questões técnicas (RTV, RpTV e Gap Filler) A situação atual relativa a documentação e instalação de retransmissoras de televisão não permitirá a transição para o sistema digital e, consequentemente, parte da população corre sério risco de ficar sem acesso ao serviço, tão indispensável. Faz-se necessário, portanto, que o Ministério das Comunicações, por meio do plano de transição e o plano final de TVD, contemple a regularização da documentação e o pareamento de todas as retransmissoras em operação no país. 7. Estímulo às empresas de telefonia móvel e aos fabricantes de equipamentos, quanto à mobilidade da televisão digital (one seg - sinal de transmissão para celular) Atualmente, a Portaria Interministerial 222/2010 (MCT/MDIC) estabelece que 5% dos celulares fabricados em zonas de incentivo governamental devam ser equipados com receptor de TV Digital. 13
Por serem índices ineficientes, as ASSOCIAÇÕES esperam que o Governo desenvolva a: I. Ampliação da cota de celulares, além de incluir smartphones e tablets, que devam ser produzidos, em qualquer região do país e não apenas em zonas de incentivo, contando com recurso de recepção de TV Digital. II. Determinação para que as operadoras disponibilizem esses receptores para venda, divulgando o recurso e fiscalizando qualquer prática de venda diferenciada que venha a desestimular aquisição pelo assinante destes aparelhos. 8. Definição da operação do canal de retorno Faz-se necessário previsão de canal de retorno da interatividade na faixa de 700 MHz. 9. Revisão da norma de acessibilidade quanto a legenda oculta e audiodescrição O regramento atual de acessibilidade extrapola os recursos estabelecidos em Lei, além de onerar excessivamente os radiodifusores quando estabelece que alguns recursos devem estar disponíveis aos usuários em toda a programação. 14