INFORMAÇÃO Nº 132/09/PDPE INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. Artigo 25, caput, da Lei de Licitações. Curso. Gestão Rural para Mulheres. Exame da singularidade do serviço e da inviabilidade de competição. O presente expediente foi encaminhado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio, visando à análise da contratação do INSTITUTO UNIVERSAL DE MARKETING EM AGRUBUSINESS - IUMA para a prestação de serviços ministrar o curso Programa de Gestão Rural para Mulheres. Como o expediente não aponta o fundamento para a dispensa ou inexigibilidade de licitação e a entidade que apresenta o projeto (IUMA) afirma acerca da não existência de curso semelhante ao que foi proposto (fl. 23), analisa-se a contratação direta por inexigibilidade de licitação, com fulcro no artigo 25, caput, da Lei nº 8.666/93. A Secretaria informa que a proposição contempla a participação do Estado da seguinte forma: apoio institucional ao programa, escolha das regiões, participação na divulgação, cedência de infraestrutura (UERGS, por exemplo) e subsídio de parte do valor do curso, que tem duração de 09 meses (fls. 06, 09 e 12). As aulas seriam quinzenais e ministradas por módulos em quatro cidades. O valor do curso por inscrição é de R$ 8.800,00 (fl. 09), sendo prevista a participação de 120 alunas (fl. 23) e o Estado arcaria com 70% do valor (fl. 12). O custo total para quatro turmas é de R$ 844.531,04 (fl. 27). 1
Primeiramente, ressalte-se que a inexigibilidade de licitação deriva da inviabilidade de competição. Esta é uma conseqüência que pode ser produzida por diferentes causas que consistem nas hipóteses de ausência dos pressupostos necessários à licitação. Marçal Justen Filho (Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 8 ª ed. Dialética. SP. 2000) explicita que a inexigibilidade de licitação deriva da inviabilidade de competição, sendo "uma conseqüência, que pode ser produzida por diferentes causas, as quais consistem nas diversas hipóteses de ausência de pressupostos necessários à licitação". Frisa que "a inviabilidade de competição é conseqüência derivada de características existentes na realidade extra-normativa, que tornam a licitação inútil ou contraproducente", sendo necessário destacar a inter-relação entre essa realidade extra-normativa e o interesse público a ser atendido. Prossegue, lembrando que "a inviabilidade de competição ocorre em casos em que a necessidade estatal apresenta peculiaridades que escapam aos padrões de normalidade". Destaque-se que em todos os casos de inviabilidade de competição existe um objeto singular. A natureza singular caracteriza-se como uma situação anômala e incomum. A singularidade consiste na impossibilidade de encontrar o objeto que satisfaz o interesse público dentro de um gênero homogêneo. É aquele que poderia ser qualificado como infungível. VERA LÚCIA MACHADO D'AVILA (Inexigibilidade de Licitação. Singularidade do Serviço. Contratação de Advogado por Município que tem quadro próprio de Procuradores. Temas Polêmicos sobre Licitações e Contratos. 5 ª ed. Malheiros Editores. SP. 2001) leciona que a "singularidade do objeto" é exigência prevista em todas as hipóteses de inexigibilidade de licitação "quer no caput do art. 25 do estatuto licitatório, quer em seus incisos, e em especial o inc. II.". Conforme correspondências juntadas ao expediente, contendo respostas de algumas entidades educacionais ao questionamento realizado pelo IUMA sobre a existência de curso de extensão similar com características específicas: programa avançado de Gestão Rural, destinado especificamente a mulheres da agricultura familiar, sem escolaridade de nível acadêmico, com duração aproximada de 9 a 10 meses e carga horária com mais de 200 horas para imediata execução grifamos (fls. 19 e 20-22), constata-se que o curso do IUMA possui aspectos que podem distinguir o programa de outros, mas que não são suficientes para configurar a singularidade do serviço, como duração do curso, carga horária e a possibilidade da imediata execução. 2
O Programa de Gestão Rural para Mulheres é destinado especificamente para mulheres da agricultura familiar, sem escolaridade de nível acadêmico, tem duração de 09 meses, carga horária de 216 horas e pode ser executado imediatamente. Assim, o procedimento não comprova que o objeto a ser contratado apresenta características tais que inviabilizam a sua comparação com outros, demonstrando a singularidade do serviço, sua situação anômala e incomum, veiculada pelo interesse público e a excepcionalidade da necessidade a ser satisfeita. Um objeto é caracterizado como singular quando é importante para a Administração a identidade específica do objeto, não sendo possível sua substituição por equivalentes. Em suma, a singularidade do objeto reflete a singularidade do próprio interesse público a ser atendido. Em breve pesquisa na internet, percebe-se que existem vários cursos de gestão rural, gestão no agronegócio, administração rural, gestão da empresa rural e algumas atividades direcionadas especificamente à mulher (documentos anexados). Embora os fatos devam ser certificados, relatam as notícias localizadas que o SENAR, por exemplo, oferece cursos gratuitos - duração de 16 a 180 horas - que permitem a profissionalização do trabalhador rural e a economia de custos por intermédio das técnicas aprendidas, abordando a gestão rural, planejamento, organização, direção e controle da empresa rural, estudo dos recursos, orçamento, controle das finanças, comercialização, marketing, custos, receitas, análise dos resultados, cadeias produtivas, tecnologias, processos de produção, educação ambiental, dentre outras áreas, conforme matérias divulgadas e relação de cursos disponibilizados pelo SENAR-RS (anexa). Verifica-se que diversos municípios ajustam parcerias com o SENAR para a realização de treinamentos e cursos a serem ministrados em cidades do interior, abarcando as principais questões do setor rural. O Estado poderia examinar a possibilidade de efetuar convênio/parceria com o SENAR para a realização de cursos de gestão rural, com a duração, profundidade e especificidade (direcionado às mulheres) que pretende, já que as ações do Serviço Nacional de Apredizagem Rural são organizadas e desenvolvidas de forma sistematizada, seguindo um processo de planejamento, execução, acompanhamento, avaliação e controle. Sugere-se, também, que a Secretaria consulte a UERGS sobre a possibilidade de planejar e desenvolver o curso de extensão nos moldes almejados. 3
Destaque-se, inclusive, que a EMATER/RS-ASCAR oferta, gratuitamente, cursos de educação rural pela internet, com boa aceitação por parte dos alunos, o que também pode ser averiguado. Na espécie, não resta demonstrado que o Programa de Gestão Rural para Mulheres é o único curso capaz de satisfazer o interesse público, não podendo ser substituído por outro, ou, tampouco, a impossibilidade de atendimento ao interesse público, de modo equivalente, por meio de outro objeto. Assim, o procedimento não apresenta elementos suficientes para configurar a situação de inexigibilidade de licitação e a inviabilidade de competição, embora o curso apresentado pelo IUMA pareça ser de excelente qualidade. Concluindo, não é possível a contratação direta, pois não resta comprovada a inviabilidade de competição e a singularidade do objeto. Na mesma linha, o procedimento não mostra que a contratação atende ao princípio da economicidade, pois o valor estipulado por aluno 70% de R$ 8.800,00 - é significativo para o Poder Público e há disponibilização de opções menos onerosas ao Estado. É a Informação, sub censura. Porto Alegre, 17 de junho de 2009. Andrea Trachtenberg Campos Procuradora do Estado SPI 11594-1500/08-4 4
Processo n.º 011594-15.00/08-4 Acolho as conclusões da Informação n.º 132/09, da Procuradoria do Domínio Público Estadual, de autoria da Procuradora do Estado Doutora ANDREA TRACHTENBERG CAMPOS. Restitua-se o expediente à Secretaria-Geral de Governo. Em 31 de julho de 2009. Eliana Soledade Graeff Martins, Procuradora-Geral do Estado.