1. Agricultura biológica



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1. Agricultura biológica A Agricultura Biológica baseia-se nos seguintes princípios: Princípio da saúde, Princípio da ecologia, Princípio da justiça e Princípio da precaução Cada princípio é composto por uma declaração seguida de uma explicação. Estes princípios foram criados como princípios éticos com o objectivo de inspirar a acção, devendo ser aplicados em seu conjunto. 1.1. PRINCÍPIOS da AGRICULTURA BIOLÓGICA 1.1.1. Princípio da saúde A Agricultura Biológica deverá manter e melhorar a qualidade dos solos, assim como a saúde das plantas, dos animais, dos seres humanos e do planeta como organismo uno e indivisível. Este princípio sugere que a saúde dos indivíduos e das comunidades não pode estar dissociada da saúde dos ecossistemas solos saudáveis originam produtos saudáveis que, por sua vez, promovem a saúde dos animais e das pessoas. A saúde é a plenitude e a integridade dos sistemas vivos. Não é apenas a ausência de doenças, mas sim a manutenção do bem-estar físico, mental, social e ecológico. Imunidade, resiliência e regeneração são características essenciais para a saúde. O papel da Agricultura Biológica, tanto na produção quanto na transformação, distribuição ou consumo, é manter e melhorar a saúde dos ecossistemas e dos organismos, do mais ínfimo ser vivo no solo até o ser humano. A Agricultura Biológica deverá, em especial, produzir alimentos nutritivos e de alta qualidade, que contribuem para a prevenção da saúde e do bem-estar. Desta forma, deverá ser evitado o uso de fertilizantes, pesticidas, hormonas de crescimento e aditivos alimentares que podem originar problemas à saúde. 1.1.2. Princípio da ecologia A Agricultura Biológica deverá basear-se nos sistemas ecológicos vivos e seus ciclos, trabalhando com eles, imitando-os e contribuindo para a sua sustentabilidade. Este princípio baseia a Agricultura Biológica nos sistemas ecológicos vivos ao afirmar que a produção deve se fundamentar em processos ecológicos e na reciclagem. A nutrição e o bem-estar são proporcionados pela ecologia do ambiente produtivo específico. Por exemplo, na produção vegetal, refere-se ao solo vivo; na produção animal, refere-se ao ecossistema da exploração; na aquacultura (peixes e outros organismos marinhos), reporta-se ao ambiente aquático. 1

A agricultura, o pastoreio e a recolecção de espécies silvestres, no modo de produção biológico, deverão se enquadrar nos ciclos da Natureza e nos seus equilíbrios ecológicos. A prática da agricultura biológica deverá ser adaptada às condições do local, à ecologia, à cultura e à escala da actividade. Os factores de produção devem ser reduzidos através da reutilização, da reciclagem e do manejo eficiente dos materiais e da energia com vista à manutenção e melhoria da qualidade ambiental e à conservação dos recursos. A Agricultura Biológica deve alcançar o equilíbrio ecológico através do desenho dos sistemas agrícolas, da criação de habitats e da manutenção da diversidade genética e agrícola. Produtores, transformadores, comerciantes ou consumidores de produtos de Agricultura Biológica devem proteger e beneficiar o ambiente que é de todos, incluindo paisagens, clima, habitats, biodiversidade, ar e água. 1.1.3. Princípio da Justiça A Agricultura Biológica deverá basear-se em relações justas no que diz respeito ao ambiente comum e às oportunidades de vida. A justiça caracteriza-se pela igualdade, o respeito, a equidade e a responsabilidade pelo mundo compartilhado, tanto entre as pessoas como nas suas relações com os outros seres vivos. Este princípio realça o fato de que todos os que estão envolvidos na Agricultura Biológica deverão orientar as relações humanas de modo a assegurar a equidade em todos os níveis e para todos os sectores agricultores, assalariados, transformadores, distribuidores, comerciantes e consumidores. A Agricultura Biológica deverá proporcionar uma boa qualidade de vida a todas as pessoas envolvidas, contribuindo para a soberania alimentar e para a eliminação da pobreza, procurando produzir alimentos e outros produtos de alta qualidade em quantidades suficientes. Este princípio insiste no fato de que os animais deverão dispor das condições e das oportunidades de vida que a sua fisiologia, o seu comportamento natural e o seu bemestar exigem. Os recursos naturais e ambientais utilizados na produção ou diretamente consumidos devem ser geridos de uma forma ecológica e socialmente justa e mantidos para as gerações vindouras. Para que haja justiça são necessários sistemas de produção, distribuição e comércio que sejam livres e equitativos e que englobem os custos reais em termos sociais e ambientais. 1.1.4. Princípio da precaução A Agricultura Biológica deverá ser gerida de uma forma cautelosa e responsável de modo a proteger o ambiente, a saúde e o bem-estar das gerações actuais e daquelas que hão-de vir. A Agricultura Biológica é um sistema vivo e dinâmico que reage às exigências e às condições internas e externas. 2

Os praticantes da Agricultura Biológica poderão melhorar a eficiência e aumentar a produtividade, mas sem colocar em risco a saúde e o bem-estar. Por conseguinte, as novas tecnologias devem ser cuidadosamente avaliadas e os métodos existentes revistos. Uma vez que existe um conhecimento incompleto dos ecossistemas e da agricultura, devem ser tomadas precauções. Este princípio estabelece que a precaução e a responsabilidade são as principais preocupações na escolha do manejo, do desenvolvimento e das tecnologias na Agricultura Biológica. A ciência é necessária para assegurar que a Agricultura Biológica seja saudável, segura e ecologicamente apropriada. No entanto, o conhecimento científico por si só não é suficiente. A experiência prática, a sabedoria acumulada e os saberes tradicionais e indígenas oferecem soluções válidas, testadas ao longo dos anos. A Agricultura Biológica deve evitar riscos significativos ao adoptar tecnologias apropriadas e ao rejeitar outras com consequências imprevisíveis, como a engenharia genética. As decisões devem reflectir, através de processos participativos e transparentes, os valores e as necessidades de todos aqueles que poderão vir a ser afectados. IFOAM Head Office Charles-de-Gaulle-Str. 5 53113 Bonn, Germany Phone: +49-228 - 92650-10 Fax: +49-228 - 92650-99 Email: HeadOffice@ifoam.org www.ifoam.org 3

2. Luta biológica 2.1. Introdução A descoberta dos pesticidas orgânicos de síntese nos anos quarenta do sec. XX criou grande optimismo em relação à utilização de métodos químicos para combater os principais inimigos das culturas, generalizando-se a ideia de que qualquer praga ou doença poderia ser combatida eficazmente mediante a utilização do pesticida adequado. Nesta perspectiva, os inimigos das culturas eram vistos como entidades meramente económicas e não biológicas, pelo que o recurso exclusivo à luta química apresentava vantagens de índole económica que per si justificavam a sua utilização. Porém, não foram necessários muitos anos para se verificar que a utilização exclusiva de pesticidas de síntese no combate aos inimigos das culturas, não resolvia todos os problemas. O desenvolvimento de novas pragas nos pomares, associado ao aparecimento de fenómenos de resistência e à destruição da fauna auxiliar indígena, conduziram a uma espiral de tratamentos com consequências nefastas nos ecossistemas agrários. Os tratamentos visavam apenas os inimigos das culturas, ignorando-se os seus efeitos noutros organismos não visados directamente. Tais efeitos secundários reflectem-se em vários níveis: acção sobre os inimigos das culturas, levando ao aparecimento de fenómenos de resistência; Acção sobre a fauna e a flora, em especial sobre o predadores naturais; Efeitos nas próprias plantas tratadas, tais como fitotoxidade, efeitos tróficos, resíduos nos frutos e alterações de gosto; Efeitos ao nível do solo, como os resultantes dos resíduos por tratamento directo, arrastamento e decomposição de plantas tratadas; Efeitos ao nível da água, através da acumulação de resíduos nos canais, ribeiros, rios e mares. Como consequência da utilização indiscriminada de insecticidas organoclorados como o DDT e mais tarde de alguns organofosforados e carbamatos no combate ao bichadodas-pomóideas (Cydia pomonella L.), assistiu-se ao desenvolvimento intempestivo de ácaros fitófagos, em resultado segundo hoje se admite, da falta de selectividade destes produtos, causando a morte dos auxiliares entomófagos. No sentido de contribuir para explicar a intensificação do ataque de ácaros verificada nos pomares, Baillod (1984) apresenta três teorias possíveis: 4

Teoria ecológica: desaparecimento dos predadores como consequência de tratamentos intensivos, excessivos e destituídos de selectividade; Teoria trófica: aumento da longevidade e da fecundidade dos ácaros, seja por acção directa dos produtos utilizados, seja por acção indirecta (alteração qualitativa da seiva, que lhe serve de alimento); Teoria das estirpes resistentes: aparecimento de estirpes resistentes ao pesticida utilizado, e seguidamente a um grupo de pesticidas. Os ácaros tetraniquídeos, aranhiço-vermelho, Panonychus ulmi (Koch) e aranhiçoamarelo, Tetranychus urticae Koch, constituem bom exemplo das modificações induzidas pelas técnicas de produção intensiva ao nível da entomofauna nos pomares (Costa-Comelles, 1986; Milaire, 1987). Se por um lado a utilização de insecticidas de largo espectro de acção visava a erradicação de todos os organismos nocivos aos pomares, a sua acção sobre os auxiliares manifestava-se quer directamente, através da sua acção tóxica, quer indirectamente, através do quase desaparecimento da praga, essencial à sobrevivência desses mesmos auxiliares. 2.2. Os inimigos naturais Todas as espécies animais possuem no seu habitat de origem, inimigos que lhes estão associados de forma característica, constituindo o seu complexo de inimigos naturais A generalidade das pragas encontra em diversas culturas que lhe servem de hospedeiro, uma diversidade de inimigos naturais, desde fungos e vírus que podem provocar mortalidades consideráveis dos fitófago ácaros e insectos predadores. Entre os inimigos naturais, temos os predadores, os parasitóides e os organismos entomopatogénico. Predadores: Os predadores naturais são espécies caçadoras, agem de forma simples e directa: a presa é capturada e geralmente, eliminada de imediato, podendo um predador eliminar muitas presas ao longo da sua vida, sendo a sua voracidade um índice útil do seu potencial de repressão.. Parasitoides: organismos em que apenas os estados larvares são parasitas. Têm vida livre no estado adulto. Um número limitado de descendentes desenvolve-se a expensas dum único indivíduo hospedeiro, ao qual provocam sempre a morte. Os parasitoides podem ser solitários o insecto é parasitado apenas por um parasitoide ou gregários vários parasitóides da mesma espécie parasitam a mesma vítima ao mesmo tempo. Existe um grande número de insectos parasitóides pertencentes a diversas Ordens e Famílias. Organismos entomopatogénicos: Os micro-organismos entomopatogénicos são encontrados em abundância na natureza causando doenças em ácaros e insectos. O ramo da ciência que estuda as doenças de insectos é a entomopatologia de pragas. Se considerarmos que existem mais de 2,5 milhões de espécies de insectos e que cada 5

espécie tenha um microorganismo entomopatogénico associado verificamos que o potencial do controle microbiano de pragas é muito grande e que as investigações nessa área começaram a obter grande destaque a partir dos anos 1980, quando houve um grande alarme em relação aos pesticidas utilizados em larga escala no mundo, contaminando o homem e o ambiente. Os principais micro-organismos entomopatogénicos são: fungos, bactérias, vírus nemátodes, encontrados em todo o mundo, nas mais diferentes condições. Actualmente existem alguns bioinsecticidas a base de micro-organismos entomopatogénicos, sendo as bactérias as mais produzidas por causa da facilidade de fermentação em meio líquido e da formulação. Os fungos são considerados os mais estudados devido à sua forma de acção por conctato e por ingestão e em seguida os vírus e os nematodes. O controlo microbiano de pragas é um dos métodos que mais tem se desenvolvido na última década, devido à sua eficiência, baixo custo e impacto ambiental, além de trazer uma importante contribuição social, gerando empresas denominadas biofábricas com possibilidade de empregos. 2.2.1. Luta biológica versus limitação natural Nos últimos anos, tem-se assistido a uma revolução nos meios de protecção contra os inimigos das culturas. A luta biológica contra o aranhiço-vermelho através da utilização de fitoseídeos, tem ganho cada vez mais adeptos entre investigadores, técnicos e produtores, pois, onde os métodos clássicos falharam, a luta biológica tem-se assumido como uma alternativa credível e viável. O conceito de luta biológica de acordo com a definição dada em 1971 pela OILB/SROP (Organização Internacional de Luta Biológica/Secção Oeste Paleárctica) consiste na utilização de organismos vivos ou de seus derivados, com o objectivo preciso de reduzir as populações dos inimigos das culturas para níveis economicamente toleráveis. Esta utilização deliberada de organismos vivos pelo Homem, é realizada através da acção de certas espécies de artrópodos ou de patogénios, a fim de reduzir as populações dos inimigos das culturas, para níveis economicamente toleráveis. Por outro lado, a luta biológica exerce-se também sem a intervenção humana ocorrendo naturalmente, de forma que os predadores endémicos surgem como a primeira força reguladora das populações de pragas. Esta modalidade de luta biológica é designada por limitação natural. A limitação natural constitui uma medida de luta indirecta contra os inimigos das culturas, podendo ser aplicada a qualquer tipo de organismo, praga ou não, sem considerar se o agente auxiliar ocorre naturalmente, se é introduzido pelo Homem ou manipulado de qualquer forma. Os programas de luta biológica com recurso a artrópodes auxiliares, são implementados de acordo com diferentes estratégias, segundo a praga visada e o tipo 6

de cultura que esta afecta. Para tal utilizam-se várias modalidades: luta biológica clássica, tratamento biológico, limitação natural e luta biológica neoclássica, sendo esta última modalidade muito pouco referenciada. Luta biológica clássica. Consiste na introdução de inimigos naturais exóticos e no seu estabelecimento a longo prazo num novo ambiente, tendo em vista a limitação de uma praga também ela exótica. O entomófago a introduzir, tem que ter uma eficácia reconhecida na área geográfica de onde é originária a praga em causa. Luta biológica neo-clássica. Consiste na introdução de inimigos naturais exóticos e no seu estabelecimento a longo prazo no ambiente, tendo em vista a limitação de uma praga endémica. Tratamento biológico. Esta modalidade de luta biológica consiste na introdução de inimigos naturais e tem como objectivo, aumentar os efectivos populacionais de entomófagos nas épocas e locais onde a sua acção é desejada, através da realização de largadas periódicas. Com esta prática, pretende-se enriquecer quantitativamente os ecossistemas agrários, com auxiliares entomófagos criados em massa especificamente para esse fim. Estas largadas podem ser inoculativas ou inundativas recorrendo-se quer a entomófagos exóticos como endémicos (Milaire, 1983b; Henn et al., 1995). As largadas inoculativas têm por finalidade proceder à introdução de pequeno número de indivíduos, que, uma vez na cultura vão-se reproduzir e sendo a limitação da praga assegurada pelas gerações seguintes (Milaire, 1983b). Por sua vez, nas largadas inundativas, os auxiliares são introduzidos em grandes quantidades, sendo utilizados como "tratamento biológico". Estas largadas são utilizadas em períodos críticos, para supressão a curto prazo das pragas. Limitação natural. A conservação da fauna auxiliar endémica é muitas das vezes, o factor mais importante no sucesso da limitação natural das pragas. Para tal, torna-se necessária a limitação de determinados tratamentos fitossanitários e ao mesmo tempo a manipulação do habitat, através da criação de condições ecológicas favoráveis à sobrevivência e à multiplicação dos referidos auxiliares (Milaire, 1983b). Henn et al. (1995) referem as seguintes condições para levar a cabo a luta biológica através da limitação natural: o Identificação dos inimigos naturais; 7

o minimização da aplicação de insecticidas, devido ao facto da maioria dos inimigos naturais serem mais susceptíveis a estes produtos que as pragas alvo; o utilização de insecticidas selectivos ou de técnicas de aplicação localizada; o manutenção da superfície do solo revestida e criação de sebes vivas, ou seja, adopção de práticas culturais que favoreçam o desenvolvimento dos predadores naturais endémicos. Tais práticas podem incluir a diversificação do habitat através da manutenção do solo revestido e de sebes vivas nas bordaduras, que funcionam em ambos os casos como fonte de alimento alternativo para a fauna auxiliar e, ao mesmo tempo, como locais de refúgio; o disponibilização, em permanência, de fontes alternativas de néctar e pólen ou de alimentação suplementar para a fauna auxiliar, de forma a satisfazer as necessidades alimentares das espécies que apresentam diferentes hábitos alimentares de acordo com a fase do ciclo de vida. A utilização de artrópodes em luta biológica contra, é feita normalmente com o recurso a largadas, que podem ser introduções de espécies exóticas ou re-introduções de espécies, nos casos em que estas tenham desaparecido devido à acção dos pesticidas ou devido ao facto de não encontrarem condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento. In: Rodrigues, 2005 Os fitoseídeos na limitação natural do aranhiço-vermelho. Ed. ESAP/IPVC, 178P. 8