ESTADO & SOCIEDADE CIVIL Um diálogo necessário à qualidade da escola pública



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1 INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (IDE) SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL (Sinduscon/RN) Observatório da Educação do Rio Grande do Norte Natal, 8 de março de 2013 ESTADO & SOCIEDADE CIVIL Um diálogo necessário à qualidade da escola pública MOACIR GADOTTI (*) Diretor do Instituto Paulo Freire O título dessa palestra contem o enunciado de uma tese que precisa ser demonstrada: a de que a qualidade da escola pública e da educação dependem da cooperação que envolve, ao mesmo tempo, o estado, como mantenedor dessa escola, a sociedade a qual ela se destina, e a comunidade, seja interna, seja externa. A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) tem apontado para uma nova abordagem da qualidade ao assumir por lema: Em defesa da educação pública com qualidade social. Com isso, ela indica uma certa qualidade, uma qualidade que valoriza o social, o cultural e a totalidade do conhecimento - o simbólico, o sensível e o técnico fundamentando-se num novo paradigma de qualidade. Neste texto gostaria de apresentar e discutir as concepções e desafios da qualidade da educação e da escola pública, demostrar que o diálogo entre sociedade civil e estado é tanto preceito constitucional quanto princípio pedagógico. Concluo afirmando que a escola pública pode contribuir na radicalização da democracia como as associações e movimentos sociais tem contribuído para a formação de lideranças populares. Eles são essenciais para o funcionamento da democracia. Esse é um debate muito atual, pois estamos no processo de construção de um Sistema Nacional de Educação que contemple o regime de colaboração e a gestão democrática da escola pública, estabelecidos pela Constituição Federal de 1988. Por isso, a Conferência Nacional de Educação 2013-2014 estabeleceu como tema central dos seus debates O PNE na articulação do Sistema Nacional de Educação: participação popular, cooperação federativa e regime de colaboração. A teoria e a prática democrática do estado não são ainda majoritárias na nossa sociedade, apesar de reconhecidos avanços. Nesse contexto, a função principal das organizações e movimentos sociais é estruturar-se para criar as condições do surgimento de uma nova sociedade civil, que exerça o controle efetivo do estado e do mercado. Portanto, capaz de construir uma nova cidadania para a defesa de direitos e a criação de novos direitos. Trata-se de fortalecer as formas de controle do estado, estimulando organizações civis, organizando a participação direta da população na definição de políticas públicas, incentivando as organizações populares a opinarem e fiscalizarem os atos do governo. É assim que se pode falar numa reforma do estado, passando de uma concepção de estado como violência organizada, autorizada, institucionalizada para a concepção de estado educador-educando, dialogando com a sociedade. O estado não pode ser apenas educador, pois ele também, como os partidos, precisa ser educado pela sociedade que o mantém. Nesse sentido, é um estado não submetido aos interesses corporativistas e setoriais, visto não apenas através através dos olhos dos servidores públicos, mas submetido à cidadania. Alternativas existem ao pensamento único neoliberal. A saída está numa teoria radicalmente democrática do estado. As recentes experiências, em nível do poder local democrático e popular, no Brasil, vêm dando consistência prática a essa teoria. E estamos avançando. Veja-se a lei de acesso livre à informação (Lei nº 12.527/2011): é dever do estado garantir o direito de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão (Art. 5º). Ela refere-se tanto a órgãos públicos quanto às entidades privadas sem fins lucrativos que recebem recursos públicos para realizar ações de interesse público. Para fazer a reforma política que o Brasil precisa, o governo não ( *) Moacir Gadotti é Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra, Doutor Honoris Causa pela Universidade Rural do Rio de Janeiro, Livre Docente pela Universidade Estadual de Campinas, Professor Titular da Universidade de São Paulo, Fundador e atual Presidente de Honra do Instituto Paulo Freire. É autor de diversos livros, traduzidos em vários idiomas, entre eles: Pedagogia da práxis (1996); História das ideias pedagógicas (1998); Paulo Freire: Uma biobibliografía (2001); Pedagogia da Terra (2002); Perspectivas atuais da educação (2003); Os mestres de Rousseau (2004), Educar para um outro mundo possível (2006) e Educar para a sustentabilidade (2008).

2 precisa tanto do apoio do Congresso quanto dos milhões de brasileiros e brasileiras para que priorize o protagonismo das organizações e movimentos sociais, imprescindíveis na radicalização da democracia. A participação cidadã é o motor da política porque, numa democracia, o poder emana do povo e é ele que o legitima. O estado não pode preceder a sociedade (Nogueira, 2004). 1. Qualidade da escola pública, qualidade da educação: concepções e desafios Não podemos separar a qualidade da educação da qualidade como um todo, como se fosse possível termos uma qualidade dentro da escola e outra qualidade fora dela. Por isso, o tema da qualidade é tão complexo. A qualidade na educação não pode ser boa se a qualidade do professor, do aluno, da comunidade é ruim. Um conjunto de fatores contribuem para com a qualidade na educação. Para a Unesco, a qualidade se transformou em um conceito dinâmico que deve se adaptar permanentemente a um mundo que experimenta profundas transformações sociais e econômicas. É cada vez mais importante estimular a capacidade de previsão e de antecipação. Os antigos critérios de qualidade já não são suficientes. A educação de qualidade deveria capacitar a todos, mulheres e homens, para participarem plenamente da vida comunitária e para serem também cidadãos do mundo (Unesco, 2001:1). Este tema foi tratado pela Conferência Nacional de Educação (CONAE) de 2009-2010 que ofereceu uma boa definição/concepção - coletiva, refletida e reconhecida pela prática - do que se entende por qualidade na educação. O Documento de Referência da CONAE refere-se à qualidade da educação no Eixo II, associando este tema ao da gestão democrática e ao da avaliação. Não há qualidade na educação sem a participação da sociedade na escola. A garantia de espaços de deliberação coletiva está intrinsecamente ligada à melhoria da qualidade da educação e das políticas educacionais. Só aprende quem participa ativamente no que está aprendendo. O documento do MEC aponta um conjunto de variáveis que interferem na qualidade da educação e que envolvem questões macroestruturais, como a concentração de renda, a desigualdade social, a garantia do direito à educação, bem como a organização e a gestão do trabalho educativo. Qualidade é um conceito histórico, que se altera no tempo e no espaço, vinculando-se às demandas e exigências sociais de um dado processo (MEC, 2009:30). Por outro lado, o tema da qualidade não pode escamotear o tema da democratização do ensino. Dentro dessa nova abordagem, apontada pela UNDIME e pela CONAE, a democratização é um componente essencial da qualidade na educação: qualidade para poucos não é qualidade, é privilégio (Gentili, 1995:177). Quando a escola pública era para poucos, era boa só para esses poucos. Agora que é de todos, principalmente para os mais pobres, ela precisa ser apropriada para esse novo público, ela deve ser de qualidade sociocultural e socioambiental. Essa nova qualidade inclui transporte, saúde, alimentação, vestuário, cultura, esporte e lazer. Não basta matricular os pobres na escola (inclusão). É preciso matricular com eles, também, a sua cultura, seus desejos, seus sonhos, a vontade de ser mais (Freire). É preciso matricular o projeto de vida desses novos alunos numa perspectiva ética, estética e ecopedagógica. A qualidade na educação é um conceito político em disputa: exige investimentos financeiros de longo prazo, participação social e reconhecimento das diversidades e desigualdades culturais, sociais e políticas presentes em nossas realidades; qualidade na educação que forme sujeitos de direitos, inclusão cultural e social, qualidade de vida, que contribua para o respeito à diversidade, o avanço da sustentabilidade e da democracia e a consolidação do Estado de Direito. Embora a escola não crie a desigualdade (ela começa muito antes da escola), é a educação quem decide quem vai e quem não ser incluído na sociedade. Antes de colocar a questão dos parâmetros da qualidade - isto é, de como medir a qualidade - essa abordagem política do tema coloca em questão a própria noção de qualidade, relacionando-a ao tipo de escola que queremos, enfim, ao tipo de sociedade que queremos. E aponta a necessidade de se trabalhar primeiro o que condiciona a qualidade. Não tratar a qualidade como uma questão separada dos seus condicionantes. A qualidade na educação é o resultado das condições que oferecemos à ela. Para obtermos outra qualidade precisamos mexer primeiramente nessas condições. Paulo Freire nos fala de duas perspectivas/concepções da qualidade da educação: a bancária e a problematizadora. 1ª. A perspectiva bancária (neoliberal) da qualidade visa a uniformizar procedimentos e projetos. Nessa concepção da qualidade os professores são excluídos de toda discussão do tema da qualidade. Eles não têm voz. O que se busca é a estandardização (fordismo) da qualidade, da avaliação, da aprendizagem. Os docentes não têm conhecimento científico. Seu saber é inútil. Por isso, não precisam ser consultados. Eles só precisam receber receitas, como fazer, sem se perguntar porque fazer. Eles só servem para aplicar novas tecnologias: a sala de aula perderá sua centralidade e a relação professor-aluno entrará em declínio em favor da relação aluno-computador. A centralidade na aprendizagem pode estar correta, mas é, pelo menos, problemática, na medida

em que existe uma visão neoliberal da educação e da aprendizagem que realça essa centralidade para reduzir o papel do docente. Responsabilizar apenas o aprendiz pela sua aprendizagem desvaloriza o papel do docente. A solidariedade é substituída pela meritocracia. Por isso, na pedagogia neoliberal, o indivíduo acaba sendo responsável pela sua própria aprendizagem, numa base competitiva e individual. O cidadão dá lugar ao cliente, ao consumidor. Na perspectiva neoliberal da qualidade, aprender é aceder, ter acesso a computadores, a informações. Para nós, ao contrário, aprender é contextualizar a informação, atribuir-lhe sentido, construir conhecimento. Na educação bancária o docente torna-se um mero aplicador de textos. Por isso, os textos didáticos devem ser explícitos, pensados, criticados e revistos de acordo com parâmetros bancários. Um bom exemplo dessa técnica está nas apostilas da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Tratase de aulas prontas, preparadas pelo governo do Estado, limitando a capacidade de autoria do professor. Qualquer pessoa pode passar de uma página para outra. Não precisa de tanto tempo para se formar. Na verdade, nem precisa ser professor. Precisa ser apenas um técnico. Neste caso até um computador bem programado poderia fazer o que o professor deve fazer. Não se precisa de professor. Precisa-se de bons textos didáticos e de computadores. Professores facilitadores não autores. Essa concepção da qualidade nega a autonomia do docente e a formação para a cidadania. 2ª. Perspectiva emancipatória. O que distingue um professor transformador é a autoria. Ele ensina o que é e não só o que sabe. Antes de perguntar-se o que ele deve saber para ensinar ele deve perguntar-se como deve ser para ensinar. O que é ser autor? É ter autonomia, ser protagonista, ser um organizador da aprendizagem e não um mero lecionador, posicionar-se, ter opinião própria. A palavra emancipar vem de ex-manus ou de ex-mancipium. Ex (indica a ideia de "saída" ou de "retirada") e manus ("mão", simbolizando poder). Emancipar seria então "retirar a mão que agarra", libertar, abrir mão de poderes, significa "pôr fora de tutela". Ex-manus (fora-mão), significa pôr fora do alcance da mão. Emancipar-se é, então, dizer a quem nos oprime: "tire a sua mão de cima de mim!". Emancipar-se é, então, conquistar liberdade, independência. No século XX o conceito de emancipação foi particularmente elaborado pela Escola de Frankfurt, ao lado do conceito de razão comunicativa (Jurgen Habermas). É a aposta de que a emancipação humana encontra na razão seu fundamento e que a educação pode exercer um papel essencial na transformação da sociedade. Adorno escreveu um livro com o titulo Educação e emancipação (Adorno, 1995). Mais tarde, Erica Sherover-Marcuse, viúva de Herbert Marcuse, também da Escola de Frankfurt, escreveu um livro muito apreciado por Paulo Freire, Emancipation and Consciousness (Sherover-Marcuse, 1986), onde ela aproxima a teoria da emancipação e a teoria da conscientização. Numa perspectiva emancipatória importa que a práxis educativa construa sujeitos autônomos, pensantes, sujeitos capazes de autogovernar-se e de governar. Numa concepção emancipatória, a educação visa a formar o povo soberano desde a mais tenra idade. Formação integral, omnilateral. Vivemos hoje numa sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem, chamada de sociedade aprendente, uma sociedade de aprendizagem global, na qual as consequências para a escola, para o professor e para a educação em geral, são enormes. Torna-se fundamental aprender a pensar autonomamente, saber comunicar-se, saber pesquisar, saber fazer, ter raciocínio lógico, aprender a trabalhar colaborativamente, fazer sínteses e elaborações teóricas, saber organizar o próprio trabalho, ter disciplina, ser sujeito da construção do conhecimento, estar aberto a novas aprendizagens, conhecer as fontes de informação, saber articular o conhecimento com a prática e com outros saberes. Nesse contexto de impregnação da informação, o professor é muito mais um mediador do conhecimento, um problematizador (não facilitador). O aluno precisa construir e reconstruir o conhecimento a partir do que faz. Para isso, o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o quefazer dos seus alunos e alunas. Ele deixará de ser um lecionador para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem. Poderíamos dizer que o professor se tornou um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador. Não há ensino e aprendizagem fora da procura, da boniteza e da alegria, dizia-nos Paulo Freire (1997). A estética não está separada da ética. Muitas de nossas crianças e jovens chegam hoje à escola e à universidade sem saber porque estão aí. Não veem sentido no que estão aprendendo. Querem saber, mas não querem aprender o que lhes é ensinado. É aí que entra o papel do professor que constrói sentido, transforma o obrigatório em prazeroso, seleciona criticamente o que devemos aprender. Esse profissional transforma informação em conhecimento porque o conhecimento é a informação que faz sentido para quem aprende. O aluno aprende quando o professor aprende; ambos aprendem quando pesquisam. Como diz Paulo Freire (1997:32), faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. Ao lado do direito do aluno aprender na escola, está o direito do professor dispor de condições de ensino e do direito de continuar estudando. A qualidade da educação precisa ser encarada de forma sistêmica: da creche ao pós-doutorado. Medidas isoladas não irão surtir efeito. 3

4 O debate da qualidade da educação não está separado de outros paradigmas: o paradigma educacional e o paradigma social. Estamos discutindo o tema da qualidade da escola pública porque a qualidade da escola pública está em questão. Os paradigmas clássicos da educação, fundados numa visão industrialista predatória, antropocêntrica e desenvolvimentista, estão se esgotando, não dando conta de explicar o momento presente da educação e de responder às suas necessidades futuras. Necessitamos de outros paradigmas, fundados numa visão sustentável do planeta Terra. Esses paradigmas já causaram muita dor, muito sofrimento, a professores e alunos, e estão levando o planeta na rota do esgotamento de seus recursos. Isso é particularmente visível na dificuldade que encontram alunos e professores de alcançarem a tão almejada qualidade da educação. Vivemos hoje uma profunda crise da relação professor-aluno, com evidentes reflexos na qualidade da educação. A relação professor-aluno tornou-se tensa, agressiva, porque reproduz relações competitivas de mercado. Ela adquiriu a forma do mercado, reproduzindo, na escola, as relações de produção dominantes na sociedade. Daí o estresse e a perda da autoestima, a síndrome de burnout (CNTE, 1999), a desistência do professor. É uma sociedade que não valoriza seus profissionais da educação. Retira-lhe a alma. Os professores vão se tornando meros facilitadores, máquinas de reprodução social. A educação não pode subordinar-se às exigências do mercado. Ela deve, sem dúvida, formar as pessoas para inserir-se autonomamente no mercado, não numa sociedade de mercado. Como diz István Mészáros (2005), a educação vai muito além do capital. Diante deste cenário e voltando ao início deste texto, recorro às indicações da Unesco que apontam para a necessidade de uma outra qualidade da educação, baseada no paradigma da sustentabilidade (Morin, 2000). Os esforços da Unesco e das Nações Unidas não pararam por aí. Em 2002, as Nações Unidas lançaram a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014) buscando introduzir o conceito de sustentabilidade nas reformas educacionais dos sistemas e dos currículos (Gadotti, 2008). Os dados divulgados nos últimos anos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), provocaram debates em todo o mundo. O tema não é novo. Alertas foram dados pelos ecologistas deste os anos 60 do século passado e, particularmente, na Rio-92. A categoria sustentabilidade é central nesse novo paradigma de vida (Boff, 1999). Sustentabilidade representa o sonho de bem viver, em equilíbrio dinâmico com o outro e com o meio ambiente, harmonia entre diferentes, num mundo justo, produtivo e sustentável. As pedagogias clássicas são antropocêntricas. A ecopedagogia parte de uma consciência planetária (gêneros, espécies, reinos, educação formal, informal e não-formal...). Ampliamos o nosso ponto de vista. De uma visão antropocêntrica para uma consciência planetária, para uma prática de cidadania planetária e para uma nova referência ética e social: a civilização planetária. Educar para uma vida sustentável é educar para a simplicidade voluntária e para a quietude. Nossas vidas precisam ser guiadas por novos valores: simplicidade, austeridade, quietude, paz, serenidade, saber escutar, saber viver juntos, compartir, descobrir e fazer juntos. A sustentabilidade é um conceito poderoso, uma oportunidade para que a educação renove seus velhos sistemas, fundados em princípios e valores competitivos. Introduzir uma cultura da sustentabilidade e da paz nas comunidades escolares é essencial para que elas sejam mais cooperativas e menos insolidárias. Necessitamos de outros paradigmas, fundados numa visão sustentável do planeta Terra. Educar para uma vida sustentável é educar para viver no cosmos, ampliando nossa compreensão da Terra e do universo. Só assim poderemos entender mais amplamente os problemas da desertificação, do desflorestamento, do aquecimento da Terra e dos problemas que atingem humanos e não-humanos. Os paradigmas clássicos não têm suficiente abrangência para explicar essa realidade cósmica. Por não ter essa visão holística, não conseguiram dar nenhuma resposta para tirar o planeta da rota do extermínio e do rumo da cruel diferença entre ricos e pobres. Educar para a uma vida sustentável supõe um novo paradigma, um paradigma holístico. Precisamos repensar os parâmetros da qualidade da nossa educação a partir desse novo paradigma para que a educação seja realmente emancipadora. 2. Diálogo estado e sociedade civil: princípio pedagógico e preceito constitucional O parágrafo único do artigo primeiro da Constituição Federal de 1988 estabelece como cláusula pétrea que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, consagrando uma nova ordem jurídica e política com base em dois pilares: a democracia representativa e a democracia participativa (direta), entendendo a participação social e popular como princípio inerente à democracia. Em seu artigo 206, quando a Constituição Federal estabelece os princípios do ensino, inclui, entre eles, no Inciso VI, a gestão democrática do ensino público, princípio este retomado na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. O Artigo 205 da Constituição de 1988 determina que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Infelizmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9394/96) não respeitou esse princípio de que a educação deveria ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Para a CNTE (2009:289), a gestão democrática princípio caro aos educadores e que foi base-mestra do primeiro projeto de regulamentação do Sistema Nacional de Educação ficou eduzida, na Lei no. 9.394 de 1996, aos preceitos dos artigos 145 e 15, que preveem, somente, a participação dos profissionais no projeto pedagógico, e da comunidade nos conselhos escolares, além de uma 'progressiva' autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira às escolas. A participação popular e a gestão democrática fazem parte da tradição das chamadas pedagogias participativas, sustentando que elas incidem positivamente na aprendizagem (ANTUNES, 2002). Pode-se dizer que a participação e a autonomia compõem a própria natureza do ato pedagógico. Formar para a participação não é só formar para a cidadania, é formar o cidadão para participar, com responsabilidade, do destino de seu país; a participação é um pressuposto da própria aprendizagem. Não há qualidade na educação sem a participação da sociedade na escola. A melhoria da qualidade da educação e das políticas educacionais está intrinsecamente ligada à criação de espaços de deliberação coletiva. No diálogo necessário à qualidade da escola pública precisamos incluir também a qualidade na gestão da escola (FORTUNATI, 2007), do seu planejamento e da sua organização pois a qualidade na aprendizagem o educando está também relacionada com a participação dele no planejamento e na organização da escola e do sistema de ensino: a gestão democrática dos sistemas de ensino e das instituições educativas constitui uma das dimensões que possibilitam o acesso à educação de qualidade como direito universal. A gestão democrática como princípio da educação nacional, sintoniza-se com a luta pela qualidade da educação (Conae 2011. Documento Final, página 59). A gestão democrática como princípio pedagógico e como preceito constitucional não se restringe à escola. Ela impregna os sistemas e redes de ensino. O princípio constitucional da gestão democrática também não se limita à educação básica: ela se refere a todos os níveis e modalidades de ensino. Ademais, é preciso deixar claro que a gestão democrática não está separada de uma certa concepção da educação. Não tem sentido falar de gestão democrática no contexto de uma educação tecnocrática ou autoritária. Ela deve ser coerente com uma concepção democrática e emancipadora da educação. Por que a escola privada rejeitou, em 1988, na Constituinte, a gestão democrática? Porque, com poucas exceções, o ensino privado não trabalha com uma concepção emancipadora da educação. O tema da Gestão democrática da educação com participação popular ganha ainda mais relevância hoje, no momento em que se discute a criação do Sistema Nacional de Educação que define a articulação e a cooperação entre os entes federativos. Essa lógica colaborativa só tem sentido se for cimentada pela gestão democrática e tiver por finalidade a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, como determina o Inciso I do artigo terceiro da Constituição Federal de 1988. Neste contexto gostaria de distinguir, sem separar, a participação social e a participação popular. Elas não são a mesma coisa. No Instituto Paulo Freire costumamos chamar de Participação Social aquela que se dá nos espaços e mecanismos do controle social como nas conferências, conselhos, ouvidorias etc. São os espaços e formas de organização e atuação da Participação Social. É assim que ela é entendida como categoria e como conceito metodológico e político pelos gestores públicos que a promovem. Essa forma de atuação da sociedade civil organizada é fundamental para o controle, a fiscalização, o acompanhamento e a implementação das políticas públicas, bem como para o exercício do diálogo e de uma relação mais rotineira e orgânica entre os governos e a sociedade civil. Está em discussão no governo federal a criação de um Sistema Nacional de Participação Social e um Novo Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil que deve se constituir num novo arcabouço jurídico e administrativo das relações entre o Estado e essas organizações. O Sistema Nacional de Participação Social, com base no acúmulo alcançado até agora no campo da participação, deverá estabelecer princípios que orientem e facilitem a participação social na formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Um sistema não hierarquizado, aberto e flexível, com uma estrutura em rede que garanta a autonomia das organizações da sociedade civil. Esse sistema é fruto de uma política que vem sendo construída desde 2003 quando o presidente Lula instituiu, ampliou e valorizou a participação dos conselhos e das conferências na elaboração, formulação e gestão de políticas públicas e agora se concretiza numa Política Nacional de Participação Social que estabelece o papel do Estado como promotor e garantidor do direito humano à participação. O Sistema Nacional de Participação Social deverá articular as políticas de participação social, integrando conselhos, conferências, fóruns, ouvidorias, audiências e consultas públicas e órgãos colegiados, facilitando a participação de organizações e movimento sociais. As conferências nacionais e as ouvidorias públicas são partes essenciais dessa política. As 5

Conferências Nacionais contribuíram com o reconhecimento de novos direitos pelo Estado, ampliando a cidadania no país e alterando o modo de compreender os atores sociais, que passaram a ser entendidos como sujeitos de direitos e participantes do processo de elaboração de políticas públicas (BRASIL, SR/PR 2001:40). Elas se constituíram também num grande aprendizado para os movimentos sociais, saindo de uma postura menos reivindicativa e mais propositiva. As Ouvidorias Públicas incorporaram a dimensão individual à participação social oferecendo ao cidadão a possibilidade de buscar informações, avaliar, criticar e melhorar os serviços e políticas públicas (BRASIL, SR/PR, 2011:62). Elas passaram de 40, em 2002, para 165 em 2010. Mais do que só se informar, a população, por meio delas, pode interagir com os órgãos públicos. A participação social se constitui num método de reconfiguração do próprio estado. A democracia participativa não concorre com a representativa: elas se complementam, se fortalecem, aproximando o cidadão do estado. É preciso superar o velho modelo tecnocrata de política pública baseada na premissa do estado externo à sociedade. A participação social como modo de governar significa adequar a racionalidade técnica da administração pública a uma nova aforma de governar baseada no diálogo constante com os atores da sociedade civil (BRASIL, SR/PR, 2011:83). É certo que a participação social na formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas vem sendo fortalecida, como prevista e reconhecida pela Constituição Cidadã de 1988. Num país com uma estrutura social injusta e tantas desigualdades, ela é absolutamente necessária. Ela não é só um instrumento de gestão: ela aprimora a democracia e qualifica as políticas públicas. Como costuma dizer Gilberto Carvalho, Ministro Secretário Geral da Presidência, sem participação social é impossível transformar democracia política em democracia social. A igualdade formal, jurídica é insuficiente, sem a igualdade econômica. Por outro lado, a Participação Popular corresponde às formas mais independentes e autônomas de organização e de atuação política dos grupos das classes populares e trabalhadoras e que se constituem em movimentos sociais, associações de moradores, lutas sindicais etc. A Participação Popular corresponde a formas de luta mais direta, por meio de ocupações, marchas, lutas comunitárias etc. Embora dialogando e negociando pontualmente com os governos, em determinados momentos, essas formas de organização e mobilização não atuam dentro de programas públicos e nem se subordinam às suas regras e regulamentos. A participação não só define a qualidade da democracia como a forma de viver a democracia, como afirma Lilian Celiberti: a participação é uma forma de viver a democracia e ela abarca as práticas anômalas e subversivas que vivem no plano subjetivo e pessoal, aquelas coisas que fazem as formas de sentir e amar, a formas de viver e criar comunidade. Nesse sentido, a participação democrática abarca a sociedade em seu conjunto, as meninas e os meninos nos centros educativos, em seus domicílios e na sociedade, os adolescentes e os jovens, as mulheres, os gays, lésbicas, os transexuais, os transgêneros, os atores políticos e sociais, mas também a quem constrói cultura, poesia e arte (CELIBERTI, 2005:56). O grande desafio é relacionar e fazer dialogar, no interesse das políticas públicas emancipatórias e dos seus temas e pautas de luta, a Participação Social e a Participação Popular, respeitando e garantindo a autonomia e a independência das formas de organização popular, superando os riscos de cooptação, subordinação, fragmentação e dissolução das lutas populares. Cresce o reconhecimento da importância da participação popular e da gestão democrática na educação. Mas, o reconhecimento dessa importância não tem se traduzido em sustentação prática desse principio. Por isso, muitos trabalhadores em educação tem encarado a gestão democrática mais como um encargo do que como uma possibilidade de participação, uma mera transferência de responsabilidade que acaba por responsabilizar, principalmente o docente, pelo mau desempenho da escola. Não basta criar mecanismos de participação popular e de controle social das políticas públicas de educação sem atentar para a necessidade de criar, também, simultaneamente as condições de participação. A sociedade civil participa sempre que convocada, mas com muita dificuldade. A participação, para ser qualificada, precisa ser precedida pelo entendimento muitas vezes técnico e científico do que se está discutindo: saber ler planilhas de custo, orçamentos etc. Como uma Associação de Moradores de uma comunidade pobre pode participar? É uma questão que é frequentemente colocada na gestão democrática com participação popular. A questão da gestão democrática precisa ser problematizada. Por isso precisamos melhorar as condições de participação. Não se convoca para a participação popular em locais inadequados, em horários inadequados, sem estrutura, sem preparação e sem organização. A participação popular não pode ser alguma coisa episódica, paralela, mas estrutural; ela deve constituir-se numa metodologia permanente da política educacional, num modo de governar. Um dos problemas cruciais da participação popular é a capacitação, principalmente dos que fazem parte dos diversos conselhos obrigatórios por lei, entre eles, o Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF (CACS), o Conselho do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Conselho do Programa Nacional Bolsa-Escola, inclusive dos membros do Conselho Municipal de Educação (CME). Contudo, não podemos confundir esse cuidado com a formação para a participação com a 6

7 ideologia da competência. Desde os anos 80 do século passado, Marilena Chauí (1983) nos chama a atenção para a despolitização da educação, dos cidadãos e da sociedade, causada pela ideologia da competência, da meritocracia que separa dirigentes e executantes, os que sabem e os que não sabem, os que sabem as razões do que fazem e os que desconhecem as finalidades de sua ação. As decisões são consideradas de natureza técnica e não política. Quem sabe comanda quem não sabe. Quem sabe comanda e quem não sabe obedece, não tem voz, não pode manifestar sua opinião, mesmo quando o assunto diga respeito à qualidade de suas vidas. Assim, se afasta a participação popular com o discurso de que só participa quem entende, quem está preparado tecnicamente para participar. Nos formamos para a participação participando, enfrentando os desafios técnicos e políticos da participação. A participação é conquista (DEMO, 1999). A participação é pedagógica. A Constituição de 88 consagrou a participação social e o controle público sobre a gestão das políticas públicas, prevendo uma multiplicidade de conselhos obrigatórios para estados e municípios receberem repasses de recursos. Contudo, a sua implementação vem sendo ameaçada não só porque, para muitos, ela é acessória, mas também por conjunturas hostis à participação, por distorções próprias da nossa sociedade hierarquizada e por falta de um marco regulatório adequado. A participação popular é pouco produtiva se não se traduzir em instrumentos concretos (normais, leis e mudanças orçamentárias) que permitam o controle, o acompanhamento, a fiscalização e a decisão sobre as políticas públicas. Mesmo quando essa regulação existe, nem todas as distorções são evitadas. Como mostra Amélia Cohn (2011:21), dadas as características da nossa sociedade, isso possibilitou distorções, como, de um lado, o monopólio da participação nos colegiados por lideranças locais (um mesmo representante participando de vários conselhos) sob a alegação de que as pessoas não querem participar, mas que, de fato, trata-se de resistência à divisão do poder - e, de outro, a ocupação da representação por profissionais da área, já que eles são mais capazes de saber o que é melhor para aqueles segmentos sociais, marcados pela vivência da carência cotidiana. Amélia Cohn acrescenta ainda que os movimentos mais organizados tendem a negociar com êxito a representação no interior do conselho junto a outros movimentos menos organizados ou com menor expressão ou visibilidade junto à sociedade, mostrando outra distorção da participação social. Conciliando o Estado com a Nação, a Constituição de 88 se constituíu num projeto de redemocratização do país, depois de 25 anos do regime autoritário. A Conae está hoje retomando esse espírito democrático da Constituição Cidadã de 1988. Como se vê, não se tratava da gestão democrática apenas da escola, mas do sistema, entendido como a articulação de partes distintas, formando uma totalidade orgânica. Ela era concebida como um princípio da qualidade social da educação e como exigência da própria democracia, vinculada a um projeto educacional e social. Passaram-se 25 anos. Apesar de todos os avanços, sabemos que a participação social se limita, ainda, muitas vezes, à parcela da população que tem vínculo com associações civis. Por isso, vemos que os conselhos não expressam a vontade de toda a sociedade. A participação social é restrita aos segmentos socais que tem mais capacidade de organização e de expressão política. É bom lembrar que, segundo o IBGE apenas 27% da população tem algum vínculo associativo. Minha hipótese é que se trata dos 26% da população brasileira acima de 15 anos que é alfabetizada, isto é, que sabe ler e interpretar um texto. Alfabetização e politização tem tudo a ver, como já defendia Paulo Freire em 1963, em Angicos (RN), quando realizou sua primeira experiência de alfabetização de adultos. No Brasil o nosso grande estrave à participação é o nosso passado colonial ainda não inteiramente superado (WEFFORT, 2012). 3. Escola pública e radicalização da democracia O princípio da gestão democrática não deve ser entendido apenas como prática participativa e descentralização do poder, mas como radicalização da democracia, como uma estratégia de superação do autoritarismo, do patrimonialismo, do individualismo e das desigualdades sociais. Desigualdades educacionais produzem desigualdades sociais. A primeira Conae mostrou a necessidade de construção de um Sistema Nacional de Educação (SNE) articulado, coordenado e integrado, como forma de superar a educação fragmentada, setorizada, justaposta e desarticulada (ROMÃO, 2010). Isso só pode ser feito tendo a gestão democrática como princípio motor do sistema, articulando as diferentes estruturas e subsistemas. Mas, para isso, é preciso redefinir com clareza as funções de cada esfera de poder para que não haja, nem omissão, nem justaposição. O regime de colaboração precisa ser transformado num regime de cooperação solidária. Nessa cooperação solidária o papel do Fórum Nacional de Educação (FNE) é imprescindível. O princípio da gestão democrática deve ser o princípio orientador do regime de colaboração entre os sistemas de ensino, isto é, das ações coordenadas entre os entes federativos. E poder-se-ia aproveitar dessa redefinição para retomar o Artigo 205 da Constituição federal e definir também com clareza como será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade no sistema nacional de educação. Paulo Freire não dicotomizava Estado e Sociedade Civil. Ele os concebia como entes que se

8 interpenetram na disputa pela hegemonia (Gramsci), por um projeto de sociedade. Por isso, é possível pensar a transformação do estado a partir de dentro dele, com um pé dentro e um pé fora. Ele dizia que precisávamos estar taticamente dentro e estrategicamente fora do Estado. Como a Educação Popular, a participação popular no Estado, visa à construção de mais poder popular. A Educação Popular como política pública, como queria Paulo Freire, é um processo que se constrói ao mesmo tempo dentro e fora do Estado. O Estado, como a Sociedade, não é algo monolítico. Ele está em constante processo de transformação. Por isso, Paulo Freire defendia a tese de que a Educação Popular pode e deve inspirar as políticas públicas de educação. Quando ele assumiu a Secretaria Municipal de Educação em São Paulo (1989) lançou A Escola Pública Popular como sua Plataforma política, respeitando a diversidade da sociedade civil, mas, rompendo com práticas autoritárias e disputando a hegemonia política e cultural de um projeto popular, incorporando instrumentos da democracia participativa, fortalecendo os conselhos escolares e a participação popular ( conselhos participativos, conselhos populares, assembleias populares ) como método de governo. Paulo Freire queria que se falasse de Educação Popular na escola pública. Ele não entendia a Educação Popular apenas como educação não-formal. Ele queria não só democratizar a educação, mas, garantir que ela pudesse ser popular, isto é, incorporar em suas práticas os princípios emancipatórios da Educação Popular como parte de um projeto de sociedade. Participação popular e Educação Popular caminham juntas já que, historicamente, o referencial teórico da Educação Popular tem estimulado formas participativas e críticas de leitura do mundo (Paulo Freire). Vivemos numa sociedade de redes e de movimentos. As redes são estruturas abertas (CASTELLS, 2000:498) onde novos nós se agregam desde que compartilhem os mesmos códigos (Idem), o que significa: os mesmos princípios, valores, ideais. A lógica colaborativa das redes requer o diálogo, articulação de ações e gestão compartilhada. Nesse contexto, um sistema nacional de educação deve conciliar parâmetros nacionais com a diversidade e a autonomia dos sistemas de ensino dos entes federativos. É a unidade na diversidade, superando a tensão entre centralização e descentralização. Quando pensamos em participação, em geral, vem à imaginação um conjunto de pessoas reunidas num auditório. Não exploramos ainda o suficiente o grande potencial de participação possibilitado pelas redes sociais e pelas novas tecnologias. Conferências e encontros também podem se realizar em meio virtual. A participação popular se amplia com a disseminação dos meios digitais de comunicação. Hoje, no Brasil, a participação popular, principalmente dos jovens, está mais vinculadas às redes sociais, regidas por grande horizontalidade, sem hierarquias, ainda não inteiramente aproveitada pelas políticas educacionais. Um exemplo dessa nossa face da participação social e popular está no fenômeno recente do surgimento dos Fóruns como o Fórum Social Mundial espaços diversos e plurais (GADOTTI, 2007) onde as pessoas se juntam em torno de causas comuns. Construir redes e fóruns me parece uma boa estratégia para envolver cada vez mais pessoas - não apenas as institucionalizadas - na imprescindível reforma educacional preconizada por Florestan Fernandes (1989). A democracia participativa não substituiu a democracia representativa. A participação popular a democracia participativa, criando corresponsabilidade social. Não é para substituí-la. Hoje os conselhos, as conferências, as auditorias públicas, são importantes para o exercício organizado da democracia participativa, mas percebe-se que são ainda espaços limitados de participação porque podem ser facilmente induzidos de cima. O estado brasileiro precisa ser menos representativo e mais participativo. As administrações municipais progressistas foram as primeiras a experimentar esse modelo de estado, criando mecanismos de gestão pública não estatal como o orçamento participativo. Elas tiveram grande êxito nisso, mostrando que iniciativas socialistas poderiam ter lugar em escala municipal. 4. Em defesa de uma esfera pública cidadã O conceito de sociedade civil é polissêmico. Ele foi criado pelos iluministas que o contrapunham a noção de estado. Ele foi retomado por Hegel, Marx, Alexis de Toqueville, entre outros. Gramsci e Habermas o empregaram largamente em suas teorias. Gramsci distingue sociedade política - constituída pelo aparato legal e institucional do estado e a sociedade civil, constituída pela esfera privada nãoestatal que inclui associações religiosas, esportivas, educativas, meios de comunicação etc. Ele descreve a sociedade civil como uma esfera pública não estatal, denunciado o fascismo, que controlava a sociedade civil para manter a sua hegemonia. Jürgen Habermas (1984) também fala de uma esfera pública cidadã, de um mundo da vida, espaço existente entre o estado (sociedade política) e o mercado (sociedade econômica). Muitas coisas podem caber no conceito de sociedade civil. Nele pode-se incluir as organizações populares e movimentos sociais, as organizações profissionais, as organizações religiosas, e, inclusive, o mundo acadêmico. Como uma arena em luta, como uma esfera separada dos interesses do estado e do mercado, em muitos casos, a sociedade civil serviu de abrigo, principalmente na América Latina, para a

resistência contra regimes autoritários. No seio destas lutas, a sociedade civil surgiu e se fortaleceu como esfera pública não-estatal, orientada para a representação de interesses de coletivos e, portanto, para a participação nas decisões. No seio da sociedade civil destaca-se, hoje, o papel das organizações não-governamentais (ONGs) que vêm ocupando grandes debates. Elas passaram a ocupar, no Brasil, um espaço específico, a partir dos anos 60, prestando assessoria aos movimentos sociais de resistência ao regime militar. Em alguns casos elas foram essenciais na intermediação entre o estado autoritário e grupos sociais perseguidos pela ditadura, crescendo como atores e sujeitos políticos voltados para a defesa da democracia na perspectiva dos direitos sociais. Mas foi a partir dos anos 90 que houve a grande explosão do número de ONGs, principalmente a partir do Fórum Global da Rio 92 e a crise dos partidos de esquerda. Militantes desse partidos, insatisfeitos ou decepcionados com a queda do comunismo no Leste Europeu, migraram para organizações da sociedade civil, mais flexíveis do que os partidos e, como defendiam causas vinculadas aos interesses dos cidadãos comuns e não a uma classe social, dividiram-se em miríades de advocacy groups, grupos de defensores de causas específicas (negros, quilombolas, indígenas, mulheres, jovens, deficientes...) em defesa do meio ambiente, dos direitos humanos etc. De lá para cá continuaram crescendo. É uma grande e auspiciosa novidade deste início de milênio. Trabalhando em rede, sem hierarquias, essas organizações, associadas a movimentos sociais, lutam pela inclusão social através de campanhas, fóruns, marchas, etc. radicalizando a democracia, conquistando novos direitos. A década de 90 assistiu a uma grande expansão do número de ONGs no Brasil. A Constituição Federal de 1988 assegurou a essas organizações um papel central no processo de consolidação da democracia, instituindo o exercício do poder popular diretamente, não somente através de representação. Ela instituiu a democracia participativa, isto é, o direito da população participar, diretamente, no processo de decisão e controle do estado. Essa é a principal fonte de legitimidade da atuação das ONGs no Brasil, legitimidade essa reforçada pela sua atuação: as ações que realizam correspondem aos interesses da população em favor da inclusão social. Nenhum governo pode hoje prescindir da aliança com esse setor organizado da sociedade civil. E como o poder das ONGs vem crescendo, elas têm sido alvos prediletos dos ataques das elites e da mídia que elas controlam. O campo das ONGs vem se constituindo num campo próprio, mesmo que com tendências diversas. A ABONG (Associação Brasileira de ONGs), fundada em 1991, reúne um segmento dessas ONGs (perto de 300 entidades), um segmento que se caracteriza por sua trajetória de luta pela radicalização da democracia. Elas assumem um caráter público não-estatal. Não são correias de transmissão do poder estatal. Podem viabilizar políticas públicas sem se confundir com o estado, sem desobrigar o estado de suas funções. ONGs não substituem o estado. Ao contrário, elas vem se constituindo numa força cívica de pressão para que o estado cumpra suas funções. Elas têm provocado mudanças em favor da democracia, da equidade, da inclusão e de uma outra economia. Uma ONG, nesse sentido, seria aquele organismo da sociedade civil constituído por um grupo social organizado em função de ações de solidariedade no campo das políticas públicas, exercendo legitimamente pressão política em proveito das populações mais empobrecidas da sociedade. A vocação política das ONGs está ligada fundamentalmente ao caráter público de defesa da cidadania. Importantes mudanças estão ocorrendo nos últimos anos na América Latina. Foram eleitos governos mais democráticos e isso vem assustando os setores que detêm o poder há séculos na região. Não há como não relacionar esses avanços com os movimentos sociais e a maior organização da sociedade civil. A satanização das ONGs feita por parte da mídia, hoje, não se refere apenas à suspeita de que algumas delas receberam recursos públicos e não os utilizaram adequadamente. O cenário é mais amplo. Essa satanização é uma reação a algo bem maior. Essa mídia quer atingir algo maior que são as conquistas sociais dos governos democráticos. Até hoje não existe, no direito brasileiro, a expressão organização não-governamental. Ainda está em discussão um marco regulatório para as ONGs. As ONGs não têm, no Brasil, uma legislação adequada, são juridicamente indefinidas. Há um vazio jurídico e, pior, quando o estado buscou regular o setor acabou criando entraves para a promoção de seus próprios programas, como afirma o professor Paul Singer, da SENAES (Secretaria Nacional de Economia Solidária), devido a um enrijecimento crescente dos controles de convênios que regem as parcerias. O governo deve impedir a atuação das falsas ONGs como o faz com as falsas empresas, sem impossibilitar que ONGs autênticas, independentemente de seu tamanho, possam assumir o seu legítimo lugar de parceiras do estado. Sabemos hoje que as ONGs são essenciais para o funcionamento da democracia. Se elas não existissem, criariam um grande vácuo na sociedade, haveria um grande prejuízo para as populações mais pobres e muitos serviços públicos essenciais não seriam prestados. Além do mais, na democracia, os cidadãos têm o direito de se organizar para intervir na vida pública. Atacar as ONGs hoje é atacar a democracia. Nas democracias modernas as organizações da sociedade têm tradicionalmente relações com o estado. Sua atuação é ainda maior quanto maior o grau de democracia existente na sociedade. 9

10 Criminalizar as entidades da sociedade civil, partidarizar a discussão desse tema, fazer generalizações simplistas, tem sido uma forma que os setores mais conservadores, neste país, têm usado para frear a crescente influência dessas entidades no processo de radicalização da democracia. Algumas lideranças políticas hoje no governo se formaram nos bancos das escolas dos movimentos sociais e populares. A luta é pedagógica. Aprende-se política no exercício da cidadania desde a infância. A pergunta que faço, no final desta reflexão, é esta: quais são hoje os programas do governo que estão impulsionando ou, pelo menos, facilitando, o mesmo aprendizado da política que aquelas lideranças tiveram no passado? Surgirão outras lideranças populares por conta de um governo que valorizou os movimentos sociais e as ONG populares? ] Referências bibliográficas ADORNO, Theodor W, 1995. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra. ANTUNES, Ângela, 2002. Aceita um conselho? Como organizar o colegiado escolar. São Paulo, Cortez/IPF BOFF, Leonardo, 1999. Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes. BRASIL, Câmara dos Deputados, 2011. Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação (PNE 2011/2020). PL no 8.035 / 2010 / organização: Márcia Abreu e Marcos Cordiolli. Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2011. 106 p. (Série ação parlamentar ; n. 436) BRASIL, SR/PR, 2011. Democracia participativa: nova relação do Estado com a Sociedade 2003-2010. Brasília. SR/PR (2ª edição). CASTELLS, Manuel, 2000. A sociedade em rede - a era da informação: economia, sociedade e cultura. Vol. 1. Rio de Janeiro: Paz e Terra. CELIBERTI, Lilian, 2005. In: Atores, práticas e discursos da participação. In: TEIXEIRA, Ana Claudia Chaves, org, 2005. Os sentidos da democracia e da participação. São Paulo: Instituto Polis, pp. 51-58. CHAUÍ, Marilena, 1983. Cultura e democracia : o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez. CHAUÍ, Marilena, 2005. Considerações sobre a democracia e os obstáculos à sua concretização. In: TEIXEIRA, Ana Claudia Chaves, org, 2005. Os sentidos da democracia e da participação. São Paulo: Instituto Polis, pp. 23-30. CNTE, 1999. Educação: carinho e trabalho Burnout, a síndrome da desistência do educador, que pode levar à falência da educação. Brasília: CNTE. CNTE, 2009. Revista Retratos da Escola. v. 3, n. 4, jan/jun/2009. Brasília: CNTE. COHN, Amélia, 2011. Participação social e conselhos de políticas públicas. Brasília: IPEA 2011. (Textos para Discussão CEPAL). DEMO, Pedro, 1999. Participação é conquista: noções de política social e participativa. 4ª ed. São Paulo: Cortez. FERNANDES, Florestan, 1989. O desafio educacional. São Paulo: Cortez. FORTUNATI, José, 2007. Gestão da educação pública: caminhos e desafios. Porto Alegre: Armed. FREIRE, Paulo, 1997. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. GADOTTI, Moacir, 2007. Educar para um outro mundo possível: o Fórum Social Mundial como espaço de aprendizagem de uma nova cultura política e como processo transformador da sociedade civil planetária. São Paulo, Publisher Brasil. GADOTTI, Moacir, 2008. Educar para a sustentabilidade. São Paulo: Instituto Paulo Freire. HABERMAS, Jürgen, 1984. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro MEC, 2009. Documento Referência: Conferência Nacional de Educação. Brasília: MEC MÉSZÁROS, István, 2005. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo. MORIN, Edgar, 2000. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez. NOGUEIRA, Marco Aurélio, 2004. Um Estado para a sociedade civil: temas éticos e políticos da gestão democrática. São Paulo: Cortez. ROMÃO, José Eustáquio, 2010. Sistemas municipais de educação: a LDB e a educação no município. São Paulo: Instituto Paulo Freire. SANTOS, Boaventura de Sousa, 2003. Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Porto: Afrontamento. SHEROVER-MARCUSE, Erica, 1986. Emancipation and Consciousness: Dogmatic and Dialectical Perspectives in the Early Marx. Oxford: Blackwell. UNESCO, 2001. Los países de América Latina y el Caribe adoptan la declaración de Cochabamba sobre educación. In: Anais da Oficina de información Pública para América Latina y Caribe. Disponível em http:www.iesalc.org. WEFFORT, Francisco, 2012. Espada, cobiça e fé: as origens do Brasil. São Paulo: Civilização Brasileira.