AVALIAÇÃO DA REVERSÃO SEXUAL DE ALEVINOS DE TILÁPIAS (Oreochromis niloticus) COM O USO DE VOROZOL EM TANQUES DE TERRA Autor(es): Apresentador: Orientador: Revisor 1: Revisor 2: Instituição: ALMEIDA, Diones Bender; HEIN, Gelson; COSTA, Marco André Paldes da; MOREIRA, Carla G. Alves; OLIVEIRA, Plínio Aguiar de; SILVA, Janaína Camacho da; TAVARES, Rafael Aldrighi; TEIXEIRA, Felipe; MANZKE, Vitor Hugo Borba; MOREIRA, Heden Luiz Marques Diones Bender Almeida Heden Luiz Marques Moreira Beatriz Helena Gomes Rocha Carlos Oliveira Amaral Universidade Federal de Pelotas AVALIAÇÃO DA REVERSÃO SEXUAL DE ALEVINOS DE TILÁPIAS (Oreochromis niloticus) COM O USO DE VOROZOL EM TANQUES DE TERRA. ALMEIDA, Diones Bender 1 ; HEIN, Gelson 2 ; COSTA, Marco André Paldes da 1 ; MOREIRA, Carla G. Alves 1 ; OLIVEIRA, Plínio Aguiar de 1 ; SILVA, Janaína Camacho da 1 ; TAVARES, Rafael Aldrighi 1 ; TEIXEIRA, Felipe 1 ; MANZKE, Vitor Hugo Borba 3 ; MOREIRA, Heden Luiz Marques 14 1 UFPEL/ Departamento de Zoologia e Genética e Laboratório de Engenharia Genética Animal. 2 EMATER-PR Toledo, PR. 3 UFPEL/CAVG, Campus Universitário, s/nº. 96010-900 - Pelotas, RS. 4 Professor adjunto do Departamento de Genética e Morfologia/UFPel; Chefe do Laboratório; Orientador. Centro de Biotecnologia, Campus Universitário, s/nº. 96010-900 - Pelotas, RS. diones_almeida@yahoo.com.br INTRODUÇÃO A tilápia do Nilo apresenta alta capacidade de reprodução, fecundidade elevada, produção freqüente de ovócitos, baixa competição intra-específica, reprodução excessiva, superpopulação e crescimento lento. Sua carne é de alto valor nutritivo, cor branca, textura firme e sabor leve, com boa aceitação no mercado consumidor (CASTAGNOLLI, 1992; BORGES, 2002; MACLEAN et al., 2002). A maioria das espécies de tilápias alcança a sua maturidade sexual muito cedo, geralmente entre o 4 ou 6 mês de vida (KUBITZA, 2000). A fim de solucionar os problemas inerentes à maturidade sexual precoce, grande parte das criações no Brasil e no mundo fazem uso de populações monossexo macho, por estes apresentarem maiores índices de crescimento e ganho de peso (TACHIBANA et al., 2004).
As formas de obtenção de populações monossexuais na criação de tilápias nilóticas são muito variadas. O processo de reversão sexual em peixes deve ter início antes que o tecido gonadal das fêmeas tenha se diferenciado em ovários (YAMAMOTO, 1969; NAKAMURA et al., 1998). NEUMANN (2004) sugere que as larvas de tilápias, com comprimento de 9 a 11mm, estão adequadas para a masculinização por ainda serem sexualmente indiferenciadas, no que se refere aos aspectos morfológicos. Atualmente, o método mais prático e eficiente para a reversão sexual de tilápias, é a utilização de rações contendo hormônios esteróides sexuais sintéticos. O hormônio mais utilizado neste processo, provavelmente devido ao seu potencial androgênico, baixo custo e facilidade de ser excretado após o tratamento, é o andrógeno sintético 17 α-metiltestosterona (PHELPS e POPMA, 2000, POPMA e GREEN, 1990; MACINTOSH e LITTLE, 1995; MAINARDES-PINTO et al., 2000). Porém, o uso de hormônios na produção animal, tem sido questionado em animais destinados ao consumo humano. Uma alternativa aos tratamentos hormonais é a utilização de compostos não esteróides, que possam interferir no metabolismo dos hormônios esteróides endógenos, antes ou durante o período de diferenciação sexual. Este trabalho teve por objetivo testar a eficiência do Vorozol, um inibidor não esteroidal da aromatase, na reversão do sexo de alevinos de tilápias (Oreochromis niloticus). MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Centro de Pesquisa em Aqüicultura Ambiental da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos do Paraná (CPAA), município de Toledo, no período de 24/01/2002 a 22/02/2002. Utilizou-se 5000 pós-larvas de tilápias do Nilo da linhagem Chitralada, com três dias pós-eclosão, comprimento inicial médio de oito milímetros e peso de 10,2 mg, distribuídas, aleatoriamente, em 20 viveiros de alvenaria, com 11m 2 de área, e um metro de profundidade, construídos ao ar livre, com entrada e saída da água individualizada e telas de proteção. A renovação da água era constante e os resíduos acumulados no fundo foram sifonados semanalmente. Foram utilizados cinco tratamentos com quatro repetições: sem medicação (controle negativo), Metiltestosterona (controle positivo), VZ 25 (25mg de Vorozol/kg de ração), VZ 50 (50mg de Vorozol/kg de ração) e VZ 75 (75 mg de Vorozol/kg de ração), alocados nos viveiros por sorteio. A ração utilizada foi do tipo farelada comercial, contendo 45% de proteína bruta, e sendo administrada quatro vezes ao dia (9:30, 11:30, 14:00 e 16:00 hs.) à vontade, a partir do 5 o dia pós-eclosão. As dosagens de Vorozol e 17 α-metiltestosterona foram diluídas em 250 ml de álcool etílico e misturadas separadamente a 500g da ração, permanecendo em temperatura ambiente à sombra, por 24 horas para evaporação do álcool. Semanalmente, eram colhidos de 10 a 15 peixes de cinco viveiros escolhidos, aleatoriamente, para verificar seu estado e desenvolvimento. Após o período experimental de 30 dias, os alevinos permaneceram nos viveiros por mais 15 dias, sendo alimentados, somente, com ração sem os produtos testados, até atingirem o comprimento total de 3,5cm, para facilitar a extração da gônada e sua identificação ao microscópio. Foram coletados, aleatoriamente, 400 peixes de cada tratamento, pesados, medidos e acondicionados em frascos com formol a 5%. Os viveiros foram
esvaziados e todos os alevinos foram contados, para calcular a taxa de sobrevivência do tratamento. O trabalho de retirada, fixação e identificação das gônadas foi realizado no Laboratório de Microscopia do Curso de Engenharia de Pesca da UNIOESTE Campus de Toledo/PR, através da técnica proposta por POPMA e GREEN (1990). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os peixes do experimento apresentaram crescimento uniforme. Em relação ao peso final médio, observou-se que o tratamento VZ 50 apresentou o maior peso médio. Foram verificadas taxas de sobrevivência de 81%, 82,7%, 84%, 71% e 82% para os tratamentos S/MEDIC, METILT, VZ 25, VZ 50 e VZ 75, respectivamente. Ocorreram chuvas intensas nos primeiros três dias da implantação do experimento, o que pode ter provocado mortalidade nas pós-larvas. Portanto, as taxas de mortalidade ocorridas neste experimento, podem ser consideradas aceitáveis nesta fase inicial de desenvolvimento dos peixes. As taxas de gônadas masculinas dos alevinos apresentaram diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos. No tratamento S/MEDIC, onde não foi utilizado produto para reversão sexual, as taxas de gônadas masculinas observadas foram de 61,5%; semelhantes ao observado por MAINARDES-PINTO (2000), de 62%; e superior ao verificado por MÉLARD, (1995), de 47% em Oreochromis aureus; também observado por SHELTON et al. (1978) e PHELPS E POPMA (2000), de 50% no gênero Oreochromi; bem como MAIR et al. (1995), de 59,13% de machos Oreochromis niloticus, na reprodução normal. Também DESPREZ E MÉLARD (1998), observaram em Oreochromis aureus, a temperatura de 27 o C uma taxa de 63% de machos; e na temperatura de 34 o C, a taxa de machos aumentou para 97,8%. Os resultados encontrados neste tratamento do experimento, podem estar relacionados às conclusões de SHELTON et al. (1978), ao afirmarem que as proporções de sexo em diferentes famílias e populações são variáveis, e a arquitetura genética para o controle do fenótipo sexual pode diferir, significativamente, de populações para populações. Nos tratamentos VZ 25, VZ 50 e VZ 75, os resultados da taxa de reversão sexual foram crescentes no sentido dose/resposta. Estes resultados indicam que o produto teve a ação esperada em inibir a aromatase, permitindo a expressão do hormônio masculino formado naturalmente em cada alevino, e transformando as fêmeas genéticas em machos fenotípicos. PIFERRER et al. (1994), utilizaram um inibidor da aromatase em imersão por duas horas, no momento de maior sensibilidade à ação do esteróide, num estoque de fêmeas de salmão chinok, e obtiveram 22% de reversão sexual para machos. BEARDMORE et al. (2001), citaram que, além da influência da temperatura na proporção de sexos, muitos fatores ambientais, como ph, densidade de estocagem, poluição e outras condições comportamentais, têm implicações e influenciam o fenótipo sexual e potencializam, consequentemente, a proporção dos sexos. No tratamento METILT, que utilizou o hormônio 17 α-metiltestosterona para reverter o sexo das tilápias, a taxa de machos observada foi de 99,75%. CONCLUSÕES FINAIS
Através dos resultados obtidos neste experimento, pode-se concluir que o Vorozol atuou na reversão sexual dos alevinos de tilápia; em seu uso, os melhores resultados foram na dosagem de 75mg/kg de ração. O inibidor não interferiu no desenvolvimento normal dos alevinos e que são necessárias mais pesquisas para definir a dosagem de Vorozol, capaz de reverter 100% dos alevinos de tilápias e as ações do produto e derivados ao meio ambiente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEARDMORE, J.A.; MAIR, G.C.; LEWIS, R.I. Monosex male production in finfish as exemplified by tilapia: applications, problems, and prospects. Aquaculture, v.197, p.283-301, 2001. BORGES, A.M. Piscicultura. Brasília: EMATER, 2002. 36p. CASTAGNOLLI, N. Piscicultura de água doce. Jaboticabal:FUNEP, 1992, p.71-96. DESPREZ, D.; MELARD, C. Effect of ambient water temperature on sex determinism in the blue tilapia Oreochromis aureus. Aquaculture, v.162, p.1-2, 1998. GROVER, J.H. (Eds) Culture of exotic fishes symposium. Alabama University: Fish Culture Section/ Am. Fish. Soc. Auburn. p.10-33. KUBITZA, F. Tilápia: tecnologia e planejamento na produção comercial. Jundiaí: F. Kubitza, 2000. 285p. MACINTOSH, D.J.; LITTLE, D.C. Nile tilapia (Oreochromis niloticus). In: BROMAGE, N.R.; ROBERTS, R.J. (Ed.). Broodstock management and egg and larval quality. Oxford: Blackwell Science, 1995. p.277-320. MACLEAN, N.; RAHMAN, M. A.; SOHM, F.; HWANG, G.; IYENGAR, A.; AYAD, H.; SMITH, A.; FARAHMAND, H. Transgenic tilapia and the tilapia genome. Gene, Amsterdam, v. 295, p. 265 277, 2002. MAINARDES-PINTO, C. S. R. et al. Masculinização da Tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus, utilizando diferentes rações e diferentes doses de 17 alfa-metiltestosterona. Revista Brasileira de Zootecnia., v. 29, n. 3, p. 654 659, 2000. MAIR, G. C.; ABUCAY, J. S.; BEARMORE J. A.; SKIBINSKI D. O. F Growth performance trials of genetically male tilapia (GMT) derived from YY-males in Oreochromis niloticus L.: On station comparisons with mixed sex and sex reversed male populations. Aquaculture, Amrsterdam, v.137, p.313-322, 1995. MAKRAKIS, S.; BOMBARDELLI, R. A.; MASSAGO, H.; CAMPAGNOLO, R; BEUX, L. F. Avaliação da qualidade na produção de alevinos revertidos de tilápias, Oreochromis niloticus, na região Oeste do Paraná - Brasil, quanto a efetividade da reversão sexual - um estudo de caso.in:fifth International Simposium on Tilapia Aquaculture-5 ISTA, 2000,Rio de Janeiro. Proceedings from the Fifth International Simposium on Tilapia Aquaculture. Rio de Janeiro, 2000.v. 1.p.89-92. MÉLARD, C. Production of a high percentage of male offspring with 17 a ethynylestradiol sex-reversed Oreochromis aureus. I Estrogen Sex-reversal and production of F2 pseudofemales. Aquaculture, v.130, p.25-34, 1995. NAKAMURA, M.; TAKAHASHI, H. Sex control in cultured tilapia (tilapia mossambica) and salmon (Oncorhynchus masou). Comparative Endocrinology, current Trends. Hong Kong University Press, Hong Kong, p. 1255-1260, 1973. NAKAMURA, M.; KOBAYASHI, T.; CHANG, X. T.; NAGAHAMA, Y. Gonadal sexdifferentiation in teleost fish. The Journal of Experimental Zoology, New York, v. 281, p. 362 372, 1998.
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