O Código Civil de 2002 (lei n. 10.406/2002) - Comparações entre o Código Civil de 1916 e de 2002. - Princípios do Código Civil de 2002. - Direito Civil-constitucional
Histórico da Codificação Civil no Brasil Consolidação das leis civis Teixeira de Freitas (1958) Projeto de Código Civil (1916) Clóvis Beviláqua: apresentado ao Congresso em 1900, e em 1902 aprovado pela Câmara dos Deputados, sofrendo emendas por parte de Rui Barbosa (relator) no senado. Em 1912 retorna à Câmara e é aprovado 1916; entra em vigor em 1917, com 1.807 artigos.
Histórico da Codificação Civil no Brasil Projeto de Código Civil (2002) comissão nomeada em 1967, liderada por Miguel Reale, em 1972 apresenta pré-projeto do Código Civil. Este pré-projeto, enviado ao Congresso, se tornou o projeto de lei 634/75. Foi aprovado em janeiro de 2002, entrando em vigor em janeiro de 2003, com 2.046 artigos.
Codificação Civil Código de 1916 Parte geral: Pessoas, Bens, Fatos Jurídicos Parte especial: Direito de Família, Direito das Coisas, Direito das Obrigações e Direito das Sucessões. Código de 2002 Parte Geral: Pessoas, Bens, Fatos Jurídicos Parte especial: Direito das Obrigações, Direito de Empresa, Direito das Coisas, Direito de Família e Direito das Sucessões.
Codificação Civil Ambos os Códigos, de 1916 e de 2002, seguem pressupostos germânicos (Savigny). - Esses pressupostos tratam de dividir o Código Civil em uma parte geral, e em uma parte especial. A inspiração germânica recomenda que exista uma parte geral, na qual estão previstos princípios gerais aplicáveis à parte especial do Código. A mesma inspiração germânica (pandectistas) observa uma estruturação metódica e sistemática do Código. É o Código de 2002 que observa a estrutura regular de disposição dos assuntos da parte especial conforme a codificação germânica.
Comparações CC 1916 e CC 2002 O Código Civil de 1916, bastante aplaudido por sua qualidade técnica e conteúdo, na época resultante de inspirações germânicas e mesmo do Código Civil francês, tinha por valor maior a proteção do indivíduo e suas posses. O individualismo ganhou força com o movimento iluminista, que por sua vez chegou para acabar com o absolutismo do Estado, dando maior autonomia privada ao homem.
Comparações CC 1916 e CC 2002 O CC de 1916 apresentava, normas tecnicamente estruturadas, traduzindo, contudo, a ideologia da sociedade agrária e conservadora do momento histórico de sua criação, preocupando-se muito mais com o ter (o contrato, a propriedade) do que com o ser (os direitos da personalidade, a dignidade da pessoa humana). A vigência de mais de 80 anos do CC de 1916, exigiu a descentralização das normas civis: impossível reformar o Código estruturalmente (rigidez). Várias legislações esparsas e microssistemas foram surgindo para suprir as necessidades sociais que a época manifestava.
Comparações CC 1916 e CC 2002 Com o pós-guerra, os valores passaram a se voltar para a humanização do direito, observância da pessoa humana (dignidade da pessoa humana), sendo necessária uma alteração substancial em determinados valores não previstos, ou obsoletos do Código de 1916. Exemplo disso é o aspecto conservador e tradicionalista de tal diploma legal, no tratamento de filhos havidos fora do casamento, cuja filiação era vista de forma severa por este código inovações legislativas: Lei n. 883/49 (sobre reconhecimento de filhos ilegítimos), Lei n. 6.515/77 (divórcio), Lei n. 8.069/90 (estatuto da criança e do adolescente) e Lei n. 8.560/92 (reconhecimento de filhos fora do casamento).
Comparações CC 1916 e CC 2002 A evolução social passou a exigir adaptações legislativas, e enquanto vigente, o Código recebia influência de várias leis que foram promulgadas com o intuito de regulamentar valores pertinentes à sociedade. Esses diplomas, por exemplo, revogaram várias normas do CC de 1916: - Lei n. 4.121/62 (Estatuto da Mulher Casada), a Lei n. 6.515/77 (Lei do Divórcio), a Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e as leis que reconheceram direitos aos companheiros e conviventes (Leis n. 8.971/94 e 9.278/96), a Lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/73), leis de locação, o Código de Defesa do Consumidor, o Código de Águas, o Código de Minas.
Comparações CC 1916 e CC 2002 A própria Constituição Federal de 1988 apresentou regras a respeito de filiação, casamento - reconhecimento da união estável, e reconheceu aspectos importantes relacionados ao Direito de Propriedade função social da propriedade, e a limitação de contratar, frente o interesse público. Com isso, deslocou-se ainda mais o conteúdo civilista, apontando a necessidade, por exemplo, de se interpretar suas normas de acordo com a proposta constitucional (supremacia da Constituição).
Comparações CC 1916 e CC 2002 O CC de 1916, sem diminuir a sua magnitude técnica, em sua crueza, é egoísta, patriarcal e autoritário, refletindo, naturalmente, a sociedade do século XIX. Preocupa-se com o ter, e não com o ser. Ignora a dignidade da pessoa humana, não se compadece com os sofrimentos do devedor, esmaga o filho bastardo, faz-se de desentendido no que tange aos direitos e litígios pela posse coletiva de terras, e, o que é pior, imagina que as partes de um contrato são sempre iguais (visão do prof. Pablo Stolze Gagliano). Constituição Federal de 1988 valores: - a dignidade da pessoa humana; - a valorização social do trabalho,; - a igualdade e proteção dos filhos; - o exercício não abusivo da atividade econômica.
Características: Código Civil de 2002 Embora siga a sistemática do CC de 1916, procurando respeitar a metodologia ali empregada para a reunião das normas civis de forma científica, não tem o condão de apresentar de forma global o conteúdo normativo civilista existente no ordenamento. É a lei básica civil, mas não global. - inclui no sistema do Código, com a necessária revisão, a matéria das leis especiais posteriores a 1916, assim como as contribuições da jurisprudência; - exclui matéria de ordem processual, a não ser quando profundamente ligada à de natureza material; - implementa o sistema de cláusulas gerais, de caráter significativamente genérico e abstrato, cujos valores devem ser preenchidos pelo juiz, que desfruta, assim, de certa margem de interpretação.
Código Civil de 2002 Probidade e boa-fé objetiva (CC, art. 422); Função social do contrato (art. 421). Cláusulas Gerais: - São janelas abertas deixadas pelo legislador, para que a doutrina e a jurisprudência definam o seu alcance, formulando o julgador a própria regra concreta do caso.
Código Civil de 2002 Cláusulas Gerais não se referem à conceito legal indeterminado, ou a princípio. conceito legal indeterminado ou conceito vago, consta da lei e não tem definição: - bons costumes (CC, arts. 122 e 1.336, IV); - mulher honesta expressão que constava do art. 1.548, II, do Código Civil de 1916; Princípios (fontes do direito) são regras que se encontram na consciência dos povos e são universalmente aceitas, mesmo não escritas.
Comparações CC 1916 e CC 2002 O Código Civil de 2002 manteve a estrutura do Código Civil de 1916, seguindo o modelo germânico preconizado por Savigny, colocando as matérias em ordem metódica, divididas em uma Parte Geral e uma Parte Especial, num total de 2.046 artigos O CC de 1916 tinha 1.807 artigos. Inovação: Direito de Empresa. - Este ramo não figura, como tal, em nenhuma codificação contemporânea, constituindo, pois, uma inovação original do CC de 2002.
O Direito Civil - Compreende regras sobre a pessoa, a família e o patrimônio. - Cuida dos direitos da personalidade, o direito de família, o direito das coisas, o direito das obrigações e o direito das sucessões. - Traça conteúdos a respeito da personalidade, das relações patrimoniais, da família, e cuida da transmissão dos bens por morte. - O objeto do direito civil é a tutela da personalidade humana, disciplinando a personalidade jurídica, a família, o patrimônio e sua transmissão. O novo Código Civil trata dessas matérias não com exclusividade, subordinando-se hierarquicamente aos ditames constitucionais, que traçam os princípios básicos norteadores do direito privado.
Código Civil de 2002 Socialidade Princípios básicos: Eticidade Operabilidade
Princípios básicos CC 2002 - Princípio da socialidade: prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem perda do valor fundamental da pessoa humana. - valores foram positivados no prestígio à função social do contrato (art. 421) e à natureza social da posse (art. 1.239 e ss).
Princípios básicos CC 2002 - Princípio da eticidade: Leva em conta o valor da pessoa humana como fonte de todos os demais valores. Prioriza a equidade, a boa-fé (critérios éticos). Princípio do equilíbrio econômico dos contratos como base ética de todo o direito obrigacional. art. 113: os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua interpretação. boa-fé objetiva: art. 422.
Princípios básicos CC 2002 - Princípio da operabilidade: O direito é feito para ser efetivado, para ser executado. Princípio da concretitude: implícito na operabilidade - obrigação que tem o legislador de não legislar em abstrato, mas de legislar para o homem enquanto marido; para a mulher enquanto esposa; para o filho enquanto um ser subordinado ao poder familiar. parágrafo único do art. 927: obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Direito civil-constitucional A CRFB/88, ao tutelar diversos institutos nitidamente civilistas, como a família, a propriedade, o contrato, redimensionou a norma privada, fixando os parâmetros fundamentais interpretativos. Tanto o direito público quanto o privado devem obediência aos princípios fundamentais constitucionais não há neutralidade no conteúdo constitucional ele visa ressaltar a prevalência do bem-estar da pessoa humana.
Direito civilconstitucional Princípios norteadores da República Federativa do Brasil: dignidade da pessoa humana (art. 1º, III); solidariedade social (art. 3º); igualdade substancial (arts. 3º e 5º); erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais; promoção do bem de todos (art. 3º, III e IV)
Direito civil-constitucional O direito civil-constitucional estuda o direito privado à luz das regras constitucionais (visão unitária de sistema). A fonte primária do direito civil e de todo o ordenamento jurídico é a Constituição da República: seus princípios e as suas normas conferem uma nova feição à ciência civilista. O Código Civil é, logo após a incidência constitucional, o diploma legal básico na regência do direito civil.