DIOCTOFIMOSE RENAL EM CÃO RELATO DE CASO

Documentos relacionados
ESTUDO DE 15 CASOS DE DIOCTOPHYMA RENALE NA REGIÃO DE PELOTAS-RS STUDY OF 15 CASES IN DIOCTOPHYMA RENALE PELOTAS-RS REGION

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <

ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS DE INFESTAÇÃO POR DIOCTOPHYMA RENALE EM CÃES DA REGIÃO DE ALEGRE ESPÍRITO SANTO.

XIV Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais - CONPAVEPA - São Paulo-SP

DIOCTOFIMOSE EM UM CÃO PROVENIENTE DO MUNICÍPIO DE VALENÇA, RJ: RELATO DE CASO RESUMO

Eliminação de Dioctophyme renale pela urina em canino com dioctofimatose em rim esquerdo e cavidade abdominal Primeiro relato no Rio Grande do Sul

ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0877

Vilde Rodrigues de Oliveira. Capillaria spp. em dois Felinos: Relato de caso

INFECÇÃO NATURAL POR TRINTA E QUATRO HELMINTOS DA ESPÉCIE DIOCTOPHYMA RENALE (GOEZE, 1782) EM UM CÃO.

EXAME DE URETROGRAFIA CONTRASTADA PARA DIAGNÓSTICO DE RUPTURA URETRAL EM CANINO RELATO DE CASO

A ULTRASSONOGRAFIA NO DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DE DIOCTOPHYMA RENALE EM CÃES

NEFRECTOMIA DIREITA EM CÃO PARASITADO POR DIOCTOPHYME RENALE: RELATO DE CASO

Transtornos de importância clínica no sistema urinário dos ruminantes

DEMODICOSE CANINA: REVISÃO DE LITERATURA

NEFROLITÍASE BILATERAL EM FÊMEA CANINA: RELATO DE CASO 1 BILATERAL NEPHROLITHIASIS IN A FEMALE CANINE: CASE REPORT

Nefrectomia unilateral em um cão parasitado por Dioctophyma renale: Relato de caso

DIOCTOPHYMA RENALE EM UM CÃO: RELATO DE CASO

QUAL O SEU DIAGNÓSTICO?

Ano VI Número 10 Janeiro de 2008 Periódicos Semestral. Dioctophyma renale

Programa para Seleção Clínica Cirúrgica e Obstetrícia de Pequenos Animais

Características gerais

ECHINOCOCCUS GRANULOSUS

Dioctophyma renale em lobo-guará Relato de caso post mortem. Dioctophyma renale in guará wolf (Chrysocyon brachyurus) Post mortem case report

[ERLICHIOSE CANINA]

AGENESIA VULVAR EM CADELA (Canis lupus familiaris): RELATO DE CASO

CIRURGIAS DO TRATO URINÁRIO

Monografia de Conclusão de Curso

CAPILARIOSE EM GATOS

DOENÇAS INFECCIOSAS DE CÃES

Medico Vet..: HAYANNE K. N. MAGALHÃES Idade...: 1 Ano(s) CRMV...: 2588 Data da conclusão do laudo.:24/04/2019 URINÁLISE

FIBROADENOCARCINOMA, CARCINOSSARCOMA E LIPOMA EM CADELA RELATO DE CASO FIBROADENOCARCINOMA, CARCINOSARCOMA AND LIPOMA IN BITCH - CASE REPORT

CISTICERCOSE EM SUÍNOS

REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA ISSN: Ano X Número 19 Julho de 2012 Periódicos Semestral

Data da conclusão do laudo.:12/04/2019

Journal of Veterinary Science and Public Health. Dioctophyma renale em testículo de cão no município de Curitibanos, SC, Brasil Relato de caso

Pequeno aumento de tamanho, contornos regulares e parênquima homogêneo. Vasos lienais de calibres preservados. RINS...

Tumores renais. 17/08/ Dra. Marcela Noronha.

PLATINOSOMOSE EM FELINO DOMÉSTICO NO ESTADO DE SANTA CATARINA RELATO DE CASO

URETEROTOMIA COMO TRATAMENTO DE OBSTRUÇÃO URETERAL PARCIAL EM UM CÃO RELATO DE CASO

Análise Clínica No Data de Coleta: 22/04/2019 Prop...: ADRIANA RODRIGUES DOS SANTOS

Medico Vet..: REINALDO LEITE VIANA NETO. Data da conclusão do laudo.:17/12/2018

XVI Reunião Clínico - Radiológica. Dr. RosalinoDalasen.

Patologia Clínica e Cirúrgica

ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0167

HIMENOLEPÍASE RA:

Nome do Componente Curricular: Curso: Semestre: Carga Horária: Horas Teóricas: Horas Práticas: Docente Responsável Ementa Objetivos Geral

Filo Nematelmintos. O tamanho corporal varia de poucos milímetros ate 8m!

Anais do 38º CBA, p.0882

FRATURA DE MANDÍBULA SECUNDÁRIA À DOENÇA PERIODONTAL EM CÃO: RELATO DE CASO

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Classe Nematoda. Ascaridíase

R1CM HC UFPR Dra. Elisa D. Gaio Prof. CM HC UFPR Dr. Mauricio Carvalho

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

FASCIOLOSE. Disciplina de Parasitologia

No. do Exame 001/ Data Entrada..: 20/01/2017

CREATININA Valores de referência RESULTADO...: 2,40 mg/dl De 0,5 a 1,5 mg/dl MATERIAL UTILIZADO : SORO SANGUÍNEO MÉTODO : CINÉTICO

Campus Universitário s/n Caixa Postal 354 CEP Universidade Federal de Pelotas.

Medico Vet..: HAYANNE K. N. MAGALHÃES Idade...: 8 Ano(s) CRMV...: 2588 Data da conclusão do laudo.:02/11/2018

Módulo 1 ABORDAGEM E OPÇÕES TERAPÊUTICAS NO DOENTE COM LITÍASE RENAL AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA CÓLICA RENAL 3 OBSERVAÇÃO 4 OPÇÕES TERAPÊUTICAS

Ano VI Número 11 Julho de 2008 Periódicos Semestral TRICHURIS VULPIS

[DERMATITE ALÉRGICA A PICADA DE PULGAS - DAPP]

PREVALÊNCIA DE PARASITAS GASTROINTESTINAIS EM AMOSTRAS DE FEZES CANINAS ANALISADAS NA REGIÃO DA BAIXADA SANTISTA SP

Acta Scientiae Veterinariae ISSN: Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil

OS HELMINTOS CONSTITUEM UM GRUPO MUITO NUMEROSO DE ANIMAIS, INCLUINDO ESPÉCIES DE VIDA LIVRE E DE VIDA PARASITÁRIA

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

PREVALÊNCIA DE PARASITOS INTESTINAIS EM GATOS DOMÉSTICOS JOVENS COM DIARREIA PREVALENCE OF INTESTINAL PARASITES IN YOUNG DOMESTIC CATS WITH DIARRHEA

PESQUISA DE ENDOPARASITAS EM CÃES DE COMPANHIA NA REGIÃO DE ÁGUAS CLARAS-DF

Dioctofimatose renal bilateral e disseminada em cão 1

FASCIOLOSE/FASCIOLÍASE

Ano VI Número 10 Janeiro de 2008 Periódicos Semestral ESPOTRICOSE FELINA. DABUS, Daniela Marques Maciel LÉO, Vivian Fazolaro

UROLITÍASE VESICAL RELATO DE UM CASO 1.INTRODUÇÃO

Biologia. Identidade dos Seres Vivos. Sistema Excretor Humano. Prof. ª Daniele Duó.

INFECÇÃO POR DIOCTOPHYMA RENALE COM LOCALIZAÇÃO LIVRE EM CAVIDADE ABDOMINAL DE LOBO-GUARÁ (CHRYSOCYON BRACHYURUS) - RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO. Formação: Funções: Dois rins Dois ureteres Bexiga Uretra. Remoção resíduos Filtração do plasma Funções hormonais

TUBERCULOSE HEPÁTICA EM CÃO HEPATIC TUBERCULOSIS IN DOG

Avaliação nutricional do paciente

BOTULISMO EM CÃES - RELATO DE CASO

FILO NEMATELMINTOS. Nematelmintos - Os vermes em forma de fio

ESPOROTRICOSE EM FELINOS DOMÉSTICOS

9º Imagem da Semana: Radiografia Tórax

O complexo teníase-cisticercose engloba, na realidade, duas doenças distintas,

MEDICINA VETERINÁRIA

3/6/ 2014 Manuela Cerqueira

Programa Analítico de Disciplina VET171 Semiologia Veterinária

ESTUDO DE NEOPLASMAS MAMÁRIOS EM CÃES 1

Pesquisa realizada no Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária. 2

Análise Clínica No Data de Coleta: 07/02/2019 1/4 Prop...: ELIAS FONTENELE VALDEREZ Especie...: CANINA Fone...: 0

HIPERADRENOCORTICISMO CANINO ADRENAL- DEPENDENTE ASSOCIADO A DIABETES MELLITUS EM CÃO - RELATO DE CASO

1/100 RP Universidade de São Paulo 1/1 INSTRUÇÕES PROCESSO SELETIVO PARA INÍCIO EM ª FASE: GRUPO 5: VETERINÁRIA

1/100. Residência /1 PROCESSO SELETIVO DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA EM ÁREA PROFISSIONAL DE 2ª FASE: PROFISSÃO 7: MEDICINA ANIMAIS

RESEARCH NOTE / NOTA CIENTÍFICA

ORLANDO MARCELO MARIANI¹, LEONARDO LAMARCA DE CARVALHO¹, ELAINE CRISTINA STUPAK¹, DANIEL KAN HONSHO¹, CRISTIANE DOS SANTOS HONSHO¹

DIAGNÓSTICO CLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO DE NEOPLASMAS CUTÂNEOS EM CÃES E GATOS ATENDIDOS NA ROTINA CLÍNICA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVIÇOSA 1

CARACTERÍSTICAS EMBRIONÁRIAS. Simetria bilateral Triblásticos Protostômios Acelomados Ametaméricos

Dioctophyma renale: Revisão

ESPOROTRICOSE FELINA - RELATO DE CASO SPOROTRICHOSIS IN CAT - CASE REPORT

FREQUÊNCIA DE FILARÍDEOS SANGUÍNEOS EM CÃES DO ESTADO DE SERGIPE, NORDESTE DO BRASIL

Uso profilático de Antimicrobianos em Cirurgia. Adilson J. Westheimer Cavalcante Sociedade Paulista de Infectologia

Ano VII Número 12 Janeiro de 2009 Periódicos Semestral. Multiceps multiceps. TRENTIN, Thays de Campos LÉO, Vivian Fazolaro

Agente etiológico. Leishmania brasiliensis

Transcrição:

DIOCTOFIMOSE RENAL EM CÃO RELATO DE CASO SILVA, Gabriella Karine Yamanouye 1 SOUZA, Elienai Luis 2 ABREU, Hudson Felipe Porto 3 BALDOTTO, Suelen Berger 4 1 Discente do curso de graduação em Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva 2 Perito Médico Veterinário 3 Médico Veterinário e docente da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva 4 Mestre em Medicina Veterinária e docente da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva RESUMO A dioctofimose renal é uma parasitose causada pelo Dioctophyma renale, um parasito de ampla distribuição mundial que acomete principalmente o parênquima do rim direito de carnívoros piscívoros, apresentando-se geralmente, de forma assintomática. Entretanto, é uma afecção de fácil diagnóstico, sendo o único tratamento efetivo, a nefrectomia do órgão afetado. No presente trabalho, relata-se um caso de dioctofimose renal em um cão da cidade de Piracicaba, São Paulo. Palavras-chave: Dioctophyma, dioctofimose. Tema central: Medicina Veterinária

SUMMARY Dioctophymosis is a parasitosis caused by Dioctophyma renale, an worldwide distribution parasite that mainly affects the right kidney parenchyma of piscivorous carnivores, generally asymptomatically. At the same time, it is an easily diagnosed disease, and nephrectomy is the only effective treatment. In the present study, it reports a case of dioctophymosis in a dog of Piracicaba, São Paulo. Key words: Dioctophyma, dioctophymosis Central theme: Veterinary medicine 1. INTRODUÇÃO A dioctofimose renal é uma doença causada por um nematódeo pertencente a subordem Dioctophymina, superfamília Dioctophymatoidea, família Dioctophymatidae, subfamília Dioctophymatinae, gênero Dioctophyma, espécie Dioctophyma renale, também conhecido como verme gigante do rim, observado pela primeira vez por Goeze, em 1782. De ocorrência mundial, este nematódeo acomete animais domésticos e silvestres. (URQUHART et al., 2008; ZARDO et al., 2012; MONTEIRO, 2014). Essa afecção possui grande importância na Medicina Veterinária e Saúde Pública por ser uma parasitose encontrada principalmente em carnívoros piscívoros, apresentando-se na maioria dos casos de forma assintomática. Em carnívoros, pode ser encontrado nos rins, principalmente no rim direito, e livre na cavidade abdominal. Em humanos já foi descrita na pele e nos rins. O parasito destrói o parênquima renal, causando insuficiência renal, podendo levar ao óbito. Não há tratamento clínico, apenas cirúrgico através da remoção dos parasitos (MONTEIRO, 2014). O objetivo do presente trabalho é relatar a ocorrência de dioctofimose renal em um cão em Piracicaba, São Paulo.

2. CONTEÚDO 2.1.1. Revisão de literatura 2.1.2. Identificação O Dioctophyma renale é o maior nematódeo conhecido de animais domésticos, localizados preferencialmente no parênquima renal e cavidade abdominal, porém podem ser encontrados também na pleura, peritônio, tecido subcutâneo, próstata, bexiga, ureteres, uretra, fígado e estômago (URQUHART et al., 2008; MONTEIRO, 2014). A fêmea pode medir de 20 a 100 cm de comprimento por 5 a 12 mm de largura, e o macho pode medir de 14 a 45 cm de comprimento por 4 a 6 mm de largura. São nematoides de coloração vermelho-sangue, cujos ovos são elípticos, de casca espessa com opérculos bipolares e coloração acastanhada (FORTES, 2004). Para Urquhart et al. (2008), seu tamanho e localização preferencial são suficientes para sua identificação. 2.1.3. Ciclo evolutivo O D. renale tem como hospedeiros definitivos humanos, carnívoros, preferencialmente cães, e excepcionalmente herbívoros. O parasito tem como hospedeiros intermediários primeiramente os anelídeos oligoquetas parasitas de brânquias chamados de Lumbriculus variegatus, e posteriormente, os peixes e rãs (JONES et al., 2000; FORTES, 2004; MONTEIRO, 2014). Esse nematoide é ovíparo (URQUHART et al., 2008), portanto, seu ciclo tem início com a eliminação dos ovos morulados pela urina. No meio externo, ocorre sua evolução com o desenvolvimento da L1 dentro do ovo (MONTEIRO, 2014). Os ovos podem resistir durante anos no meio externo, e para que sua evolução prossiga, é necessária sua ingestão pelo primeiro hospedeiro intermediário, o anelídeo (FORTES, 2004). Após a ingestão, a L1 eclode e vai para sua cavidade celomática,

onde passa a L2 e L3. Ao ingerir o anelídeo com a L3, o segundo hospedeiro intermediário peixe ou rã torna-se parasitado. O hospedeiro definitivo cão ingere o peixe ou a rã com a L3, a qual atravessa ativamente o tubo digestivo e migra preferencialmente para o rim direito, podendo localizar-se em vários órgãos, onde passa a L4 e adultos. Os animais e o homem podem adquirir o nematoide através da ingestão de carne de peixe ou rã pouco cozidas e também ao ingerirem anelídeos aquáticos infectados com a forma larval L3 (MONTEIRO, 2014). De acordo com Urquhart et al. (2008) e Fortes (2004), o período pré-patente, ou seja, o ciclo evolutivo completo, de ovo a ovo, é de cerca de dois anos. 2.1.4. Patogenia Em cães, o rim direito é mais infectado que o rim esquerdo, no entanto, isso não é bem compreendido (JONES et al., 2000). O parasito penetra e destrói o parênquima renal através da ação histolítica da secreção de suas glândulas esofagianas bem desenvolvidas, que reduz o rim apenas à cápsula renal, a qual fica repleta de vermes imersos num conteúdo sanguinolento. Geralmente apenas um rim é parasitado e o rim sadio sofre hipertrofia para compensar a perda do rim destruído (FORTES, 2004). A gravidade da lesão renal depende do número de parasitos no rim afetado, número de rins envolvidos, duração da infecção e presença ou ausência de doenças renais concomitantes (OSBORNE et al., 1969; OSBORNE et al., 1972 apud BRUN, 2002). O envolvimento bilateral dos rins levará a morte do hospedeiro por uremia (JONES et al., 2000). 2.1.5. Sinais clínicos Para Urquhart et al. (2008), os principais sinais clínicos são disúria com alguma hematúria, especialmente ao final da micção, e em alguns casos há dor lombar. Já para Fortes (2004), o animal pode apresentar apatia e tristeza, voz rouca,

marcha vacilante, e às vezes distúrbios nervosos. Quando os parasitos se localizam na cavidade abdominal, há peritonite (MONTEIRO, 2014). Entretanto, a maioria dos casos é completamente assintomática, mesmo quando um dos rins está destruído (URQUHART, 2008). 2.1.6. Diagnóstico As infecções causadas por D. renale são diagnosticadas pela constatação e identificação de ovos em exame parasitológico de urina, e de vermes nos rins durante a necrópsia (FORTES, 2004). Através de ultrassonografia é possível visualizar os parasitos no rim e na cavidade abdominal, que neste caso, poderá haver presença de ovos do parasita no fluido abdominal ( BIRCHARD et al., 2003 apud AMARAL et al., 2008; MONTEIRO, 2014). De acordo com Monteiro (2014), a maioria dos casos registrados é proveniente de achados de necrópsia. 2.1.7. Tratamento Nenhuma terapia médica é efetiva, sendo indicado o tratamento cirúrgico em casos confirmados. Pode ser realizada a nefrectomia ou nefrotomia, dependendo da gravidade da lesão renal (FORRESTER; LEES, 1998 apud BRUN, 2002; CHRISTIE; BJORLING, 1998 apud BRUN, et al., 2002; URQUHART et al., 2008). 2.1.8. Profilaxia e controle A prevenção e o controle são feitos através da eliminação de rãs, peixes crus e minhocas da dieta do homem e animais (URQUHART et al., 2008; MONTEIRO, 2014). 2.1.9. RELATO DE CASO

Um cão, macho, sem raça definida, de quatro anos de idade, adotado e sem histórico, foi atendido na Clínica Veterinária Doutor dos Bichos, em Piracicaba, São Paulo. Na anamnese, o proprietário relatou que o cão apresentava hematúria há dois meses. Foram realizados urinálise, dosagem de creatinina sérica e ultrassonografia. Na urinálise, foi observada urina de coloração amarronzada, odor fétido, aspecto moderadamente turvo, traços de sangue oculto, traços de células vesicais no sedimento e quantidade de hemácias por campo incontáveis. Além disso, foi observada a presença de ovos de Dioctohpyma renale em microscopia óptica no aumento de 100 vezes. (Figura 01). A dosagem de creatinina sérica encontrava-se dentro dos valores normais. O exame ultrassonográfico revelou que os rins estavam em topografia habitual, porém assimétricos entre si, medindo o rim esquerdo 7,03 cm e o rim direito 9,18 cm em seus maiores eixos. A relação córticomedular do rim esquerdo estava preservada e compatível com a idade do animal, ao contrário do rim direito, com intensa perda desta relação. Doppler preservado no rim esquerdo e bastante alterado no rim direito. Por fim, constatou-se a presença de estruturas alongadas e isoecoicas ocupando todo tecido do rim direito, sugestivo de parasitismo por D. renale (Figura 02). Figura 1 - Microscopia óptica de ovos de Dioctophyma renale presentes na urina do paciente, em aumento de 100 vezes. Fonte: (IMAGO, 2015).

Figura 2 Imagem ultrassonográfica compatível de parasitismo por Dioctophyma renale no rim direito do paciente. Fonte: (IMAGO, 2015). Frente ao diagnóstico confirmatório para dioctofimose renal e a impossibilidade de tratamento clínico para tal acometimento, optou-se pela realização de nefrectomia total do rim direito. Como medicação pré-anestésica foi utilizada petidina na dose de 3 mg/kg por via intramuscular. A indução foi realizada com propofol na dose de 4 mg/kg por via intravenosa e a manutenção por via inalatória com isofluorano. A cirurgia foi bemsucedida. Após o procedimento, o rim extraído foi aberto e todos os parasitos foram retirados, totalizando seis vermes adultos e alguns poucos vermes jovens (Figura 3). O manejo pós-operatório também foi bem-sucedido com recuperação total do paciente.

Figura 3 Seis espécimes adultas de Dioctophyma renale retirados do rim direito do paciente Fonte: (SOUZA, 2015). 3. CONCLUSÕES A dioctofimose renal é uma parasitose de alto potencial zoonótico, causada pelo Dioctophyma renale, o qual se instala no parênquima renal do hospedeiro, resultando em consequências graves a este. Não há tratamento clínico, apenas cirúrgico através da nefrectomia. A gravidade do caso depende se o comprometimento renal é uni ou bilateral, se há sobrecarga do rim contralateral ao parasitado no caso de infecções unilaterais. O ideal é a prevenção, evitando a ingestão de minhocas, rãs e peixes crus pelo hospedeiro. Neste relato, o cão acometido foi adotado e não há histórico, por esta razão, a fonte de infecção é desconhecida. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, L. C. D. et al. Dioctophyma renale. Revista científica eletrônica de medicina veterinária FAEF/FAMED, Garça, ano 6, n. 10, jan. 2008. BRUN, M. V. et al. Nefrectomia laparoscópica em cão parasitado por Dioctophyma renale relato de caso. Arquivo de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR, Umuarama, v. 5, n. 1, p. 145-152, 2002.

FORTES, E. Parasitologia veterinária. 4. ed. São Paulo: Ícone, 2004. JONES, T. C.; HUNT, R. D.; KING, N. W. Patologia veterinária. 6. ed. São Paulo: Manole, 2000. MONTEIRO, S. G. Parasitologia na medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2014. URQUHART, G. M. et. al. Parasitologia veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. ZABOTT, M. V. et. al. Ocorrência de Dioctophyma renale em Galictis cuja. Pesq. Vet. Bras., Rio de Janeiro, v. 32, n. 8, p. 786-788, ago. 2012. ZARDO, K. M. et al. Aspecto ultrassonográfico da dioctofimose renal canina. Vet. Zootec. FMVZ, UNESP, Botucatu, v. 19, p. 57-60, 2012.