Pós Penal e Processo Penal Legale
Gerais de Processo Penal
Há princípios no processo penal que são implícitos e outros que são explícitos
Principais princípios implícitos:
1. Princípio da verdade real O juiz criminal não fica adstrito às provas trazidas pelas partes aos autos, podendo ir atrás de outras provas porque ele não se convence da verdade formal ou convencional.
Doutrina Julio Fabbrini Mirabete (Processo penal, p. 44), com o princípio da verdade real se procura estabelecer que o jus puniendi somente seja exercido contra aquele que praticou a infração penal e nos exatos limites de sua culpa numa investigação que não encontra limites na forma ou na iniciativa das partes. Com ele se excluem os limites artificiais da forma ou da iniciativa das partes. (segue)
Doutrina Com eles se excluem os limites artificiais da verdade formal, eventualmente criados por atos ou omissões das partes, presunções, ficções, transações etc., tão comuns no processo civil. Decorre desse princípio o dever do juiz de dar seguimento à relação processual quando da inércia da parte e mesmo de determinar, ex officio, provas necessárias à instrução do processo, a fim de que possa, tanto quanto possível, descobrir a verdade dos fatos objetos da ação penal
2. Princípio do duplo grau de jurisdição Por este princípio é assegurado à parte (acusação e réu) de um processo o direito de uma nova análise da causa, por intermédio de um recurso, a ser apreciado por uma categoria de jurisdição mais alta. Completam os festejados autores que embora só implicitamente assegurada pela Constituição Brasileira, é princípio constitucional autônomo, decorrente da própria Lei Maior, que estrutura os órgãos da chamada jurisdição superior
Doutrina Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes (Recursos no processo penal, p. 23): o duplo grau, como garantia fundamental de boa justiça, é contemplado em diversas constituições estrangeiras e até em documentos internacionais. É o caso do art. 8, n. 2-h, da Convenção Americana dos Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), que o Brasil ratificou em 1992 e que se tornou lei interna pelo Decreto 678, de 06.11.1992. Entre nós, a Constituição do Império consagrava expressamente a garantia do duplo grau (art. 158 da Carta de 1824). Mas hoje o princípio não vem mais expressamente inserido na Lei Maior
3. Princípio da iniciativa das partes Uma das características da jurisdição é a inércia; logo, o juiz não pode iniciar a ação sem a provocação das partes. O titular da ação penal pública é o Ministério Público, segundo o art. 129, I, da CF e art. 257, I, do CPP. Na ação penal privada (igualmente na subsidiária da pública) é o ofendido o seu titular (arts. 29 e 30 da CF)
4. Princípio da oficialidade Cabe ao Estado a função precípua e obrigatória de verificar a existência de um delito, e, por via de consequência, a correta aplicação da punição cabível. Somente órgãos oficiais estão investidos deste múnus, tais como MP (promover a ação penal pública e fiscalizar a aplicação da lei), polícia judiciária (investigar art. 144, 1º, I, II, IV, 4º, da CF), Poder Judiciário (deve julgar aplicação do direito ao caso concreto).
Os órgãos incumbidos da persecução criminal serão sempre oficiais. Assim, quem investiga é a autoridade policial, quem acusa (em regra) é o Ministério Público e quem julga é o Judiciário. Esse princípio traz duas regras importantes: - da oficiosidade (os órgãos incumbidos da persecução devem agir de ofício, ou seja, sem aguardar provocação) - da autoritariedade. (aqueles que estão à frente da persecução estarão sempre revestidos de autoridade (com exceção da ação penal privada)
5. Princípio da intranscendência Por este princípio, a pena não poderá passar da pessoa do réu, ou seja, da pessoa a quem foi atribuída a prática delituosa
6. Favor rei princípio favor rei ou favor libertatis (in dubio pro reo) A dúvida deve pesar em favor do réu. Se as provas forem dúbias, testemunhas indo em direção oposta, a ponto de se inviabilizar a verdade real, deverá o juiz absolver o acusado, pois certamente é melhor absolver um culpado do que condenar um inocente. Por esse princípio, verifica-se que no processo penal a defesa tem mais recursos e meios à sua disposição (como os Embargos Infringentes, os Embargos de Nulidade, a Revisão Criminal).
Jurisprudência O juiz é quem está mais próximo aos fatos, em contacto direto com as partes. Se, usando de sua perspicácia na oitiva do acusado e das testemunhas, após a aguda observação direta das pessoas, dos fatos, das provas, sopesando as razões apresentadas, ainda se sente inseguro quanto à culpabilidade do réu, impõe-se a sua absolvição, pois a dúvida não favorece a sociedade, mas o cidadão, amparado pelo princípio da presunção de inocência. (TJBA Ap. 3.476 Rel. Márcio Ribeiro DJU 21.06.1979, p. 4.861)
7. Impulso oficial O juiz deve sempre dar movimento à ação penal (depois iniciada pelos titulares da ação penal MP e ofendido) até o seu término, nunca permitindo que ela pare de forma ilegal ou gratuita.
8. Princípio da comunhão da prova A prova pertence somente ao processo (a prova não é de ninguém); mesmo que produzida por uma das partes, todos podem se valer da mesma para a busca da verdade real.
Principais princípios explícitos:
9. Princípio da ampla defesa e do contraditório Os princípios do contraditório e da ampla defesa têm previsão constitucional (art. 5º, LV, da CF). O contraditório está irmanado com o princípio da ampla defesa, eis que a Constituição Federal visou a dar ao réu todas as possibilidades de defesa permitidas em direito.
Pelo princípio do contraditório, toda vez que uma parte apresenta uma alegação sobre os fatos ou provas, dentro de um processo, tem a parte contrária o direito de rebater, para que se mantenha um equilíbrio dentro da relação acusação e defesa. Para esse exercício, deve o réu ter conhecimento pleno da acusação que lhe pesa para que dela possa se defender. Daí a necessidade da regular denúncia, citação, intimações, oportunidades de manifestação, laudos etc., sob pena de nulidade absoluta por violação aos princípios em apreço.
A ampla defesa garante a todo acusado o direito de utilizar todos os meios de defesa em direito admitidos, tais como autodefesa (se defender pessoalmente), defesa técnica (por advogado) e o direito de se manifestar sempre por último, dentro do processo.
Jurisprudência A sociedade tem interesse na apenação dos culpados. Em contrapartida, não se descura da atenção devida ao direito de defesa. Ao contrário, reclama-lhe a consubstanciação pelos meios legais colocados ao alcance daqueles que, por isto ou aquilo, vêem-se envolvidos em processo criminal. A garantia, de estatura maior, que impõe ao Estado a defesa jurídica e judiciária dos necessitados tem contornos não simplesmente formais. Há de se perquirir sobre o respeito ao princípio da realidade; sobre a concretude da defesa. (segue)
Jurisprudência Para tanto, indaga-se sobre a valia da atuação do defensor, levando-se em conta os atos por si praticados e a indispensável seriedade do respectivo desempenho. O caso dos autos revela, sob a minha óptica, que a Paciente foi apenada com doze anos de reclusão sem que tenha ocorrido a defesa considerada esta em sua amplitude maior, ou seja, o objetivo que lhe é próprio. (segue)
Jurisprudência Primária e de bons antecedentes, viu-se condenada, à luz, de um lado, da atuação irrepreensível do Estadoacusador, e, de outro, um defensor que assumiu, verdadeiramente, postura contemplativa. Por isso, tenho como nulo o processo, a partir do momento em que deveria ter sido iniciado o patrocínio técnico efetivo no juízo penal, e não o foi, e, portanto, desde a defesa prévia. (STF HC Rel. Min. Marco Aurélio RBCCrim 14/404)
10. Princípio da presunção de inocência (estado de inocência, não culpabilidade) O princípio da presunção de inocência, também chamado de princípio da inocência ou do estado de inocência, é aquele pelo qual ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em julgado da sentença condenatória art. 5º, LVII, da CF.
Doutrina Fernando Capez (Curso de processo penal, p. 37) : o princípio da presunção de inocência desdobrase em três aspectos: a) no momento da instrução processual, como presunção legal relativa de nãoculpabilidade, invertendo-se o ônus da prova; b) no momento da avaliação da prova, valorando-a em favor do acusado quando houver dúvida; c) no curso do processo penal, como paradigma de tratamento do imputado, especialmente no que concerne à análise da necessidade da prisão processual, que, aliás, é permitida e tantas vezes necessária
11. Princípio do juiz natural (art. 5º, LIII, da CF) Quando da ocorrência de uma infração penal já existe toda uma estrutura jurisdicional apta para processar e julgar o infrator. No Brasil é vedado o chamado Tribunal de Exceção, em que primeiro ocorre o fato para depois se compor, se escolher o juiz ou o tribunal a julgar o infrator. Dessa forma, ocorrendo a infração, naturalmente aquele fato chegará ao conhecimento e tutela do Juiz competente para analisar aquele caso. Juiz natural significa o juízo pre-constituído, ou seja, definido por lei antes da prática do crime. Garantia constitucional que visa a impedir o Estado de direcionar o julgamento, afetando a imparcialidade da decisão.
Jurisprudência Juiz natural significa o juízo préconstituído, ou seja, definido por lei antes da prática do crime. Garantia constitucional que visa a impedir o Estado de direcionar o julgamento, afetando a imparcialidade da decisão. (STJ HC 4931/RJ Órgão Julgador: 6.ª Turma Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro DJU 20.10.1997, p. 53.136)
12. Princípio da publicidade (art. 5º, XXXIII e LX, da CF) Os atos processuais em regra geral devem ser públicos, como um corolário do princípio do devido processo legal, pois quanto mais públicos os atos maior legitimidade eles ganham. No Brasil vigora o princípio da publicidade, em que todos os atos processuais, audiências, julgamentos, consulta aos autos, são públicos, salvo os casos que a própria Carta Magna veda a publicidade (os atos que puderem causar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, processos esses que correrão em sigilo).
13. Princípio da plenitude da defesa (art. 5º, XXXVIII, a,da CF) No Tribunal do Júri deve ser garantido ao réu direito a ampla defesa (ela é considerada a mais completa, absoluta, perfeita). Plenitude da defesa é muito mais abrangente do que a própria ampla defesa (significa grande ). Ex.: o direito de a defesa (réu) usar a tréplica no plenário do júri, mesmo que não haja a réplica do Ministério Público.
14. Princípio do devido processo legal Ninguém será privado de sua liberdade e de seus bens, sem que haja o devido processo legal. É o que reza o art. 5º, LIV, da Constituição Federal. O princípio do devido processo legal (due processo of law) assegura que todos os processos serão desenvolvidos da mesma forma, com as mesmas garantias, sem inovações personalistas, ou seja, os processos devem se desenrolar de acordo com as regras da lei.
Ele é composto de vários princípios constitucionais, tais como a ampla defesa e o contraditório. Compreende o direito de ser julgado brevemente e, ainda, com mais celeridade se o acusado estiver preso, ser informado de todos os atos, ter acesso a defesa técnica, de ter a imutabilidade das decisões que sejam favoráveis ao réu. O Código de Processo Penal concretiza este princípio quando, no art. 261, estabelece que nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor, e, no art. 263, que dispõe que, se o acusado não tiver defensor, o juiz lhe nomeará um, ressalvando o direito do acusado de nomear outro ou de defender-se pessoalmente, caso tenha habilitação técnica.
Jurisprudência (devido processo na execução) É preciso que o processo de execução possibilite efetivamente ao condenado e ao Estado a defesa de seus direitos, a sustentação de suas razões, a produção de suas provas. A oportunidade de defesa deve ser realmente plena e o processo deve desenvolver-se com aquelas garantias, sem as quais não pode caracterizar-se o devido processo legal, princípio inserido em toda Constituição realmente moderna. (segue)
Jurisprudência (devido processo na execução) Não é por outra razão que o art. 2.º da LEP se refere à aplicação do Código de Processo Penal, pois, como se afirma na exposição de motivos, a aplicação dos princípios e regras do Direito Processual Penal constitui corolário lógico de interação existente entre o direito de execução das penas e das medidas de segurança e os demais ramos do ordenamento jurídico, principalmente os que regulam em caráter fundamental ou complementar os problemas postos pela execução. (STF HC 67.201-9 Rel. Min. Célio Borja)
Jurisprudência O processo penal, o devido processo legal, é garantia do cidadão, que opõe o seu jus libertatis ao poderdever de punir do Estado, jus puniendi, no qual pela sua própria estrutura inquisitiva o réu entra em desvantagem, já que o precede o inquérito policial, que é um procedimento investigatório de natureza administrativa aonde o réu figura como indiciado, objeto de investigações, e não sujeito de direitos, e só passa a figurar como parte a partir da citação. Ora, se antes do ato citatório, quando o Juízo determina a citação e marca o interrogatório, o réu sofre diminuição no seu direito de defesa, o processo não será mais uma garantia do cidadão, (segue)
Jurisprudência mas sim um instrumento de inquisitorialidade que ultrapassa até o poder-dever do Juiz, que é de natureza inquisitiva, para ingressar no puro arbítrio. E mais, não se trata de formalismo estéril como a alguns pode parecer, porque em verdade as formas são garantias do cidadão, que diante da máquina estatal, composta do aparato policial de um órgão, altamente capacitado como o Ministério Público, que o acusa, e diante do Magistrado, que age na plenitude de seu livre convencimento quanto ao sistema probatório (art. 157 do CPP), só tem para se defender a obediência efetiva aos trâmites legais, por parte das autoridades que o processam e o julgam. (TJSP Ap. Rel. Des. Fortes Barbosa RT 723/565)