PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - FORO CENTRAL DE CURITIBA 5ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE CURITIBA - PROJUDI Rua Padre Anchieta, 1287 - Bigorrilho - Curitiba/PR - CEP: 80.730-000 - Fone: (41) 3561-7960 Autos nº. 0006085-41.2014.8.16.0179 DECISÃO INTERLOCUTÓRIA I Relatório Trata-se de ação civil pública para fins de ressarcimento por dano causado ao erário proposta pelo Ministério Público do Estado do Paraná em face de Antonio Carlos Baratter e outros. Alega a parte autora que os réus se beneficiaram da indevidamente de dinheiro público, mediante depósitos, em contas bancárias de suas titularidades, da remuneração de servidores fantasmas ou servidores comissionados que exerciam atividades particulares em favor do ex-deputado e primeiro demandado. Afirmou que a apuração de tais irregularidades se deu através dos inquéritos civis sob n. nº 0046.08.000198-8, 0046.08.000183-0 e 0046.08.000202-8. Sustenta que a ação dos réus importou em dano ao erário que deve ser ressarcido de forma integral, pois devidamente caracterizados atos de improbidade administrativa. Teceu comentários acerca de feitos relacionados ao ressarcimento ao erário, bem como acerca da imprescritibilidade prevista no art. 37, 5, da Constituição Federal, e das atribuições típicas dos assessores parlamentares, em razão da sua função de confiança. Requereu liminarmente a indisponibilidade de bens levantando-se a existência de bens disponíveis em nome dos réus, para garantir o ressarcimento ao erário. Juntou documentos nos movimentos 1.2 ao 1.63. Vieram-me os autos conclusos. É a síntese do necessário. Decido. II Fundamentação: Primeiramente, considerando a regra contida na Lei n. 8.429/92, artigo 17, 7, quanto à necessidade de notificação prévia dos réus em ação de improbidade administrativa, tenho que tal previsão não se aplica ao caso em tela, pois nos presentes autos a única pretensão pretendida é o ressarcimento ao erário, sem que se verifique qualquer pedido relacionado à aplicação de sanções administrativas. Assim, não se faz imprescindível a intimação da parte demandada para prévia manifestação, sendo que, inclusive, assim já se manifestou o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. JUÍZO DE RETRATAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA INVALIDAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO E RESSARCIMENTO DE DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. DESNECESSIDADE DE MANIFESTAÇÃO PRÉVIA AO RECEBIMENTO DA INICIAL. APLICAÇÃO DO ART. 17, 7º, DA LEI 8.429/92 APENAS ÀS AÇÕES RELATIVAS À IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. JULGAMENTO DE RECURSO REPETITIVO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 543-C, II, 7º DO CPC E ART. 110, III, DO REGIMENTO INTERNO DO TRIBUNAL. JUÍZO DE RETRATAÇÃO. POSSIBILIDADE. JUÍZO DE RETRATAÇÃO EXERCIDO.RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR - 5ª C.Cível - AI - 848177-6 - Londrina - Rel.: Nilson Mizuta - Unânime - - J. 25.02.2014). grifei. No presente feito de ressarcimento por danos ao erário, em razão de atos de improbidade administrativa, a parte autora requereu em sua inicial a indisponibilidade de bens, que passo a analisar. Acerca da indisponibilidade liminar de bens dos réus, tenho que se trata de medida de natureza cautelar, que exige a presença de dois requisitos, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora dois requisitos que estão presentes no caso em análise. Da análise dos documentos acostados pela autora, tem-se que os réus promoveram o desvio de dinheiro público, mediante o recebimento indevido de valores pecuniários em contas bancárias de suas titularidades. O requerente consegui demonstrar nos atos, em sede de cognição sumária, que o réu Antonio Carlos Baratter recebeu em seu favor, em contas correntes de sua titularidade, créditos em nome da Assembleia Legislativa do Paraná, que seriam destinados ao pagamento de funcionários comissionados, que lá nunca exerceram qualquer função. Tais servidores comissionados, em verdade, não trabalharam de fato na assembleia legislativa, mas sim exerciam funções diversas, como por exemplo na empresa denominada Hillman Casas e Materiais de Construção, que pertence aos cunhados do ex-deputado Antônio Carlos. Ou seja, estas pessoas eram nomeadas para supostamente exercerem a funções na assembleia, mas possuíam vínculo funcional com a empresa Hillman, além de outras pessoas que também foram nomeadas e lá não trabalhavam, sendo que os seus salários eram pagos em favor do Deputado e dos demais réus, em contas de suas titularidades, e não eram repassados ao beneficiários (conforme se observa dos diversos extratos bancários constantes dos autos), o que caracteriza o desvio do dinheiro público. Portanto, restou devidamente comprovado, conforme se observa dos autos nos movimentos 1.2 a 1.63, em especial os depoimentos dos supostos servidores nomeados, que os valores recebidos em contas bancárias dos réus não foram a eles repassados, bem como nunca exerceram qualquer função perante o órgão legislativo. As pessoas de Luciano José da Silva, Lourival Buch, Saul Smangozeveski, Robson Luiz Cardoso, Arzilete Izabel Darany, Adriana Maria Todeschini, Daniel de Paula Bahls, Gilvan José Jorge, Guilherme Vinicius Dietrich, Joarez Bortoluzzi, Lucia Rosa de Abreu, Marta Aparecida de Oliveira, Micheline Magaly Battistia, Sebaldo Roberto Bomm, após prestarem depoimentos em sede de inquérito, noticiaram que nunca foram funcionários da assembleia legislativa ou que exerciam apenas funções em benefício pessoal do ex-deputado. Desta forma, verifica-se que o valor de R$ 1.083.552,97 (um milhão oitenta e três mil quinhentos e cinquenta e dois reais e noventa e sete centavos), é o valor total desviado com a utilização dos nomes dos funcionários fantasmas, mediante depósito nas contas e apurado
pela requerente, conforme se verifica do documento constante do movimento 1.11. Não se pode ainda olvidar que em sede de liminar há a indicação de possível responsabilidade solidária dos réus em relação ao dano alegado pela parte autora, já que cada um teve alguma participação nos desvios realizados, pois titulares das contas em que eram depositados os valores pagos aos funcionários fantasmas. Desta feita, tenho que da análise dos autos em cognição sumária, tem-se a plausibilidade jurídica das alegações contidas na inicial, tudo corroborado com os elementos de prova constantes, merecendo deferimento do pedido de indisponibilidade de bens. Tal medida se faz imprescindível diante do claro indício de dano ao erário e que deve ser ressarcido, pois a desvio de valores indevidamente em favor dos réus demonstram a necessidade do bloqueio dos bens. O Ministério Público apontou a quantia de R$ 1.083.552,97 (um milhão oitenta e três mil quinhentos e cinquenta e dois reais e noventa e sete centavos), como sendo o valor do dano apurado até a data de 18.08.2014, conforme documento constante do movimento 1.11, e requereu que fosse decreta a indisponibilidade na medida das responsabilidades de cada réu na seguinte proporção: - Réu Antonio Carlos Baratter: R$ 1.083.552,97 (um milhão oitenta e três mil quinhentos e cinquenta e dois reais e noventa e sete centavos); - Réu Valério Kurten Baratter: R$ 22.735,33 (vinte e dois mil setecentos e trinta e cinco reais e trinta e três centavos); - Réu Murilo Martins De Andrade: R$ 1.041.117,00 (um milhão quarenta e um mil cento e dezessete reais). Desta forma, a indisponibilidade de bens, até o limite do valor indicado para cada um dos réus, é medida indiscutivelmente aplicável nos casos de indícios de improbidade administrativa, entendimento este já consolidado no Enunciado n. 41 do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, que assim dispõe: É possível, em ações civis públicas por atos de improbidade administrativa, decretar-se a indisponibilidade cautelar de bens sem prova de que o demandado está a dilapidar seu patrimônio, desde que existam outros relevantes motivos a demonstrar o risco de o erário vir a suportar danos graves de difícil ou incerta reparação, tendo-se em conta a necessidade da medida de acordo com as circunstâncias do caso concreto. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ainda corrobora o entendimento exarado na presente decisão: Ementa: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES A JUSTIFICAR O DEFERIMENTO DA MEDIDA. PERICULUM IN MORA IMPLÍCITO. DESNECESSIDADE DE INDIVIDUALIZAÇÃO DE BENS. 1. O provimento cautelar para indisponibilidade de bens, de que trata o art. 7º, parágrafo único, da Lei 8.429/1992, exige fortes indícios de responsabilidade do agente na consecução do ato ímprobo, em especial nas condutas que causem dano material ao Erário. 2. O periculum in mora está implícito no próprio comando legal, que prevê a medida de indisponibilidade, uma vez que visa a 'assegurar o integral ressarcimento do dano'. 3. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que, nas demandas por improbidade administrativa, a decretação de indisponibilidade prevista no art. 7º,
parágrafo único, da LIA não depende da individualização dos bens pelo Parquet. 4. A medida constritiva em questão deve recair sobre o patrimônio dos réus em ação de improbidade administrativa, de modo suficiente a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se em consideração, ainda, o valor de possível multa civil como sanção autônoma. Precedentes do STJ. 5. Recurso especial provido. (Processo: REsp 1.319.583/MT. Rel. Min. Eliana Calmon da 2ª Turma do STJ. Julgamento 13/08/2013).- grifei. Cumpre destacar que mesmo se tratando de ação em que se pretende apenas o ressarcimento dos danos ao erário púbico, aplicam-se as regras da Lei n. 8.429/1992 em relação à indisponibilidade de bens, bem como a fundamentação anteriormente exposta. A própria Lei n. 8.429/1992 assim prevê em relação à indisponibilidade bens, como forma de garantir a integralidade de ressarcimento ao erário, em seu artigo 7 : Art. 7 Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado. Parágrafo único.a indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito. Ainda, a própria Constituição Federal, em seu artigo 37, 4, assim dispõe acerca da possibilidade de indisponibilidade de bens decorrentes de atos de improbidade administrativa: Art. 37. [...] 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. Diante da natureza do bem tutelado resta implícito o periculum in mora, devendo a indisponibilidade recair em bens suficientes à integral recomposição do patrimônio público desviado, sendo desnecessária a individualização de bens para decretação da medida, prevalecendo a salvaguarda do interesse público. Ante o exposto, DEFIRO a tutela cautelar, para o fim de determinar a indisponibilidade de bens dos réus, nos termos acima especificados. Determinoo bloqueio via BACENJUD, limitado ao valor disposto na fundamentação, sendo que já procedi à inclusão da minuta pelo sistema, devendo a Secretaria promover a juntada do protocolo de consulta, bem como do respectivo resultado, após o decurso do prazo de 3 (três) dias. Oficie-seaos agentes delegados do Foro Extrajudicial do Estado do Paraná (observada a ordem de serviço n. 27/2014 da Corregedoria-Geral de Justiça), determinando a averbação da indisponibilidade dos bens ou direitos porventura existentes em nome dos Réus. Ainda, oficie-se ao Detran/PR para que encaminhe à este juízo, no prazo de 10 (dez) dias, o registro de veículos que constem em nome dos réus, para fins de futuro bloqueio, após indicação da parte autora de quais eventuais veículos, constantes do registro, pretende ver bloqueados. Com a resposta, intime-se a parte autora para manifestação, no prazo de 5 (cinco) dias, a fim de que requeira o que for pertinente.
Citem-se e intimem-se os réus, por mandado, acerca da liminar concedida, bem como para apresentação de resposta no prazo legal, ficando a parte ré advertida de que a falta de resposta implicará presunção de que admitiu como verdadeiros os fatos afirmados pela autora (CPC, arts. 285 e 319), ressalvadas as hipóteses legais. Notifique-se o Estado do Paraná, por sua procuradoria jurídica, acerca do presente feito, encaminhando-lhe cópia da inicial, sem documentos, para que, querendo, postule o ingresso, nos termos do art. 17, 3º, da Lei n. 8.429/1992. Intimações e diligências necessárias. Curitiba, 4 de novembro de 2014. CRISTINE LOPES Juíza de Direito Substituta