CONCENTRAÇÃO MINERAL DE GENÓTIPOS DE Brachiaria brizantha CULTIVADOS EM SOLO DE CERRADO Roberto Guimarães Júnior 1, Francisco Duarte Fernandes 1, Allan Kardec Braga Ramos 1, Marcelo Ayres Carvalho 1, Evandro Menezes de Oliveira 2 ( 1 Embrapa Cerrados, Rodovia Br 020, Km 18, Caixa Postal 08223, 73310-970, Planaltina, DF. e.mail: guimarães@cpac.embrapa.br. 2 UPIS - União Pioneira de Integração Social, Campus II, Fazenda Lagoa Bonita, 73300-000, Planaltina, DF. ) Termos para indexação: Brachiaria brizantha, pastagem, nutrição mineral, melhoramento genético Introdução Estima-se que a área total de pastagens no país seja em torno de 259 milhões de hectares, dos quais 44,4% (115 milhões de ha) são espécies forrageiras cultivadas, sendo estas representadas, em sua maioria, por gramíneas do gênero Brachiaria (Anualpec, 2004). No Cerrado, a participação de espécies desse gênero na área total de pastagem cultivada é da ordem de 85% (Macedo, 1995). Uma vez que a atividade pecuária nacional é principalmente realizada sob pastagens é de se destacar a importância das espécies de Brachiaria para o setor pecuário Brasileiro. Os minerais são elementos exigidos em praticamente todos os processos fisiológicos do corpo. Portanto, a deficiência de qualquer macro ou micromineral essencial ao animal resulta em diminuição de desempenho e anormalidades, que podem ser corrigidas apenas pela suplementação (Spears, 1994). A eficácia de um programa de suplementação mineral depende do conhecimento prévio da concentração de nutrientes na forragem consumida. De modo geral, gramíneas apresentam concentrações insuficientes de determinados minerais para atender às exigências nutricionais de animais criados extensivamente. Portanto, a determinação das concentrações de macro e microminerais em genótipos de Brachiaria é uma etapa necessária no processo de caracterização de acessos promissores e cultivares do programa de melhoramento genético desta forrageira, sendo de essencial importância à nutrição animal, principalmente de ruminantes. O objetivo deste trabalho foi determinar a concentração mineral de nove genótipos de Brachiaria brizantha cultivados em solos de cerrado. Material e Métodos No presente experimento foram avaliados 9 genótipos de Brachiaria brizantha, sendo 5 cultivares (Arapoti, Capiporã, Marandu, Piatã e Xaraés) e 4 acessos promissores (BRA2801, BRA3387, BRA3484 e BRA3891). Estes materiais, que fazem parte da Rede Nacional de
Avaliação de Brachiaria sp., foram plantados em Latossolo Vermelho Escuro (concentração de argila > 60%) em novembro de 2002, no campo experimental da Embrapa Cerrados, município de Planaltina, DF (15 35 30 de latitude Sul e 47 42 30 de longitude Oeste a 1.000 m de altitude). Os tratamentos foram distribuídos no campo seguindo um delineamento de blocos completos ao acaso, com quatro repetições, em canteiros experimentais de 12 m 2. Em dezembro de 2007 foi realizado um corte de uniformização nas parcelas, a 10 cm do solo e, em seqüência, realizou-se adubação em cobertura com 330 kg/ha de superfosfato simples e 300 kg/ha da fórmula 20-0-20. Trinta e cinco dias após a uniformização foi realizada a colheita dos materiais no campo. A área amostrada foi de 2 m 2, sendo o corte realizado a 10 cm do solo. Uma subamostra do material colhido foi pré-seca em estufa com ventilação forçada, a 65 ºC por 72 horas. Após a pré-secagem, as amostras foram moídas em moinho estacionário, em peneira com diâmetro de 1 mm. Este material foi utilizado para determinação do teor de matéria seca total a 105º (AOAC, 1995) e para avaliação das concentrações dos macrominerais cálcio (Ca), fósforo (P), sódio (Na), potássio (K), magnésio (Mg) e enxofre (S), e dos microminerais cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn) e zinco (Zn). Para determinação da concentração mineral, as amostras foram inicialmente incineradas em mufla a 450 ºC e posteriormente submetidas a digestão clorídrica (Silva e Queiroz, 2006). As concentrações dos minerais foram realizadas no Laboratório de Química Analítica de Plantas da Embrapa Cerrados, por meio da técnica de espectrometria de emissão óptica com plasma de argônio indutivamente acoplado, em espectrômetro modelo Thermo Jarrell Ash IRIS/AP. Os resultados foram submetidos à análise de variância utilizando-se o pacote estatístico SAS e as médias comparadas utilizando-se o teste TUKEY a 5% de probabilidade. Resultados e Discussão Conforme demonstrado na Tabela 1, foram observadas diferenças significativas (P<0,05) entre os genótipos para as concentrações de todos os macrominerais. As concentrações de Ca variaram de 0,35 % para a cultivar Piatã a 0,59 % para a Marandu. Os teores de P oscilaram, respectivamente, de 0,34 % a 0,70 % para os genótipos Marandu e BRA 003387. Quanto aos valores de Na, os mesmos variaram de 0,01% para o acesso BRA 002801 a 0,07 % para a cultivar Piatã, que foi semelhante a cultivar Xaraés. Essa informação contribui para formulação de suplementos minerais para animais mantidos em pastagens, pois o sódio é sabidamente um
elemento controlador do consumo da mistura mineral. Os menores valores de K foram verificados para as cultivares Marandu (1,70 %) e Piatã (2,03 %). Já para o Mg a maior concentração foi verificada para a cultivar Piatã, que apresentou valor superior aos demais genótipos. Para o enxofre as concentrações nos genótipos variaram de 0,22 % (Marandu) a 0,41 % (BRA 003387). Os teores médios percentuais de Ca, P, Na, K, Mg e S foram, respectivamente, 0,44, 0,56, 0,03, 2,86, 0,28 e 0,31. As concentrações de Ca e K encontradas no trabalho foram próximas das verificadas por Valadares Filho et al. (2006) para gramíneas da mesma espécie, cujos valores foram 0,49 % para o Ca e 2,17 % para o K. O mesmo não foi observado para os minerais P (0,24 %), Na (0,09 %), Mg (0,43 %) e S (0,09 %). Tabela 1. Teores médios de cálcio (Ca), fósforo (P), sódio (Na), potássio (K), magnésio (Mg) e enxofre (S) de nove genótipos de Brachiaria brizantha. Genótipo Ca 1 P Na K Mg S B. brizantha BRA 002801 0,49 B 0,63 AB 0,01 C 2,81 DC 0,25 B 0,28 BCD B. brizantha BRA 003387 0,45 B 0,70 A 0,02 BC 3,68 AB 0,25 B 0,41 A B. brizantha BRA 003484 0,37 CD 0,57 BC 0,02 BC 3,59 A 0,29 B 0,29 BC B. brizantha BRA 003891 0,36 CD 0,63 AB 0,02 BC 3,36 ABC 0,23 B 0,28 BCD B. brizantha cv Piatã 0,35 D 0,46 D 0,07 A 1,70 F 0,54 A 0,24 CD B. brizantha cv. Arapoti 0,36 D 0,63 AB 0,02 BC 3,64 A 0,25 B 0,38 A B. brizantha cv. Capiporã 0,49 AB 0,50 CD 0,02 BC 2,78 DC 0,29 B 0,32 AB B. brizantha cv. Marandu 0,59 A 0,34 E 0,02 BC 2,03 EF 0,21 B 0,22 D B. brizantha cv. Xaraés 0,46 BC 0,57 BC 0,05 AB 2,90 BCD 0,26 B 0,22 CD Média 0,44 0,56 0,03 2,86 0,28 0,31 Médias seguidas por letras maiúsculas iguais na mesma coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey, (P>0,05). 1 Percentagem da matéria seca. Foram verificadas diferenças para as concentrações de microminerais (Tabela 2) entre genótipos de Brachiaria brizantha, exceção para o cobre, cujo valor médio encontrado foi 8,39 mg/kg. A maior concentração de ferro foi verificada para a cultivar Marandu (785,90 mg/kg), que diferiu dos demais genótipos, sendo o valor médio igual a 220,00 mg/kg. Os teores de manganês oscilaram entre 64,73 mg/kg para o genótipo BRA 003891 a 117,52 mg/kg para a cultivar Xaraés, que foi semelhante à Arapoti e ao BRA 002801. A concentração média de Zn foi 26,51 mg/kg e o menor valor observado foi verificado para a cultivar Marandu (17,71 mg/kg). As concentrações médias de microminerais encontradas para os genótipos de Brachiaria brizantha avaliados no presente trabalho foram próximas às encontradas por Valadares Filho et al. (2006) para os minerais Fe (260,31 mg/kg), Mn (110,00 mg/kg) e Zn (27,70 mg/kg). A concentração de cobre no presente
trabalho foi superior ao valor médio de 3,69 mg/kg encontrado por estes autores. Variações encontradas nas concentrações tanto de macro quanto de microminerais em forrageiras podem ser explicadas por diferenças quanto às características de solo, manejo de corte (maturidade), adubação e variabilidade genética entre os materiais avaliados (Spears, 1994). No presente trabalho pode-se inferir que as diferenças observadas nas concentrações de minerais entre os genótipos de Brachiaria brizantha foram ocasionadas pela variabilidade genética entre os materiais, uma vez que os tratamentos foram avaliados sob mesmas condições edafoclimáticas e de manejo. Considerando a variação nas exigências de minerais para diferentes categorias e níveis de produção de bovinos de corte e leite (NRC 1996, NRC 2001) os minerais cobre, sódio e zinco devem ser suplementados para animais mantidos nas pastagens avaliadas (35 dias de rebrota). Sob as mesmas condições, a suplementação dos minerais cálcio, fósforo e magnésio será necessária apenas para animais de maior nível de produção. Tabela 2. Teores médios de cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn) e Zinco (Zn) de nove genótipos de Brachiaria brizantha. Genótipo Cu 1 Fe Mn Zn B. brizantha BRA 002801 7,68 A 72,69 BC 105,65 AB 25,83 B B. brizantha BRA 003387 9,04 A 160,40 BC 90,62 BCD 26,82 AB B. brizantha BRA 003484 7,39 A 73,83 BC 79,13 BCD 22,87 B B. brizantha BRA 003891 8,56 A 63,91 C 64,73 D 26,40 AB B. brizantha cv. Arapoti 10,41 A 240,80 BC 97,00 ABC 31,39 A B. brizantha cv. Capiporã 7,85 A 347,90 B 84,99 BCD 24,03 B B. brizantha cv. Marandu 8,33 A 785,90 A 70,14 CD 17,71 C B. brizantha cv. Xaraés 8,44 A 144,20 BC 117,52 A 23,29 B B. brizantha cv.piatã 8,54 A 147,53 BC 75,53 BCD 25,69 B Média 8,39 220,00 94,98 26,51 Médias seguidas por letras maiúsculas iguais na mesma coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey, (P>0,05). 1 Miligrama por quilo de matéria seca. Conclusões A variabilidade genética entre genótipos de Brachiaria brizantha proporcionou diferenças significativas nas concentrações dos minerais avaliados, com exceção para o cobre.
Bovinos alimentando-se das pastagens avaliadas aos 35 dias de rebrote devem necessariamente ser suplementados com os minerais cobre, sódio e zinco. Dependendo do nível de produção animal, também será necessária a suplementação mineral com cálcio, fósforo e magnésio. Referências bibliográficas ANUALPEC 2004. Anuário da pecuária brasileira. São Paulo: Argos Comunicação FNP, 2004. 376p. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS - AOAC. Official methods of analysis. 16.ed. Washington: AOAC, 1995. 2000p. MACEDO, M. C. M. Pastagens no ecossistema Cerrado: pesquisa para o desenvolvimento sustentável. In: SIMPÓSIO SOBRE PASTAGENS NOS ECOSSISTEMAS BRASILEIROS, 1995, Brasília. Anais... Brasília: SBZ, 1995. p. 28-62. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. 1996. Nutrients requirements of beef cattle. 7.ed. Washington, D.C. 242p. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of dairy cattle. 7.ed. Washington: National Academy Press, 2001. 362p. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. ANÁLISE DE ALIMENTOS: MÉTODOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS. Viçosa: UFV, 2002. 235p. SPEARS, J.W. Minerals in forage. In: FAHEY JR., G.C. (Ed.) Forage quality, evaluation and utilization.. NATIONAL CONFERENCE ON FORAGE QUALITY, EVALUATION AND UTILIZATION. Lincoln: American Society of Agronomy, 1994. p.281-317. VALADARES FILHO, S. C.; MAGALHÃES, K. A.; ROCHA Jr., V. R. et al. Tabelas brasileiras de composição de alimentos para bovinos. Viçosa: UFV- DZO, 2006. 329p.