RESÍDUOS DE DEMOLIÇÃO Cristina Lourenço, Mestre em Engenharia Civil pelo IST Jorge de Brito, Professor Associado com Agregação, IST

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Transcrição:

RESÍDUOS DE DEMOLIÇÃO Cristina Lourenço, Mestre em Engenharia Civil pelo IST Jorge de Brito, Professor Associado com Agregação, IST SUMÁRIO As preocupações ambientais estão na ordem do dia e a geração de resíduos é um dos problemas que a sociedade parece ter mais dificuldade a resolver. Os resíduos produzidos na indústria da Construção afiguram-se como um dos principais fluxos de resíduos. Neste artigo, são focados os produtos residuais gerados por um dos sectores desta indústria que tem vindo a ganhar mais protagonismo nos últimos anos: a demolição. 1. INTRODUÇÃO O crescimento da produção de resíduos é um fenómeno mundial que se aplica igualmente ao nível do país. Este cenário tem dado origem a sérias preocupações ambientais em ambas as esferas internacional, nomeadamente comunitária, e nacional, tendo resultado já em diversas estratégias, directivas e regulamentações. Os resíduos de construção e demolição representam um fluxo prioritário nestas políticas devido às quantidades muito significativas que lhe estão associadas, além de outras particularidades que dificultam a sua gestão, de entre as quais avulta a sua constituição heterogénea com fracções de dimensões variadas e diferentes níveis de perigosidade ( Regime das Operações de Gestão de Resíduos de Construção e Demolição, 2008). A nível nacional, dentro do crescimento reconhecido da indústria da Construção, destaca-se o desenvolvimento importante de que tem sido alvo o sector da demolição. Esta evolução vem contribuir para o agravamento da produção de resíduos na Construção e, consequentemente, do problema global da gestão de resíduos e do seu impacte ambiental, no país. 2. GERAÇÃO DE RESÍDUOS DE DEMOLIÇÃO EM PORTUGAL O sector da demolição tem vindo a crescer nos últimos anos, em Portugal. Esta tendência deriva, como em outros países desenvolvidos, de um processo de renovação do parque edificado das cidades. Este processo traduz a necessidade de melhor aproveitamento do espaço urbano que é, tipicamente, de elevada densidade populacional, as rápidas mudanças tecnológicas na Construção e por degradação ou interdição de certos materiais de construção, como por exemplo, o amianto. Este movimento afecta sobretudo a área da habitação, nomeadamente o dito casco antigo das urbes (Costa, 2006). O crescimento do sector da demolição na indústria da Construção pode ser traduzido pelo aumento do número de licenças camarárias atribuídas para este tipo de obra, no país. A Figura 1 representa a evolução do número de licenças dadas pelas Câmaras Municipais entre o ano de 1994 e 2005, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). O reconhecido abrandamento do sector da construção nova parece ser acompanhado pela expansão do sector das demolições. Se se considerar que o número total de licenças camarárias concedidas é constante ou tem uma evolução ligeira todos os anos, está a assistir-se à substituição gradual dos resíduos de construção pelos resíduos de demolição (RD). Tendo em conta a maior volumetria destes últimos, este fenómeno parece coincidir com o actual agravamento da produção de resíduos na indústria da Construção. Assim sendo, a elaboração de uma estratégia de controlo e gestão dessa produção passa necessariamente pela análise da produção deste tipo de resíduos.

100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% Demolições Reconstruções Alterações Restaurações Transformações Ampliações Construções novas 10,00% 0,00% 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Figura 1 Evolução da estrutura do número de licenças concedidas pelas Câmaras Municipais, por tipo de obra, entre 1994 e 2005 (fonte: INE) Nota: Em 2003 e 2005, os dados encontram-se subavaliados por não incluírem a informação relativa aos concelhos de Lisboa e Sintra. 3. CARACTERIZAÇÃO E COMPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS Os RD fazem formalmente parte dos chamados resíduos de construção e demolição mas apresentam uma composição e índices de geração completamente diferentes dos resíduos de construção. Regra geral, o volume dos resíduos produzidos numa demolição é muito superior ao produzido numa construção. Segundo a Tabela 1, os RD representam cerca de metade de todos os resíduos produzidos no ciclo de vida de uma construção. Tabela 1 Estrutura típica da geração de resíduos numa construção, por tipo de obra, na União Europeia (Ruivo e Veiga, 2004) Tipo de resíduos % Construção 10-20 Remodelação, reabilitação e renovação 30-40 Demolição 40-50 Além disto, poderá ainda considerar-se que os trabalhos de remodelação, reabilitação e renovação (e até mesmo os de construção) implicam, na maior parte das vezes, trabalhos de demolição, mesmo que parcial. Desta forma, os resíduos produzidos em demolições ascendem a cerca de 80% do total dos resíduos produzidos durante a vida de um edifício. Contudo, as diferenças entre resíduos de construção e RD não se esgotam no volume produzido. Os RD gozam de maior variabilidade nas suas características, podendo incluir resíduos de diversas naturezas que atravessam a Lista Europeia de Resíduos (LER) (Lourenço, 2007). A Tabela 2 apresenta os principais tipos de resíduos produzidos de acordo com o tipo de obra, na União Europeia. Este tipo de resíduos inclui também maior volume de substâncias perigosas do que numa construção (Dolan et al, 1999), seja pela sua constituição, seja por contaminação durante o funcionamento do edifício ou durante a sua demolição. Os RD que são perigosos devido à sua composição consistem, por exemplo, em chapas de fibrocimento ou outros materiais contendo amianto, chumbo, alcatrão, tintas, adesivos, agentes ligantes, alguns plásticos, pilhas, acumuladores e baterias, lâmpadas fluorescentes, óleos usados, material eléctrico e electrónico com componentes tóxicos, fibras minerais (isolamento), madeira tratada, refrigerantes com CFC s e sistemas de combate a incêndios com CFC s.

Tabela 2 Principais tipos de resíduos gerados na Construção, de acordo com a origem, na União Europeia ( Demolition Waste, 1980) Tipo de obra Tipos de resíduos Principais origens Demolição Construção Reparação e manutenção Alvenarias, betão armado e betão préesforçado, metais ferrosos e não ferrosos, madeira, cerâmicas, plásticos, vidro, ais, estruturas de engenharia civil (pon- Edifícios residenciais e não residenci- produtos de gesso e estuque, ferragens e tes, viadutos, chaminés, entre outros). guarnições e materiais de isolamento. Na maioria, solos e rocha, desperdícios de tijolos e outros cerâmicos, restos de betão, aço, madeira, tintas e embalagens. Semelhantes aos RD: betão, alvenaria, solos e produtos betuminosos. Trabalhos de movimentação de terras, desperdícios e restos de materiais de trabalhos de construção. Reabilitação e transformação de edifícios. Manutenção de sistemas de transporte. Não obstante, o produto de cada demolição é único, uma vez que os resíduos gerados em cada demolição estão intrinsecamente relacionados com o nível de perícia e de formação da mão-de-obra de um empreiteiro (Dolan et al, 1999), com o método que utiliza nos trabalhos e com o tipo ou função do edifício ou estrutura, bem como com as técnicas utilizadas na sua construção. Por outras palavras, o método da demolição utilizado determina o grau de contaminação e qualidade dos resíduos gerados e a época em que se fez a sua construção vai definir a composição dos materiais que resultam do seu desmantelamento (Brito, 2006). Desta forma, apesar da particularidade de cada obra e da insuficiência, de uma forma geral, de dados para uma amostra estatística representativa ( Manual de desconstrucció, 1995), pode tentar-se uma estimativa para os tipos de RD tipicamente gerados, em Portugal, através da composição média dos edifícios predominantemente demolidos, no país. Segundo dados de 2001 do INE, a habitação é o sector que engloba o maior número de demolições. No entanto, o parque habitacional actual goza da contribuição de diversas tecnologias e, logo, materiais construtivos. Um estudo realizado na União Europeia na década de 80 indica que a maioria dos edifícios de habitação demolidos data do século XIX ( Demolition waste, 1980), pelo que os resíduos gerados correspondem a materiais comummente utilizados há um período de 50 a 100 anos (Hendricks e Pietersen, 1999). Assumindo estes pressupostos, a análise da Tabela 3 indica que, actualmente, a composição típica dos RD, em Portugal, será baseada em produtos de alvenaria de pedra, de tijolo, madeira, metais, cerâmicos e betão. Tabela 3 Caracterização da construção de edifícios em Portugal (fonte: Lobbe) Ano Época Sistema Construtivo Subprodutos Anterior ao terramoto porcelanas, metais e areias. Alvenarias de pedra, madeiras, Anterior a 1755 Alvenaria de pedra Alvenaria de pedra, argamassa 1755 até ao III de cal, areia, porcelanas, madeira, vidro, metais, têxteis e azu- quartel do séc. Pombalina Alvenaria portante XIX lejos. III quartel do séc. XIX até 1930 Gaioleiro Alvenaria 1930 até hoje Actual Betão armado Alvenaria de pedra, areias, porcelanas, madeira e metais. Alvenaria de pedra, alvenaria de tijolo, madeira, betão, vidro, metais, têxteis, azulejos e papel e cartão. Dados o tempo de vida útil médio de um edifício de habitação ser 70 anos ( Demolition waste, 1980) e a inversão e evolução que se deu a partir de 1930 no sistema construtivo, a nível nacional, é de esperar que a composição dos RD se passe a centrar mais, nos próximos anos, em produtos de betão armado, aço, vidro e alvenaria de tijolo (Lourenço, 2007).

4. DIFICULDADES PARTICULARES DA SUA GESTÃO A problemática da gestão dos resíduos gerados numa demolição apresenta também contornos diferentes dos assumidos na fase de construção. Para além das dificuldades comuns à gestão dos resíduos na Construção, na demolição assiste-se, normalmente, ao seu agravamento devido aos factores que distinguem os RD dos de construção: o seu volume, variabilidade da composição e maior perigosidade. O volume de RD é um problema que afecta a sua gestão, principalmente quando não existe espaço suficiente de estaleiro para fazer o seu armazenamento. Este é um cenário muito frequente, nomeadamente em meio urbano como, por exemplo, demolição de edifícios em zonas antigas em que estes estão confinados pela restante construção e as vias públicas são exíguas. A grande quantidade de resíduos associada à escassez de zonas de stock origina a necessidade de aumento da frequência de escoamento de material, além do que prejudica o grau de separação de resíduos para fins de reutilização e reciclagem. Não havendo espaço suficiente para garantir zonas de separação e o correcto condicionamento dos materiais - os materiais perigosos devem ser confinados de forma estanque e resíduos como o gesso devem ser protegidos da chuva - limita-se a possibilidade de recuperação dos materiais. A triagem adequada pode passar pela evacuação sistemática de resíduos que acarreta custos tanto económicos como ambientais. Logo, o ideal é alcançar um equilíbrio entre os menores custos de encaminhamento de resíduos limpos e o aumento do custo específico do seu transporte, assim como entre a mais valia ambiental trazida pelo aproveitamento dos resíduos e o acréscimo de emissões gasosas derivadas do aumento do número de viagens de transporte dos materiais (WAMBUCO, 2002). O tipo e profundidade da triagem dos resíduos dependem também do tipo de resíduos que se vão gerar e, logo, das possibilidades de segregação destes em diferentes fracções ou fileiras, da disponibilidades de destinos para o encaminhamento dos resíduos e do tipo de processamento que os espera - reutilização, reciclagem, aterro ou eliminação. No caso de obras de demolição, as quantidades geradas de resíduos de cada fracção de resíduos justificam a sua diferenciação, ao contrário do que acontece muitas vezes para resíduos de construção. Contudo, a variabilidade do tipo de resíduos e, em certa medida, o omnipresente grau de incerteza quanto aos materiais que se vão realmente encontrar dificultam o planeamento técnico e económico da sua gestão durante a obra de demolição. As opções tomadas para a triagem dos materiais deverão ser tais que optimizem a relação entre os benefícios ambientais obtidos e aos custos económicos que acarretam. A recuperação e tratamento dos resíduos perigosos têm de ser feitos, obrigatoriamente, separando-os dos restantes resíduos (WAMBUCO, 2002). O mesmo se aplica aos resíduos não perigosos que tenham sido contaminados durante o funcionamento da construção ou durante a sua demolição. Estes materiais são, por isso, considerados também perigosos (Dolan et al, 1999). A delicadeza destes trabalhos e o relativo grau de incerteza dos materiais e elementos que se encontram na prática, em obras de demolição, justificam, na maioria dos casos, a contratação de empresas especializadas na avaliação remoção deste tipo de resíduos. 5. INTEGRAÇÃO DOS RD NAS POLÍTICAS NACIONAIS DE GESTÃO DE RESÍDUOS Os RD, assim como os de construção, consistem, de acordo com o Regime Geral de Gestão de Resíduos (DL 178/2006), no conjunto de resíduos proveniente de obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação e demolição e da derrocada de edificações. Neste âmbito, um resíduo é definido como qualquer substância ou objecto de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou obrigação de se desfazer, nomeadamente os identificados na Lista Europeia de Resíduos. Nesta lista, a este grupo de resíduos atribuiu-se o código 17. Em 12 de Março de 2008, foi aprovado, pelo DL 46/2008, o regime a que ficam sujeitas as operações de gestão dos resíduos de construção e demolição. Essa aprovação já se previa no

DL 178/2006, que rege os mesmos resíduos até à entrada em vigor do primeiro. Na introdução do novo diploma, enunciam-se como origens da sua elaboração as dificuldades de gestão dos resíduos devidas aos elevados volumes que são gerados, a acentuada variabilidade na sua composição, incluindo as dimensões das fracções e o seu nível de perigosidade. Como se viu, estas questões são particularmente relevantes no que toca a RD. Contudo, segundo alguns profissionais da área como Sebastião Gaiolas, da Edifer (Ferreira, 2008), e Paulo Rodrigues, da Lipor (Vasconcelos, 2008), apesar de o DL para os resíduos de construção e demolição ser positivo, persistem as dificuldades de fiscalização e monitorização, além do défice de centros de triagem e outras infra-estruturas até que o mercado dos RCD esteja perfeitamente implantado. O enquadramento destes problemas deverá ser feito, como se prevê nos dois diplomas referidos, por um plano específico para estes resíduos, à semelhança do que é feito para outros fluxos específicos. A elaboração deste documento deverá depender do resultado da monitorização e contabilização da produção de resíduos possíveis pela entrada em vigor do recente diploma. Neste âmbito, o estudo das características dos RD e da sua geração deverá ser fundamental dado que, pelo que se viu, a gestão dos RD apresenta um desafio específico no âmbito das políticas de gestão de resíduos de construção e demolição. 6. CONCLUSÃO Verificado um aumento no número de demolições e o consequente crescimento da produção de RD, a variabilidade dos tipos de resíduos produzidos e a frequente perigosidade destes, a geração de RD é um factor crítico na elaboração de estratégias para a gestão de resíduos. Existe assim a necessidade de criar ferramentas que potenciem uma gestão eficiente dos resíduos gerados nas demolições. É necessário ter ainda em atenção que a demolição de uma construção põe fim ao ciclo que se inicia na sua concepção. A sua concepção é também onde se define o seu desempenho ambiental, inclusivamente, o da demolição (Pinheiro, 2006). Logo, a gestão dos RD deve ser começada a montante da construção. Para o parque edificado actual, a solução de gestão de resíduos deverá passar pelo desenvolvimento das técnicas de demolição selectiva que permitam a recuperação de materiais em condições de serem valorizados. Estes factores deverão ser considerados em políticas mais abrangentes de gestão de resíduos e inovação da tecnologia da construção que integrem as recentes preocupações ambientais. 7. REFERÊNCIAS Brito J A reciclagem de resíduos de construção e demolição, Workshop A reciclagem na casa do futuro, Aveirodomus, 2006 Costa CN Resíduos e aterros de resíduos, Capítulo 7, Disciplina de Fundamentos da Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil, FCT, UNL, Lisboa, 2006 Demolition waste, Environmental Resources Limited, The Commission of the European Communities, The Construction Press, New York, 1980 DL 178/2006, de 5 de Setembro - Regime geral da gestão de resíduos, Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa, 2006 DL 46/2008, de 12 de Março - Regime das operações de gestão de resíduos de construção e demolição, Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa, 2008 Dolan PJ; Lampo RG; Dearborn JC Concepts for reuse and recycling of construction and demolition waste, Construction Engineering Research Laboratories, US Army Corps of Engineers, EUA, 1999 Ferreira AC Edifer já cumpre novas exigências legais para RCD, www.ambienteonline.pt Hendricks CF; Pietersen HS Sustainable raw materials: construction and demolition waste, State-of-the-art report of RILEM TC 165-SRM, Report 22, Cachan, 1999 Lourenço C Optimização de sistemas de demolição - demolição selectiva, Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil, IST, UTL, 2007

Manual de desconstrucció, Institut de Tecnologia de la Construcció de Catalunya, Generalitat de Catalunya, Departament de Medi Ambient, Junta de Residus, Catalunha, 1995 Pinheiro, MD Ambiente e construção sustentável, Instituto do Ambiente, Amadora, 2006 WAMBUCO - Manual europeu de resíduos da construção de edifício, volume III, Programa Crescimento Competitivo e Sustentável, Dresden, 2002 Ruivo J; Veiga J Resíduos da construção e demolição: estratégia para um modelo de gestão, Trabalho de final de curso de Engenharia do Ambiente, IST, Lisboa, 2004; Vasconcelos S Mercado de resíduos precisa de tempo para funcionar, www.ambienteonline.pt