Afasia na vida das PCA

Documentos relacionados
Auto-Conceito, Ânimo e Qualidade de Vida dos Seniores: primeira análise

Adultos com Trissomia 21

A Qualidade de Vida no Indivíduo com Perda Auditiva Segundo o Tipo de Local de Residência

CAPÍTULO V DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Currículo Específico Individual (CEI) 20 /20

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS INDIVÍDUOS AFETADOS PELA EXPOSIÇÃO AO CÉSIO 137 OCORRIDO EM GOIÂNIA, EM 1987.

Agora vamos assistir a uma Apresentação Narrada que irá tratar da CRENÇA E COMPORTAMENTO DE SAÚDE.

A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA REGULAR DE EXERCÍCIO FÍSICO NA PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS DO GÉNERO FEMININO

ENCONTRO DE TRABALHO SOBRE SAÚDE MENTAL NA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

PESQUISA DE SATISFAÇÃO

RADIO 2011 Contribuição dos domínios do WHOQOL-Bref na qualidade de vida de trabalhadores de uma instalação radiativa

Qualidade de vida do idoso. Juliana Amaral

CUSTOS INDIRETOS NO TRATAMENTO DE ÚLCERAS POR PRESSÃO EM HOSPITAIS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA DO MARANHÃO

O que é doença? Doença é: Como as doenças acontecem? Qual o padrão das doenças? Quais os tipos de doenças?

QUALIDADE DE VIDA DOS DOCENTES: UM ESTUDO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR DA CIDADE DE PALMAS TO.

Fatores associados à depressão relacionada ao trabalho de enfermagem

Engagement, Burnout e Rotatividade: Que relação, fatores e impactos? alexandra marques pinto

Consultoria Técnica: Keypoint, Consultoria Científica, Lda. Operacionalização do estudo: Lénia Nogueira Relatório Estatístico: Ana Macedo

Título do Trabalho: Qualidade de vida de crianças com paralisia cerebral submetidas à reabilitação virtual e fisioterapia tradicional Autores:

Violência e maus tratos nos idosos. Violência sobre os idosos no Alentejo

Caracterização clínica e demográfica dos militares contratados internados no Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar Principal em 2007

ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

1. Problema Geral de Investigação

A saúde dos adolescentes em Portugal: respostas e desafios

Nada disto. Sintomas característicos:

SÍLVIA CARINA BRANDÃO GODINHO VALIDAÇÃO DO BARRIERS AND FACILITATORS CHECKLIST DESTINADO A PESSOAS COM AFASIA

O QUE É A DISLEXIA? DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICA DA LEITURA

Eventos depressivos na puberdade (*)

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular MÉTODOS DE OBSERVAÇÃO E ENTREVISTA Ano Lectivo 2014/2015

VERSÃO PORTUGUESA DO HEARING HANDICAP INVENTORY FOR ADULTS DADOS PRELIMINARES

Fisioterapia nas Disfunções Sexuais Femininas

Matrículas 2011/2012

Qualidade de Vida 02/03/2012

VARIÁVEIS PREDITORAS DA AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA EM PESSOAS ACIMA DE 50 ANOS COM HIV/AIDS

Grau I. Perfil Profissional. Grau I

INTRODUÇÃO. maior que 50 anos. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera o período

Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar PeNSE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ESPECIALIZAÇÃO AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

a epidemiologia da doença que mais mata

(Anexo 1) Tabela de Especificações

A satisfação com a imagem corporal e expressão de auto estima em jovens adolescentes dos 14 aos 17 anos

Programa de apoio psico-educativo para pessoas idosas com demência e suas famílias

Enfrentar a velhice e a doença crónica: um programa de apoio a doentes com AVC e seus familiares

3.8 Tristeza e depressão na criança e no adolescente

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DO RESTELO

QUADRO COMPARATIVO: ISO 14001:2004 X ISO 14001:2015

2 Conceitos da qualidade em saúde

AGRUPAMENTO de ESCOLAS n.º 1 de GONDOMAR

Índice de Senso de Comunidade 2 (SCI-2) : Histórico, Instrumento e Instruções para Pontuação

Se é possível cuidar, recuperar e integrar as pessoas internadas, dependentes com incapacidade funcional, sem a ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO?

EM ENFERMAGEM (SET 2015) - LISBOA

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular MÉTODOS DE OBSERVAÇÃO E ENTREVISTA Ano Lectivo 2016/2017

DEPRESSÃO NO PÓS ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL NO IDOSO

FORMAÇÃO DE FORMADORES Igualdade de Oportunidades - Educação para a Cidadania

Burnout: Prevenção. Rui Gomes Universidade do Minho Escola de Psicologia

Perturbações do Neurodesenvolvimento e do Comportamento

Título do Trabalho: Correlação entre dois instrumentos para avaliação do desenvolvimento motor de prematuros

Resultados da Pesquisa de Clima Organizacional 2010

Níveis de Actividade e Participação das Pessoas com Afasia:Desenvolvimento de Instrumentos de Avaliação Portugueses

AVALIAÇÃO DO CURSO DE LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA

Caracterização dos usuários com incontinência urinária atendidos na região Leste-Nordeste de saúde de Porto Alegre

Introdução. Classificação Qualis/CAPES. Introdução. Religiosidade. Journal of Rehabilitation Medicine 2011; 43: Papel protetor na saúde:

Análise da Mobilidade das Famílias Portuguesas ESTUDO QUANTITATIVO. Análise da Mobilidade das Famílias Portuguesas. APEME MAIO de 2008.

Relatório da CPA (Comissão Própria de Avaliação) da Pesquisa com os Estudantes do curso superior de Tecnologia em Radiologia

PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROPSICOPEDAGOGIA

Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção

Anexo 1: Fig. 1 Cartilagens da laringe. (McFarland, D. [2008]. Anatomia em Ortofonia Palavra, voz e deglutição. Loures: Lusodidacta)

Qualidade de vida dos cuidadores de idosos físicos dependentes: um estudo de enfermagem

AFASIA NO PÓS-AVC. Terapeutas da Fala Carolina Oliveira Joana Farinha Joana Perdigão Sónia Matos

INSATISFAÇÃO CORPORAL E COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM PRATICANTES DE ATIVIDADE FÍSICA

Adolescentes portugueses e suas família: bem-estar e crise económica

De volta para vida: a inserção social e qualidade de vida de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial

COMEMORAÇÕES DO DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTAL

QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À SAÚDE E SUA ASSOCIAÇÃO COM EXCESSO DE PESO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Abreviaturas e Siglas

AVALIAÇÃO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

TADALAFILA EM USO DIÁRIO PARA DISFUNÇÃO ERÉTIL ATUALIZAÇÃO DOS ESTUDOS CLÍNICOS

Promoção do sucesso escolar na transição do 1º para o 2º ciclo: Apresentação de um programa de ajustamento social e escolar em contexto rural

PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA POR PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS FÍSICAS PRATICANTES E NÃO PRATICANTES DE ATIVIDADES DE LAZER

Apoio Social, Expectativas e Satisfação com o Parto em Primíparas com e sem Preparação para o Parto

Promover condições de empregabilidade das pessoas com deficiências e incapacidades, visando a consagração do direito de exercício pleno da cidadania.

Envelhecimento e Doenças Reumáticas

Investigar o desenvolvimento inicial da linguagem: novos métodos, instrumentos e resultados. Sónia Frota

Programa da Qualidade Política Geral

Estatística Analítica

Um dos principais objetivos com o desenvolvimento do programa de

I Seminário Internacional Contributos da Psicologia em Contextos Educativos. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN

CONSUMO DE ALIMENTOS CONGELADOS POR INDIVÍDUOS FREQUENTADORES DE SUPERMERCADOS

Introdução à Bioestatística. Profº Lucas Neiva-Silva Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre 2008

PERFIL NUTRICIONAL E PREVALÊNCIA DE DOENÇAS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA DA UNIFRA 1

CURSO DE AUXILIAR DE ACÇÃO MÉDICA / ASSISTENTE OPERACIONAL

GRAVE. DEPRESSAo O QUE É A DEPRESSAO GRAVE? A depressão grave é uma condição médica comum e afeta 121 MILHÕES de pessoas em todo o mundo.

Avaliação da prevalência de ansiedade e depressão dos pacientes estomizados da microregião de Divinopólis/Santo Antonio do Monte-MG

A RELAÇÃO ENTRE A INSUFICIÊNCIA DE CONVERGÊNCIA E A VISÃO FUNCIONAL NA PERFORMANCE DE LEITURA

Divulgação de Resultados

Relatório da CPA (Comissão Própria de Avaliação) da Pesquisa com os Estudantes do curso superior de Engenharia de Petróleo e Gás

Relatório da CPA (Comissão Própria de Avaliação) da Pesquisa com os Estudantes do curso Superior de Tecnologia em Estética e Cosmética

Avaliação neuropsicológica. Medindo a mente através do comportamento

Relatório da CPA (Comissão Própria de Avaliação) da Pesquisa com os Estudantes do curso de Educação Física

Transcrição:

Viver com afasia Implicações na qualidade de vida Autores: Luís Jesus, University of Aveiro Madeline Cruice, City University London Palestrante: Terapeuta da Fala Docente na Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto (ESTSP-IPP), Portugal Membro do CATs, Societal Reintegration Group Membro do Speech, Language and Hearing Laboratory abp@eu.ipp.pt brigidapatricio@gmail.com Portugal, 10 de Outubro de 2015 Afasia na vida das PCA Perturbação da linguagem e comunicação causada por lesão cerebral adquirida Impacto psicossocial: Participação nas actividades de vida diária Actividades sociais - isolamento social Humor (sintomatologia depressiva) Mudança de papéis Dependência de outros A afasia interfere com os aspectos da qualidade de vida (QV) da pessoa com afasia (PCA) 1

Qualidade de vida A QV resulta da percepção do indivíduo acerca da sua posição na vida, tendo em conta a sua cultura, o seus sistema de valores, os seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações. (OMS, 1998) Objetivo Determinar a influência das alterações da comunicação na QV das pessoas com afasia (PCA) Determinar a influência das alterações da comunicação nas relações sociais (RS) das PCA 4 2

Método Estudo transversal descritivo, correlacional (e comparativo) Amostra: N=25 PCA Instrumentos utilizados: World Health Organization Quality of Life Bref (WHOQOL-Bref) Center for Epidemiologic Studies Depression Scale (CES-D) Mini-Mental State Modificado (MMSM) Bateria de Avaliação de Afasia de Lisboa (BAAL) Frenchay Activities Index (FAI) Barthel Index (BI) Communicatin Disability Profile (CDP) 5 Dados sociodemográficos (N=25) Amplitude Média ± DP Idade 20-71 54.00 ± 14.90 n Percentagem (%) Género Masculino 13 52.00 Habilitações Literárias Feminino 12 48.00 Iliterado 1 4.00 1-4 anos 6 24.00 5-6 anos 4 16.00 7-9 anos 5 20.00 10-12 anos 6 24.00 Universidade 3 12.00 Pós-graduado 0 0.00 6 3

Dados sobre o AVC e sobre a afasia (N=25) n Percentagem (%) Défice motor Hemiparésia 16 64.00 Sensibilidade 2 8.00 Sem comprometimento 7 28.00 Tipo de afasia Anómica 6 24.00 Condução 6 24.00 Broca 6 24.00 Transcortical motora 7 28.00 Amplitude Média ± DP Coeficiente de afasia 42.50-97.60 71.35 ±16.80 Tempo pós-avc (meses) 4-148 26.68 ± 31.79 7 Média da QV e dos domínios da vida (N=25) N Amplitude Média Desvio padrão QV 25 0-75 41.00 27.37 Domínio físico 25 14.29-89.29 50.71 23.12 Domínio psicológico 25 16.67-87.50 53.00 23.31 Domínio das RS 25 0-91.67 50.67 25.90 Domínio do ambiente 25 18.75-87.50 57.38 18.24 QV entre má e nem boa nem má Nem satisfeitos nem insatisfeitos com as suas RS 8 4

QV correlacionada com: Estado emocional (ρ=-0.56, p=0.003) Escolaridade (ρ=0.46, p=0.021) Atividades BI (ρ=0.55, p=0.005), Atividades FAI (ρ=0.68, p=0.000), Atividades CDP (ρ=-0.73, p=0.000) Participação (ρ=-0.77, p=0.000) RS correlacionadas com: Estado emocional (ρ=-0.42, p=0.037) Atividades BI (ρ=0.45, p=0.025) Atividades FAI (ρ=0.60, p=0.001) Atividades CDP (ρ=-0.67, p=0.000) Participação (ρ=-0.71, p=0.000) Preditores da QV: Participação (55%) Estado emocional (63%) Participação (47%) Idade (58%) Preditores das RS: 9 QV e RS não são influenciada por: Idade Sexo Nível socioeconómico Estado civil Ocupação Saúde Cognição Comprometimento motor Tempo pós-lesão cerebral Etiologia da afasia Severidade da afasia Escolaridade (apenas para as RS) 10 5

PCA (N=25) Cuidador (N=25) População em geral (N=255) Média Média Média QV 41.00 63.00 71.81 Domínio físico 50.71 68.86 76.09 Domínio psicológico 53.00 66.83 74.44 Domínio das RS 50.67 58.67 73.69 Domínio do ambiente 57.38 59.38 66.30 QV significativamente pior que a dos Portugueses em geral e que a dos seus cuidadores PCA significativamente menos satisfeitas com as RS que a população em geral; sem diferenças em relação aos cuidadores 11 Discussão e Conclusão Afasia tem um impacto negativo na QV e nas RS das PCA QV significativamente pior que a dos Portugueses em geral (Patrício, Jesus, Cruice & Hall, 2014) e que a dos seus cuidadores (Patrício, Jesus & Cruice, no prelo) QV diminuída (Bose et al., 2009; Hinckley, 1998; Manders et al., 2010; Ribeiro, 2008; Ross & Wertz, 2002, 2003) Níveis de satisfação mais baixos que a população em geral em todos os domínios (Manders et al., 2010; Ribeiro, 2008; Ross & Wertz, 2002, 2003) (Patrício, Jesus, Cruice & Hall, 2014) PCA estão significativamente menos satisfeitas com as suas RS que a população em geral (Patrício, Jesus, Cruice & Hall, 2014); sem diferenças em relação aos cuidadores (Patrício, Jesus & Cruice, no prelo) Estado emocional, atividades e participação são muito importantes para a QV e para as RS (Brown et al., 2010; Cruice et al., 2006; Cruice et al., 2010; Cruice et al., 2003; Hilari et al., 2003) 12 6

Implicações para a prática clínica Focar a avaliação e a intervenção nos aspetos importantes da vida Identificar fatores que interferem com a participação e atividades da PCA Avaliação e aconselhamento psicológico, encaminhamento para profissionais adequados Negociar prioridades e métodos de intervenção com a equipa e com a instituição 13 abp@eu.ipp.pt brigidapatricio@gmail.com 14 7