MESA REDONDA - O ENSINO DA LITERATURA NA ESCOLA E O LETRAMENTO LITERÁRIO: QUAIS OS DESAFIOS DO PROFESSOR? LETRAMENTO LITERÁRIO: POR QUE E COMO ENSINAR LITERATURA NA ESCOLA? SAMUEL LIRA DE OLIVEIRA Os estudos mostram que no Brasil, as Orientações Curriculares definem o letramento como estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita. Nesse sentido, o Letramento Literário seria visto, então, como estado ou condição de quem não apenas é capaz de ler poesia ou drama, mas dele se apropria efetivamente por meio da experiencia estética. É interessante observar que essa definição ajuda-nos a pensar a formação do leitor de literatura como um processo que inclui mais do que a construção de habilidades de leitura e interpretação de gêneros literários. É de grande importância dizer que Leitores de literatura são leitores que aprenderam a gostar de ler literatura e o fazem por escolha, pela descoberta de uma experiência de leitura distinta, associada ao prazer estético. São leitores que descobriram também o valor da literatura. Nesse sentido Street (2003), afirma que Letramento designa as práticas sociais da escrita que envolvem a capacidade e os conhecimentos, os processos de interação e as relações de poder relativas ao uso da escrita em contextos e meios determinados. A leitura literária tem lugar de destaque na formação de um leitor proficiente. O trabalho com o texto literário, portanto, exige um tratamento metodológico diferenciado. Para além das expectativas de aprendizagem de leitura envolvidas na apropriação do texto literário, letrar literariamente implica a descoberta da fruição que caracteriza o contato com a literatura ¹ Mestre em Ciências da Linguagem. Professor Formador - Secretaria de Educação PE- (GPAF). Em relação ao trabalho com a literatura nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, os Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa indicam que : É importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento. Essa variável de constituição da experiência humana possui - 68 -
propriedades compositivas que devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler as diferentes manifestações colocadas sob a rubrica geral de texto literário. (BRASIL/MEC, 1997, p. 36). Práticas exitosas de letramento literário devem promover primordialmente o desenvolvimento do gosto pela leitura, garantir espaço para diálogos particularmente subjetivos com o texto, promover, enfim, experiências literárias. Segundo os Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa: (2012, p. 90). Desde os primeiros passos na escola, as práticas de letramento literário devem possibilitar aos leitores em formação apropriarem-se da literatura pela vivência de experiências estéticas que lhes revelem o valor da arte. Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa: (2012, p. 92-93). Afirmam que a orientação de que se leia literatura, principalmente, para que os estudantes aprendam a gostar de ler literatura é também pertinente ao se tratar do letramento literário nos Anos Finais do Ensino Fundamental. (...) A esse respeito, é importante lembrar que a escola é a principal agenciadora do letramento literário. O contato com textos fundamentais da literatura brasileira, bem como de outros países, deve ser estimulado, por práticas de letramento que aproximem os estudantes da literatura, que, ao contrário do que muitos adolescentes e jovens entendem, tem muito a dizer a eles. A leitura do texto literário, pelos deslocamentos que promove, deve permitir que os adolescentes construam um posicionamento mais autônomo e crítico diante dos inúmeros discursos que a eles se apresentam. Deve oferecer, ainda, entretenimento e beleza. Deve promover diálogos na sala de aula. (Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa: 2012, p. 92-93). DISPOSTIVO TEÓRICO-METODOLÓGICO Oliveira (2015, p.49). Apud (Bakhtin,1991). Bakhtin defende a ideia de que um texto tem sua feitura a partir de outros texto, anteriores a ele. Esses textos podem ser na modalidade falada ou escrita. Um enunciado estará sempre completando outro enunciado que foi anteriormente. Essa inter-relação entre os enunciados faz parte da construção de sentido, pois tece a intertextualidade. (Dialogismo entre o Anjo do Quarto dia, de Gilva Lemos e Textos Bíblicos. ( 2015, p. 49). - 69 -
Jouve (2012) Explica que os estudos literários evidentemente- permitem aumentar a cultura ( ao explicar o que significa uma visão! barroca ou romântica do mundo, ao recordar o que pôde causar riso numa época ou emoção em outra). Mas a cultura não se limita à literatura. Se o propósito é ter visão mais informada possível, é legítimo, até mesmo indispensável. não falar apenas dos textos(e, entre eles, não apenas dos textos literários. Existem não somente outras formas de arte( música, pintura, escultura), como também outras manifestações culturais(gastronomia, televisão, esporte, moda etc. seria lógico, portanto, dissolver os estudos literários dentro dos estudos culturais. Mas o objetivo central dos estudos literários não é o conhecimento da linguagem?... a obra literária são, antes de tudo, textos. Mas a linguagem não se limita à literatura, ela dá provas de um funcionamento particular, que não cobre a totalidade do campo da linguagem. Análise das obras literárias, precisa, assim, ser completada pelo exame de outros fatos linguísticos, que remetem mais explicitamente a certos mecanismos de linguagem. Nessa perspectiva, os estudos literários deveriam se fundir na linguística. (Por que estudar Literatura? Vicente Jouve, Parábola. 2012, p. 9 2012). Segundo Bakhtin (2015, p.69) ao abordar o assunto sobre o discurso no romance no tocante à relação às forças estratificadoras, não permanecem na língua qualquer palavras e formas neutras, se ninguém, acentua que a língua é perpassada de intenções, acentuada. Para a consciência que nela vive, não é um sistema abstrato de formas normativas, explica que é uma opinião concreta e heterodiscursiva sobre o mundo. Para o teórico russo, todas as palavras exalam uma profissão, um gênero, uma corrente, um partido, uma determinada obra, uma determinada pessoa, uma geração, uma idade, um dia e uma hora, para ele, cada palavra exala um contexto e os contextos em que leva sua vida socialmente tensa e que todas as palavras e formas são povoadas de intenções. (Teoria no romance I, A estética. Tradução Paulo Bezerra). Bakhtin (2015, p.70) aborda que a linguagem literária não é nem de longe um dialeto fechado, claro que partindo de uma suposição da unidade abstrato-linguística. Nesse sentido, já pode haver um limite mais ou menos acentuado entre a linguagem literária falada no dia a dia e a escrita. Continua explicando que a linguagem literária é um fenômeno profundamente original, assim como a consciência linguística, a ela correlacionada, do homem cultivado em literatura. Nela o heterodiscurso intencional, que existe em qualquer dialeto vivo e fechado, converte-se numa diversidade de linguagens, o autor russo explica que essas linguagens não são umas linguagens, mas um - 70 -
diálogo de linguagens. (Teoria no romance I, A estética. Tradução Paulo Bezerra). O autor russo (2015,p.77) explica que o prosador usa linguagem já povoada de intenções sociais alheias e as obriga a servir às suas novas intenções, nesse sentido, servir a um segundo senhor. Nesse sentido, as intenções do prosador se refratam, e se refratam sob diferentes ângulos, dependendo do grau de alteridade socioideológica, de encorpadura, de objetificação das linguagens que refratam o heterodiscurso. (Teoria no romance I, A estética. Tradução Paulo Bezerra). O trabalho com o texto literário deve possibilitar que os adolescentes descubram o valor da literatura como produto cultural e estético e, para isso, as práticas de letramento literário devem estar voltadas centralmente para a leitura de textos e não para estudos teóricos. (Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa: 2012, p.93). ANÁLISES E DISCUSSÃO Pretendeu-se discutir a importância do ensino da literatura em sala de aula nos Anos Finais do Ensino Fundamental, considerando a necessidade de abordar textos no tocante à leitura literária na sala de aula. A necessidade de o educador encontrar estratégias de abordagem ao texto literário, desenvolvendo uma compreensão heterogênea da literatura. Como esses teóricos podem contribuir no sentido de haver uma dinâmica nas práticas de leitura literária no contexto escolar. Objetivou-se refletir sobre o gênero literatura na escola, qual a contribuição que pode ser dada para coadunar essa relação entre o texto literário e o estudante. Para isso, descrevemos um pouco da teoria de Street, (2003) sobre as práticas sociais da escrita. Bakhtin (2015) sobre o discurso no romance no tocante à relação às forças estratificadoras e Jouve (2012) sobre a importância dos estudos literários e as várias formas de textos, e Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa: (2012). Sobre os primeiros passos na escola e as práticas de letramento literário. O corpus foi formado por textos abordados pelos teóricos já citados. CONSIDERAÇÕES FINAIS - 71 -
Bakhtin tratou bem a filosofia do ato quando disse que o sujeito age nas relações sociais, históricas e ideológicas, sendo assim, ele é concreto. É nesse sentido que o dialogismo é proveniente dos estudos filosóficos desenvolvidos pelo Círculo bakhtiniano, explicou-nos qual a maneira que as relações dialógicas são geradas pelos sujeitos. Sendo o diálogo a base de composição dos discursos. Além disso, os estudos enunciativos são relevantes para entendermos a linguagem como um emaranhado de vozes e discursos que dialogam com outros. A interação verbal tratada pelos estudos bakhtinianos referiu-se à ação entre os sujeitos, os quais são aspectos históricos, ideológicos e sociais, pois o indivíduos dependem do lugar em que se encontram e quem está envolvido nesse processo que é a comunicação. Foi visto que segundo Jouve (2012) os estudos literários permitem aumentar a cultura, porém, a cultura não se limita à literatura, exemplificando (gastronomia, televisão, esporte, moda manifestações culturais dissolvendo assim, os estudos literários dentro dos estudos culturais, mostrando assim, a importância do ensino da literatura em sala de aula nos Anos Finais do Ensino Fundamental, e a necessidade de abordar textos no tocante à leitura literária. REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 16ª. Ed. São Paulo: Hucitec, 2014. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Ação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997. COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006. DALVI, Maria Amélia; REZENDE, Neide Luzia de; JOVER-FALEIROS, Rita (orgs.) Leitura de literatura na escola. São Paulo: Parábola, 2013. JOUVE, Vicent; Por que estudar Literatura? Vicente Jouve, Marcos Bagno e Marcos Marcionilo, tradutores. São Paulo: Parábola, 2012. OLIVEIRA, Samuel Lira de. Dialogismo entre o anjo do quarto dia, de Gilvan Lemos e Textos Bíblicos. 2ª ed., ver. Recife : FASA, 2015. - 72 -
PERNAMBUCO. Secretaria de Educação. Parâmetros para a Educação Básica do Estado de Pernambuco: Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental e Médio. Recife: Secretaria de Educação, 2012. Teoria do romance I: a estilística. BAKHTIN, Mikhail. Bezerra, Paulo. Botcharov, Serguei; Kójinov, Vadim. (2015). São Paulo: Editora 34, 2015, 256pp. ZILBERMAN, Regina. Que literatura para a escola? Que escola para a literatura. Letras, Passo Fundo, RS, v.5, n.1, jan./jun.2009. - 73 -