A IMPORTANCIA DA COMUNICAÇÃO NOS GRUPOS DE TERCEIRA IDADE FERNANDA GOMES FRANÇOSO Atualmente a faixa etária da população idosa do Brasil (mais de 65 anos) vem aumentando proporcionalmente em relação em outras faixas etárias. O envelhecimento é um fenômeno natural, mas nos produz sentimento de preocupação, pelo fato de ser difícil sustentar um prognóstico otimista diante dos problemas prementes da demanda da população idosa. Acredita-se que o surto do envelhecimento representará, futuramente, um problema grave. É de se supor que por muitos anos haverá um confronto permanente, tanto na política interna quanto na externa. O crescimento dessa faixa etária no país exige preocupações com a inclusão social, pois ele não está preparado para o envelhecimento da população. O Brasil está se tornando um país velho, é o que ouvimos baseado em dados numéricos. Mas será que estamos conscientes do que isto significa? É preciso mudar, primeiramente, a imagem que a sociedade constrói da pessoa idosa. Quando a pessoa envelhece, torna-se automaticamente incapaz na visão de muitas pessoas. Se o Brasil está envelhecendo, a população idosa começará a participar cada vez mais da economia do país. É fato que os países em desenvolvimento têm em sua população um grande número de jovens despreocupados com a saúde e que, tampouco, praticam qualquer tipo de atividade esportiva. Em longo prazo, isso baixará a idade média desses países, não podendo esperar que no futuro a população idosa chegue a ultrapassar a jovem. Assim, observa-se a grande preocupação governamental e social no que se refere ao processo de envelhecimento, devido ao fato do idoso corresponder a uma grande parcela da população, trazendo consigo o aumento do gasto financeiro do governo, no que tange a aposentadoria e a saúde pública. (DEBERT, 2004). Segundo Géis a velhice é mais uma etapa da vida e devemos nos preparar para vivê-la da melhor maneira possível. Nascemos, crescemos, amadurecemos, envelhecemos. Deve-se aceitar todo processo e adaptar-se física e psicologicamente à idade como uma de suas etapas. Para poder viver uma velhice sadia tem que se preparar para essa fase e, convenhamos, são muitos anos que se tem para essa preparação. A vida do idoso é uma vida rica, pois já passou por diversos problemas e obstáculos. Não se pode abalar com as preocupações; deve-se aceitar as situações com otimismo e procurar atividades para ocupar o tempo livre, auxiliando o idoso a compreender melhor sua condição, além de sentir e aceitar a si mesmo. Um agravante é a imagem negativa de alguns seguimentos da sociedade, que projetam sobre o fenômeno do envelhecimento enfatizando o declínio físico dos idosos, muitas vezes ignorando certas qualidades dessa etapa da vida. A família do idoso e o poder público, não estão suficientemente preparados para amenizar os problemas dessa nova realidade demográfica. Dessa forma, Simões afirma que, a expressão velho pode significar perda, deterioração, inutilidade, fragilidade, decadência, antigo, gasto pelo uso, tais significado acabaram criando uma concepção pejorativa a respeito da velhice, resumindo-a a estereótipos, preconceitos, mitos e rótulos, acabam ressaltando apenas as perdas, nunca enaltecendo as suas conquistas.
2 A partir desses relatos podemos enumerar críticas essenciais quando se trata da situação dos velhos na sociedade brasileira: 1- Crítica ao desrespeito com que os velhos são tratados nas sociedades capitalistas e à discriminação social das pessoas no momento em que são improdutivas para o trabalho. 2- Crítica às injustiças sociais na sociedade brasileira, na qual a miséria, o subemprego e a subnutrição são as condições de vida da maior parte da população, o que torna difícil atender as demandas dos idosos. 3- Crítica aos valores prezados pela sociedade brasileira, na qual tudo o que está relacionado com a novidade e a juventude é sempre bem visto, enquanto tudo que é velho é necessariamente obsoleto e ultrapassado. 4- Crítica ao Estado, que é incapaz de atender as necessidades básicas da população (DEBERT, 2004). É importante ressaltar a relação familiar para o bem estar na velhice, enfatizando que esta relação é fundamental na assistência ao idoso e nas expectativas em relação ao processo de envelhecimento. Mesmo vivendo com os filhos, o idoso não tem garantida uma imagem positiva representada pelo respeito pela suas opiniões e ausência de maus tratos etc. Mesmo dentro de casa, muitas vezes o idoso não tem com quem conversar, sendo imposta a eles a situação de ouvinte apenas, não tendo grande importância suas opiniões e desejos (SCIELO BRASIL, on-line). Sem esse tipo de comunicação, podemos perceber o isolamento do idoso em relação à própria família. Para Prata (apud DEBERT, 2004), no Brasil houve um grande aumento de programas voltados ao idoso, como grupo de terceira idade, escolas abertas, grupo de convivência de idoso, tendo como objetivo encorajá-lo na busca da autoconfiança e do auto-conhecimento, dando suporte para que possa enfrentar a dificuldade do seu dia - a - dia, como sua diminuição de habilidades cognitivas, baseadas no uso da linguagem e na capacidade de comunicação, vitais para uma pessoa tornar-se autônoma e aceita. Fazem parte dessa autoconfiança, o controle físico, representado pela necessidade de controlar os movimentos do corpo, o grau de capacidade motora que envolve sentar, ficar de pé e andar, tanto quanto a capacidade de conter e reter os fluidos corporais. Deve ser adicionado a isso certo grau de controle emocional. Parafraseando as idéias de Debert (2004), o idoso necessita de liberdade e independência, valores positivamente qualificados que dão à vida cotidiana uma nova dimensão de bem-estar. Esse bem-estar é construído através da oposição entre a liberdade atual e as demais etapas anteriores de sua vida, sobretudo a juventude. A diminuição da atividade intelectual representada pela aposentadoria somada a diminuição da atividade física acaba por enfraquecer o idoso tanto física como em sua capacidade cognitiva. Com isto ocorre o seu afastamento e isolamento e muitas vezes a isto se soma o aparecimento, em grau variável, de um estado depressivo.
3 Através da minha vivencia em um grupo de terceira idade, notou-se que os participantes, no primeiro momento, procuravam os grupos de terceira idade motivados pela vontade de se engajar nas atividades divulgadas, com objetivo de buscar seus benefícios fisiológicos. Com tempo, percebeu-se que através das atividades físicas, outros benefícios eram colhidos pelos idosos. O convívio com seus companheiros de mesma faixa etária acabava por desinibi-los, despertando novamente sua habilidade comunicativa e através disso readquirindo alegria de viver. Com isso verificou-se que a comunicação dos idosos nesses grupos, é um fator importante para conseguir uma melhora de sua saúde física e mental, utilizando atividade física como meio. E poder demonstrar que atividade física não pode ser vista somente pelos benefícios fisiológicos, e sim, que pode ser o meio de contribuir com o idoso que está isolado, fazendo-o integrar-se novamente com a sociedade. Com isso se pergunta: Qual a importância da comunicação entre os idosos em um grupo de Terceira Idade? Quais seriam os benefícios de um grupo de terceira idade para os idosos? Através desse fato é necessário criar no idoso uma confiança mútua e criar um ambiente de sinceridade e amizade, podendo-se desta forma realizar momentos de lazer e bem estar social, o que estimulará as interiorizações pessoais, que por sua vez leva o idoso a se reconhecer, com suas limitações, hábitos, etc. (UNATI, 2002). Com o crescimento dessa faixa etária, é natural que os meios de comunicação enfatizem o tema terceira idade e os interesses dos idosos. Porém, torna-se necessário verificar se a mídia está tratando o assunto com a sua devida importância e qual a abordagem que está dando a ele. Sabe-se que a comunicação é essencial para a sobrevivência do homem, em especial para o idoso, de forma que mantenham suas relações sociais e possam minimizar a carência afetiva e emocional. A comunicação é vista como de fundamental importância para se aprender a lidar com pessoas em qualquer situação (UNATI, 2002). Este fator pode configurar como sendo um beneficio aparentemente marginal aos idosos, ampliando o seu universo com novas amizades e atividades dentro e fora do grupo. Como o idoso pode chegar a outras pessoas tanto da mesma idade como mais jovens, e explicar aos mais jovens que eles também podem e devem chegar até os mais velhos, mantendo diálogos que podem em muito auxiliar no crescimento dos jovens e na qualidade de vida dos mais velhos. Essa comunicação traz de volta ao idoso a autoconfiança muitas vezes perdida, por se sentirem inúteis e sem relevância. Para tanto, é deveras importante analisar o idoso a partir da comunicação através de grupos de Terceira Idade, pois este é um momento de transição em nossa sociedade, sendo o Brasil um país em desenvolvimento é necessário observar que a demanda da população idosa esta aumentando e que nem todos estão prontos para este momento. Em que pese o envelhecimento progressivo da população ser uma conseqüência natural do processo de desenvolvimento de uma sociedade, mais do que uma sensação de júbilo, esse fenômeno começa a produzir um inquietante sentimento de preocupação no Brasil. Não é difícil perceber que nem a família, nem a comunidade e, muito menos, o poder público parece estar suficientemente preparado para essa nova realidade demográfica.
4 Mas é possível sim chegar à terceira idade com saúde e apreço pela vida. Cada vez mais aparecem grupos de terceira idade espalhados pelas cidades e bairros de todos os estados do Brasil, isto leva a crer que o fantasma da velhice esta cada vez mais distante e que se pode ser feliz e ter uma vida saudável mesmo depois dos 60 anos. Há uma diminuição da capacidade de novas conexões intelectuais e isso é substituído pela experiência; os envolvimentos com negócios cedem lugar às responsabilidades no contexto familiar e comunitário. As paixões e as volúpias são substituídas por deleites mais refinados. A questão social é redimensionada no sentido do amor, do calor humano e da intimidade do toque entre pessoas e as atitudes e preferências ganham maior estabilidade. A participação política e de cidadania torna-se mais efetiva; há menos temor sobre a morte; a força do corpo é substituída pela força de espírito e entre a situação real e a situação potencial abre-se o espaço para o compromisso social e político e para a ação. Daí a Universidade da Terceira Idade (SÁAD, 1991). A partir do momento que conseguirmos infiltrar essa imagem positiva de ser idoso ao próprio idoso, conseqüentemente eles irão se sentir menos isolados pela sociedade. Isso leva o idoso a redescobrir novos interesses, sente-se estimulado a participar em todas as etapas de sua vida, e com essa postura tem mais chance de solucionar seus problemas pessoais (CORAZZA, 2005). À medida que esta imagem negativa vai diminuindo, podemos notar que grupos de terceira idade vão aumentando em número e adeptos. Este aumento se dá pelo objetivo de resgatar a dignidade do idoso, reduzir os problemas da sociedade, quebrar os preconceitos e estereótipos e tratar de valorizar o cidadão de mais idade. Criando espaço para o lazer e diversão, proporcionam-se momentos de conquista do prazer, da satisfação e da realização de sonhos acalentados em outras etapas da vida, bem como de aprendizagem de novos conhecimentos e da aquisição de novas experiências (LASLETT, 1987). Especificamente, estamos tentando mostrar que a comunicação entre Grupos de Terceira Idade são grandes aliadas nessa jornada, e que o fato do idoso não perder o estimulo não perder a vontade e ter uma melhor agilidade no seu cotidiano lhe trará com certeza uma vida e velhice muito mais prazerosa. Portanto, com os fatores citados, podemos dizer que há uma melhora na qualidade de vida do idoso, que antes encontrava certas dificuldades para manter uma relação social e intra-social, uma vez que tende a ter grandes perdas tanto cognitivas como físicas. Para um idoso, o simples ato de poder voltar a amarrar seus sapatos é uma evolução muito grande; a melhora da auto estima é o fator determinante para o êxito de uma velhice com qualidade. Essa melhora só se da através da conscientização tanto da família quanto da própria população, dando ao idoso o espaço e respeito que ele merece (CORAZZA, 2005). Se tivermos idosos com mais apreço pela vida, automaticamente teremos pessoas aptas a fazerem atividade física em Grupos de Terceira Idade, proporcionando um ganho físico e mental, trazendo de volta ao idoso o domínio de algumas ações esquecidas ou muitas vezes perdidas. Mas, como conseguir que estes idosos cheguem a ter um maior apreço pela vida? Comunicação, esta é uma das chaves, que se pode utilizar para este fim, uma vez que, para conseguir qualquer objetivo na vida, é necessária a comunicação, seja em âmbito pessoal ou social. Então, deve-se levar ao idoso e à sociedade a informação, cultivando assim o valor da vida e de se viver com muita qualidade e bem estar.
5 A educação física aliada à comunicação interpessoal em grupos de Terceira Idade, pode levar a um crescimento de benefícios ligados diretamente à saúde e a qualidade de vida na terceira idade. A prática do exercício físico é um habito que pode e deve cultivar-se desde a primeira idade, por isso é importante que seja parte da educação onde crianças e os jovens recebam. É certo que todos vão envelhecer, mas isto não significa que devamos padecer, é muito importante aprendermos hoje o respeito ao ser humano e principalmente ao idoso, pois seremos os idosos de amanha. Também não é difícil de perceber e compreender que a idade pode ser vista de forma bonita e saudável tanto pela sociedade quanto pelo próprio idoso, não se pode deixar que uma pessoa chegue à terceira idade desistindo da vida, é necessário que aqueles que estão a sua volta lhe dêem toda a atenção precisa. Sabe-se que o cérebro humano reage a tudo aquilo que lhe é imposto, ou seja, o idoso só se sente um estorvo, pois é isto o que ele escuta durante toda sua vida, pois quem não ouviu alguém caçoar de uma pessoa mais velha, ou desdenhar de alguém nessa condição, como se esta não prestasse pra mais nada? Deve-se lembrar que em muitas sociedades tribais, sua existência é dependente de todo conhecimento dos mais velhos, se eles não há continuidade nas tradições culturais e sociais do grupo, nos também temos muito a aprender e ouvir com nossos anciões, para tanto respeito é o segredo de tudo. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CORAZZA, Maria Alice. Terceira idade & atividade física. Phorte Editora, São Paulo 2 ed, 2005. DEBERT, Guita Grin. As representações (estereótipos) do papel do idoso na sociedade atual. Brasília: Ministério da Previdência e Assistência Social. 1996. LASLETT, P. The Emergence of the third age. Aging and Society, 7. (1987). SAAD, P. M. Característica Demográfica e Sócio econômica da População Idosa no Estado de São Paulo In: Soares, a.f. et alii( orgs). A População Idosa no Brasil: Perspectiva e Prioridades das políticas Governamentais e Comunitárias. Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro. 1992. SALGADO, M. A. Velhice, uma nova questão social. São PAULO: SESC, 1982. SCIELO BRASIL Revista Latino Americana de Enfermagem print issn 0104-1169 volume 8 n 5. Ribeirão Preto oct.2000 disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?iscript=sci_arttext&pid=s0104-11692000000500013. Acesso em: 17 de agosto 2009 UNATI= Universidade Aberta da Terceira Idade, disponível em: http://www.unati.uerj.br/tse/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1517-59282002000100005&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 24 de agosto 2009
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