Atualizações Trabalhistas Aviso-prévio não pode ser suprimido por norma coletiva, suplente de Conselho Fiscal tem estabilidade sindical e empregado pago para não trabalhar deve ser indenizado por assédio moral. Esses são temas desta quinzena e merecem a atenção das empresas. Veja detalhes clicando aqui. Lilian Knupp Pettersen - AAA/SP - lpettersen@albino.com.br 1. Aviso-prévio não pode ser suprimido por norma coletiva A 2ª Turma do TST restabeleceu sentença que considerou ilegal cláusula de convenção coletiva pela qual o empregado estaria dispensado do cumprimento do aviso-prévio, mas também não teria direito à indenização pela empregadora. AVISO-PRÉVIO. RENÚNCIA POR MEIO DE CONVENÇÃO COLETIVA. O reclamante formula pretensão de recebimento do avisoprévio indenizado, a sua correspondente integração no tempo de serviço, em razão de sua despedida imotivada. Alega tratarse de direito irrenunciável, motivo pelo qual entende ser inválida cláusula normativa em que se prevê a dispensa pura e simples do seu cumprimento, sem o pagamento do correspondente período e o cômputo desse período no seu contrato de trabalho. As normas coletivas de trabalho devem ser resultado de concessões recíprocas entre as partes convenentes, mas não podem ser utilizadas para estabelecer condições menos favoráveis aos empregados do que aquelas previstas na lei, pois o inciso XXVI do artigo 7º da Constituição da República, que estabelece como direito fundamental dos trabalhadores o "reconhecimento das convenções e acordos
coletivos de trabalho", deve ser interpretado e aplicado em consonância com o caput daquele mesmo preceito constitucional, que estabelece, claramente, que seus incisos somente se aplicam para estabelecer um patamar mínimo de diretos sociais, "além de outros que visem à melhoria de sua condição social". Nos termos da Súmula nº 276 do TST, segundo a qual "o direito ao aviso prévio é irrenunciável pelo empregado. O pedido de dispensa de cumprimento não exime o empregador de pagar o respectivo valor, salvo comprovação de haver o prestador dos serviços obtido novo emprego", consolidou-se o entendimento de que o aviso-prévio é direito irrenunciável. Assim, não pode ser suprimido sequer por meio de norma coletiva, pois conforme já é entendimento amplamente consolidado nesta Corte superior, norma privada coletiva, que se expressa por meio das negociações coletivas e é constitucionalmente reconhecida, não pode ser exercida de forma a implicar renúncia, pelos trabalhadores individualmente considerados nem por suas respectivas entidades sindicais, dos direitos fundamentais sociais assegurados pela própria Constituição da República e pelas normas infraconstitucionais trabalhistas de ordem pública, como ocorre no caso ora em exame. Recurso de revista conhecido e provido.(tst. 2ª Turma. RR nº 1092-85.2012.5.09.0658) O TRT 9ª Região havia liberado a reclamada do pagamento, por entender que as convenções e acordos coletivos podem fixar as condições que regerão as relações de trabalho entre empregados e empregadores.
Ao analisar o recurso de revista, a 2ª Turma do TST reconheceu o direito do empregado, determinando o pagamento do aviso-prévio e de 1/12 de férias e de 13º salário, além da integração no tempo de serviço para todos os fins. 2. Suplente de Conselho Fiscal tem estabilidade sindical A estabilidade provisória de dirigente sindical se estende a membros do conselho fiscal do sindicato, inclusive suplentes. Com esse entendimento, a 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região reformou sentença de 1º grau e determinou a reintegração aos quadros de uma empresa um empregado demitido durante seu mandato sindical. O reclamante foi eleito suplente do conselho fiscal para o período de 2008 a 2011. Durante o mandato, foi dispensado sem que houvesse inquérito judicial para apurar falta grave. Em seguida, foi reeleito dirigente sindical, desta vez como suplente da diretoria executiva, para o período de 2 de fevereiro de 2011 a 1º de fevereiro de 2014. Ao julgar improcedente o pedido de reintegração, o juiz da 1ª Vara do Trabalho de Angra dos Reis, baseou-se na Orientação Jurisprudencial nº 365 do Tribunal Superior do Trabalho, pela qual os suplentes do conselho fiscal não possuem a garantia de emprego do dirigente sindical. OJ Nº 365/TST SDI I. SINDICATO. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. MEMBRO DE CONSELHO FISCAL. ESTABILIDADE NÃO RECONHECIDA. CLT, ARTS. 522, 2º E 543, 3º. CF/88, ART. 8º, VIII.
Membro de conselho fiscal de sindicato não tem direito à estabilidade prevista nos arts. 543, 3º, da CLT e 8º, VIII, da CF/88, porquanto não representa ou atua na defesa de direitos da categoria respectiva, tendo sua competência limitada à fiscalização da gestão financeira do sindicato (art. 522, 2º, da CLT).» DJ 20, 21 e 23/05/2008 Em seu recurso, o sindicalista argumentou que a Constituição, em seu artigo 8º, inciso VIII, garante a estabilidade provisória do dirigente sindical a partir do registro da candidatura e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave. Acrescentou que o texto constitucional não faz qualquer restrição aos membros do conselho fiscal. A relatora do acórdão acolheu a tese do autor, ressaltando que: Não faltam dispositivos legais que objetivam proteger os representantes eleitos dos trabalhadores em suas múltiplas dimensões. Não pode o intérprete distinguir quando a Constituição não diferencia, reduzindo de modo indevido a esfera de dirigentes estáveis, mormente quando o bem jurídico tutelado não é somente o interesse individual ou coletivo da categoria, mas a liberdade sindical e, portanto, a própria democracia. Segundo a magistrada, a Súmula 369 do TST assegura a estabilidade provisória de dirigente sindical a sete dirigentes sindicais e igual número de suplentes. Súmula 369, TST. DIRIGENTE SINDICAL. ESTABILIDADE PROVISÓRIA
I - É assegurada a estabilidade provisória ao empregado dirigente sindical, ainda que a comunicação do registro da candidatura ou da eleição e da posse seja realizada fora do prazo previsto no art. 543, 5º, da CLT, desde que a ciência ao empregador, por qualquer meio, ocorra na vigência do contrato de trabalho. II - O art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Fica limitada, assim, a estabilidade a que alude o art. 543, 3.º, da CLT a sete dirigentes sindicais e igual número de suplentes. III - O empregado de categoria diferenciada eleito dirigente sindical só goza de estabilidade se exercer na empresa atividade pertinente à categoria profissional do sindicato para o qual foi eleito dirigente. IV - Havendo extinção da atividade empresarial no âmbito da base territorial do sindicato, não há razão para subsistir a estabilidade. V - O registro da candidatura do empregado a cargo de dirigente sindical durante o período de aviso prévio, ainda que indenizado, não lhe assegura a estabilidade, visto que inaplicável a regra do 3º do art. 543 da Consolidação das Leis do Trabalho. Por conta do encerramento das atividades da empresa prestadora de serviços, o colegiado reconheceu a responsabilidade subsidiária do tomador de serviços, e condenou-o a reintegrar o trabalhador aos seus próprios quadros. 3. Empregado pago para não trabalhar será indenizado por assédio moral
O assédio moral caracteriza-se por um abuso do poder diretivo, violando direitos de personalidade, como, por exemplo, o direito à dignidade inerente ao ato de trabalhar. Assim, se o empregador relega o empregado a tarefas inferiores ou o submete à ociosidade, ainda que remunerada, fica caracterizado o assédio moral. E isso gera, para a vítima, o direito à indenização por dano moral. ASSÉDIO MORAL. ÓCIO REMUNERADO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. REPARAÇÃO DEVIDA. Para a responsabilização empresarial por danos morais são requisitos essenciais: a ocorrência de ato ilícito por parte do empregador, configurando a sua culpa; o dano, que pode se caracterizar como o sofrimento ou prejuízo moral causado ao empregado e o nexo causal entre ambos, sendo imprescindível a nítida demonstração destes elementos. Dentro do contexto fáticoprobatório evidenciado nos autos, vislumbram-se atos atentatórios à dignidade do Demandante, que causaram sofrimento em seu íntimo, relacionado à esfera moral, de forma a autorizar o deferimento do pleito reparatório pretendido, haja vista que o ato do empregador de deixar o empregado sem função ou atividade por longo período, relegando-o ao ócio, equivale à punição velada e expõe a pessoa a evidente vexame. Destarte, tendo sido caracterizada a ofensa de ordem moral, deve ser deferida a reparação pretendida em razão do manifesto assédio moral perpetrado pela empresa empregadora. (TRT/MG. RO nº 02351-2012-026-03-00-3)
É esse o teor de decisão da 8ª Turma do TRT-MG que deu provimento ao recurso do reclamante e condenou a empregadora a pagar ele uma indenização por dano moral. Ficou claro, nos autos, que o trabalhador foi vítima de rigor excessivamente punitivo ao ser colocado em ócio remunerado após um incidente envolvendo a operação de uma empilhadeira. O reclamante disse não ter visto quando uma peça caiu da empilhadeira e acabou passando por cima dela, o que levou à queda das demais peças que estavam no equipamento. Segundo ele, depois desse dia foi impedido de retornar ao trabalho. A reclamada, entretanto, alegou que a tomadora dos serviços pediu que o autor fosse substituído depois do incidente. Todavia, como ele era detentor de estabilidade e não havia outro posto de trabalho, permaneceu em casa, recebendo salários. A rescisão contratual foi realizada mediante acordo junto ao Ministério do Trabalho, sendo o reclamante indenizado. Na visão do relator, a conduta adotada pela empregadora é inadmissível e configura abuso do poder de gestão. O simples fato de o trabalhador ter sido submetido a jornadas de absoluta inércia foi considerado suficiente para caracterizar a conduta ilícita e gerar dano moral. Conforme doutrina exposta no voto, a negação de trabalho a um empregado pode configurar insidiosa forma de punição. Mesmo que ele não deixe de receber seu salário. A situação causa constrangimento perante os companheiros de trabalho e caracteriza assédio moral.