PADRONIZAÇÃO DE UMA NOVA METODOLOGIA PARA DETECÇÃO DE MASTITE SUBCLÍNICA CAUSADA POR Staphylococcus aureus Carolina Rosa MONTEIRO 1,Tainá Luana Vieira Lopes ZUCHI 2, Rodrigo Antônio PIVATTO 3, Mário LettieriTEIXEIRA 4 1 Bolsista PIBITI/CNPq; 2 Discente Curso de Medicina Veterinária IFC-Campus Concórdia; 3 Médico Veterinário IFC-Campus Concórdia; 4 Orientador IFC-Campus Concórdia. Introdução A mastite trata-se de uma inflamação da glândula mamária e caracteriza-se por causar alterações físicas, químicas e organolépticas do leite e alterações histopatológicas neste tecido. É uma das principais causas de descarte do leite, gerando percas financeiras por redução da produção, qualidade e aumento do custo de medicamentos. Dentre os fatores predisponentes para a mastite, encontra-se: hereditariedade; índices zootécnicos; estágio de lactação; pastagens; traumatismos; doenças infecciosas; ordenha incompleta, entre outros (Bramleyet al., 1996). A mastite pode se manifestar na forma clínica ou subclínica. Na forma subclínica, ao contrário da forma clínica, não ocorrem mudanças visíveis na aparência do leite ou do úbere, embora ocorram alterações na composição do leite e deste possam ser isolados microrganismos patogênicos. Além disso, a prevalência de casos dessa é maior que da forma clínica e, assim, as medidas para seu controle tem recebido grande atenção (Troncarelliet al., 2013). A produção de leite em Santa Catarina é significativa para o setor econômico e social, sendo o Estado o quinto produtor nacional, e o Oeste catarinense respondendo por mais de dois terços da produção estadual (Fisher, 2011). A pecuária leiteira dessa região é caracterizada por grande número de pequenos produtores, que fazem uso dos mais variados sistemas de produção com diferentes níveis tecnológicos (Miller e Nesi, 2012). Sendo assim, utilizou-se como local de pesquisa o Instituto Federal Catarinense Campus Concórdia, pois possuí fatores característicos da bacia leiteira regional, com médio nível tecnológico. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo realizar uma pesquisa epidemiológica na qual foram analisados os casos de mastite contagiosa no rebanho leiteiro do IFC-Concórdia no período de janeiro de 2013 até junho de 2014, bem como quais fatores contribuem para tal situação. Neste estudo, foram observados os seguintes pontos: quais foram os tetos mais atingidos, os tratamentos mais utilizados, e a reincidência patológica sobre um mesmo animal.
Material e Métodos O levantamento de dados foi efetuado num rebanho de 97 animais do IFC- Concórdia, sendo que se utilizou os dados de apenas 32 animais, sendo esses da raça Holandesa preto e branco e em período de lactação, produtores de leite tipo cru refrigerado. Os dados obtidos referem-se ao período de janeiro de 2013 a junho de 2014, sendo estes registrados no prontuário de cada animal. Além do levantamento dos dados de animais com mastites nos anos anteriores, foram realizadas coletas semanais de leite entre as datas 14/03 e 15/04/15, obtendo-se 168 amostras de 6 vacas do rebanho do IFC-Câmpus Concórdia, de acordo com os procedimentos legais previstos pela legislação vigente. No momento da coleta as amostras foram submetidas ao teste CMT. O conjunto amostral corresponde a 23% dos animais do rebanho. A análise dos dados dos prontuários foi feita pelo software estatístico Stats D+ (versão 1.0). O manejo da ordenha foi realizado por meio de ordenha mecânica duas vezes por dia, por um único funcionário treinado pelo médico veterinário do câmpus. A linha de ordenha foi formada por três grupos: primeiramente recém paridas em pico de lactação; segundo pelos animais na metade ou final de lactação; por fim as vacas com leite para descarte por motivos sanitários, principalmente mastite. O processo de ordenha teve inicio com a aplicação do teste CMT, seguido pelo teste do caneco de fundo preto onde foram recolhidos jatos de leite de cada teto, para observação das alterações macroscópicas do leite, principalmente a presença de grumos, sangue ou pus. A próxima etapa foi a aplicação de prédipping, a qual consistiu de solução à base de ácido lático na concentração de 3% por 30 segundos, e após isto, os tetos foram lavados com água. Este processo foi repetido por 2 vezes, com o intuito de retirar o excesso de matéria orgânica. Então processo de ordenha foi realizado, e ao final do mesmo foi aplicada uma solução à base de ácido lático a 9% (pósdipping). Nos casos que houve alterações no teste do caneco de fundo preto com diagnósticos de mastite, o médico veterinário realizou os procedimentos adequados, como a segregação deste animal dos demais e inicio da terapia medicamentosa. O protocolo medicamentoso consistia na aplicação de antibióticos de amplo espectro, e se necessário, fazia-se uso de medicamentos de maior potência. A via de administração preferencial foi a intravenosa.
Resultados e discussão Com base nos prontuários dos diagnósticos de mastite, no ano de 2013 ocorreram 43 casos de mastite frente a 31 casos até junho de 2014. No ano de 2013, 37,21% dos casos acometeram o teto posterior esquerdo (TPE), seguido por 25,58% o teto anterior direito (TAD), 20,93% o teto anterior esquerdo (TAE) e 16,28% o teto posterior direito (TPD). Em relação ao ano de 2014, 41,94% dos casos acometeram o TAE, seguido por 29,03% o TAD, 16,13% o TPE e 12,9% o TPD (Figura 1). Figura 1. Frequência de casosde mastite por teto no período de janeiro de 2013 a junho de 2014. Teto Anterior Esquerdo (TAE); Teto Anterior Direito (TAD); Teto Posterior Esquerdo (TPE); Teto Posterior Direito (TPD). Através da análise dos tratamentos mais utilizados constatou-se que no ano de 2013, o medicamento cloxacilina foi usado em 24,53% dos casos, seguido por sulfadiazina + trimetoprima em 20,75% e gentamicina também em 20,75% dos casos. Já no ano de 2014, foram utilizados os medicamentos a base de cloxacilina e sulfadiazina + trimetoprima em 28,57%, respectivamente, seguido do fármaco gentamicina em 22,86% dos casos (Figura 2). Figura 2. Frequência da utilização de fármacos no tratamento nos casos de mastite no período de janeiro de 2013 a junho de 2014. Sulfadiazina + Trimetoprima (SDZ+TRIM).
Estes valores indicam uma preferência na escolha da antibioticoterapia, sendo que alguns fatores podem contribuir para esta situação como, por exemplo, licitação de insumos, baixo custo do tratamento, facilidade da obtenção dos mesmos. Estes dados demonstram, também, que houve uma redução no número de princípios ativos utilizados no tratamento de mastite. No ano de 2013, em torno de 35% dos casos de mastite foram tratados com fármacos distintos dos 3 anteriores, enquanto que em 2014, este índice reduziu para aproximadamente 20%. Na avaliação de reincidência patológica sobre um mesmo animal dentre o rebanho, diagnosticou-se 18 vacas (56,25%) que tiveram mais de um caso de mastite durante o período de estudo, enquanto 5 (15,63%) tiveram apenas uma vez mastite e 9 (28,12%) não desenvolveram esta doença neste período de tempo. Desta forma, de acordo com estes resultados, o ano de 2014 tende a ter maior número de tratamentos para mastite, pois esta pesquisa só contou com seis meses do respectivo ano. Este grande número de vacas com reincidência de mastite, pode sugerir um tratamento incompleto, ou seja, a cura não foi completa, permitindo o reaparecimento da doença, esta situação também pode explicar o aumento de casos de 2013 a 2014. Os resultados obtidos com o CMT foram que 50% dos animais do grupo em análise apresentaram positividade em algum dos testes realizados, sendo que 33% dos mesmos foram casos recidivos. Das 168 amostras dez foram positivas, ou seja, 5,95%. Os tetos mais acometidos foram o Teto Anterior Esquerdo (TAE), seguido por Teto Anterior Direito (TAD). Mota e colaboradores (2012) realizaram um estudo em que determinaram em que o uso inadequado de antibióticos e desinfetantes, pode promover a resistência das bactérias às substâncias usadas no controle da mastite. O desenvolvimento de cepas bacterianas resistentes a antibióticos e outros fármacos antimicrobianos, é um dos maiores problemas da medicina. Entre os fatores que explicam esta característica genotípica estão, mutação espontânea e recombinação gênica (Motaet al., 2005). Dessa forma, essas características acarretam no desenvolvimento e seleção de cepas resistentes, as quais se perpetuam no ambiente em detrimento das cepas nativas, portanto o tratamento inadequado realizado num local restrito tem essa desvantagem, facilitando o aparecimento desses tipos de bactérias resistentes a um determinado princípio ativo.
Conclusão De posse dos resultados, pode-se concluir que a condição predisponente a mastite que mais afeta o rebanho é a falta de identificação da mastite subclínica e o uso de antibioticoterapia sem especificidade para um agente. Uma das maiores dificuldades encontradas para o tratamento eficaz da mastite é descobrir meios facilitadores para exames bacteriológicos e posterior antibiograma das amostras de leite de vacas com teto acometido. Ainda, deve-se ressaltar que devido a questões burocráticas, o cromatógrafo gasoso não pode ser utilizado a tempo desta pesquisa. Desta forma, o projeto propôs avaliar a incidência de mastite subclínica em vacas leiteiras no rebanho do IFC-Concórdia. Foi gerado um artigo cientifico que foi publicado na revista Ciencia y Agricultura da Colômbia (Volume 11, Número 2, 2014). Referências BRAMLEY, A. J.; CULLOR, J. S.; ERSKINE, R. J.; FOX, L. K.; HARMON, R. J.; HOGAN, J. S.; NICKERSON, S. C.; OLIVER, S. P.; SMITH, K. L.; SORDIlLLO, L. M. Current concepts of bovine mastitis.nationalmastitiscouncil, Madison, p. 1-3, 1996. FISHER, A. Produção e Produtividade de Leite do Oeste Catarinense. RACE, v. 10, n. 2, p. 337-362, 2011. MILLER, E. A.; NESI, C. N. Prevalência de Agentes Causadores de Mastite, Qualidade do Leite e Conformidade com a Instrução Normativa 51. Unoesc & Ciência ACET, v. 3, n. 2, p. 195-204, 2012. MOTA, R. A.; SILVA, K. P. C.; FREITAS, M. F. L.; PORTO, W. J. N.; SILVA, L. B. G. Utilização indiscriminada de antimicrobianos e sua contribuição a multirresitência bacteriana. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 42, n. 6, p. 465-470, 2005. MOTA, R. A.; MEDEIROS, E. S.; SANTOS, M. V.; JÚNIOR, J. W. P.; MOURA, A. P. B. L.; COUTINHO, L. C.A.etiologia das mastites em bovinos leiteiros no estado de Pernambuco (Brasil). Ciência Animal Brasileira, v.13, n.1, p. 124-130, 2012. SILVA, M. V. M.; NOGUEIRA, J. L. Mastite: Controle e Profilaxia no Rebanho Bovino. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 15, p. 3-16, 2010. TRONCARELLI, M. Z.; BRANDÃO, H. M.; GERN, J. C.; GUIMARÃES, A. S.; LANGONI, H. Mastite Bovina sob Nanocontrole: A Própolis Nanoestruturada como Nova Perspectiva de Tratamento para Rebanhos Leiteiros Orgânicos. Veterinária e Zootecnia, v. 20, p. 124-136, 2013.