DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO E GESTÃO DE ENERGIA EM INDÚSTRIAS DE PEQUENO E MÉDIO PORTE. Lineu Belico dos Reis



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SCE/003 21 a 26 de Outubro de 2001 Campinas - São Paulo - Brasil STE II SESSÃO TÉCNICA ESPECIAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO E GESTÃO DE ENERGIA EM INDÚSTRIAS DE PEQUENO E MÉDIO PORTE Claudio Elias Carvalho* André Luiz Veiga Gimenes Lineu Belico dos Reis José Aquiles Baeso Grimoni Miguel Edgar Morales Udaeta GEPEA - Grupo de Energia do Departamento de Energia e Automação Elétrica da Escola Politécnica da Universidade de são Paulo RESUMO O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos práticos da execução de diagnósticos energéticos, com foco na implantação de uma gestão energética voltada ao setor industrial, considerando as características comuns às empresas de pequeno e médio porte. É discutido um método de realização de diagnósticos e a estrutura de um Sistema de Gestão Energética (SGE), conseqüência do diagnóstico, resultando em benefícios permanentes para a empresa. PALAVRAS CHAVES: Gestão Energética, Diagnóstico Energético, Conservação de Energia, GLD, Controle Energético. 1.0 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS A realização de um diagnóstico energético deve ser orientada de acordo com estratégias globais da empresa cujo escopo considere também a preservação do meio ambiente e os ganhos de produtividade e redução de custos advindos de um controle energético racional que, em última análise, resultam em um diferencial de mercado. Isso conduz, genericamente ao gerenciamento do lado da demanda GLD. Nesse cenário amplo da tal estratégia energéticoambiental, o controle energético pode ser pensado desde os usos finais até uma visão integrada dos diversos processos, setores ou produtos da empresa. Com esta abordagem, procede-se à reorientação de medidas de curto prazo e emergenciais, condizentes com um plano abrangente e de longo prazo, que faz parte da gestão energética e que pode ser regido por um manual de gestão energética, orientado à realidade das pequenas e médias indústrias, onde a energia elétrica, segundo seja o caso, é o insumo mais caro. A gestão proposta, que é na verdade a conseqüência e continuidade do trabalho de diagnóstico energético, deve ser bem documentada e objetiva, sendo composta pelos seguintes elementos: Política Energética, Manual de Gestão Energética (MGE), Procedimentos, Instruções de Trabalho, Formulários, Histórico, Registros, etc., que podem ser adaptados de acordo com as necessidades e possibilidades da empresa. 2.0 - DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO 2.1 - Contexto Formalmente, o diagnóstico energético é visto como o produto final de um trabalho voltado à conservação e uso racional de energia, cujo resultado maior seria a implementação das medidas propostas no relatório apresentado. No entanto, é preciso notar que este é apenas o primeiro passo de um processo que deve ser mais abrangente e cujos resultados são notados não apenas no curto prazo mas também a longo prazo. Nota-se, principalmente nas pequenas empresas, que não há políticas e diretrizes claras quanto ao uso da energia, sendo que, ações práticas no sentido de um uso mais eficiente deste insumo, geralmente, são frutos do esforço isolado de algumas pessoas com certo poder de decisão. Contudo, esse trabalho dificilmente tem continuidade quando tais pessoas são substituídas. Diante deste fato, torna-se vital o estabelecimento de um sistema de gerenciamento que indique uma política a ser seguida e os procedimentos a serem adotados, independentemente das pessoas envolvidas. O Diagnóstico Energético deve fazer parte de uma estratégia mais ampla da empresa, a de implantação de um plano de eficiência energética, que engloba várias etapas, dentre as quais o diagnóstico energético, e na qual o resultado final para a empresa seria uma gestão energética. Assim, tem-se: 1 Av. Prof. Luciano Gualberto Trav. 3, Num. 158; Cidade Universitária; CEP 05508-900; São Paulo - SP Fone: (011) 3818-5279 Fax: (011) 210-3595; e-mail: gimenes@pea.usp.br

Etapa 1: Sensibilização Etapa 2: Auditoria energética/análise preliminar Etapa 3: Diagnóstico Energético Etapa 4: Estudo da viabilidade das medidas apontadas no diagnóstico Etapa 5: Implantação das medidas e estabelecimento de uma Gestão Energética Etapa 6: Avaliação de desempenho 2.2 - Identificando oportunidades de redução de custos Toda política visando o controle da energia está fundamentada na seguinte idéia básica: a energia precisa ser controlada como qualquer outro fator de custo na empresa. Porém, só é possível administrar o que é medido e quantificado. Por isso, o primeiro passo no estabelecimento de uma gestão da energia consiste em implantar meios que permitam a medição e monitoramento dos consumos de energia. Através dessas medições será possível detectar falhas, estabelecer prioridades de ação e estimar a eficácia das intervenções. Surge então a necessidade da elaboração de planilhas de controle que permitirão contabilizar a energia na empresa. Cada empresa tem suas características próprias, cabendo ao gerente ou encarregado de manutenção determinar a forma ideal de estabelecer esse controle, em função, principalmente, dos recursos de medição e mão de obra disponíveis, das rotinas de manutenção já existentes e das possibilidade de investimento para aprimoramento da medição. [3] 2.3 - Metodologia Para elucidar um método, ha que se identificar objetivos. A pesar de que no escopo amplo do GLD, onde se inclui o diagnostico, cada caso é um caso, basicamente pode-se citar como objetivos primários de um diagnóstico energético os seguintes: - Quantificar e qualificar o consumo de energia nas instalações; - Apontar as oportunidades de redução do consumo de energia elétrica e de outros insumos energéticos, mantendo ou melhorando a qualidade e o volume de produção; - Analisar a viabilidade econômica das oportunidades indicadas. A metodologia de um diagnóstico deve atender a esses objetivos. De forma simplificada, as etapas para a realização de um diagnóstico energético são: a) Visita preliminar: para o conhecimento da planta e levantamento de documentos (p. ex. diagrama unifilar, fluxograma de processo). b) Levantamento de dados da concessionária: contas de energia elétrica, memória de massa. c) Levantamento de dados normalmente medidos pela empresa: insumos energéticos, consumos de áreas e equipamentos, planilhas de monitoração de equipamentos, relatórios de manutenção de equipamentos, plantas, projetos de iluminação, ar condicionado, ar comprimido, vapor e outros. d) Medição de campo: através de equipamentos analisadores de energia. e) Análise do consumo de energia. Deve ser feita por: Insumo energético (energia elétrica, óleo combustível, gás, biomassa, outros) e por Equipamento / processo / área. f) Determinação do potencial de conservação. g) Proposição de medidas de aumento de eficiência. h) Análise técnico-econômica das medidas propostas. i) Elaboração de relatório técnico. Como produto final do Diagnóstico Energético deve ser elaborado um Relatório Técnico contendo as seguintes informações: ƒ Informações sobre o uso da energia na empresa; ƒ Avaliação da eficiência de equipamentos; ƒ Medidas corretivas para problemas encontrados; ƒ Alternativas de redução de custos com energia; ƒ Análise técnico-econômica das alternativas propostas. Obs.: A implementação das alternativas propostas não faz parte do escopo do diagnóstico, sendo esta, parte da gestão energética. 2.4 - Adequação à realidade da empresa A realização de um diagnóstico energético, apesar dos benefícios claramente resultantes, às vezes, torna-se onerosa para determinadas empresas, em função do escopo de trabalho a ser seguido, demandando muitas horas técnicas de profissionais qualificados. Para pequenas empresas, devem-se oferecer opções que atinjam os mesmos benefícios, mas adequando-se à realidade econômico-financeira da empresa. Dessa forma, de acordo com o porte e necessidade de cada empresa, pode-se optar por níveis diferentes de detalhamento. Tais níveis podem ser como a seguir: OFFICE - Menor tempo de execução (20 dias) - Mapeamento de potenciais de economia - Diagnóstico feito somente com dados de placa (por inspeção) PLUS - Maior tempo de execução (60 dias, no mínimo) - Detalhamento de potenciais de economia - Medições de campo nos equipamentos e instalações da empresa 3.0 - MODELO DE GESTÃO ENERGÉTICA 3.1 - Contextualização Antes de caracterizar o Sistema de Gestão Energética (SGE) propriamente dito, é bom lembrar que atualmente no contexto da globalização, a questão ambiental é em muitos casos um diferencial competitivo. Por isso, vale ressaltar alguns dos pilares de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) que, segundo a ISO 14001, são: ƒ Prevenção no lugar da correção; ƒ Planejamento de todas as atividades, produtos e processos; ƒ Estabelecimento de critérios claros; ƒ Monitoração contínua; ƒ Melhoria contínua. Ainda, dentro dos conceitos associados à gestão ambiental, destaca-se a prevenção de poluição (P2),

que prevê o uso de processos, práticas, materiais ou produtos que evitem, reduzam ou controlem a poluição, os quais podem incluir reciclagem, tratamento, mudanças no processo, mecanismos de controle, uso eficiente de recursos e substituição de materiais. Dentre os benefícios resultantes dessa política estão a redução de impactos ambientais adversos, a melhoria da eficiência e a redução de custos. Vê-se, portanto, que a busca da eficiência energética encontra-se em perfeita sintonia com a gestão ambiental da empresa, devendo assim, estar intimamente ligada à mesma. 3.2 - Benefícios resultantes Os benefícios resultantes de um sistema de controle e otimização do uso da energia são muitos, se destacam: - Eliminação de desperdícios; - Redução do custo específico de energia, refletindo no custo industrial; - Alocação correta de custos por produtos/setores; - Aumento da competitividade da empresa; - Diminuição de impactos ambientais. 3.3 - Estrutura do SGE A gestão proposta deve ser bem documentada e objetiva, sendo composta pelos seguintes elementos: ƒ Política Energética ƒ Manual de Gestão Energética (MGE) - Procedimentos - Instruções de Trabalho - Formulários, Histórico, Registros, etc. No MGE, devem estar contemplados os principais componentes do sistema elétrico da empresa. Alguns exemplos podem ser: Transformadores, Motores, Iluminação, Ar Condicionado, circuitos de distribuição, Refrigeração, etc. Também devem estar explicitados os programas de conservação e eficientização já procedidos ou em andamento na empresa. Segue abaixo uma descrição mais detalhada de cada elemento do SGE. (a) Política Energética A Política Energética da empresa deve: - Guiar a organização a usar tecnologias eficientes e à melhorar as práticas administrativas; - Estabelecer a incorporação da utilização racional e eficiente da energia no desenvolvimento de novos produtos e serviços; - Prever a educação e o treinamento; - Atender às expectativas dos departamentos da organização; - Considerar a melhoria contínua. Para que tal política tenha eficácia, a mesma deve: - Ser aprovada por toda alta administração; - Estar de acordo com os valores, credos e missão da organização; - Fazer parte de uma política maior, que engloba a utilização de recursos em geral (água, materiais, equipamentos, material de escritório, etc.); - Estar de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável. 3.4 - Manual de Gestão Energética O MGE fixa o modelo do SGE, determinando a abrangência do mesmo. Ele deve conter os procedimentos e instruções de trabalho relacionados aos aspectos energéticos da empresa. Trata-se da principal base documental da empresa em relação à energia e é um elemento fundamental para treinamento interno. Quanto à estrutura do MGE, não existe uma estrutura rígida do MGE. No entanto, algumas características precisam estar presentes. Assim, o MGE deve conter: - A política energética e seus objetivos; - O(s) representante(s) da Administração e o seu posicionamento hierárquico; - Os procedimentos válidos e uma breve orientação dos mesmos. 3.5 - Procedimentos documentados do SGE Os procedimentos documentados do SGE constituemse em um instrumento valioso, principalmente para a equipe de manutenção, que encontra nestes documentos as orientações necessárias para a manutenção preventiva e corretiva de problemas relacionados à energia. Estes procedimentos devem: - Conter responsabilidades, autoridades e interrelação do pessoal que executa as atividades; - Cobrir de forma lógica todo o sistema energético. Assim, para cada componente do sistema deve-se ter um procedimento relacionado. Por exemplo, para o item transformadores pode-se ter definido quando e de que forma deve ser feita a manutenção preventiva anual e quais itens devem ser cobertos neste serviço. Além disso, para um caso de emergência, quais as providências a serem tomadas e a quem recorrer em tais situações, com ordem de prioridade. 3.6 - Integração os sistemas gerenciais da empresa O Sistema de Gestão Energética deve estar integrado com outros sistemas de gerenciamento implantados na empresa, como a ISO 9000 e a ISO 14000. Visto ser o controle energético uma iniciativa perfeitamente sintonizada com os princípios destacados pelas séries ISO, a opção pela implantação de um SGE é uma consequência natural da implantação de outros sistemas. Neste sentido, a estrutura proposta segue em parte a estrutura da ISO 14000, o que facilita a elaboração e assimilação da mesma. 4.0 - APLICAÇÃO ÀS EMPRESAS 4.1 - Problemas comumente encontrados Alguns itens merecem atenção especial, principalmente nas pequenas e médias empresas, que costumam atentarem para os problemas só quando há um incremento significativo na conta de energia. Segue abaixo o comentário de alguns desses problemas, bem como suas causas mais comuns.

(a) Tarifação: Neste item destacam-se dois problemas principais - enquadramento tarifário inadequado e multas por ultrapassagem de demanda. Isso pode ser resultante de uma falta de controle sobre a energia que se usa ou falta de uma assessoria no contrato de compra de energia, para adequação das demandas registradas versus contratadas. (b) Fator de potência: Nesta questão, o problema pode se dar tanto na falta quanto no excesso de capacitores nas instalações da empresa. A forma de cobrança da multa por excedente de reativos depende basicamente do tipo de tarifa no qual a empresa está enquadrada. Por exemplo: na tarifa convencional geralmente é cobrado apenas o excedente indutivo (falta capacitores) enquanto nas tarifas horo-sazonais é cobrado o indutivo e o capacitivo, conforme determinados horários, como descrito mais adiante. (c) Transformadores: Podem-se ressaltar neste item dois aspectos - manutenção e dimensionamento. Quanto ao primeiro aspecto, em pequenas empresas, muitas vezes, é dada pouca ou nenhuma atenção à manutenção dos transformadores, esquecendo-se de fazer anualmente análises e filtragens de óleo e manutenção preventiva que assegura à empresa uma operação mais confiável deste elemento fundamental do sistema elétrico. Em relação ao dimensionamento, ocorre tanto o sub quanto sobredimensionamento. No primeiro caso, além de reduzir a vida útil do trafo, ocasiona problemas em proteções, como a queima constante de fusíveis. Já no segundo caso, um efeito imediato é o baixo rendimento do equipamento, gerando perdas e ocasionando inclusive um baixo fator de potência na instalação em geral. (d) Qualidade de energia: Os fenômenos mais importantes relacionados com a qualidade de energia são: surtos de tensão, transitórios oscilatórios de tensão, subtensões momentâneas (afundamentos, mergulhos ou sags ), interrupções momentâneas de tensão, sobretensões momentâneas, distorções harmônicas e cortes na tensão. Dos fenômenos que afetam os processos industriais de alta tecnologia destacam-se, os transitórios de sobretensão (surtos) e subtensões momentâneas. Estes, em geral, são de origem externa do lado da concessionária, onde, quase 80% dos fenômenos ocorridos na concessionária, e que paralisam uma planta industrial, podem ser controlados a custos baixos na própria indústria, agindo sobretudo na área de controle de seus equipamentos. As soluções no sistema elétrico industrial seguram, em geral, cerca de 80% das subtensões momentâneas ocorridas no sistema da concessionária, a custos baixos. Os outros 20% são minimizados com investimentos a longo prazo, em conjunto com a concessionária. [6] 4.2 - Prevenção: o menor custo A falta de planejamento quase sempre acarreta em maiores custos para a empresa. Isso ocorre, geralmente, porque as ações tomadas são, em sua maioria, corretivas, após ter ocorrido o problema. Em termos de eletricidade, as previsões nem sempre são possíveis, mas, a grande maioria dos problemas podem ser detectados antes de ocorrerem, resultando em intervenções menos complicadas com menor custo. Por tanto a prevenção é a opção mais econômica. 4.3 - Oportunidades de economia As oportunidades de redução de custos e soluções de problemas acima identificados estão listadas a seguir. (a) Tarifação Existem três modalidades tarifárias: convencional, horo-sazonal azul e horo-sazonal verde. A escolha por uma dessas tarifas depende da forma como a energia é utilizada pela empresa, estando vinculada, principalmente, à relação de {consumo na ponta/consumo total}. Na prática, quando essa relação é menor que 9%, em geral, é vantajoso o modelo horo-sazonal. Para o enquadramento neste modelo tarifário, segundo a Resolução ANEEL 456/2000, é necessária uma demanda mínima contratada de 30 kw, sendo que unidades acima de 300 kw, necessariamente, são enquadradas como horo-sazonais. Na opção pela tarifa verde ou azul devem pesar principalmente dois fatores: a demanda e o consumo de ponta. Para consumos altos na ponta, é mais viável a azul, caso contrário, a verde torna-se mais atrativa. Esse modelo (verde ou azul) requer certos cuidados adicionais em relação ao fator de potência e demanda contratada, abrindo espaços para serviços de gestão de contratos de energia cujo objetivo é evitar multas e otimizar a compra de energia pelo cliente. (b) Fator de Potência De acordo com a Resolução 456/2000, o limite do fator de potência deve ser maior ou igual a 0,92, avaliado de hora em hora, tanto no horário indutivo (das 6h às 24h) quanto no capacitivo (das 0h às 6h). As principais metodologias de correção deste problema são: 1-) Automático: Os capacitores são ligados ou desligados de acordo com a necessidade da carga; 2-) Fixo-Automático: Os capacitores são desligados apenas no período noturno, para evitar a cobrança de capacitivos; 3-) Fixo: Possível de ser executado apenas para tarifa convencional. Quanto à localização, basicamente há três opções: junto às cargas; no quadro de distribuição geral de baixa tensão e; na média tensão. A escolha de uma ou outra técnica e localização dos capacitores dependerá do diagnóstico das instalações da empresa, atentandose para a relação custo/benefício. Obs.: Em geral, investimentos nessa área apresentam tempos de retorno em torno de 6 a 10 meses. (c) Motores Em relação aos motores, é possível obterem-se economias, principalmente, nos seguintes aspectos: - Dimensionamento correto - entre 60% e 90% de carregamento;

- Tipo de acionamento; - Alimentação (tensão, simetria, distorção); - Manutenção preventiva; - Otimização do ciclo de trabalho; - Redução de perdas, como por exemplo, decorrente de baixo fator de potência. (d) Geração própria Projetos de geração própria através de grupos Diesel geradores têm tempo de retorno típico de 20 a 36 meses, para consumidores acima de 100 kw. Onde o custo de geração situa-se entre 18 e 21 R$/MWh. Comparando com os custos da tarifa verde: 5 R$/MWh fora de ponta e 486 R$/MWh na ponta, vê-se a atratividade da implantação de geradores que será tanto melhor quanto maior for a utilização de energia durante o período de ponta por parte do consumidor. Os custos de investimento com o gerador situam-se entre 160 e 180 R$/kVA. Indústrias com regime de operação de 24h/dia, quase sempre, são viáveis na implantação de geradores. 5.0 - CASO PRÁTICO 5.1 - A empresa - características gerais O caso aqui apresentado é o resultado de um diagnóstico em uma indústria de couros (curtume) em Franca/SP. A Tab. 1 mostra as características de consumo de energia elétrica (dados de Set/2000): Tabela 1 - Características de Consumo Item Valor [ R$ ] Demanda contratada 850 kw --- Demanda registrada 963 kw 4.632,50 Consumo na Ponta 21.466 kwh 10.436,98 Consumo F. de Ponta 244.553 kwh 12.494,21 FER - P 2 0,97 FER - FP 29.929 1.529,07 FDR 136 741,20 Multa Ultrapassa Demanda 1.847,55 ICMS 6.954,69 Total 38.637,18 Na Fig. 1 se vê a composição de custos da conta de energia elétrica em Set/2000, no início do trabalho. 'HPDQGD Custos na Conta de Energia Elétrica 5HDWLYRV 0XOWDV &RQVXPR ) 3RQWD &RQVXPR 3RQWD Figura 1 - Composição de custos na conta de energia De acordo à metodologia do item 2.3, após a auditoria inicial e o levantamento de dados da concessionária e do departamento de manutenção da indústria, foi feita uma série de medições energéticas. A Fig. 2 mostra a medição num dia típico de funcionamento da empresa. K W Curva de Carga Diária - Dia Típico Figura 2 - Curva de carga diária de um dia típico 5.2 - Resultados do diagnóstico Após a etapa de medição de campo e da análise do consumo de energia da empresa, foram detectadas várias oportunidades de economia. Dentre elas, destacam-se as seguintes medidas recomendadas: (i) Adequação do contrato de compra de energia: Ajuste junto à concessionária do valor de demanda contratada, eliminando a multa por ultrapassar demanda que representava 6% do total da conta. (ii) Correção do Fator de Potência: A multa por reativos excedentes representava 7% da conta, justificando medidas urgentes para correção deste problema. (iii) Implantação de um Controlador de Demanda: A partir das diversas medições realizadas, foi constatado que a maior demanda registrada situava-se em torno de 800 a 850 kw. No entanto, poucas vezes ocorriam "picos de demanda" que refletiam no valor faturado. Assim, um controlador pode evitar que esta situação ocorra, podendo ser reduzido o valor de demanda a ser contratada, sem interferir significativamente no processo produtivo. (iv) Geração própria de energia na ponta: A implantação de um grupo Diesel gerador para suprir toda energia consumida na ponta, resulta em uma economia mensal de R$6.350,00. Foi proposto um grupo de 930 kva / 744 kw (contínuo) para suprir a ponta que apresenta uma demanda média de 300 a 400 kw. Os dados da análise técnico-econômica são mostrados na Tabela 2. Tabela 2 - Viabilidade do Grupo Gerador Item [ R$ ] Potência do gerador 1000/930 kva Consumo de óleo diesel - para a carga a 120 l/h ser alimentada Custo do diesel 0,75 R$/l Custo de O&M 0,02 R$/kWh Custo mensal de combustível R$ 5.940,00 Custo mensal de O&M R$ 432,96 Custo mensal do Gerador R$ 6.372,96 Custo total mensal sem o Gerador R$ 37.742,74 Custo Total mensal com o Gerador R$ 31.387,80 Economia mensal R$ 6.354,94 Investimento previsto R$ 199.080,00 Prestação do financiamento R$ 6.301,00 Tempo de retorno 31 meses

5.3 - Implantação do SGE Após a fase de realização do diagnóstico energético, iniciou-se então a implantação do Sistema de Gestão Energética, dentro do qual as medidas apontadas no diagnóstico são alocadas no tempo para sua execução. As principais ações propostas dentro do SGE são: (i) Elaboração de planos preventivos, corretivos e emergenciais: Dentro deste programa, até a data deste artigo, foram realizadas as primeiras medidas apontadas no diagnóstico e outras estão em fase de implementação, conforme detalhado neste item. (ii) Criação de programas de manutenção preditiva e preventiva: Neste item são propostos, por exemplo, a realização anual de uma inspeção termográfica, manutenção anual da subestação de 15 kv, manutenção periódica de motores, etc. (iii) Elaboração de manuais com orientação para compra de novos equipamentos: A idéia desta proposta é estabelecer um padrão a ser seguido, ponderando o fator eficiência na compra de equipamentos, como lâmpadas, motores, ar condicionado, etc. (iv) Criação da Comissão Interna de Conservação de Energia (CICE): Através do envolvimento direto dos funcionários ligados à área de manutenção e atuando em conjunto com outras comissões já existentes como a CIPA. Exemplo dessa integração ocorreu no início da execução do Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas das instalações, onde foi necessário encontrar soluções alternativas para áreas de risco, cujo custo final fosse compatível com as possibilidades de investimento da empresa. (v) Elaboração de Campanha de Conservação de Energia: Este programa educativo tem o propósito de conscientizar os funcionários sobre a importância e os benefícios de se economizar energia, primeiramente em suas casas, cuja consequência seria uma atitude de conservação, inclusive no ambiente de trabalho. 5.4 - Resultados obtidos A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos até agora com a implementação das medidas, além do que o programa de gestão está em fase de implantação. Tabela 3 - Resultados obtidos Medida Investimento (serviços/ materiais) [R$] Tempo de Retorno [Meses] Adequação do contrato 4.000,00 2 Correção do fator de potência 22.000,00 8 Controlador de demanda* 5.500,00 7 Gerador* 221.000,00 36 * Em fase de estudos 6.0 - CONCLUSÕES Os resultados apresentados, extraídos de um caso real, permitem concluir baseados na economia obtida, que a Gestão da Energia é essencial, especialmente quando o insumo energético tem peso preponderante. Na medida em que processos produtivos mais avançados, necessários à sustentação da empresa em um mercado competitivo, estão intimamente ligados ao uso da energia, a participação desta como insumo tende a aumentar, tornando a Gestão da Energia peça chave no alcance de um processo produtivo que seja, ao mesmo tempo, eficiente, racional e competitivo. Em particular, quando se trata da problemática energética industrial, e no contexto do presente trabalho, é evidente que deve-se: Fazer uma gestão tarifária adequada, pois é uma vantagem competitiva; Aproveitar as oportunidades de cogeração; Assimilar que a geração localizada tende a ter custos menores e; devido a que ainda existem incertezas significativas nos cenários possíveis, até 2003 as oportunidades de negociação serão poucas. Em geral, no GLD ou melhor a gestão da demanda, é uma atividade associada a redução econômica, em empresas e instituições, visivelmente durante os horários de pico, com benefícios tangíveis para fornecedores e consumidores de energia. Nesse sentido, no paradigma atual de mercado aparecem novas energias, que favorecem esse intuito. Sendo que no futuro próximo, poderá se incluir, na busca por uma economia energética global, às energias interruptíveis (consumidores que aceitarem reduzir em algumas horas o uso de energia, após aviso, obterão descontos importantes), às tarifas em tempo real (com o preço da energia disponível em tempo real os consumidores poderão fazer suas decisões conforme sua variação). Enfim, com a desregulamentação, num ambiente de mercado competitivo na Industria Elétrica, os consumidores mudarão suas atitudes. Conhecerão mais os atributos da energia e sua influência no desempenho de suas atividades produtivas, consequentemente serão mais pró-ativos em programas de gestão de demanda se as recompensas financeiras forem suficientes. 7.0 - BIBLIOGRAFIA (1) REIS, L. B., SILVEIRA, S. Energia Elétrica para o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo, 2000. (2) CARVALHO, C. E., UDAETA, M. E. M. Diagnóstico Energético em Indústrias. Apresentação no Seminário de Conservação de Energia em São Luís/MA. UFMA. Setembro, 2000. (3) AGÊNCIA PARA APLICAÇÃO DE ENERGIA. Procedimentos de Manutenção para Economia de Energia. (4) KANAYAMA, P. H. Metodologia de Diagnóstico Energético. Apostila. Junho, 2000. (5) COSTA, P. F., SANTOS, I. M. Problemas de Qualidade de Energia em Plantas Industriais. VII Encontro Nacional de Instalações Elétricas. 2000. (6) JUNIOR, A. A. P. Conservação de Energia em Sistemas Elétricos, Transformadores e Motores. Apostila. Curso Diagnóstico Energético - GEPEA/EPUSP. Junho, 2000.