Produção de Forrageiras de Inverno Sobressemeadas à Lanço em Pastagem de Brachiaria brizantha Loreno Egídio Taffarel 1, Deise Dalazen Castagnara 2, Eduardo Eustáquio Mesquita 3, Marcela Abbado Neres 3, Paulo Sérgio Rabello de Oliveira 3, Perecles Brito Batista 4 1 Mestrando do Programa de Pós Graduação em Zootecnia - CCA/Unioeste. loreno.taffarel@gmail.com 2 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Agronomia- CCA/Unioeste. deisecastagnara@yahoo.com.br 3 Professor do Centro de Ciências Agrárias Unioeste. mabbadoneres@yahoo.com.br 4 Doutorando em Zootecnia UFPB/Areia. perecles.batista@hotmail.com Resumo: O presente estudo teve como objetivo estudar os incrementos de produção de matéria verde e seca de consórcios obtidos através de forrageiras de inverno sobressemeadas em pastagem de Brachiaria brizantha. O experimento foi conduzido à campo, em Latossolo Vermelho eutroférrico sob o delineamento experimental em blocos casualizados com 6 tratamentos obtidos a partir da sobressemeadura de forrageiras de inverno em área implantada com Brachiaria brizantha (1) Brachiaria brizantha sem sobressemeadura, (2) sobressemeada com aveia preta; (3) azevém; (4) ervilhaca peluda; (5) ervilhaca e aveia IPR 126 e (6) aveia IPR 126. Foram determinadas as produções de matéria verde e seca dos consórcios, e da Brachiaria brizantha e das forrageiras de inverno separadamente. Para a produção de matéria verde e seca do consórcio, houve efeito significativo dos com as maiores produções quando foi utilizada a ervilhaca. A produção de matéria verde da Brachiaria brizantha ficou em torno de 4682 kg ha -1, enquanto a produção de matéria seca foi maior quando a Brachiaria brizantha não foi sobressemeada (2467 kg ha -1 ), e menor quando foi sobressemeada com ervilhaca e com aveia branca (1553 kg ha -1 ). Para a produção de matéria verde e seca das forrageiras de inverno, foram observadas diferenças marcantes, com a superioridade dos tratamentos onde esteve presente a ervilhaca. A sobressemeadura de forrageiras de inverno em pastagem de Brachiaria brizantha proporcionou aumento na produção de forragem, com destaque para a ervilhaca que proporcionou os maiores aumentos de produção. Palavras chave: Aveia branca, aveia preta, azevén, consórcio, ervilhaca Production of winter forages overseeding to haul in Brachiaria brizantha Abstract: This study aimed to study the increments of production of green and dry matter consortia obtained from overseeded winter forage in Brachiaria brizantha. The experiment was conducted to field in Oxisol under the experimental randomized blocks with 6 treatments obtained from overseeded for winter forage in the area implanted with Brachiaria brizantha (1) overseeded without Brachiaria brizantha, (2) seeded with oats black, (3) ryegrass and (4) hairy vetch; (5) vetch and oats IPR 126 and (6) oat IPR 126. We determined the production of green and dry matter of the consortia and Brachiaria brizantha and winter forage separately. For the production of green and dry matter of the consortium, with significant effects of the highest yields when vetch was used. The green matter production of Brachiaria brizantha was around 4682 kg ha -1, while the dry matter production was higher when B. brizantha was not seeded (2467 kg ha -1 ), and lowest when it was overseeded with vetch and oats (1553 kg ha -1 ). For the production of green fodder and dry winter, there were notable differences, with the superiority of treatment was present where vetches. The overseeded for winter forage in Brachiaria brizantha increased the forage production, especially the common vetch that provided the largest increases in production. Keywords: White oat, black oat, ryegrass, consortium, vetch
Introdução A estabilidade na produção de massa de forragem ao longo do ano é importante, pois facilita o manejo da pastagem e evita grandes variações na carga animal necessária para a manutenção de resíduo adequado da forrageira, visando maximizar a produtividade (Moreira et al., 2006a). A oscilação na taxa de acúmulo de matéria seca das pastagens, ocorre com freqüência, devido às variações climáticas e a estacionalidade de produção das espécies, sendo a maior dificuldade enfrentada no manejo das pastagens (Roso et al., 1999). Espécies forrageiras de clima tropical, especialmente gramíneas, apresentam marcada estacionalidade de produção no período do inverno, com grande redução da produção de matéria seca nos meses de maio a setembro conforme as condições climáticas da região, trazendo sérios conseqüências principalmente aos pequenos produtores, como redução na produtividade de leite, perda de peso ou até mesmo perda de animais durante os períodos de escassez. Essa redução na produção de matéria seca nos períodos mais frios do ano poderia ser suprida com a sobressemeadura de forrageiras anuais de clima frio, como a aveia, azevém e a ervilhaca. A sobressemeadura de espécies forrageiras de inverno, em áreas formadas com espécies perenes de clima tropical, é uma opção a ser considerada para aumentar a produção e sua distribuição estacional e, principalmente, o valor nutritivo (VN) da forragem durante a estação fria e seca do ano. A sobressemeadura provoca aumento substancial na quantidade e na qualidade da forragem, podendo alterar a distribuição da produção durante o ano, com a redução da necessidade de alimentação suplementar nesse período (Moraes & Lustosa, 1999; Reis et al., 2001). Tupy et al. (2006) destacam que com a introdução da aveia em sobressemeadura em pastagens consegue-se 1) aumentar a ocupação do solo e sua proteção por plantas forrageiras, 2) diminuir perdas de nutrientes, em função da melhor ciclagem, 3) evitar perdas de matéria orgânica do solo em função do maior retorno de resíduos vegetais, e 4) obter menor compactação do solo, por causa da maior atividade radicular por unidade de área ocupada por plantas fisiologicamente ativas. Dessa forma a sobressemeadura de espécies de inverno em áreas formadas com espécies perenes de clima tropical é uma opção a ser considerada, pois em áreas de pastejo a sobressemeadura provoca aumento substancial na quantidade e qualidade da forragem, conforme trabalhos realizados por Reis et al., (2001) e Moreira et al., (2006a). Nesse sentido o presente estudo teve como objetivo estudar os incrementos de produção de matéria verde e seca de consórcios obtidos através de forrageiras de inverno sobressemeadas em pastagem de Brachiaria brizantha. Material e Métodos O experimento foi conduzido à campo, em Latossolo Vermelho eutroférrico (EMBRAPA, 2006), na Fazenda Experimental Antônio Carlos dos Santos Pessoa pertencente à Universidade Estadual do Oeste do Paraná. O clima local, classificado segundo Koppen é do tipo Cfa, subtropical com chuvas bem distribuídas durante o ano e verões quentes. As temperaturas médias do trimestre mais frio variam entre 17 e 18 C, do trimestre mais quente entre 28 e 29 C e a anual entre 22 e 23 C. Os totais anuais médios normais de precipitação pluvial para a região variam de 1.600 a 1.800 mm, com trimestre mais úmido apresentando totais variando entre 400 a 500 mm (IAPAR, 2006). O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados com 6 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos foram obtidos a partir da sobressemeadura de forrageiras de inverno em área implantada com Brachiaria brizantha há dois anos conforme segue: (1) Brachiaria brizantha sem sobressemeadura, (2) sobressemeada com aveia preta; (3) azevém; (4) ervilhaca peluda; (5) ervilhaca e aveia IPR 126 e (6) aveia IPR 126. A semeadura das forrageiras de inverno foi realizada em 01/05/2010, manualmente adotando-se as seguintes densidades de sementes: aveia preta: 80 kg ha -1, azevém: 50 kg ha -1, ervilhaca peluda: 50 kg ha -1 e aveia IPR 126: 80 kg ha -1. Para a mistura de aveia IPR 126 e ervilhaca foi utilizada metade das quantidades de sementes usadas quando semeadas solteiras. As avaliações foram realizadas em 06/09/2010. Para a determinação da produção de matéria seca dos consórcios utilizou-se um quadrado metálico com área conhecida que foi jogado aleatoriamente uma vez em cada parcela e todas as plantas do seu interior foram coletadas. Em laboratório o material foi
pesado e procedeu-se a separação botânica das espécies. Todas as amostras foram embaladas em sacos de papel e submetidas à secagem em estufa com ventilação forçada de ar sob temperatura de 55ºC por 72 horas para a determinação dos teores de matéria seca. A partir dos teores de matéria seca foram quantificadas as produções de matéria seca dos consórcios e das espécies separadamente. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística e as médias foram comparadas pelo teste Tukey ao nível de % de probabilidade. Resultados e Discussão Para a produção de matéria verde e seca do consórcio (Figura 1), houve efeito significativo dos tratamentos (P>0,05), de forma que as maiores produções foram obtidas quando foi utilizada a ervilhaca. Moreira et al. (2006b) também observaram aumentos na produção de matéria seca dos consórcios quando sboressemearam milheto (Pennisetum americanum (L.) Leeke)+aveia preta (Avena strigosa Schreb) e híbrido de sorgo Sudão (Sorghum bicolor (L.) Moench x S Sorghum sudanense (Piper) Stapf) (AG2501)+aveia preta em pastagem de Tifton 85. Os autores comentam porém, que os aumentos foram pouco expressivos concordando com os resultados aqui obtidos para as aveias. Gramíneas anuais e leguminosas de estação fria têm potencial para preencher quantitativa e qualitativamente as necessidades do gado leiteiro durante períodos em que ocorrem quedas na produção forrageira associadas a gramíneas perenes de estação quente (Fontaneli & Fontaneli, 2000). Ao avaliarem os efeitos da sobressemeadura de espécies de inverno (centeio, azevém, trevos vermelho e encarnado) em áreas de capim-tifton 85, Reis et al. (2001) observaram elevado teor de PB (14,9%) e DIVMO (65,0%) da forragem disponível nas áreas de capim-tifton 85 cultivadas com espécies de inverno. CV (%): 16,95 CV (%): 13,64 Figura 1. Produção de Matéria Verde e Matéria Seca do consórcio obtido com a Brachiaria brizantha sobressemeada com diferentes forrageiras de inverno. *Médias seguidas da mesma letra minúscula nas barras não diferem pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. (B: Brachiaria brizantha; B+AP: Brachiaria brizantha+aveia Preta; B+A: Brachiaria brizantha+azevén; B+E: Brachiaria brizantha+ervilhaca; B+E+AB: Brachiaria brizantha+ervilhaca+aveia Branca; B+AB: Brachiaria brizantha+aveia Branca) Ao ser estudada separadamente a produção de matéria seca e verde, para a Brachiaria brizantha (Figura 2) não foram observadas diferenças significativas entres os tratamentos para a produção de matéria verde que ficou em torno de 4682 kg ha -1. Para a produção de matéria seca, maior produção foi observada quando a Brachiaria brizantha não foi sobressemeada (2467 kg ha -1 ), e menor quando foi sobressemeada com ervilhaca e com aveia branca (1553 kg ha -1 ), enquanto os demais tratamentos não diferiram da Brachiaria brizantha solteira ou sobressemeada com ervilhaca e aveia branca. Os resultados obtidos para a produção de matéria verde refletem tolerância apresentada pela Brachiaria brizantha à competição proporcionada pelas forrageiras de inverno. As baixas produções observadas para a Brachiaria brizantha se devem às condições climáticas da região, que apresenta invernos frios, com ocorrência de geadas, limitando o crescimento da forrageira.
CV (%): 27,93 CV (%): 19,34 Figura 2. Produção de Matéria Verde e Matéria Seca da Brachiaria brizantha sobressemeada com diferentes forrageiras de inverno. *Médias seguidas da mesma letra minúscula nas barras não diferem pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. (B: Brachiaria brizantha; B+AP: Brachiaria brizantha+aveia Preta; B+A: Brachiaria brizantha+azevén; B+E: Brachiaria brizantha+ervilhaca; B+E+AB: Brachiaria brizantha+ervilhaca+aveia Branca; B+AB: Brachiaria brizantha+aveia Branca) Para a produção de matéria verde e seca das forrageiras de inverno (Figura 3), foram observadas diferenças marcantes, com a superioridade dos tratamentos onde esteve presente a ervilhaca. Esse resultado pode estar relacionado com o tamanho das sementes, que se correlaciona diretamente com a quantidade de reservas, pois como as sementes de aveia e azevém possuem maior proporção de carboidratos em relação à proteína na semente, conseguem armazenar menor quantidade de energia para ser disponibilizada para sustentar o processo de germinação. Devido às condições desfavoráveis obtidas durante o período experimental em relação à pluviosidade, o estande de plantas das gramíneas de inverno ficou prejudicado, permitindo esse destaque da ervilhaca. Moreira et al. (2006b), também observaram baixa pequena participação da aveia preta na forragem produzida quando esta foi sobressemeada em capim Tifton, e não recomendam a semeadura em regiões onde as temperaturas não são adequadas para o seu desenvolvimento pleno dessa forrageira de inverno. Porém, os resultados obtidos no trabalho revelam a viabilidade da utilização desse sistema de consórcio para a otimização da utilização de áreas de pastagens tropicais mesmo no período do inverno. Apesar da densa quantidade de liteira depositada pela Brachiaria brizantha, as forrageiras de inverno conseguiram se estabelecer na área em população suficiente para proporcionar aumento na disponibilidade de forragem e elevar o valor nutritivo da forragem oferecida pela gramínea tropical. CV (%): 13,99 CV (%): 11,30 Figura 3. Produção de Matéria Verde e Matéria Seca de plantas de forrageiras de inverno sobressemeadas em pastagem de Brachiaria brizantha. *Médias seguidas da mesma letra minúscula nas barras não diferem pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade. (B+AP: Brachiaria brizantha+aveia Preta; B+A: Brachiaria brizantha+azevén; B+E: Brachiaria brizantha+ervilhaca; B+E+AB: Brachiaria brizantha+ervilhaca+aveia Branca; B+AB: Brachiaria brizantha+aveia Branca)
Conclusões A sobressemeadura de forrageiras de inverno em pastagem de Brachiaria brizantha proporcionou aumento na produção de forragem, com destaque para a ervilhaca que proporcionou os maiores aumentos de produção. Literatura citada EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos, 2.ed. Brasília: EMBRAPA/DPI, 2006. 306p. FONTANELI, R. S.; FONTANELI, R. S. Sistemas de produção de leite a pasto podem ser mais econômicos do que em confinamento: uma contribuição ao desenvolvimento do sistema sul brasileiro. In: SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE BASEADO EM PASTAGENS SOB PLANTIO DIRETO, 2000, Passo Fundo. Anais... Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2000. p. 229 252. IAPAR. Cartas Climáticas do Paraná. 2006. Disponível em: <http://200.201.27.14/site/sma/cartas_climaticas/classificação_climaticas.htm>. Acesso em: 03 set. 2008. MORAES, A.; LUSTOSA, s. B. C. Forrageiras de inverno como alternativas na alimentação animal em períodos críticos. In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE BOVINOS, 7., 1999, Piracicaba, SP. Anais... Piracicaba: Fealq, 1999. p. 147 166. MOREIRA, A.L. et al. Época de sobressemeadura de gramíneas anuais de inverno e de verão no capim- Tifton 85: produção e composição botânica. Ciência e Agrotecnologia, v. 30, n. 4, p. 739-745, 2006b. MOREIRA, A.L.; REIS, R.A.; SIMILI, F.F. et al. Época de sobressemeadura de gramíneas anuais de inverno e de verão no capim Tifton 85: valor nutritivo. Ciência e Agrotecnologia, v.30, n.2, p. 335-343, 2006a. REIS, R.A.; SOLLENBERGER, L.E.; URBANO, D. Impacto f overseeding cool-season annual forages on spring regrowth of Tifton 85 bermudagrass. In: INTERNATIONAL GRASSLAND CONGRESS, 19., 2001, São Pedro. Proceedings São Pedro: Brazilian Society of Animal Husbandry, 2001. p.295-297. ROSO, C.; RESTLE, J.; SOARES, A. B. Produção e qualidade de forragem da mistura de gramíneas anuais de estação fria sob pastejo contínuo. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 28, n. 3, p. 459 467, 1999. TUPY, O. et al. Avaliação dos impactos econômicos sociais e ambientais de tecnologias da Embrapa Pecuária Sudoeste. 8. Sobressemeadura de aveia forrageira em pastagens tropicais irrigadas no período seco. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2006. 36 p. (Embrapa Pecuária Sudeste. Documentos, 61).