Retenção da Informação em aulas de Educação Física em função das características dos alunos.

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Transcrição:

Retenção da Informação em aulas de Educação Física em função das características dos alunos. Nuno Januário António Rosado Isabel Mesquita Faculdade de Motricidade Humana - Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de Motricidade Humana - Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de Desporto Universidade do Porto Trabalho patrocinado pela Fundação de Ciência e Tecnologia INTRODUÇÃO O papel exercido pela comunicação na orientação do processo de ensinoaprendizagem é inquestionável, qualquer que seja o contexto em que se estabelece. A convicção da influência que exerce no desenrolar de todo o processo e nos resultados alcançados leva a que os especialistas cheguem a considerar que ensinar (e treinar) bem é o resultado de comunicações eficientes (Leith, 1992). Entre as diferentes componentes da comunicação, a transmissão de informação é uma das competências fundamentais dos professores sendo de vital importância no processo de ensino-aprendizagem. Todavia, não raramente, a informação transmitida não é recepcionada nem compreendida da forma que o professor deseja, existindo perdas ao nível da retenção e da compreensão da informação. No que diz respeito às estratégias de transmissão de informação, referenciadas no âmbito da didáctica da Educação Física e do Desporto, todas elas procuram criar condições para que o processamento de informação seja o mais facilitado possível, para que essa informação seja retida, compreendida e aceite, condição fundamental para garantir as aprendizagens. Neste âmbito podem ser referenciados múltiplos estudos (Carreiro da Costa, 1995; Piéron, 1988; Rink, 1993; Siedentop, 1983) onde se descrevem e explicitam algumas das principais condições que devem presidir a uma transmissão eficaz da informação. Decorrente da especificidade do conteúdo, do contexto, das condições de realização, dos objectivos e do nível de desempenho dos alunos ou atletas, o treinador ou professor é confrontado com a necessidade de especificar o teor da informação transmitida bem como as estratégias que elege para a sua transmissão (Rink, 1996). Enquanto que alguns autores referem que a definição de objectivos constitui o elemento referenciador da organização do processo de instrução (Singer, 1980; Bento, 1987; Siedentop, 1991), outros sustentam que o conteúdo constitui o fulcro da organização do processo de instrução (Vickers, 1990; Rink, 1993; Mesquita, 1989). A definição clara de objectivos e explicitação dos conteúdos são duas condições fundamentais de optimização do processo de ensino-aprendizagem e, por isso, parece-nos pertinente que, relativamente aos episódios de instrução dos professores, se determine qual é o grau de retenção dessa informação pelos alunos, bem como quais as características dos alunos que diferenciam o nível de retenção. Sabemos, por outro lado, que o tratamento de informação por parte dos alunos tem uma capacidade limitada e estes não conseguem tratar, do mesmo modo, toda a informação que recebem, realizando-se uma reelaboração da mesma. O efeito da informação transmitida depende da forma como o aluno a processa (Doyle, 1986) e para que a informação possa ser utilizada pelos alunos, não basta ser recebida, é necessário que seja compreendida e aceite por estes (Januário, Rosado, & Mesquita, 2006). A interpretação dessa informação significa a sua transformação por processos não inteiramente conhecidos, dependentes de processos perceptivos e interpretativos muito diversos e, naturalmente, de diversas características dos alunos, algumas delas, ainda pouco estudadas.

Em função do que atrás referimos, o presente estudo coloca as seguintes questões: Qual o grau de retenção, por parte dos alunos, da informação prestada pelo professor? Em que medida as características do aluno, tais como o género, a idade, o ano de escolaridade e o nível de prática determinam a retenção de informação? A transmissão, compreensão e retenção da informação foram abordadas, em outros estudos, entre os quais de destacam, Cloes, Moreau e Piéron (1990), Marques da Costa (1991), Quina (1993), Januário, Rosado e Mesquita (2006) e Rosado, Mesquita, Breia e Januário (2007). Cloes, Moreau e Piéron (1990) procuraram avaliar a percepção e a retenção de retroacções, emitidas pelo professor, em sessões de micro-ensino. Concluíram que a maior parte dos alunos subestimaram a quantidade de informação recebida, retiveram mais a informação de cariz negativo do que a positiva, retiveram mais a específica do que a não específica, fixaram melhor o que foi mais repetido e o que era acompanhado de demonstração. Marques da Costa (1991) estudou o impacto do feedback pedagógico na aprendizagem, tendo como objectivo conhecer o efeito, nos alunos, da informação emitida pelo professor tendo constatado que o nível de coerência não estava relacionado com a idade, o género e o nível de habilidade motora inicial não apresentando as características dos alunos um papel determinante na retenção da informação. Quina (1993) concluiu que existia uma redução significativa da informação relatada pelos alunos, em comparação com a informação transmitida pelo professor. Januário, Rosado e Mesquita (2006) realizaram um estudo associado à retenção de informação por parte dos alunos, referente às reacções dos professores, na regulação e controlo disciplinar. Concluiu-se que os alunos não conseguiam recordar toda a informação que lhes era dirigida em episódios de regulação e controlo disciplinar, ou seja, que existia uma redução significativa da informação transmitida. Rosado, Mesquita, Breia & Januário (2007), em ambiente de treino, estudaram o perfil de retenção da informação, por parte dos atletas, em episódios instrucionais habituais, nomeadamente, a apresentação de tarefas e o feedback pedagógico, concluindo que os atletas não conseguem recordar toda a informação que lhes é dirigida e que não existiram diferenças significativas de retenção de informação em função do tipo do tipo de episódio instrucional. Por sua vez, Lima, Mesquita, Rosado & Januário (2007), estudando a retenção da informação por parte dos atletas, da informação emitida pelo treinador em Voleibol, concluíram que existia uma redução significativa da informação transmitida e que o género dos atletas não apresentava influência sobre a capacidade de retenção. As características dos alunos, ou pelo menos algumas delas, nomeadamente a idade, o género, o ano de escolaridade e o nível de prática, podem representar níveis diferenciados de maturidade, de desenvolvimento intelectual e cultural, afectando a compreensão da informação fornecida pelos professor, pelo que se poderá considerar a sua possível influência sobre a capacidade de retenção. O presente estudo pretende analisar a retenção da informação, por parte dos alunos, da informação transmitida pelo professor, no decorrer de aulas de Educação Física, considerando a influência de variáveis relacionadas com as características dos alunos. Para o efeito pretende-se responder às seguintes questões: Qual o nível de retenção das informações transmitidas? Que factores ligados às características dos alunos (idade, género, nível de escolaridade, nível de prática) afectam a retenção? Estas questões parecem-nos, particularmente importantes do ponto de vista da intervenção profissional na medida em que podem auxiliar a definir estratégias de instrução, potenciado a compreensão por parte dos alunos, bem como a reflexão acerca do valor das informações transmitidas e dos processos comunicativos.

MATERIAL E MÉTODOS Sujeitos Foi observado um total de 53 sessões de Educação Física em 21 turmas, sendo 3 turmas de 8º ano, 6 turmas de 9º ano, 4 turmas de 10º ano, 6 turmas de 11º ano e 2 turmas de 12º ano de escolaridade, tendo-se observado 324 episódios instrucionais fornecidos pelos professores e analisadas as respostas dos alunos a esses episódios. Cento e sessenta e um alunos eram do género masculino e 163 do género feminino. No que diz respeito aos anos de escolaridade, o 8º ano apresentou 47 alunos, o 9º ano 117 alunos, o 10º ano apresentou 56 alunos, o 11º ano 86 alunos e o 12º ano 18 alunos. A idade dos alunos variou entre os 13 e os 19 anos. No que diz respeito ao nível de prática, 20 alunos apresentavam um nível fraco, 180 alunos apresentavam um nível médio e 121 apresentavam um bom nível de prática. Variáveis Neste estudo, considerámos, como variável dependente, a coerência da informação relatada pelo aluno, tendo considerado como variáveis independentes as seguintes variáveis caracterizadoras dos alunos: Idade, Género, Ano de escolaridade e Nível de prática. Procedimentos de recolha de dados As sessões foram gravadas, na íntegra, em registo vídeo e áudio, com destaque para as instruções do professor. Após cada episódio instrucional transmitido pelo professor, o aluno foi abordado pelo investigador e foi realizada uma entrevista constituída por duas questões (uma em que se pedia ao aluno para repetir o que o professor tinha dito sendo a outra uma pergunta de identificação. As respostas do aluno foram gravadas em registo áudio. Procedeuse, de seguida, à transposição para protocolo escrito de todas as intervenções dos professores e dos alunos, sendo essa informação submetida a análise de conteúdo lógico-semântica. As unidades de registo obtidas constituíram a base da análise da informação e da comparação entre a informação transmitida e a informação retida. Utilizámos uma técnica de análise de conteúdo, tendo a sua aplicação envolvido treino prévio de observação e codificação. Foi testada a fidelidade inter-codificador e intracodificador, após treino do sistema, com base na análise de sete sessões. A fidelidade intracodificador envolveu duas aplicações com o intervalo de dez dias. Para o cálculo da fidelidade inter-observadores recorreu-se a 2 codificadores que codificaram, de forma independente, a mesma informação. Utilizou-se a percentagem de acordos, considerando o valor mínimo de fidelidade de 85%. Os níveis de acordo foram 87% para a fidelidade inter-observador e de 89% para a fidelidade intra-observador. Análise de dados Os dados foram descritos, através do cálculo de frequências de resposta, das médias, do desvio-padrão e dos valores mínimos e máximos. Verificaram-se os requisitos de normalidade e homogeneidade das variâncias tendo-se utilizado os testes estatísticos comparativos Anova e Bonferroni. O nível de significância utilizado foi p 0.05.

RESULTADOS da informação O número de episódios de transmissão de informação em que os alunos apresentaram dificuldades em reproduzir as ideias do professor (em parte ou na totalidade), representou 68,3%, o que significa uma perda importante na recuperação de informação nestes momentos instrucionais. Apenas 31,7% dos alunos apresentou um valor de coerência de 100%, ou seja, relatou todas as ideias veiculadas pelo professor, tendo 22,8% dos alunos apresentado uma coerência de 50%. Em média, os valores de coerência foram de 62,5%. Este resultado da coerência de informação é muito semelhante ao encontrado por Rosado, Mesquita, Breia & Januário (2007) (62%). Todavia é superior ao encontrado por Quina (1993) (56,7%) e por Lima, Mesquita, Rosado & Januário (2007) (37,8%) e inferior ao de Marques da Costa (1991) ( 71% ) e Januário, Rosado e Mesquita (2006) (68,4%). A divergência dos resultados obtidos pode encontrar explicação no facto dos comportamentos dos professores serem de índole diferenciado. Enquanto que nuns estudos (Januário, Rosado e Mesquita,2006) as reacções dos alunos são relativas a comportamentos sociais do professor, nos outros os comportamentos são de âmbito técnico-táctico. da informação em função das características dos alunos Nos quadros seguintes estão patentes os valores médios e os níveis de significância para a comparação da coerência da informação, em função das características dos alunos. Tabela 1: Valores médios e nível de significância para a comparação da coerência da informação, em função do Género. Género n média Sig. Masculino 161 60,23 0,242 Feminino 163 64,72 Como se pode verificar pelo quadro anterior, o género feminino apresentou um valor médio de coerência de 64,7%, enquanto o género masculino apresentou um valor de 60,2%, diferença essa que, no entanto, não se revelou estatisticamente significativa. Do mesmo modo, os valores de coerência da informação, em função do ano de escolaridade, não apresentaram diferenças significativas, apresentando valores compreendidos entre os 56,68% e os 67,21%, como se pode constatar na tabela seguinte. Tabela 2: Valores médios e nível de significância para a comparação da coerência da informação, em função do Ano de Escolaridade. Ano n média Sig. 8º 47 65,83 9º 117 59,35 10º 56 56,68 0,228 11º 86 67,27 12º 18 62,31

A coerência do relato dos alunos dos episódios instrucionais transmitidos pelos professores, em função da idade dos alunos, apresentou valores médios entre os 66,21% e os 54,80%. As diferenças também não se revelaram estatisticamente significativas (sig.=0,950). Tabela 3: Valores médios e nível de significância para a comparação da coerência da informação, em função da idade dos alunos Idade n média Sig. 13 29 66,21 14 63 64,20 0,950 15 80 61,25 16 75 61,43 17 38 63,51 18 17 54,80»19 22 65,00 Por outro lado, os valores médios de coerência, em função do nível de prática dos alunos, variaram entre os 64,36% e os 58,65%, não sendo o nível de prática uma variável que influenciasse a coerência da informação relatada pelos alunos (Tabela 4). Tabela 4: Valores médios e nível de significância para a comparação da coerência da informação, em função do nível de Prática Nível de Prática n média Sig. Fraco 20 58,65 Médio 180 64,36 0,561 Bom 121 60,51 A análise da coerência da informação em função das características dos alunos evidenciou que não existem diferenças significativas para nenhuma das variáveis estudadas (género, idade, ano de escolaridade e nível de prática). Os resultados encontrados no presente trabalho acompanham a tendência já revelada em alguns trabalhos realizados anteriormente. No que se refere à idade os resultados apontam que esta variável não distingue a coerência da informação. Marques da Costa (1991) constatou que o nível de coerência não está relacionado com a variável idade e que as características dos alunos não desempenham um papel determinante na retenção da informação. Marques da Costa (1991) e Quina (1993) verificaram, também, que o género não apresentava diferenças significativas nos níveis de coerência da informação evocada. Rosado Mesquita, Breia & Januário (2007) e Lima, Mesquita, Rosado & Januário, N. (2007), em estudos desenvolvidos no contexto do Desporto Federado, referem que a idade não determinou uma diferenciação significativa, em relação à retenção de informação pelos atletas. Do mesmo modo, o nível da habilidade tem vindo a mostrar resultados contraditórios, enquanto factor diferenciador da coerência da informação. Rosado, Mesquita, Breia & Januário (2007) concluíram, ainda, que os relatos dos episódios instrucionais apresentavam diferenças significativas em função do nível de habilidade motora. Marques da Costa (1991) revela que o grau de coerência não está correlacionado com o nível de habilidade motora inicial. Também Januário, Rosado e Mesquita (2006) concluíram que a coerência da informação, relatada pelo aluno, não apresentava diferenças significativas, em função do nível

de prática. Neste âmbito a caracterização do nível de prática tem-se baseado na apreciação do professor. A sua identificação por medidas mais objectivas em referência ao conteúdo de ensino, e não em termos gerais tendo em conta a nota de Educação Física, pode mostrar um efeito diferenciador na coerência da informação, já que o nível de habilidade pode variar em função dos diferentes conteúdos. O género tem vindo a ser uma variável com algum poder diferenciador na coerência da informação, embora não tenha sido confirmado no presente estudo. Já Rosado, Mesquita, Breia & Januário (2007) referem que os atletas do sexo masculino perderam mais informação que os do género feminino. CONCLUSÕES Os objectivos da pesquisa realizada prenderam-se com o estudo do nível de coerência dos relatos dos alunos, acerca da informação prestada pelo professor, em aulas de Educação Física, em função de características como a idade, o género, o ano de escolaridade e o nível de prática. Na realidade, verificámos que os alunos não conseguiram relatar toda a informação que lhes foi dirigida nestes episódios instrucionais, existindo uma redução da informação transmitida. Não constatámos, por outro lado, a existência de diferenças significativas de retenção de informação em função de nenhuma das características dos alunos estudadas. Parece-nos necessário aprofundar, na continuação desta linha de investigação, os estudos que ultrapassem a simples análise da memorização ou reprodução da informação transmitida, pois são muito escassos os estudos sobre a compreensão dos alunos (e atletas) e sobre as variáveis contextuais e pessoais (cognitivas e sócio-afectivas) que as determinam. Na realidade importa destacar que a simples análise da retenção da informação não significa, necessariamente, que haja uma compreensão total das ideias transmitidas, podendo a coerência ser aparente. Importa, portanto, estudar a compreensão dessa informação. Parece-nos, ainda, aconselhável estudar os níveis de atenção dos alunos e associá-los à capacidade de retenção de informação, estudar a natureza da própria informação (extensão, densidade e carga emocional envolvida) e o seu impacto sobre a retenção, bem como as determinantes contextuais e instrucionais mais globais que possam afectar a retenção, a compreensão e a aceitação da informação. A análise dos diversos métodos instrucionais deverá, também, ser incluída em estudos futuros. Sugerimos, assim, a realização de estudos análogos, ampliando a dimensão da amostra, equacionando esta e outras variáveis, potencialmente mediadoras nos processos de retenção, compreensão e persuasão da informação instrucional. As conclusões do presente trabalho reafirmam, no entanto, a importância científica e prática de uma linha de investigação centrada nos processos de atenção, retenção e compreensão das mensagens instrucionais, identificando a importância de variáveis mediadoras e potenciadoras da eficácia pedagógica. REFERÊNCIAS Carreiro da Costa F. (1995). O Sucesso Pedagógico em Educação Física: Estudo das Condições e Factores de Ensino-Aprendizagem Associadas ao Êxito numa Unidade de Ensino. FMH. Serviço de Edições. Cloes, M., Moreau, A., & Piéron, M. (1990). Students Retention of Teacher s Feedback in Physical Education Sessions. In: Book of Abstracts of the AIESEP World

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