22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Documentos relacionados
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS - UFPEL CENTRO DE ENGENHARIAS - CENG DISCIPLINA: SISTEMAS URBANOS DE ÁGUA E ESGOTO

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE ENGENHARIA CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL HIDROLOGIA APLICADA

CARGAS DIFUSAS URBANAS DE POLUIÇÃO

Poluição Ambiental Nitrogênio e Fósforo. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

O meio aquático I. Bacia Hidrográfica 23/03/2017. Aula 3. Prof. Dr. Joaquin Bonnecarrère Garcia. Zona de erosão. Zona de deposição.

Ambientes de água doce. Esses se dividem em ambientes: -Lóticos: água corrente -Lênticos: água parada

O meio aquático I. Aula 3 Prof. Dr. Arisvaldo Méllo Prof. Dr. Joaquin B. Garcia

Ciências do Ambiente

CARACTERIZAÇÃO QUALITATIVA DO ESGOTO

Qualidade da Água em Rios e Lagos Urbanos

4.2 - Poluição por Nutrientes Eutrofização Aumento de nutrientes, tipicamente compostos contendo N e P, no ecossistema.

Saneamento Urbano TH419

Qualidade e Conservação Ambiental TH041

Título: Autores: Filiação: ( INTRODUÇÃO

Disciplina: Poluição do Solo Aterro Sanitário - Conceito e infraestrutura Métodos de disposição no solo

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária PHD 2537 Águas em Ambientes Urbanos POLUIÇÃO DIFUSA

Características Ecológicas dos Açudes (Reservatórios) do Semi-Árido

SANEAMENTO BÁSICO RURAL "SISTEMAS DE TRATAMENTO POR ZONA DE RAIZES (WETLANDS) PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS E EXEMPLOS DE SISTEMAS" Altair Rosa

PROCESSO DE TRATAMENTO

HIDROLOGIA E DRENAGEM

Medidas de Controle na Drenagem Urbana

II ESTRATIFICAÇÃO TÉRMICA EM LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO: INFLUÊNCIA DA SAZONALIDADE NO FENÔMENO

IPH Hidrologia II. Controle de cheias e Drenagem Urbana. Walter Collischonn

Homem Ambiente. HOMEM PRIMITIVO para sobreviver. As forças da natureza. Vegetais e animais HOMEM NÔMADE. Agricultura HOMEM SEDENTÁRIO

Água doce disponível: pequena parcela da água mundial:

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE DESCARGA PROFUNDA DE RESERVATÓRIOS NA OPERAÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE

SISTEMAS PÚBLICOS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO

CONCEITOS GERAIS E CONCEPÇÃO DE ETEs

Ciências do Ambiente

Saneamento I Tratamento de Esgotos

AVALIAÇÃO FÍSICA, QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DA QUALIDADE DA AGUA PARA FINS DE PISICULTURA

INTRODUÇÃO À QUALIDADE DAS ÁGUAS E AO TRATAMENTO DE ESGOTOS

Aula 4 O Meio Aquático II

2 - Sistema de Esgotamento Sanitário

11º ENTEC Encontro de Tecnologia: 16 de outubro a 30 de novembro de 2017

72ª. SOEA MÉTODOS ALTERNATIVOS DE DRENAGEM URBANA E APROVEITAMENTO DAS ÁGUAS DE CHUVA. Aparecido Vanderlei Festi

ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DE BRAGANÇA. TRABALHO PRÁTICO Nº 6 MEIO ABIÓTICO - I Sistemas Lênticos Parâmetros físico-químicos

Saneamento Ambiental I. Aula 20 O Sistema de Esgoto Sanitário

Esgoto Doméstico: Coleta e Transporte

II-173 A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO COMO ORIGEM DA POLUIÇÃO DOS CORPOS RECEPTORES: UM ESTUDO DE CASO.

Ciências do Ambiente

Saneamento I. João Karlos Locastro contato:

Construção e M anejo de Tanques em Piscicultura. Z ootec. M S c. Daniel M ontagner

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

Saneamento Ambiental I. Aula 22 O Sistema de Esgoto Sanitário: cálculo de vazões e dimensionamento

3.6 LEOPOLDINA Sistema Existente de Abastecimento de Água

PHA 3203 ENGENHARIA CIVIL E O MEIO AMBIENTE

Mananciais de Abastecimento. João Karlos Locastro contato:

SUMÁRIO 1. Considerações iniciais 2. Bacia do rio Macaé 3. Bacia do rio das Ostras 4. Bacia da lagoa de Imboacica 5.

Planejamento Territorial e Saneamento Integrado

Gerenciamento e Tratamento de Águas Residuárias - GTAR

Disciplina de Drenagem Urbana: Aula 2

Microbiologia do Ambiente. Sistemas aquáticos

RECUPERAÇÃO DE ECOSSISTEMAS LACUSTRES

O programa Aliança EcoÁgua Pantanal e sua contribuição para o Pacto em defesa das cabeceiras do Pantanal. Maitê Tambelini Ibraim Fantin da Cruz

Disciplina de Drenagem Urbana: Aula 1

Modelagem Matemática: macrófitas aquáticas & hidrodinâmica

URBANIZAÇÃO E DRENAGEM URNANA EM PORTO ALEGRE. Joel Avruch Goldenfum - IPH/UFRGS

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO DE NUTRIENTES, EM TRÊS SISTEMAS DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

MEIO FÍSICO. ÁREA DE INFLUÊNCIA Bacia de Drenagem para o Reservatório O rio Paranaíba

AULA 4 -Limnologia. Patricia M. P. Trindade Waterloo Pereira Filho

IMPACTOS AMBIENTAIS AOS -CANALIZAÇÕES E RETIFICAÇÕES-

TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS (LOB1225) G Aula 6 Níveis, operações e processos de tratamento de esgotos

XXVI CONGRESO INTERAMERICANO DE INGENIERIA SANITARIA Y AMBIENTAL. Lima, Peru - Novembro de 1998 INSERÇÃO AMBIENTAL DE BACIAS DE DETENÇÃO URBANAS

Ciências do Ambiente

Profa. Margarita Ma. Dueñas Orozco

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC CENTRO DE ECAÇÃO SUPERIOR DO ALTO VALE DO ITAJAÍ CEAVI PLANO DE ENSINO

QUALIDADE DAS ÁGUAS EM PARQUES AQUÍCOLAS. Dra. Rachel Magalhães Santeiro INCISA Instituto Superior de Ciências da Saúde

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE ÁGUA DE CORPO HÍDRICO E DE EFLUENTE TRATADO DE ABATEDOURO DE BOVINOS

Saneamento Ambiental I. Aula 25 Tratamento de Esgotos parte II

CONTROLE DA QUALIDADE DE EFLUENTES - CONAMA, LIMITES ESPECIFICADOS E CONTROLES ANALÍTICOS E INDICADORES DE CONTAMINAÇÃO: SITUAÇÃO ATUAL E TENDÊNCIAS

10 Lagoas de estabilização

disposição de resíduos, mesmo que tratados.

MONITORAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO BENFICA COM VISTAS À SUA PRESERVAÇÃO

The Brazilian- Italian Cooperation on sustainable urban water management

II BARREIRA DE CONTENÇÃO PARA ALGAS DO GENERO MICROCYSTIS SP. Pós-Graduação (Didática do Ensino Superior)- Faculdades São Judas Tadeu 1991

Capítulo 1 Conceitos básicos em Hidrologia Florestal. Introdução a Hidrologia de Florestas

Política de Combate a Inundações de Belo Horizonte. Prefeitura de Belo Horizonte

II PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTES DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO ATRAVÉS DE PROCESSOS FÍSICO-QUÍMICOS OBJETIVANDO REUSO

Pressão antropogénica sobre o ciclo da água

2.1. O CICLO HIDROLÓGICO: ALVO DOS ESTUDOS HIDROLÓGICOS

Diagnóstico da qualidade química das águas superficiais e subterrâneas do Campus Carreiros/FURG.

AVALIAÇÃO DA ÁGUA DO RESERVATÓRIO POÇÕES EM MONTEIRO/PB: USO PARA ABASTECIMENTO HUMANO E CONSTRUÇÃO CIVIL

SAAE Serviço autônomo de Água e Esgoto. Sistemas de Tratamento de Esgoto

Roteiro. Definição de termos e justificativa do estudo Estado da arte O que está sendo feito

O Meio Aquático II. Comportamento de lagos, Abastecimento, Tratamento, conservação e Reuso de água. Aula 4. PHD 2218 Introdução a Engenharia Ambiental

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

BIOLOGIA - 2 o ANO MÓDULO 28 BIOMAS AQUÁTICOS E BIOMAS TERRESTRES

Legislação. Princípios da Modelagem e Controle da Qualidade da Água Superficial Regina Kishi, Página 1

Microdrenagem nas grandes cidades: problemas e soluções

OUTORGA. Obtenção da Outorga De Direito de Uso de Recursos, Órgão Responsável pela emissão D.A.E.E. Decreto Nº de 31/10/96

TRATAMENTO DO EFLUENTES

Transcrição:

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina IV-013 QUALIDADE DA AGUA EM BACIAS DE RETENÇÃO URBANAS: UMA NOVA DEMANDA PARA A ENGENHARIA SANITARIA Eduardo von Sperling(1) Engenheiro Civil e Sanitarista, Doutor em Ecologia Aquática, Professor Titular do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais Endereço(1): Av. Contorno 842 - Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30110-160 - Brasil - Tel: (31)32381019 - e-mail: eduardo@desa.ufmg.br RESUMO O presente trabalho ressalta a importância ecológica das bacias de retenção urbanas, destacando-se suas funções ambiental, recreativa e paisagística. É apresentado um desenvolvimento histórico da implantação de bacias de retenção e um resumo dos principais aspectos construtivos e de operação e manutenção. É descrita a experiência do autor na avaliação da qualidade da água em cerca de 50 bacias de retenção francesas, cujos resultados podem ser parcialmente extrapolados para as condições brasileiras. PALAVRAS-CHAVE: Bacias de Retenção, Qualidade da Agua, Poluição Aquática Urbana INTRODUÇÃO As bacias de retenção constituem-se em estruturas construidas para recepção de águas de chuva e amortecimento de picos de cheia. Elas pertencem ao grupo das chamadas tecnologias alternativas para esgotamento de águas pluviais (BMP-Best Management Practices), dentre as quais podem ser citadas ainda as calçadas em estrutura de reservatório, os poços de absorção, as fossas e trincheiras, os tetos estocantes, as cisternas, as bacias subterrâneas e os banhados (Urbonas e Stahre, 1993, Nascimento e Baptista, 1998). As bacias de retenção são na verdade lagos artificiais, de pequenas dimensões, que atuam como controladores das vazões de escoamento em episódios de forte pluviometria.

Obviamente sua função é mais relevante em áreas urbanas, onde a alta taxa de impermeabilização do terreno leva à ocorrência de grandes vazões de escoamento superficial. Pressupõe-se ainda a existência de um sistema de esgotamento sanitário do tipo separador, como é corrente em nosso país. Devido ao fato destas bacias estarem inseridas em uma paisagem urbana, elas cumprem ainda um relevante papel de harmonia paisagística, podendo servir ta mbém como corpo d água de função recreativa. No contexto da Engenharia Sanitária as bacias de retenção formam assim uma nova área de atuação, considerando-se que a sua implantação, em uma escala mundial, só ocorreu a partir da década de 1970. No Brasil observa-se um crescente interesse na construção de bacias de retenção, que já são uma realidade em algumas cidades brasileiras. Usualmente tem-se dedicado maior atenção aos aspectos hidráulicos e construtivos destas bacias, negligenciando-se a questão da qualidade da água e da balneabilidade destes ambientes. A ênfase do trabalho está portanto dedicada à qualidade da água em bacias de retenção, o que constitui sem dúvida uma nova demanda para a Engenharia Sanitária. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO O uso de bacias de retenção urbanas está associado à necessidade de contenção de possíveis inundações em áreas impermeabilizadas, principalmente em regiões distantes de cursos d água receptores. É interessante destacar o conceito de que a água, além de essencial ao ser humano, também pode provocar muitos problemas. Por outro lado cabe também resgatar o papel histórico das inundações em culturas antigas, lembrando que elas constituem-se em um fenômeno natural, que tem como objetivo enriquecer com nutrientes as várzeas dos rios e possibilitar sua exploração agrícola. Neste contexto o exemplo atual mais marcante é o caso da Represa de Assuan, no Egito, cuja regularização de descarga acarretou uma catastrófica perda de fertilidade do solo nas margens do Rio Nilo. No século XIX predominou na Europa a chamada doutrina higienista, cujo princípio era o de evacuar as águas de chuva o mais rapidamente possível e o mais longe possível das residências, já que o escoamento superficial poderia trazer grandes quantidades de patogênicos. Em muitos países, incluindo-se aqui o Brasil, optou-se posteriormente pelo esgotamento sanitário do tipo separador, ou seja, água pluvial e esgotos sendo transportados em canalizações distintas. Após a 2. Guerra Mundial ocorreu na Europa a construção de novas cidades, com a ocupação de planícies que não estavam próximas de corpos receptores naturais, tais como os rios. Este fato motivou a implantação das primeiras bacias de retenção na França, Holanda e Alemanha. No entanto somente a partir da década de 1970 consolidou-se na Europa e EUA o seu uso como uma técnica alternativa para esgotamento de águas pluviais. Contribuiu para tanto a idéia de introduzir a natureza no contexto urbano, conforme a sensibilidade ambiental que começava a aflorar. Além disso havia o critério econômico, já que a construção de bacias de detenção, a par de valorizar os terrenos vizinhos, podia ser escalonada e apresentava custos sensivelmente inferiores àqueles exigidos para a implantação de grandes emissários. No Brasil a implantação de bacias de retenção urbanas teve seu início a partir da década de 1990, muito embora existam exemplos de lagos artificiais urbanos mais antigos, que também preenchiam tal finalidade, como é o caso da conhecida Represa da Pampulha em Belo Horizonte.

ASPECTOS HIDRAULICOS E CONSTRUTIVOS, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO Os principais aspectos hidráulicos e construtivos das bacias de retenção devem ser contemplados ainda na fase de projeto, destacando-se por exemplo a adequada conformação das margens, com menores declividades na região inicial do terreno, as possibilidades de acesso, a instalação de pontes e passarelas e a determinação da profundidade de segurança para eventuais atividades recreativas. Considera-se ainda que a profundidade deva ser rasa o suficiente para evitar riscos de estratificação térmica (que pode conduzir à anaerobiose das camadas de fundo) mas ao mesmo tempo profunda para minimizar a ocorrência de florações de algas. Além disso existem diversas estruturas hidráulicas associadas às bacias de retenção, como gradeamento, desarenadores, decantadores, dissipadores de energia, vertedores, equipamentos de controle de nível e tubulações de saída. Quanto à operação e manutenção destaca-se a possibilidade de uso de aeradores (fontes, repuxos) para melhorar a presença de oxigênio dissolvido e diminuir florações de algas. Muito embora a vegetação no entorno do lago desempenhe um importante papel ecológico, recomenda-se a sua remoção periódica, por via manual ou mecânica. A dragagem ou o esvaziamento da bacia de retenção pode ser empregado como medida curativa para combate ao assoreamento. ESTUDO DE CASO : BACIAS DE RETENÇÃO FRANCESAS No curso do ano de 2002 o autor deste trabalho técnico teve a oportunidade de avaliar a qualidade da água em cerca de 50 bacias de retenção francesas, como atividade principal de seu estágio pós-doutoral. As referidas bacias de retenção estão todas situadas na província de Ile-de-France, portanto próximas à capital do país, sendo que algumas foram implantadas na década de 1970,ou seja, no início da utilização mundial destas estruturas. As bacias de retenção avaliadas apresentam áreas entre 0,2 e 27 ha, sendo 70 % delas inferiores a 3 ha, 50 % inferiores a 2 ha e apenas 8 % acima de 10 ha. A profundidade máxima varia de 0,6 a 6 m. A maior parte das bacias é rasa, com 75 % delas apresentando profundidades inferiores a 2 m e 95 % abaixo de 3 m, ao passo que apenas 5 % são mais profundas que 3 m. As bacias de retenção foram monitoradas sistematicamente desde 1996, com uma frequência trimestral de coletas. Somente para os parâmetros físico-químicos existem cerca de 13.000 dados, cujo resumo consolidado é apresentado a seguir. Temperatura : sujeita às variações sazonais, com a obtenção de fortes estratificações térmicas na época de verão. ph : variando entre 6,2 e 10,8, com valores mais elevados na superfície, em decorrência da atividade fotossintética das algas e consequente absorção de ácido carbônico. A obtenção

de valores alcalinos é desejável para evitar a solubilização do fósforo estocado no fundo das bacias de retenção. Transparência : oscilando entre 12 e 200 cm, com reflexos sobre a produção primária dos organismos autotróficos. Turbidez : situada na ampla faixa de 2 a 190 UNT, apresentando variações associadas à pluviometria local. Oxigênio dissolvido : variando de 0 (camadas de fundo) a 139 % (camadas superficiais) de saturação. A ocorrência de supersaturações ocasionou prejuizos aos peixes (embolia) a ao zooplâncton (pequenos orifícios colmatados com microbolhas de O2). Conforme a Figura 1, que relaciona a área das bacias com os teores de oxigênio dissolvido nas camadas superiores, constata-se que, além de uma certo tamanho do ambiente lêntico (em torno de 2 ha), existe uma tendência à homogeinização nas concentrações superficiais de oxigênio dissolvido. Fig. 1: Relação entre OD e área Nitrogênio amoniacal : oscilou entre 0,08 e 3,5 mg/l. Cloretos : na faixa de 3 a 175 mg/l. Observa-se a ocorrência de riscos para os peixes acima de 50 mg/l. Condutividade : entre 130 e 1550 m S/cm, com os valores mais elevados sendo registrados na época de inverno, devido à utilização de sal para degelo das vias públicas. Fosfato : entre 0,05 e 2 mg/l ; Ortofosfato entre 0,015 e 1,5 mg/l. Quanto à Hidrobiologia registrou-se a presença de uma razoável diversidade algal (clorofíceas, diatomáceas, euglenofíceas e cianofíceas) e de uma comunidade zooplanctônica típica de pequenos ambientes lênticos, formada por microcrustáceos, rotíferos e protozoários. Constata-se, por meio da avaliação dos resultados disponíveis, que os principais fenômenos poluidores de bacias de retenção são o assoreamento (material mineral oriundo do canteiro de obras e matéria orgânica proveniente do próprio metabolismo aquático), a contaminação (devida a ligações clandestinas, lavagem da atmosfera, escoamento superficial), a eutrofização e a salinização (sobretudo na época de inverno). Os processos intervenientes que possibilitam a atuação depuradora das bacias de retenção são o efeito de diluição, a sedimentação de partículas, a decomposição da matéria orgânica pelas bactérias, a redução de patógenos, a assimilação de nutrientes por algas e macrófitas e a oxigenação da água em decorrência da fotossíntese.

CONCLUSÕES O estudo de bacias de retenção constitui-se efetivamente em um novo desafio para a Engenharia Sanitária, considerando-se principalmente a perspectiva de uma ampla disseminação dessas estruturas urbanas em nosso país. O conhecimento do funcionamento hidrológico das bacias de retenção pode ser avaliado como satisfatório, já que existem diversas publicações recentes abordando os aspectos de dimensionamento, construção e operação desses ambientes aquáticos. No entanto conhece-se muito pouco o seu funcionamento ecológico, fator este que é determinante para a adequada avaliação dos usos aos quais estes ambientes podem ser destinados. Em escala internacional é muito restrita a quantidade de artigos técnicos e relatórios que abordam esse assunto. A par do fundamental papel de inserção da natureza dentro de um contexto urbano, tais lagos artificiais podem prestar-se a outros usos, tais como recreação de contato primário e, principalmente, de contato secundário. Constata-se portanto a necessidade do desenvolvimento de amplos estudos de qualidade da água em bacias de retenção, sendo que o presente trabalho propõese a atingir este objetivo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS URBONAS, B. e STAHRE, P. Best Management Practices and Detention for Water Quality, Drainage and CSO Management, PTR Prentice Hall, 449 p., 1993 NASCIMENTO, N.O. e BAPTISTA, M.B. Contribuição para um enfoque ampliado do uso de bacias de detenção em áreas urbanas. In: Drenagem Urbana, Gerenciamento, Simulação e Controle. Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 1998.