EFICIÊNCIA DE ARMADILHAS À BASE DE FEROMÔNIO SEXUAL GOSSYPLURE E INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA CAPTURA DE MACHOS DE Pectinophora gossypiella NA CULTURA DO ALGODOEIRO Elmo P. de Melo (UFMS), Rodrigo F. Nogueira (UFMS), Rafael M. A. Cessa (UFMS), Manoel C. Gonçalves (UFMS), Paulo E. Degrande (UFMS / degrande@ceud.ufms.br). RESUMO - Este estudo foi conduzido na safra de algodão 2002/03, em Dourados, MS, objetivando avaliar a eficiência das armadilhas Delta e Pet, e a influência da variação de temperatura na captura de machos de Pectinophora gossypiella a campo. A armadilha Delta foi significativamente mais eficiente que o modelo Pet. As maiores médias de captura foram observadas quando a temperatura média foi superior a 20 C. Palavras-chave: armadilha delta, lagarta-rosada, amostragem EFFICIENCY OF GOSSYPLURE PHEROMONE TRAPS AND INFLUENCE OF TEMPERATURE IN THE MALES CAPTURE OF Pectinophora gossypiella ON COTTON ABSTRACT - This study was carried out during the cotton season 2002/03 in Dourados, MS, to evaluate the efficiency of Delta and Pet traps and the influence of temperature in males capture of Pectinophora gossypiella in field. The Delta trap was significantly more efficient than Pet and the higher average captures were observed when the temperature was above 20 C. Key words: delta trap, pink bollworm, sampling INTRODUÇÃO Em muitos países produtores de algodão, incluindo o Brasil, a lagarta-rosada Pectinophora gossypiella (SAUNDERS, 1844) (Lepidoptera: Gelechiidae) é considerada uma das pragas mais importantes do algodoeiro (FERNANDES 1998) e as armadilhas com feromônio sexual podem fornecer uma estimativa do início e fim da emergência, atividade de vôo e migração dos machos (RIEDL et al. 1976). Em Israel, P. gossypiella tem sido monitorada por meio de armadilhas de feromônio sexual à base de gossyplure desde 1975, o que permitiu a redução das aplicações de inseticidas, anteriormente entre 10 e 15, para um máximo de duas por safra (BOARETO e BRANDÃO 2003). No sul da Califórnia, os inseticidas não são aplicados para o controle da lagarta-rosada antes que as armadilhas de feromônio capturem de 12 a 15 mariposas por armadilha na fase inicial e intermediária do ciclo do algodão ou 3,5 a 4 mariposas por armadilha na fase mais tardia da cultura (AGLEARN, 2004). No Brasil, o nível de controle usualmente adotado é de cinco mariposas capturadas por noite (DEGRANDE, 1998). Recentemente, no Arizona e Texas (EUA), iniciou se um programa de erradicação da praga através de um sistema ordenado que utiliza o gossyplure em armadilhas e confusão de machos, algodão-bt, destruição de soqueiras, calendário de plantio restrito, inseticidas e machos-estéreis, alcançando resultados iniciais satisfatórios. O sucesso do uso de armadilhas à base de feromônio está relacionado a fatores intrínsecos ao feromônio, como o número de seus componentes e suas proporções, sua pureza, estabilidade e taxa
de liberação; fatores extrínsecos como o modelo, altura e localização da armadilha; e fatores ambientais como temperatura e umidade, entre outros (HOWSE et al. 1998, VILELA e DELLA LUCIA 2001). O presente estudo teve como objetivos avaliar a eficiência dos modelos de armadilhas Delta e Pet e a influência da temperatura ambiente na captura de adultos de P. gossypiella na cultura do algodoeiro. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida no município de Dourados, MS, nas dependências do Núcleo de Ciências Agrárias (NCA) da UFMS, durante a safra 2002/2003. O experimento foi implantado, dia 29/04/2003 e conduzido até o dia 03/06/2003, perfazendo um total de 35 (trinta e cinco) avaliações, em uma área cultivada com algodão de aproximadamente dois hectares. Durante todo ciclo da cultura não foram efetuadas aplicações de inseticidas químicos, exceto para o controle do desfolhador Alabama argillacea que foi controlada com Dipel SC. Os tratamentos foram representados por dois modelos de armadilhas para a captura de mariposas de P. gossypiella, sendo elas: 1) Delta: modelo comercial (fabricado pela Biocontrole Métodos de Controle de Pragas Ltda.), que tem forma triangular e na sua base é colocado um piso adesivo que permite a captura das mariposas ; 2) Pet: confeccionado com garrafa plástica (polietileno teriftalto) transparente, com capacidade de 2 litros, na qual foram feitos 4 orifícios simétricos com 2 cm de diâmetro, a uma altura de 17 cm em relação à base, para permitir a entrada das mariposas atraídas. Para atração dos adultos, foi instalado um septo com feromônio ( gossyplure a 0,14 % m/m - BioPectinophora ) por armadilha, trocado a cada 30 dias. No modelo Pet o septo de feromônio foi colocado internamente na altura dos orifícios, enquanto que na armadilha Delta foi pendurado na parte superior interna da armadilha. Para evitar a fuga das mariposas capturadas, nas armadilhas Pet foram colocados aproximadamente 800 ml de água com algumas gotas de detergente neutro, para quebrar a tensão superficial da água e causar o afogamento dos insetos e na armadilha Delta havia uma base adesiva. As armadilhas foram instaladas a uma distância de 80 m uma da outra, ficando suspensas em suportes de madeira e presas com auxílio de um arame, a uma altura de aproximadamente 20 cm acima da altura das plantas. Estes suportes tinham um formato de L invertido, tendo a parte maior um comprimento de 2,10 m e a menor de 0,5 m. As amostragens foram realizadas diariamente, nas quais os insetos foram retirados e contados, e a cada três dias foi realizado rodízio na posição das armadilhas, para minimizar a interferência das correntes de ar. Os dados meteorológicos foram obtidos na estação climatológica localizada no NCA da UFMS, localizado aproximadamente 450 m do campo experimental. A análise estatística foi realizada através de comparação de grupos sorteados, pois foram utilizados dois tratamentos e pelo fato de ter sido efetuado o rodízio das armadilhas. As médias foram comparadas pelo teste t a 5% de significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os resultados (Tab. 1), observou-se que a armadilha modelo Delta apresentou uma média de captura estatisticamente superior ao modelo Pet. Esta superioridade na captura, por parte da armadilha Delta, pode ser observada tanto na maior média de captura ocorrida no dia 1/5/2003, como na menor observada no dia 9/5/2003 (Fig. 1). Estes resultados diferem de Busoli (1993), em que o autor relatou o modelo Delta como o modelo menos eficiente para captura de P. gossypiella, quando comparado aos modelos Pherocom 1C e Pet, as avaliações foram realizadas semanalmente. Em contraposição, Barros et al (2004), trabalhando com o mesmo inseto, relataram a maior eficiência do modelo Delta em relação ao modelo Pet, quando os autores fizeram coletas diariamente. Na presente pesquisa foi observado que a armadilha adesiva pode tornar-se saturada (mariposas cobrindo toda a superfície com o adesivo). Sendo assim, dependendo da densidade populacional de mariposas e do intervalo entre avaliações, principalmente no que se refere aos modelos adesivos que perde sua eficiência pela saturação com mariposas capturadas ou até mesmo pelo excesso de poeira, o resultado poderá ser diferenciado, o que explica alguma discordância de resultados na literatura. Por exemplo, Tingle e Mitchell (1979) testando diferentes modelos de armadilhas na captura de adultos de Spodoptera frugiperda, observaram que as capturas nas armadilhas adesivas eram influenciadas pelo nível populacional da mariposa, pela captura de insetos não alvo e pela adesão de poeira aos pisos adesivos, isto também foi relatado por Mitchell (1979). Tabela 1.Média diária de mariposas capturadas em 5 armadilhas durante 35 dias, em área sob cultivo de algodão, Dourados, MS, 2003. Tratamentos Média(*) Delta 41,21a Pet 26,34b * Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste t, P=0,05. Na Figura 1 estão representadas as médias de capturas e as temperaturas médias durante o período do experimento. Notou-se que há uma relação entre a média de mariposas de P. gossypiella capturadas e a temperatura, onde as maiores médias de captura ocorreram quando a temperatura estava acima dos 20ºC, como pode ser observado nos períodos de 30/4 a 1/5, entre 15 e 20/5 e 1 e 2/6. Por outro lado, nos dias 8 e 9/5 ocorreram as menores temperaturas e também as menores média de captura (Fig. 1). Fernandes (1988) também observou uma relação entre captura e temperatura, o autor sugere ainda que a temperatura mais favorável para o acasalamento para esta espécie estaria próxima aos 26 C.
Delta Pet temp 120 30 Méd. de marip. capt. 100 80 60 40 20 0 30/4/03 1/5/03 2/5/03 3/5/03 4/5/03 5/5/03 6/5/03 7/5/03 8/5/03 9/5/03 10/5/03 11/5/03 12/5/03 13/5/03 14/5/03 15/5/03 16/5/03 17/5/03 18/5/03 19/5/03 Data 20/5/03 21/5/03 22/5/03 23/5/03 24/5/03 25/5/03 26/5/03 27/5/03 28/5/03 29/5/03 30/5/03 31/5/03 1/6/03 2/6/03 3/6/03 Figura 1. Média de mariposas capturadas nas diferentes armadilhas e a relação com a temperatura média, Dourados, MS, (2003). 25 20 15 10 5 0 Temp. ( C) CONCLUSÕES 1. Nas condições estudas observou-se que a armadilha modelo Delta foi mais eficiente na captura de P. gossypiella que o modelo Pet; 2. A coleta de mariposas nas armadilhas foi influenciada pela temperatura, sendo as maiores capturas observadas nas temperaturas superiores a 20 C.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGLEARN Network for Sustainable Agriculture. Pest Reference. Bangkok: Crop Life Ásia, 2004. Disponível em http://www.aglearn.net/resources/cottipm/pestref.pdf acesso em 27 de mai 2005. BARROS, R., NOGUEIRA, R. F.; RIBEIRO, J. F.; SANCHES, G. A.; OLIVEIRA; F. M.; DEGRANDE, P. E. Armadilhamento e comportamento sexual circadiano de adultos de Pectinophora gossypiella. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 4, 2003, Goiânia. Anais... Campina Grande: Embrapa CNPA, 2003. CD ROM. BOARETTO, M. A. C; BRANDÃO, A. L. S. Utilização de feromônios no controle de pragas. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 2003. Disponível em: <http://www.uesb.br/entomologia/ferom.html>. Acesso em: 20 de jul 2003. BUSOLI, A. C. Atratividade de feromônios e tipos de armadilhas para a captura de Pectinophora gossypiella (Saund.) (Lepidoptera: Gelechiidae). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 22, n. 3, p. 421-425. 1993. DEGRANDE, P. E. Guia prático de controle de pragas do algodoeiro. Dourados: UFMS, 1998. 60 p. FERNANDES, W. D. Atividade sexual circadiana de Pectinophora gossypiella (Sauders, 1843) (Lepidoptera: Gelechiidae). Revista Científica e Cultural, v. 3, p. 21-25, 1988. HOWSE, P. E.; JONES, O. T.; STEVENS, I. D. R. Insect pheromones and their use in pest management. London: Chapman & Hall, 1998.369 p. MITCHELL, E. R. Monitoring adult populations of the fall armyworm. Florida Entomologist, v. 62, p. 91-97, 1979. RIEDL, H.; CROFT, R. A.; HOWITT, A. J. Forecasting codling moth phenology base don pheromone trap catches and physiological time models. Canadian Entomol., v. 108, p. 449-460, 1976. TINGLE, F. C.; MITCHELL, E. R. Spodoptera frugiperda: Factors Affecting Pheromone Trap Catches in Corn and Peanuts. Environmental Entomology, v. 8, p. 989-992. 1979. VILELA, E. F.; DELLA LUCIA, T. M. C. Feromônios de insetos: biologia, química e emprego no manejo de pragas. Viçosa: UFV, 2001. 206 p.