Níveis de infestação e controle de Spodoptera frugiperda (Lepdoptera: Noctuidae) no município de Cassilândia/MS

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1 Níveis de infestação e controle de Spodoptera frugiperda (Lepdoptera: Noctuidae) no município de Cassilândia/MS Stefanie A. Moreira¹, Alexandre M. Cardoso² e Gustavo H. C. Vieira³ Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, MS 306, KM 6,4, CEP: , Cassilândia/MS. ¹stefaniemoreira@hotmail.com.br, ²dralexandre.cardoso@hotmail.com, ³gcv@uems.br Revisão Bibliográfica O milho representa um dos principais cereais cultivados em todo o mundo, fornecendo produtos largamente utilizados para a alimentação humana, animal e matéria prima para a indústria, principalmente em função da quantidade e da natureza das reservas acumuladas nos grãos (Fancelli e Neto, 2000). No Brasil a principal praga desta cultura é a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae), cuja ocorrência se estende por todas as regiões produtoras, tanto nos cultivos de verão como nos de segunda safra ("safrinha"). O inseto, cuja incidência tem se intensificado nos últimos anos, é encontrado atacando as plantas desde sua emergência até a formação das espigas (Cruz, 1999). Assim, a praga prejudica o desenvolvimento das plantas e reduz a massa das espigas. Vários fatores podem ser levantados para explicar os danos crescentes da praga, dentre eles pode-se destacar o uso incorreto de produtos químicos que favorecem o desenvolvimento de populações resistentes, ou ainda a diminuição sensível da diversidade de agentes de controle biológico, em conseqüência do mau uso dos agrotóxicos (Cruz, 1995). Além destes fatores deve-se ressaltar ainda o impacto causado pelo cultivo do milho "safrinha", que oferece condições para a permanência da praga nas áreas de cultivo praticamente durante todo ano, muitas vezes levando a um replantio (Farias et al., 2001). Atualmente o método de controle mais usado no combate a esta praga é o químico. Entretanto, o elevado custo dos inseticidas associado ao seu efeito poluidor, tem despertado o interesse por medidas alternativas, como o uso de controle biológico (Palomino 1965). Neste contexto o manejo integrado de pragas (MIP) vem ganhando espaço, cuja estratégia seria o uso racional de produtos químicos e biológicos, com vistas a minimizar ao máximo os danos causados ao ambiente, favorecendo assim a manutenção dos inimigos naturais. No caso do milho, alguns autores afirmam que a densidade do predador nas plantas em torno de 70% é suficiente para manter a praga abaixo do nível de dano econômico, sendo desnecessário o uso de controle químico (Guerreiro et al., 2003). Considerando a importância do milho como fonte de renda para o país, assim como os prejuízos causados a esta cultura pela sua principal praga, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de determinar os níveis de incidência da praga, assim como a estratégia de controle que melhor se enquadra nas condições locais. Material e Métodos Os estudos foram conduzidos em uma área de 5000 m², localizada no campus da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Cassilândia/MS (19 o S; 51 o W 470 m de altitude). 543

2 Na área objeto de estudos cultivou-se o milho safrinha, variedade Bona Gold. O plantio, realizado em março/2010, estabelecido com espaçamento de 0,20m entre plantas e 1m entre linhas. A determinação dos índices de infestação de Spodoptera frugiperda foi realizada conforme Cardoso (2004). O método consistiu no estabelecimento de 30 pontos ao acaso no interior da cultura, eqüidistantes 15 metros. Em cada ponto foram tomadas 10 plantas, sendo avaliadas duas vezes/semana. Foi observada a presença de massa de ovos, inimigos naturais, ocorrência de lagartas pequenas ( 0,5cm), médias (0,5 a 1,5 cm) e grandes (>1,5 cm) e níveis de injúria. Este último foi determinado através da avaliação visual, seguindo a metodologia proposta por Carvalho (1970) modificada por Cardoso (2004), sendo, numa escala de 0 a 5, considerado: 0 (folha sem injúria), 1 (folhas com epiderme e parênquima foliar consumido), 2 (folhas com pequenos furos), 3 (folhas com furos grandes e/ou rasgadas), 4 (folha bandeira) e 5 (cartucho destruído). O tratamento testado compreendeu o uso do inseticida Lannater BR. dose*0,6l/ha ou 129 g/ha do ingrediente ativo. A aplicação, feita quando os níveis da praga atingiram a proporção de 1 lagarta/planta, realizada através da pulverização em jato dirigido na linha de semeadura, com o bico leque e 5L/Ha -1 de calda. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com dois tratamentos e dez repetições, constituído o grupo testemunha (sem aplicação) e grupo controle (aplicação de inseticida aos 60 dias DAE). Todos os dados foram avaliados por meio da análise de variância pelo teste F. Quando o valor de F foi significativo ao nível de 5 % de probabilidade, aplicou-se o teste de Tukey para comparação das médias. Foi utilizado o programa SANEST, Sistema de Análise Estatística (Zonta e Machado, 1986). Os dados foram transformados segudno Log (X+100) para fins estatísticos. Resultados e Discussão Diferentemente do que foi relatado em vários trabalhos (e.g. Cardoso 2004, Ceccon et al. 2004) os níveis de abundância na praga permaneceram baixos por mais de 50 dias do plantio (Figura 1). Foram encontradas massas de ovos em aproximadamente 5% das plantas amostradas. Lagartas pequenas, médias e grandes também apresentaram baixas densidades. Devido às baixas densidades da praga, realizou-se a primeira aplicação aos 60 dias após o 1º plantio, aplicou-se o inseticida no mesmo dia em milhos com idade de 21 dias quando constatou-se a proporção de 1 lagarta/planta, e o outro com folhas e parênquima foliar consumido. Segundo Cardoso (2004) as primeiras gerações do inseto ocorrem nos estágios iniciais de desenvolvimento da cultura, quando os adultos, remanescentes de cultivos anteriores ou de outras plantas hospedeiras, se estabelecem e iniciam a oviposição. A presença tardia da praga observada neste trabalho se deve, provavelmente, ao fato da região não apresentar tradição no cultivo do milho, sugerindo que a região não apresenta características favoráveis ao desenvolvimento/manutenção da praga. Esta afirmação ganha consistência ainda maior, considerando-se que o período de maior incidência da praga é quando as plantas apresentam de 4 a 6 folhas (Morril e Grenne, 1973). 544

3 1,2 1 Nº. indivíduos/planta 0,8 0,6 0,4 0, Tempo (dias) Figura 1. Níveis de abundância de Spodoptera frugiperda em milho cultivado no município de Cassilândia/MS, Com relação ao nível de injúria, constatou-se através da avaliação visual que as plantas com 60 dias após o plantio se encontravam no estágio 2, enquanto que as plantas com 21 dias estavam no estágio 1. Com relação à eficiência do inseticida, constatou-se após 72 h da aplicação que cerca de 90% das plantas estavam livres das lagartas. As parcelas tratadas com o inseticida diferiram estatisticamente do grupo controle (Figura 2). 10 a 9 Nº de Lagartas CV=0,179 DMS= 0,00431 b 0 Testemunha inseticida Figura 2. Níveis de infestação de Spodoptera frugiperda após controle realizado com inseticida Lannater BR. Cassilândia/MS, *Médias seguidas de letras diferentes diferem estatisticamente entre sí a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. Conclusão 545

4 O inseticida Lannater BR na dosagem recomendada apresentou eficiência no controle da lagarta-do-cartucho. Referências ALMEIDA, P.R., CAVALCANTE, R.D., SORDI, G. de. Ensaio com inseticidas modernos no combate à lagarta do cartucho Laphygma frugiperda (Smith & Abbot, 1797) e técnica de aplicação. O Biológico, São Paulo, v. 30, n. 5, p , CARDOSO, A.M. Manejo de Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) Lepdoptera: Noctuidae em milho Zea mays, L.: bases para avaliação populacional e controle biológico utilizando o parasitóide de ovos Trichograma atopovirilia Oatman e Platner, 1983 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) Tese de Doutorado, USP/Ribeirão Preto p. CRUZ, I., A Lagarta do cartucho: enfrente o principal inimigo do milho. In: Revista Cultivar. n O 21, 68p, CRUZ, I Manejo Integrado de pragas de milho com ênfase para o controle biológico, p In A.B. Filho (coord.), Anais do IV Ciclo de Palestras sobre Controle Biológico de Pragas, Campinas, 18 a 20 de julho de 1995, 203p CRUZ, C., TURPIN, F.T. Efeito da Spodoptera frugiperda em diferentes estádios de crescimento da cultura do milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 17, n. 3, p , FANCELLI, L.A., NETO, D. D. Produção de Milho Guaíba: Agropecuária, p. FARIAS, P.R.S., J.C. BARBOSA & A.C. BUSOLI Amostragem seqüencial (presençaausência) para Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) na cultura do milho. Neotrop. Entomol. 30: FERNANDES, M.G., A.C. BUSOLI & J.C. BARBOSA Distribuição espacial de Alabama argillacea (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) em algodoeiro. Neotrop. Entomol. 32: GUERREIRO, J. C., BERTI F., E., BUSOLI, A. C. Ocorrência estacional de Doru luteipes na cultura do milho em São Paulo, Brasil. Manejo Integrado de Plagas y Agroecología, Costa Rica, v. 70, p , PALOMINO, C. J Investigaciones sobre el control biologico del cogollero Del maiz, Spodopterafrugiperda (Smith) y otros noctuideos. Rev. Peru. Ent. 8: REIS, L.L., L.J. OLIVEIRA & I. CRUZ Biologia e potencial de Doru luteipes no controle de Spodoptera frugiperda. Pesq. Agropec. Bras. 23: SILVA, A.G.d'A., GONÇALVES, C.R., GALVÃO, O.M. et al. Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas cultivadas do Brasil; seus parasitos e predadores. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, v. 1, pt. 2, 622p. 546

5 ZONTA, E. P.; MACHADO, A. A. Sistema de análise estatística para microcomputadores - SANEST. Pelotas: UFPel-Instituto de Física e matemática, p. 547