EFEITO DA TEMPERATURA E CONCENTRAÇÃO DE NITROGÊNIO SOBRE A COMPOSIÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE Heterochlorella luteoviridis

Documentos relacionados
INCORPORAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS ÔMEGA-3 EM TILÁPIAS DO NILO (Oreochromis niloticus)

25 a 28 de Outubro de 2011 ISBN

Informe Técnico n. 56, de 6 de fevereiro de 2014.

COMPOSIÇÃO QUÍMICA E PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DO ÓLEO DE CHIA ENCAPSULADOS E NÃO ENCAPSULADOS

AVALIAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FRAÇÃO LIPÍDICA DE MANTEIGAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

DHA VEGETAL PÓ. Ômega 3 de fonte vegetariana

O papel do Comité Técnico de Normalização Europeia CEN/TC 387 na construção das bases de dados de composição de alimentos

Gordura do leite e doenças cardiovasculares: reconstruindo a história sob a luz da ciência

Perguntas & Respostas ABIA sobre gorduras trans

COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS EM BIJUPIRÁS (Rachycentron canadum) ADULTOS SELVAGENS

Lipídios. Dra. Aline Marcellini

Relación entre la grasa de la leche y las enfermedades cardiovasculares:

Os lipídios são substâncias com estrutura variada sendo muito abundantes em animais e vegetais;

ANÁLISE COMPARATIVA DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DE SARDINHAS ENLATADAS EM ÓLEO COMESTÍVEL, MOLHO DE TOMATE E AO NATURAL 1

Gorduras, Alimentos de Soja e Saúde do Coração Análise das Evidências

Valor nutricional da carne

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1066

O ÔMEGA- 3 E A CARNE BOVINA: UMA REVISÃO

Fish Oil. Attitude. Por Trás Dessa Atitude Há Muito Cuidado Pela Vida. Referências bibliográficas

Funções dos lípidos:

MODULAÇÃO DA INFLAMAÇÃO POR ÔMEGA-3/6

DIABETES MELLITUS E RESISTÊNCIA À INSULINA

COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE CULTIVARES COMERCIAIS DE SORGO PARA USO NA ALIMENTAÇÃO HUMANA

Características dos Ovos

WORKSHOP PARTICULARIDADES NA DOENÇA RENAL CRÔNICA EM GATOS ADULTOS X IDOSOS

ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA NA CARACTERIZAÇÃO DE CARBONO HIDROTÉRMICO

COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS DIABÉTICOS DE FLORIANÓPOLIS - SC

SISTEMA INTEGRADO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES URBANOS COM MICROALGAS E WETLANDS CONSTRUÍDOS

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DE HAMBÚRGUERES COM ADIÇÃO DE FIBRAS ALIMENTARES 1

Comparação do Desempenho Ambiental de Duas Rotas de Produção de Óleo de Microalgas

ESTUDO COMPARATIVO DA INFLUÊNCIA DO ANTIOXIDANTE NA ESTABILIDADE OXIDATIVA DO BIODIESEL POR TERMOGRAVIMETRIA E PETROOXY

Manual de Rotulagem de Alimentos

Ômega 3: a gordura aliada do cérebro e do coração

USO DE ÓLEOS E GORDURAS NAS RAÇÕES

BIOETANOL, BIODIESEL E BIOCOMBUSTÍVEIS: PERSPECTIVAS PARA O FUTURO*

VALOR NUTRICIONAL DAS COMIDAS TÍPICAS COMERCIALIZADAS NAS RUAS DA CIDADE DE BELÉM, PARÁ

Diferentemente dos adultos, os atletas jovens necessitam de um aporte energético e de nutrientes para dois objetivos: Crescimento e desenvolvimento.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO ADUBAÇÃO

LITERATURA ÔMEGA 3 ÔMEGA 3

3ªsérie B I O L O G I A

VALOR NUTRITIVO DA CARNE

O QUE SÃO SUBSTÂNCIAS INORGÂNICAS? QUAL A FUNÇÃO BIOLÓGICA DE CADA UMA?

Nutrientes. Manutenção/funcionamento do organismo. Alimentos. Energia

A base molecular da vida Constituintes da matéria-viva

PROGRAMA DE ANÁLISE DE PRODUTOS

QUANTIFICAÇÃO DO TEOR DE ÁCIDO LINOLÉICO CONJUGADO (CLA) EM IOGURTE

ÓLEO DE CHIA REGISTRO:

A cidos Graxos Ômegas e Doenc as Cardiovasculares. Prof. Dr. Raul D. Santos Unidade Clínica de Lípides InCor-HCFMUSP Faculdade de Medicina da USP

Professor Antônio Ruas. 1. Créditos: Carga horária semanal: 4 3. Semestre: 2 4. Introdução ao estudo dos esgotos.

PROTEÇÃO AMBIENTAL. Professor André Pereira Rosa

NUTRIÇÃO. Prof. Marta E. Malavassi

Avaliação da Germinação e Crescimento de Toona ciliata var. australis

CARACTERIZAÇÃO COMERCIAL DE MARGARINA, HALVARINA E CREME VEGETAL: PARÂMETROS DA LEGISLAÇÃO

Efeitos da Umidade e do Resfriamento no Armazenamento de Grãos sobre a Qualidade do Óleo de Soja

LIPÍDIOS. Prof. Sharline Florentino de Melo Santos UFPB CT DEQ


Ácidos graxos da série ômega-3 e ômega-6

ÔMEGAS PARA O QUE SERVEM?

Importância do Ácido Graxo Poli-insaturado(PUFA) Ômega 3

EFEITOS DE DIFERENTES DOSES DE IRRADIAÇÃO NA CARNE DE CORDEIROS SANTA INÊS

Atividade Física e Alimentação Protéica

Lipídios em Nutrição Humana. Prof. Esp. Manoel Costa Neto

Novas Fronteiras em Fármacos e Medicamentos: regulação de nanomedicamentos

Matéria Orgânica do solo (m.o.s)

6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1617

WORKSHOP BIOMASSA E AGROENERGIA NA ÓTICA DAS AÇÕES DA SUFRAMA A JICA E SEU PAPEL NO CONTEXO DE PROJETOS DE MEIO AMBIENTE, BIOMASSA E AGROENERGIA

VI Semana de Tecnologia em Alimentos

Nutrientes Funcionais Inovação para o futuro de seus produtos. Carlos Gouvêa ITAL set /10

Insulina e glicose bem reguladas

1. (Unesp) A ilustração apresenta o resultado de um teste de paternidade obtido pelo método do DNA-Fingerprint, ou "impressão digital de DNA".

QUÍMICA CELULAR NUTRIÇÃO TIPOS DE NUTRIENTES NUTRIENTES ENERGÉTICOS 4/3/2011 FUNDAMENTOS QUÍMICOS DA VIDA

Estrutura bioquímica e metabolismo

Eficácia da Suplementação de Ômega-3 como Agente Modulador da Periodontite Crônica. Reduz o Sangramento e a Inflamação Gengival

PERFIL NUTRICIONAL E CONSUMO DE MACRONUTRIENTES POR CORREDORES DA CIDADE DE MARINGÁ, PR

AVALIAÇÃO DE CONCEITOS NUTRICIONAIS EM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

PlanetaBio Resolução de Vestibulares UFRJ

Informe Técnico n. 23, de 17 de abril de Assunto: Esclarecimentos sobre as avaliações de segurança do ácido linoleico conjugado (CLA).

Cursos e-learning sobre Composição de Alimentos

Importante reserva energética; são as gorduras.

CP60/2008. Proposta de Regulamento Técnico de Alimentos para Atletas. Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Composição em ácidos graxos e colesterol na gema de ovos comerciais

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DE PROPANO E GÁS NATURAL COMO GÁS DE ENRIQUECIMENTO EM ATMOSFERAS DE CARBONITRETAÇÃO. E. R. Giroto 1

UFPB Departamento de Tecnologia Rural/Centro de Formação de Tecnólogos,Campus III, CEP , Bananeiras PB,

por Helenice Mazzuco, PhD, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves - hmazzuco@cnpsa.embrapa.br

XXII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA

Produção de Híbridos Comercias de Pimentão (Capsicum annuum) em Cultivo Protegido no Estado de Roraima.

Aplicações Processo Microrganismos Quantificação celular. C n (H 2 O) n + O 2 + NH 3 + P, S, K, Na, Mg, Ca, Fe Substrato Oxigênio Amônia Sais Minerais

MAPA DE PREFERÊNCIA INTERNO DE GELEIAS MISTAS DE MAMÃO COM ARAÇÁ-BOI

11 Gorduras do bem e do mal

Atuação do Nutricionista no Desenvolvimento de Produtos Mais Saudáveis

A contribuição da carne bovina para uma alimentação saudável

CAPÍTULO 3 Redução de emissão de metano e gás sulfídrico por meio do tratamento de dejetos suínos via compostagem

Sistema de Bibliotecas da Unopar Biblioteca Setorial Campus Londrina (Piza) Periódicos Específicos de Engenharia de Alimentos

SEGURANÇA DA SUPLEMENTAÇÃO DE EPA E DHA

34 Por que as vacas mastigam o tempo todo?

Prevalência da inadequação nutricional em crianças portuguesas. Maria Ana Carvalho Universidade Atlântica

PROCESSO DE FLOTAÇÃO NO TRATAMENTO DA MANIPUEIRA ORIGINADA DA FABRICAÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA

Química. Química 3 SUMÁRIO. e Pré-vestibular

Helena da Conceição Fernandes da Costa. Relatório Projeto Final apresentado à

Transcrição:

EFEITO DA TEMPERATURA E CONCENTRAÇÃO DE NITROGÊNIO SOBRE A COMPOSIÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS DE Heterochlorella luteoviridis T. Menegol, D. Vargas, E. Rodrigues, R. Rech Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos Caixa Postal 15090 CEP 91501-970 Porto Alegre RS Brasil, e-mail: (rrech@ufrgs.br) RESUMO Este trabalho avaliou a influência da temperatura (22 C, 27 C e 32 C) e da concentração de nitrogênio (75 mg L -1, 150 mg L -1, 225 mg L -1, 300 mg L -1 e 375 mg L -1 de NaNO 3) sobre a formação e a composição de lipídios de Heterochlorella luteoviridis utilizando um delineamento experimental hexagonal. Os teores de lipídios na biomassa variaram entre 63,7 mg g -1 e 90,2 mg g -1. A composição qualitativa dos ácidos graxos foi semelhante em todos os tratamentos. O teor médio de ácidos graxos saturados foi 50,6 ± 1,5 %. Os teores de ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados variaram de 9,6 a 14,7 % e de 34,4 a 40,7 % do total de ácidos graxos, respectivamente. Os ácidos graxos essenciais, ácido linoleico (LA - ω6) e α-linolênico (ALA ω3) forma os principais constituintes dos ácidos graxos poli-insaturados. Também se observou a presença dos ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA). ABSTRACT This study evaluated the influence of temperature (22 C, 27 C and 32 C) and nitrogen concentration (75 mg L -1, 150 mg L -1, 225 mg L -1, 300 mg L -1 and 375 mg L -1 de NaNO 3) on the lipid content and composition of Heterochlorella luteoviridis using a hexagonal experimental design. The lipid content in biomass ranged from 63.7 mg g -1 to 90.2 mg g -1. The qualitative composition of fatty acids was similar in all treatments. The content of saturated fatty acids was 50.6 ± 1.5 %. The monounsaturated and polyunsaturated fatty acids content ranged from 9.6 % to 14.7 % and 34.4 % to 40.7 % of total fatty acids, respectively. The essential fatty acids linoleic acid (LA - ω6) and α-linolenic (ALA - ω3) constitute the major components of polyunsaturated fatty acids. The eicosapentaenoic acid (EPA) and docosahexaenoic acid (DHA) were also found. PALAVRAS-CHAVE: Heterochlorella luteoviridis; ácidos graxos; temperatura; nitrogênio. KEYWORDS: Heterochlorella luteoviridis; fatty acids; temperature; nitrogen. 1. INTRODUÇÃO Microalgas são conhecidas pela produção de compostos alto valor, tais como lipídios, carboidratos, proteínas e compostos bioativos como ácidos graxos e carotenoides. Os lipídios e sua fração de ácidos graxos são componentes intracelulares das microalgas com a função de manter a estrutura e também armazenar energia para célula. Microalgas produzem uma variedade interessante de ácidos graxos insaturados variando de 16 a 22 átomos de carbono e contendo de 1 a 6 ligações duplas na configuração cis, sendo consideradas produtoras dominantes de ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) ômega 3 na biosfera (Behrens & Kyle, 1996). Os AGPI ômega 3 incluem o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido

docosaexaenoico (DHA), os quais são considerados gorduras dietéticas que apresentam amplos benefícios a saúde, sendo relacionados à prevenção de doenças cardiovasculares, ao bom desenvolvimento fetal e ao envelhecimento saudável (Swanson, Block, & Mousa, 2012). As características de crescimento e a composição das microalgas são influenciadas diretamente pelas condições de cultivo, tais como temperatura, nutrientes, iluminação, etc. Devido a sua flexibilidade metabólica as microalgas são capazes de produzir altas concentrações de lipídios quando cultivadas sob condições de crescimento limitadas (Maity, Bundschuh, Chen, & Bhattacharya, 2014). A composição também varia entre as espécies de microalgas (Behrens & Kyle, 1996) Informações sobre a versatilidade metabólica da microalga Heterochlorella luteoviridis são poucas e até mesmo inexistentes. Assim, o presente estudo experimental teve o objetivo de avaliar a influência de diferentes temperaturas e concentrações de nitrogênio sobre a formação de lipídios e sua composição da microalga Heterochlorella luteoviridis. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A microalga marinha Heterochlorella luteoviridis BE 002 foi obtida do banco de algas no Laboratório de Bioengenharia do ICTA/UFRGS. O meio de cultivo utilizado foi o f/2 (Guillard, 1975) com alterações nas quantidades de nitrato de sódio (75 mg L -1, 150 mg L -1 225 mg L -1, 300 mg L -1 e 375 mg L -1 ). O inóculo foi preparado a uma diluição de 1:10, mantido por 14 dias em estufa rotatória (90 rpm, 28 C) sob iluminação constante de aproximadamente 2,5 klx. Após esse período, iniciou-se o cultivo em fotobiorreator de placa airlif, com capacidade de 2,4 L. A temperatura (22 C, 27 C e 32 C) foi mantida utilizandose banho térmico. Foi aplicado um delineamento experimental hexagonal de 2 fatores com repetições no ponto central totalizando 8 ensaios. Todos os cultivos foram realizados em duplicata. A aeração do sistema foi realizada a vazão de 1 L min -1 de ar comprimido e 0,01 L min -1 de CO2. A iluminação foi fixada em 18,0 klx. Ao final de 7 dias o conteúdo dos biorreatores foi centrifugado, congelado e liofilizado. A biomassa liofilizada foi armazenada a - 22 C para posterior análise. O acompanhamento do crescimento da biomassa foi realizado diariamente por densidade ótica (DO750nm) correlacionada com peso-seco. Os lipídios foram determinados pela metodologia proposta por Bligh e Dyer (Bligh & Dyer, 1959). Todos os ensaios foram realizados em duplicata, os resultados se referem à média dos resultados obtidos das análises de dois cultivos. A determinação dos ácidos graxos foi realizada pelo método descrito por Joseph & Ackman, (1992), onde os ácidos graxos são determinados na forma de ésteres metílicos de ácidos graxos. O perfil de ácidos graxos foi determinado por cromatografia gasosa (GC Modelo 2010, Shimadzu, Kyoto, Japão) utilizando BHT (hidroxitolueno butilado) como padrão interno. A identificação de cada ácido graxo foi realizada comparando o tempo de retenção com uma mistura padrão de ésteres metílicos de ácidos graxos (FAME-MIX 37 padrão Sigma ). A quantificação dos ácidos graxos foi realizada seguindo a metodologia da AOCS (AOCS, 1997). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As baixas concentrações de nitrogênio no meio de cultivo resultaram em maior conteúdo de lipídios totais na biomassa. Neste estudo, os teores de lipídios na biomassa variaram entre 63,7 mg g -1 e 90,2 mg g -1, quando a concentração de nitrogênio diminuiu de 60 mg L -1 para 12 mg L -1 N-NO3 (Tabela 1). A obtenção de maiores teores de lipídios em cultivos com menores concentrações de nitrogênio é bem fundamentada pela literatura (Converti, et al., 2009; Juneja, Ceballos, & Murthy, 2013). A temperatura não demonstrou efeito sobre a síntese de lipídios da H. luteoviridis BE002. A composição qualitativa de ácidos graxos da H. luteoviridis foi semelhante em todas as condições de cultivo testadas (Tabela 1). A concentração de ácidos graxos saturados (AGS) foi cerca de 50 % do total de ácidos graxos totais, sendo o ácido hexadecanoico (C16:0) o principal AGS em todas as condições de cultivo, seguido pelo ácido octadecanoico (C18:0). A síntese do C16:0 foi favorecida em baixas concentrações de nitrogênio e temperatura elevada. As maiores concentrações de C18:0 foram observadas sob altas concentrações de nitratos e em baixas temperaturas. O teor de ácidos graxos monoinsaturados (AGM) variou de 9,6% a 14,7% dos ácidos graxos totais. O principal AGM foi C18:1n-6, seguido por C16:1n-9 e C18:1n-9. Os dois primeiros foram favorecidos a altas temperaturas, enquanto C18:1n9 aumentou na biomassa nos cultivos a baixa temperatura. O teor de ácidos graxos poli-insaturados (AGPI) variou de 34,4% a 40,7% de ácidos graxos totais (Tabela 1), sendo o maior valor observado no cultivo com alta concentração de nitrogênio (60 mg L -1 N-NO3). Este resultado indica a importância de elevar a disponibilidade de nitrogênio no meio de cultivo, para aumentar os níveis de AGPI nesta microalga. Os AGPI são os principais ácidos graxos que constituem a estrutura dos cloroplastos na célula e tem a função de manter a estrutura da membrana em algas verdes. Assim, a redução de AGPI em cultivos com baixas concentrações de nitrogênio, podem estar relacionados com o efeito da privação de nitrogênio no sistema de fotossíntese das algas (Zhu et al., 2014). Os ácidos graxos essenciais, ácido linoleico (LA, C18:2n-6) e α-linolênico (ALA, C18:3n-3) constituem os principais componentes de AGPIs (Tabela 1), outros importantes AGPIs como EPA, (20:5n3) e o DHA (22:6n3) também estão presentes na fração de ácidos graxos poliinsaturados da H. luteoviridis. Observou-se uma tendência para aumentar a síntese dos ácidos graxos poli-insaturados em cultivos a temperatura de 22 C. No entanto, o LA, demonstrou um aumento nos cultivos sob temperatura elevada. A relação entre a temperatura e conteúdo AGM e AGPI pode ser explicada pelas alterações na fluidez dos fosfolipídios das camadas da membrana celular, o que depende do grau de insaturação dos ácidos graxos. O teor de EPA não foi influenciado pela temperatura e sua síntese foi favorecida quando as células foram cultivadas em concentrações elevadas de nitrogênio. A ingestão de ácidos graxos ω3, tais como ALA, EPA e DHA, está associada com baixa incidência de infarto do miocárdio, inflamação crônica, doenças autoimunes e doenças cardiovasculares. Além de ser rica em ácidos graxos ω3, a H. luteoviridis também apresentou uma baixa relação ω6:ω3 (LA:ALA, Tabela 1), em torno de 2:1. A baixa relação ω6:ω3 na dieta foi associada com uma redução de 45 % das mortes por doenças do coração, enquanto a alta relação de ω6:ω3 pode aumentar o risco de doenças inflamatórias (Russo, 2009; Simopoulos, 2002). Nas últimas décadas houve aumento no consumo de ω6, sendo que a relação ω6:ω3 varia de 16:1 a 20:1 em dietas ocidentais (Simopoulos, 2004). Este aumento no

consumo de ω6 está sobretudo relacionado com o uso de óleos vegetais (Bhattacharya, Sun, Rahman, & Fernandes, 2007; Calder, 2008). Tabela 1 - Composição de ácidos graxos da H. luteoviridis BE 002 cultivada sob diferentes temperaturas e concentrações de nitrogênio. Temperatura ( C) 27 27 22 32 32 22 27 Nitrogênio (mg L -1 ) 12 60 24 24 48 48 36 Lipídios totais (mg g -1 ) 90,2 ± 0,2 a 63,7 ± 0,2 b 73,5 ± 0,1 ab 80,3 ± 0,5 ab 74,8 ± 0,1 ab 71,2 ± 0,4 b 72,6 ± 0,5 b Ácidos graxos saturados (% Total de ácidos graxos) 14:0 1,4 ± 0,1 ab 1,5 ± 0,1 ab 2,0 ± 0,0 a 0,7 ± 0,1 ab 0,8 ± 0,1 b 1,7 ± 0,0 ab 1,4 ± 0,1 ab 16:0 47,6 ± 0,9 a 42,6 ± 0,2 cd 44,1 ± 0,0 bc 46,6 ± 0,2 ab 44,2 ± 0,7 bc 40,9 ± 1,4 d 44,7 ± 1,8 bc 18:0 2,7 ± 0,3 bc 4,8 ± 0,4 a 4,3 ± 0,4 ab 2,0 ± 0,4 c 2,7 ± 0,8 bc 4,8 ± 0,4 a 4,0 ± 1,0 ab 20:0 0,1 ± 0,0 ab 0,1 ± 0,0 ab 0,2 ± 0,1 a 0,1 ± 0,0 ab 0,1 ± 0,0 b 0,1 ± 0,0 b 0,1 ± 0,0 ab 22:0 0,5 ± 0,0 ab 0,6 ± 0,0 ab 0,7 ± 0,1 a 0,3 ± 0,0 b 0,3 ± 0,1 b 0,5 ± 0,2 ab 0,5 ± 0,2 ab 24:0 0,7 ± 0,0 bc 0,5 ± 0,0 c 1,1 ± 0,0 a 0,4 ± 0,0 d 0,3 ± 0,0 d 1,0 ± 0,3 a 0,8 ± 0,1 b Total 52,9 ± 1,2 a 50,0 ± 0,7 bc 52,2 ± 0,5 ab 50,2 ± 0,7 bc 48,5 ± 0,6 c 49,0 ± 1,2 c 51,4 ± 0,7 ab Ácidos graxos monoinsaturados (% Total de ácidos graxos) 14:1 0,3 ± 0,0 ab 0,4 ± 0,0 ab 0,4 ± 0,0 ab 0,4 ± 0,0 ab 0,4 ± 0,0 a 0,3 ± 0,1 b 0,3 ± 0,1 ab 16:1n-9 2,2 ± 0,5 bc 2,6 ± 0,6 bc 1,6 ± 0,2 c 3,1 ± 0,5 ab 3,8 ± 0,4 a 1,7 ± 0,8 c 2,6 ± 0,9 abc 16:1n-7 0,2 ± 0,0 b 0,3 ± 0,0 ab 0,3 ± 0,0 ab 0,3 ± 0,0 ab 0,4 ± 0,0 a 0,4 ± 0,2 ab 0,2 ± 0,0 ab 18:1n-6 7,2 ± 0,6 ab 5,4 ± 1,1 bcd 4,0 ± 0,2 cd 8,8 ± 0,4 a 7,2 ± 1,6 ab 3,3 ± 0,8 d 6,0 ± 1,2 bc 18:1n-9 2,7 ± 0,0 b 3,2 ± 0,1 b 3,3 ± 0,1 b 2,7 ± 0,1 b 3,0 ± 0,0 b 4,6 ± 0,7 a 2,8 ± 0,2 b Total 12,5 ± 0,1 abc 11,7 ± 1,6 abc 9,6 ± 0,5 c 15,2 ± 0,9 a 14,7 ± 2,1 ab 10,3 ± 2,7 bc 12,0 ± 2,0 abc Ácidos graxos poli-insaturados (% Total de ácidos graxos) 18:2n-6 20,6 ± 0,9 b 21,0 ± 0,2 b 18,8 ± 0,4 c 23,8 ± 0,4 a 25,3 ± 0,2 a 18,5 ± 0,2 c 20,4 ± 0,8 b 18:3n-6 0,4 ± 0,0 cd 0,8 ± 0,2 b 0,7 ± 0,1 bc 0,4 ± 0,0 d 0,6 ± 0,2 bcd 1,1 ± 0,1 a 0,6 ± 0,2 bcd 18:3n-3 8,3 ± 0,2 b 9,5 ± 0,1 b 11,2 ± 0,5 a 5,1 ± 0,5 c 5,5 ± 0,7 c 12,4 ± 1,1 a 8,8 ± 0,7 b 20:4n-6 1,4 ± 0,1 cd 2,3 ± 0,2 bc 2,8 ± 0,1 ab 1,1 ± 0,1 d 1,3 ± 0,2 d 3,8 ± 0,6 a 2,6 ± 0,9 b 20:3n-3 0,2 ± 0,0 a 0,1 ± 0,0 b 0,2 ± 0,0 a 0,1 ± 0,0 ab 0,1 ± 0,0 b 0,2 ± 0,0 ab 0,1 ± 0,0 ab 20:5n-3 1,6 ± 0,0 d 2,7 ± 0,0 ab 1,9 ± 0,0 cd 2,4 ± 0,0 abc 2,7 ± 0,4 a 2,6 ± 0,1 ab 2,2 ± 0,3 bc 22:4n-3 1,2 ± 0,1 a 1,4 ± 0,0 a 1,5 ± 0,1 a 1,3 ± 0,1 a 1,2 ± 0,1 a 1,3 ± 0,2 a 1,3 ± 0,4 a 22:6n-3 0,8 ± 0,1 c 0,5 ± 0,0 d 1,2 ± 0,0 a 0,3 ± 0,0 e 0,2 ± 0,0 e 1,0 ± 0,0 b 0,6 ± 0,0 d Total 34,4 ± 1,31 ab 38,3 ± 0,9 ab 38,2 ± 0,5 c 34,6 ± 0,3 a 36,8 ± 1,7 bc 40, 7 ± 1,7 a 36,8 ± 1,5 bc LA:ALA (ω6:ω3) 1,87 1,71 1,40 2,74 2,79 1,35 1,81 Letras diferentes na mesma linha são diferentes significativamente por teste de Tukey (p<0,05). 4. CONCLUSÃO A composição qualitativa de ácidos graxos foi independente das condições de cultivo. O aumento de nitrogênio no meio de cultivo causou aumento na síntese de EPA. A baixa temperatura induziu o aumento na concentração de AGPI, principalmente na síntese dos ácidos graxos 3. A H. luteoviridis mostrou ser uma fonte importante de ácidos graxos poliinsaturados, apresentando uma baixa relação ω6:ω3.

5. REFERÊNCIAS AOCS. (1997). Sampling and analysis of commercial fats and oils. AOCS Official Method Cc 6-25, AOCS Official Method Cc 6-25,. [Place of publication not identified]: [publisher not identified]. BEHRENS, P. W., & KYLE, D. J. (1996). MICROALGAE AS A SOURCE OF FATTY ACIDS. Journal of Food Lipids, 3(4), 259 272. http://doi.org/10.1111/j.1745-4522.1996.tb00073.x Bhattacharya, A., Sun, D., Rahman, M., & Fernandes, G. (2007). Different ratios of eicosapentaenoic and docosahexaenoic omega-3 fatty acids in commercial fish oils differentially alter pro-inflammatory cytokines in peritoneal macrophages from C57BL/6 female mice. The Journal of Nutritional Biochemistry, 18(1), 23 30. http://doi.org/10.1016/j.jnutbio.2006.02.005 Bligh, E. G., & Dyer, W. J. (1959). A RAPID METHOD OF TOTAL LIPID EXTRACTION AND PURIFICATION. Canadian Journal of Biochemistry and Physiology, 37(8), 911 917. Retrieved from <Go to ISI>://WOS:A1959WM52500001 Calder, P. C. (2008). Polyunsaturated fatty acids, inflammatory processes and inflammatory bowel diseases. Molecular Nutrition & Food Research, 52(8), 885 97. http://doi.org/10.1002/mnfr.200700289 Converti, A., Casazza, A. A., Ortiz, E. Y., Perego, P., & Del Borghi, M. (2009). Effect of temperature and nitrogen concentration on the growth and lipid content of Nannochloropsis oculata and Chlorella vulgaris for biodiesel production. Chemical Engineering and Processing, 48(6), 1146 1151. http://doi.org/10.1016/j.cep.2009.03.006 Guillard, R. L. (1975). Culture of Phytoplankton for Feeding Marine Invertebrates. In W. Smith & M. Chanley (Eds.), Culture of Marine Invertebrate Animals (pp. 29 60). Springer US. http://doi.org/10.1007/978-1-4615-8714-9_3 Joseph, J. D., Ackman, R. G., Joseph, J., & Ackman, R. (1992). Capillary column gas chromatographic method for analysis of encapsulated fish oils and fish oil ethyl esters: collaborative study. Journal of AOAC International, 73(3), 488 506. Juneja, A., Ceballos, R. M., & Murthy, G. S. (2013). Effects of Environmental Factors and Nutrient Availability on the Biochemical Composition of Algae for Biofuels Production: A Review. Energies, 6(9), 4607 4638. http://doi.org/10.3390/en6094607 Maity, J. P., Bundschuh, J., Chen, C.-Y., & Bhattacharya, P. (2014). Microalgae for third generation biofuel production, mitigation of greenhouse gas emissions and wastewater treatment: Present and future perspectives A mini review. Energy, 78, 104 113. http://doi.org/10.1016/j.energy.2014.04.003 Russo, G. L. (2009). Dietary n-6 and n-3 polyunsaturated fatty acids: from biochemistry to clinical implications in cardiovascular prevention. Biochemical Pharmacology, 77(6), 937 46. http://doi.org/10.1016/j.bcp.2008.10.020 Simopoulos, A. P. (2002). Omega-3 fatty acids in inflammation and autoimmune diseases. Journal of the American College of Nutrition, 21(6), 495 505. http://doi.org/10.1080/07315724.2002.10719248 Simopoulos, A. P. (2004). Omega-6/Omega-3 Essential Fatty Acid Ratio and Chronic Diseases. Food Reviews International, 20(1), 77 90. http://doi.org/10.1081/fri-

120028831 Swanson, D., Block, R., & Mousa, S. A. (2012). Omega-3 fatty acids EPA and DHA: health benefits throughout life. Advances in Nutrition (Bethesda, Md.), 3(1), 1 7. http://doi.org/10.3945/an.111.000893 Zhu, S., Huang, W., Xu, J., Wang, Z., Xu, J., & Yuan, Z. (2014). Metabolic changes of starch and lipid triggered by nitrogen starvation in the microalga Chlorella zofingiensis. Bioresource Technology, 152(0), 292 298. http://doi.org/http://dx.doi.org/10.1016/j.biortech.2013.10.092