MITO E FEMININO: EXCLUSÃO E INTEGRAÇÃO DAS MULHERES NA SOCIEDADE POLÍADE DO SÉCULO V A.C.



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Transcrição:

1 MITO E FEMININO: EXCLUSÃO E INTEGRAÇÃO DAS MULHERES NA SOCIEDADE POLÍADE DO SÉCULO V A.C. Keila Maria de Faria 1 Sabemos que na cultura grega os mitos exerceram uma importância fundamental, era mediante os mitos que os helenos explicavam tudo, desde a origem do cosmo até a sua própria existência. Assim, ao falarmos do mito, adentramos no âmbito do sagrado, não que este seja parte integrante da religião propriamente dita, mas porque o mito é imbuído de sacralidade por narrar às origens. O mito é a irrupção do sagrado: é essa irrupção do sagrado que realmente fundamenta 2 o mundo e o converte no que é hoje (ELIADE, 1994, p.11). Era através da relação presente e passado mítico que os gregos antigos estruturavam o seu cosmo e percebiam o mundo ao seu redor, atribuindo ao mito um valor real (SNELL, 2001). Diante desta importância é compreensível que esta sociedade tenha buscado nos mitos a justificativa para a sua misoginia. Esse arraigado pensamento mítico ajuda-nos a compreender a situação da mulher na pólis ateniense e a exacerbada misoginia, que caracterizou a civilização helênica, sobretudo em Atenas. Foi através dos mitos que os atenienses explicaram a origem e a marginalização da mulher, justificando a exclusão desta, da vida pública. O mito de Pandora explica a origem da mulher e a bipolaridade (homem exterior / mulher interior), que caracterizava essa cultura ao menos a nível ideológico. Enquanto o mito sobre a escolha da divindade protetora da cidade de Atenas, fundamenta e explica a ausência de participação das mulheres na vida política. Os gregos antigos desvinculavam totalmente a criação da mulher da feminilidade. Na concepção helênica, a essência feminina, personificada na figura de Gaîa, precedeu a criação da primeira 1 Professora substituta do campus de Jataí, graduada e Mestre em História 2 Preservamos o grifo ao transcrever o texto por que ele enfatiza a importância do mito na explicação do mundo.

2 mulher, Pandora. Esta não nasceu como um ser feminino, (ela) foi criada como um flagelo para atormentar eternamente os homens 3. Somente quando este mal que fora plasmado de uma mistura de água e terra já estava pronto, é que os deuses lhe dotaram de atributos femininos: voz humana, força, rosto semelhante as deusas, desejo avassalador, espírito dissimulado, palavras sedutoras e mentirosas. Estas são as características com as quais Pandora foi agraciada pelas divindades olímpicas e que Hesíodo narra em Os Trabalhos e os Dias (v.60-79), pois a partir da criação da primeira mulher os homens foram condenados a trabalharem constantemente para sustentar esse mal, para alimentar esse ventre esfomeado, tendo em vista que as mulheres amontoam em seu ventre o esforço alheio (HESÍODO, Teogonia, v. 599). Dessa forma, o mito hesiódico narra a criação de Pandora, explicando a origem da primeira mulher e de sua descendência, o genos gynaikôn, na cosmovisão grega e as conseqüências oriundas da criação desse mal travestido de bem (HESÍODO, Teogonia, v.585). Ambas as obras de Hesíodo que abordam essa temática foram escritas por volta do século VIII a. C e constituem a narrativa mítica 4 que fundamenta a misoginia grega, visto que o mito tem um valor real nesta civilização. Na Teogonia é narrada a gênese das potências Imortais e a divisão do lote sacrificial entre deuses e mortais, na qual Zeus foi ludibriado pelo astuto Prometeu, 5 que acreditou ter enganado ao 3 Utilizamos esse vocabulário para enfatizar que a união entre homem e mulher era algo inevitável à humanidade e que se repetiria continuamente até a possível eliminação daquela raça, e não no sentido de que a união de Pandora e Epimeteu era eterna. 4 Os mitos são anteriores à difusão da escrita, desta forma, foi a tradição oral que através da intensa rememoração, preservou as estruturas míticas à posteridade. Assim, o mito é estruturado na oralidade e portanto, não é uno, possui várias versões de uma mesma história, pois é uma compilação de narrativas orais repassadas de geração em geração. O mito não possui um caráter estático, (ele) é plasmático e se adapta as reelaborações, ou seja, o desgaste temporal não o destrói, mas ao contrário constrói novas resignificações do mesmo mito. 5 Aquele que pensa antes e seu irmão Epimeteu (que recebera Pandora como presente, mesmo tendo sido alertado para não aceitar nenhuma dádiva de Zeus) é o seu reverso, e significa aquele que pensa depois (JONES, 1997, p. 95).

3 Senhor do Olimpo, beneficiando aos mortais com esta repartição, pois a estes couberam a melhor parte do sacrifício 6. Após a fraudulenta divisão das partes do sacrifício que deixou Zeus irritado, ocasionando a ocultação do fogo à humanidade, Prometeu tramou uma nova maquinação para enganar o Cronida e proteger os seus pupilos mortais. Prometeu enganou novamente o Senhor do Olimpo fornecendo aos mortais a posse do brilho ígneo. Zeus enfurecido com mais esta artimanha de Prometeu construiu e presenteou aos mortais com uma dádiva mais bela que aquela que fora ofertada por seu protetor 7 (Hesíodo, Teogonia, v. 535-616). Esse presente foi na verdade um castigo dos deuses tramado por Zeus à tribo dos homens. As divindades criaram a primeira mulher e ofereceram-na aos mortais, os quais foram condenados a partir de então, a casar e gerar descendência. Assim um mal igual fez aos homens mortais Zeus tonítruo: as mulheres, parelhas de obras ásperas, e em vez de um bem deu oposto mal. Quem fugindo as núpcias e as obrigações com mulheres não quer casar-se, atinge a velhice funesta sem quem o segure (HESÍODO, Teogonia, v. 600-605). Pandora foi criada por Zeus como um ardil contra os homens, uma armadilha muito maior que a de Prometeu. Pandora foi elaborada como uma punição, um flagelo aos mortais que a partir de 6 Fernand Robert defende que este mito serve também para justificar um hábito primitivo de higienização, no qual se serviam as carnes do animal sacrificado (geralmente só consumiam carnes quando faziam sacrifício) e ofereciam os dejetos aos deuses queimando-os (é por isso que Zeus escolheu a parte menos agradável). Desta forma, o que inicialmente constituía uma atitude material de asseio transformou-se em um ato de piedade religiosa (ROBERT, 1988, p. 25), 7 Além do belo mal em forma de bem ofertado aos mortais, Prometeu também foi castigado com um suplício terrível imposto pelo Senhor do Olimpo. O protetor dos mortais foi acorrentado a um rochedo no monte Cáucaso, por suas artimanhas e também por guardar o segredo do casamento de Têtis, que Zeus desejava conhecer e Prometeu se recusou revelar. Ficou preso no monte tendo o seu fígado devorado diariamente por uma águia e em função de sua imortalidade, seu fígado se recompunha toda a noite. O suplício só terminou após um longo período com a libertação de Prometeu por Héracles, ou segundo uma variação da lenda, por que Prometeu revelou a Zeus o segredo que este desejava conhecer (cf. HESÍODO, Teogonia. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995; KURY, Mário da Gama. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990).

4 então deveriam trabalhar diariamente para sustentar a fome e o desejo deste mal travestido de bem. Se tentassem escapar a esse desígnio divino, o homem teria uma velhice desamparada, sem filhos que pudessem zelar por ele. O belo mal foi denominado Pandora cujo significado é: aquela que é portadora de todos os dons, recebeu esse nome, porque todos os deuses do Olimpo lhe agraciaram com uma dádiva (HESÍODO, Os trabalhos e os dias, v. 80-82). No entanto, ao contrário de Gaîa, força nutriz capaz de gerar vida, Pandora é portadora de uma maldade feita sob medida para punir os homens que comem pão. 8 Pandora foi confeccionada em sua plenitude pelos deuses com o intuito de causar tormento e trazer aflição a phûl anthrópon. 9 É a criação da primeira mulher que instituiu o casamento como uma obrigação e a necessidade de filhos que amparassem a velhice. Assim sendo, ao contrário de Gaîa, a capacidade de gerar a vida só se manifesta em Pandora quando o homem aceita o castigo dos deuses, caso rejeite a punição recusando-se a efetivar as núpcias, o homem terminará os dias solitário e sem o amparo dos filhos (HESÍODO, Teogonia, v. 603-605). Semelhantemente a primeira mulher, a descendência de Pandora também não foi bem vista pelos gregos: Dela descende a geração das femininas mulheres. Dela é a funesta geração e grei das mulheres, grande pena que habita entre os homens mortais, parceiras não da penúria cruel, porém do luxo (HESÍODO, Os trabalhos e os dias, v.590-593). Como corolário do confronto entre deuses e os mortais, Pandora constituiu-se como um ser indefinido. Sua identidade era 8 O poeta utiliza essa expressão para se referir aos mortais, porque o alimento dos deuses era diferenciado, eles se alimentavam de ambrosia. A expressão visa também ressaltar a mortalidade dos humanos. Ao tentar imortalizar Demofonte, Deméter suprimiu o alimento humano substituindo-o pelo néctar dos deuses ambrosia (Hino Homérico a Deméter). 9 Tribos dos homens. O termo é usado por Marta Mega de Andrade em: A "Cidade das Mulheres : cidadania e alteridade feminina na Atenas clássica. Rio de Janeiro: LHIA, 2001.

5 ambígua, não era parte integrante do Olimpo, mas também não conseguiu se integrar a tribo dos homens, a mulher era portanto um elemento exógeno aos deuses e aos homens. O genos gynaikôn não se integrou a phûl anthrópon, formando uma raça à parte, a raça das mulheres. A partir desta concepção mítica os atenienses justificavam no plano ideológico a separação entre as esferas masculinas e femininas explicando a bipolaridade mulher/interior e homem/exterior presente na cultura helênica. Desta forma, homens e mulheres pertenciam a grupos separados e antagônicos, segundo a acepção dos gregos antigos, convivendo penosamente, pois as espécies não se mesclavam. Concebida pelos imortais como mechané (armadilha que seduz) e apaté (engano), a mulher foi a responsável pela dispersão de todos os males invisíveis e silenciosos que assolam a humanidade: fome, peste, doenças, mortalidade (HESÍODO, Os trabalhos e os dias, v. 90-95). Além de fazer os homens conviverem com inúmeros pesares, Pandora ocultou-lhes a elpis (esperança). Esse mito possibilita-nos compreender a acentuada misoginia grega e a estruturação desta sociedade em dois pólos distintos: homemexterior/mulher-interior. 10 Desta forma, a criação de Pandora transforma a mulher num elemento estranhamente complexo: Pandora é um ser tripartite. Ela não integra o Olimpo e nem o mundo humano: é ao mesmo tempo parte deusa (rosto semelhante às deusas imortais), parte mortal (voz e forma humana) e outra parte animal - espírito de cão e dissimulada conduta (HESÍODO, Os trabalhos e os dias, v.61-67), fome de zangão 10 Devemos fazer aqui uma ressalva, pois essa concepção bipolarizada dos gregos já foi desmistificada por estudos sobre o feminino que comprova a presença das mulheres no âmbito externo ao oikos (cf. LESSA, 2001 e 2004). O masculino e o feminino estavam amplamente mesclados na pólis, embora ideologicamente o imaginário defendesse a não interação entre os dois pólos, apresentando o ambiente externo como próprio do homem e o espaço privado como tipicamente feminino. Não há como existir uma real dicotomia entre a phûl anthrópon e o genos gynaikôn pois as relações pai/filha: marido/mulher; irmão/irmã; sacerdote/sacerdotisa, dentre outras, são relações entre o masculino e o feminino. Portanto as esferas estavam em constante interação e a dicotomia se restringia ao nível ideológico.

6 (Teogonia, v. 594-599). Diante de tal complexidade da mulher o processo de alteridade se tornou bastante difícil, as mulheres constituíam uma espécie a parte, um ser exógeno. Diante de tal concepção ocorreu um estranhamento à mulher, dificultando interação entre as duas esferas: masculina e feminina. Diante deste estranhamento os gregos antigos acabaram desenvolvendo uma subvalorização do elemento feminino, a mulher passou vista somente como um ser inferior, cuja função se restringia à procriação. Embora imbuída desta intensa misoginia, considerando a mulher um ser inferior, a civilização grega também desenvolveu em seu imaginário um perfil feminino que era digno de louvor, ou seja, um modelo ideal de esposa. Esse padrão de mulher ideal personificou-se através da imagem da mélissa, esposa legítima do cidadão ateniense, também chamada de bem-nascida. A mélissa era caracterizada pela castidade, fidelidade, silêncio, comedimento, aversão aos odores e à sedução, sexualidade direcionada meramente à reprodução 11 (ANDRADE, 2001). Esse perfil de mulher idealizado, a mélissa, originou-se da decomposição da figura de Pandora. No poema Iambos, o Semônides de Amorgos decompôs a figura de Pandora fazendo uma analogia da mulher com vários animais, dentre eles a abelha. Semônides de Amorgos decompõe a figura de Pandora, multiplicando o espírito feminino e relacionando-o com oito animais e também com a matéria inanimada: terra e mar. A porca, a raposa, a cachorra, a mula, a doninha, a égua, a macaca e a abelha são os animais vinculados ao espírito da mulher (SEMÔNIDES, Iambos). Assim, a mulher-abelha é 11 Entretanto, esse modelo casto, silencioso, obediente, comedido e recluso, personificado na figura da mélissa não abrangia toda a categoria de mulheres existentes na Atenas do século V a.c, pois o tecido social feminino que compunha a pólis era muito mais amplo, composto por diversas texturas: hetaírai (cortesãs-companheiras) pornaí, escravas, pallakaí (concubinas) e estrangeiras domiciliadas, sendo as esposas legítimas mais um tipo de fio que compunha o tecido social feminino.

7 a décima espécie de feminino apresentada pelo poeta em seu bestiário e a única que merece alguma consideração. Semônides de Amorgos não foi o único escritor antigo a relacionar a mulher com animais. Ao observarmos a literatura antiga notaremos vários exemplos misóginos, que comparam a mulher com animais: Hesíodo na Teogonia (v. 594-599) compara as mulheres com zangões que se alimentam do trabalho alheio e também aos cães, afirmando que as mulheres possuem conduta dissimulada (Os trabalhos e os dias, v. 67). Focílides também compôs um poema fazendo uma analogia entre os animais e a mulher, em seu poema as mulheres se originaram de quatro espécies: a abelha, a cadela, a égua e a javalina. Há uma imprecisão sobre a redação dos poemas, não sabemos ao certo qual dos dois autores (Semônides ou Focílides) compôs primeiro, supõe-se que tenha sido a obra de Focílides e que Semônides de Amorgos se inspirou em seus versos para compor um quadro ampliado. Desta forma, a correlação apresentada por Semônides evidencia de forma nítida a intensidade da misoginia grega, uma sociedade em que as mulheres eram vistas sob o estereótipo da reprodução. Embora constituíssem, no século V a.c, metade da cidade (MOSSÉ, 1990, p. 100), as mulheres eram excluídas da participação política, sendo tratadas como eternas menores que necessitavam sempre de um tutor, sem jamais alcançar a independência jurídica. A mulher, na visão dos gregos antigos, era apenas um mal necessário, pois precisavam da fêmea para perpetuar a espécie, como podemos confirmar na fala de Jasão. Se se pudesse ter de outra maneira os filhos não mais seria necessário as mulheres e os homens estariam livres dessa praga! (EURÍPEDES, Medéia, v. 658-660). Na visão misógina do poeta, assim como na maioria dos gregos daquele período, as mulheres eram portadoras de uma natureza defeituosa por excelência, por serem descendentes da primeira

8 mulher, Pandora, e esta, embora possuísse a beleza das deusas, era apenas um castigo e flagelo aos mortais. Pandora, assim como sua descendência, é denominada por Hesíodo na Teogonia (v. 585-593) como um mal travestido de bem (...) uma grande pena que habita entre os homens. Deve-se observar nessa afirmação do poeta que ele enfatiza que a mulher habita, não mencionando nenhuma interação entre as mulheres e os homens. Como castigo imposto pelos deuses os homens são obrigados a conviver com a mulher. Ao comparar a mulher e os animais, o Semônides criou um catálogo de defeitos femininos nos quais as mulheres não possuíam nenhuma qualidade. Uma gostava da sujeira, a outra se banhava em excesso; uma falava demais, a outra queria ouvir demasiado o que não lhe convinha; uma roubava, a outra não trabalhava; uma comia as carnes consagradas e não consagradas, a outra era ardilosa e astuta; uma acolhia qualquer um em seu leito para os atos de Afrodite, a outra era dissimulada, mudando constantemente de sentimentos, assim como a água altera sua forma segundo o recipiente em que é colocada. Desta forma, a lista de deficiências femininas é imensa, pois não pontuamos todos os defeitos. O único espírito feminino que recebeu do autor alguma consideração e estima é a mulher-abelha, a décima espécie é a única dentro da tribo de mulheres que não merece nenhuma censura. A mulher-abelha recebe elogios do poeta: não é censurada, pois faz florescer os bens da casa e possui uma célebre prole, fiel; envelhece juntamente com aquele que ama, destacando-se das demais mulheres pela sua sabedoria (SEMÔNIDES, Iambos, v. 84-93.) Assim, de acordo com o esquema representativo de Semônides, a mulher-abelha, ou seja, a mélissa, termo que deriva de méli (mel) alimento produzido pelas abelhas, constitui no imaginário dos gregos o único tipo de feminino aprazível à coabitação humana. A mulherabelha é o oposto de todas as demais representações femininas, é o reverso de todos os males atribuídos ao genos gynaikôn. Dentre as

9 virtudes características da mélissa estão: a submissão, o silêncio, a castidade, a discrição, o comedimento, a habilidade para administrar o oikos e a reclusão no gineceu, espaço feminino por excelência. O esquema representativo da mulher-abelha desenvolvido por Semônides de Amorgos é ampliado no período clássico por Xenofonte em sua obra Econômico. Nesta obra o autor retrata a esposa de Iscômaco, considerada como modelo de esposa ideal: possuidora de todas as qualidades da mulher-abelha de Semônides e outras mais que foram acrescidas por Xenofonte, sobretudo a capacidade de ordenar, como demonstra a fala de Iscômaco à sua esposa: Nada, minha mulher, é tão conveniente e belo para o homem quanto a ordem. (...)res saber administrar com esmero o que temos, ter a mão e usar com facilidade o que for preciso e, dar-me o prazer de atender-me, escolhamos o local adequado para cada coisa, e, colocando-a nesse lugar, ensinemos a serviçal a buscá-la e aí de novo colocá-la. Saberemos assim o que está em boas condições ou não. O próprio local mostrará o que está faltando (XENOFONTE, Econômico, VIII, 10). É interessante observar que a habilidade de ordenação acrescentada por Xenofonte à melissa, possui um duplo sentido: a capacidade organizacional citado acima e também ordem, no sentido de saber delegar ordens, comandar os servos. Tal habilidade é demonstrada quando Iscômaco afirma à sua mulher que ela deverá ficar em casa e mandar que os servos, que trabalham no exterior do oikos, saiam e trabalhem. Ela deveria ainda comandar e supervisionar aqueles que fazem os serviços internos (XENOFONTE, Econômico, VII, 35-36). Portanto, a mulher-abelha deveria possuir essa dupla capacidade de ordenação. Comandando os servidores, organizando e governando o oikos, a esposa descrita por Xenofonte não era apenas a mulher-abelha, transformava-se na rainha das abelhas, e como tal deveria agir. As esposas eram responsáveis pela preparação de alimentos, assim como a abelha produz o méli, semelhantemente a rainha das abelhas, a esposa também não deveria ausentar-se sozinha de sua colméia o oikos. As mulheres só abandonavam sua

reclusão em ocasiões especiais (cumprir com os rituais religiosos, comparecer às cerimônias) e mesmo assim acompanhadas (LESSA, 1998, p. 283). Os atenienses não viam com bons olhos a presença da esposa legítima no ambiente externo ao oikos, pois ao ultrapassar a soleira da porta, simbolicamente perdiam o controle sobre a mulher (BARROS, 1987, p. 29), o que representava uma ameaça ao oikos já que poderia colocar em dúvida a legitimidade dos herdeiros. Dentre as funções da esposa estavam à tecelagem 12, fiação e produção de roupas, a preparação dos alimentos, a distribuição e o armazenamento dos grãos, a coordenação e supervisão dos escravos, o cuidado com os doentes e a organização em geral do oikos. Todas essas atribuições domésticas eram obrigações da mélissa, todavia sua função social precípua era a concepção de herdeiros, preferencialmente masculinos e a educação das crianças que ficavam sob sua responsabilidade até os sete anos. Recato e discrição são atributos inerentes à mélissa, que possuía como função principal a concepção de herdeiros legítimos mediante matrimônio, perpetuando a descendência do oikos e gerando os cidadãos à pólis (LESSA, 2002, p. 62). Portanto, a mélissa não deveria reivindicar o prazer sexual, o sexo no casamento era exclusivamente para reprodução. A razão de ser e existir de uma mulher ateniense no século V a.c, era casar-se e conceber herdeiros legítimos, pois somente através do matrimônio as mulheres obtinham status social e integravam-se à comunidade políade. Como podemos verificar na narrativa mítica era mediante a consumação do matrimônio que a mulher poderia ser aceita na comunidade, somente consumando as núpcias a sua função como 1 0 12 A arte de tecer foi ensinada por Atena a Pandora que repassou o ensinamento ao genos gynaikôn (HESÍODO, Os trabalhos e os dias, v. 64), por isso a tecelagem é uma arte feminina por excelência (ANDRADE, 2001, p. 138). O aprendizado desta técnica que era transmitida de mãe para filha. Iniciava-se por volta dos sete anos, Xenofonte (Econômico, VII, 6) afirma que era a única atividade que as jovens esposas necessitavam saber ao casar-se. Assim sendo, a tecelagem e fiação era uma virtude das esposas bem-nascidas, todavia não estava restrita a esta categoria social abrangendo todo o universo feminino presente na cidade.

doadora de vida se manifestava. Desta forma, a ausência de filhos poderia ocasionar a anulação do casamento, pois a esposa não havia desempenhado o papel social que lhe era destinado: gerar herdeiros para o oikos e cidadãos para a pólis. Assim sendo, a criação de Pandora dissocia a essência de feminilidade da mulher propriamente dita, contrapondo-se a representação de Gaîa, que era portadora de vida, mãe primordial por excelência. Gaîa concebe o seu consorte, ela mesma o gera igual a si própria (HESÍODO, Teogonia, v.126-128), o que indica uma equidade de condições, Pandora ao contrário é elaborada como uma punição, um flagelo, um tormento em formato de dádiva. Destarte, a criação de Pandora como um flagelo acabou construindo uma percepção distorcida do feminino no imaginário ateniense. Na cultura ateniense a mulher não era valorizada e nem reconhecida enquanto ser igual: a mulher, sendo descendente de Pandora, não se encaixava em nenhum dos mundos, era um ser tripartite: parte humana, parte divina e também animal, mas acima de tudo era um castigo. Desta forma, a mulher era percebida com um mal necessário, uma praga útil somente como o receptáculo do sêmen (SCHALCHER, 1998), não possuindo uma participação ativa no processo da concepção. Percebida e explicada como um ser inferior do qual os homens necessitavam para perpetuar a espécie, gerando herdeiros que pudessem ampará-los na velhice, a mulher não conseguiu integrar a tribo dos homens (HESÍODO, Teogonia, v. 603-607). Tal concepção influenciou muito nas relações entre o feminino e o masculino, delineando a forte misoginia que caracterizou a sociedade ateniense. Pelo fato do mito possuir um caráter de verdade entre os gregos, foram nos mitos que esta sociedade buscou explicação e justificativa para a exclusão e inferiorização da mulher. Através dos mitos os atenienses explicaram a origem e a marginalização da mulher, justificando a exclusão desta, da vida política. O mito de Pandora explica a origem da mulher e a 1 1

bipolaridade (homem / mulher) característica da cultura clássica, enquanto o mito sobre a escolha da divindade protetora da cidade de Atenas, fundamenta e explica a ausência das mulheres na vida política. Por meio deste mito, temos conhecimento da usurpação do voto feminino por Poseidon, que perdera o patronato da cidade por causa do voto de uma mulher. Indignado com tal perda, o deus castigou o genos gynaikôn, retirando deste, o direito de decidir sobre o destino da cidade e privando as mulheres do direito de serem chamadas atenienses. Destarte, podemos perceber através das narrativas míticas, sobretudo o mito de Pandora, o fundamento da misoginia grega. 1 2 BIBLIOGRAFIA A. DOCUMENTOS; EURÍPIDES. Medéia; Hipólito; As Troianas /Eurípides. Trad. Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991. HESÍODO. Os trabalhos e os dias. Trad. Mary de Carvalho Neves Lafer. São Paulo: Iluminuras, 1991.. Teogonia. Trad. Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. HOMERO. Deméter. Trad. Jair Gramacho. In: Hinos Homéricos. Brasília: UnB, 2003. p. 69-84. SEMÔNIDES de Amorgos; MIMNERMO. Iambos. Trad. Jacinto Lins Brandão. In: Ensaio de literatura e filologia. Belo Horizonte: UFMG, 1983. p. 211-227. XENOFONTE. Econômico. Trad. Anna Lia Amaral de Almeida. São Paulo: Martins Fontes, 1999. B. OBRAS GERAIS ANDRADE, Marta Mega de. A "Cidade das Mulheres : cidadania e alteridade feminina na Atenas clássica. Rio de Janeiro: LHIA, 2001.. Uma Atenas das mulheres. In: SILVA, Francisco Carlos T. (org.) História e Imagem. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. p. 333-347. ARMSTRONG, Karen. Breve história do mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

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