Exmº Sr. Presidente da Câmara Municipal de Cascais Carlos Carreiras Nos termos do artigo 77º do Decreto-lei nº 380/99 de 22 de Setembro, com a redacção que lhe foi conferida pelo Decreto-lei nº 46/2009 de 20 de Fevereiro e ao abrigo do edital nº 393/13 que publicitou o período de discussão publica do Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul a decorrer de 13 de Dezembro de 2013 a 17 de Fevereiro de 2014, vem o Partido Socialista de Cascais apresentar desta forma um conjunto de observações e sugestões que se passam a descrever. A área objeto do Urbanística de Carcavelos-Sul (PPERUCS) é das poucas áreas ainda livres de ocupação no eixo litoral Algés-Cascais. É uma área com 54 ha, situa-se junto à praia, é bem servida por infraestruturas de transportes públicos, bem como rodoviárias, integra a ribeira de Sassoeiros, bem como valores edificados patrimoniais, o que lhe confere uma importância estratégica e uma oportunidade única para a concretização de uma intervenção de qualidade urbanística de valor acrescentado. É por isto que esta área assume acrescida importância, sobre a qual não podemos concordar com a natureza da intervenção programada, podendo mesmo afirmar que a mesma não vai ao encontro dos objectivos fundamentais para o Concelho definidos no processo de revisão do PDM. Sendo certo que por procedimentos antecedentes existem ónus e direitos adquiridos sobre esta parcela, não podendo nós ignorar a negociação que terá de existir com a ARSA, não podemos ainda assim aceitar o agora proposto, pelas razões que abaixo expomos. 1
A proposta de Revisão do PDM de Cascais, recentemente apresentada define como eixos estratégicos, nomeadamente: Contenção dos perímetros urbanos existentes, invertendo a aposta em nova habitação; Perspectivar acções de revitalização, reestruturação e requalificação das áreas urbanas existentes; Aumentar o investimento no sector turístico, revitalizando especialmente o sector ligado ao turismo cultural e da natureza; Ora, como podemos neste momento afirmar, uma proposta que privilegia edificação nova destinada a habitação com os parâmetros que são propostos, vai no sentido contrário aos eixos estratégicos definidos pela própria CM no âmbito da Revisão do PDM. Se há trinta anos a aposta era na habitação nova, pela degradação do parque habitacional existente ou mesmo pela falta de oferta de alojamentos para venda ou arrendamento no Concelho, hoje esta não é a realidade. Ou seja, se há trinta anos fazia sentido uma intervenção caracterizada pela construção de sensivelmente 1900 fogos, hoje a aposta deveria ser exactamente a contrária. O Concelho de Cascais não só se caracteriza pelo seu parque habitacional recente, como 10% dos seus alojamentos estão vagos. Só na freguesia de Carcavelos-Parede existem cerca de 2.343 fogos por habitar. E podemos mesmo afirmar que se uma das grandes atractividades residenciais do Concelho é a sua qualidade paisagística e urbanística do litoral, com este tipo de intervenções, poderemos estar a dar um passo atrás. Na linha desta nossa preocupação, e também no âmbito do processo de Revisão do PDM, podemos constatar que um crescimento urbano extensivo poderá comprometer recursos naturais, qualidade de vida das populações e atractividade do território. A aposta hoje deveria estar centrada no sector turístico, terciário avançado e na investigação. 2
O Concelho de Cascais deverá manter a sua atractividade em termos de Turismo, valorizando o seu potencial como espaço de recreio e lazer ligado ao mar. Isto leva-nos exactamente à nossa segunda questão. Se um dos eixos estratégicos para os próximos 10 anos, é a aposta no Turismo, este plano contraria esta tendência. E poderão afirmar: mas a proposta contempla a edificação de um hotel? A aposta no sector do turismo, não se pode resumir à localização de mais um hotel isolado e desgarrado de uma visão mais global. Não só este hotel com apenas 150 quartos não vai substituir a oferta existente antes do desaparecimento do Estoril-Sol, Nau, Atlântico, etc, como a construção do restante empreendimento nos termos aqui propostos, não potencia aquela zona como um pólo de visita, nem gera uma maisvalia na qualidade urbanística do Concelho. Se a estratégia assenta num Concelho que seja um destino turístico de excelência, internacionalmente reconhecido, a aposta terá de ir mais longe e numa direcção claramente distinta. Não é com toda a certeza com condomínios privados, que obteremos uma área de excelência para os visitantes e moradores. Acresce que estamos sem dúvida a desperdiçar uma oportunidade única para a criação de estruturas que auxiliem e complementem uma estratégia global de turismo, que só poderá ser alcançada com a diversificação e aumento da oferta cultural existente no Concelho. De igual forma esta área não pode ser vista isoladamente. A par desta proposta e na sua envolvente próxima outros planos e projectos estão previstos. Falamos por exemplo do Plano de Pormenor da Quinta do Barão com a construção de mais 110 fogos e áreas de comércio, serviços e hotel, o Plano de Pormenor do Espaço Terciário de Sassoeiros Norte, com 14.350m2 de pólo de serviços e ainda um novo pólo universitário mesmo adjacente. É com alguma estranheza que não vemos estas e outras intervenções programas para a freguesia, expressas no relatório da proposta ou mesmo tidas em conta. Uma intervenção desta ordem de grandeza não pode de todo ser definida isoladamente no território. As sinergias dos novos usos programados para a envolvente vão invariavelmente induzir consequências na área do plano. 3
Exemplificando, o estudo de tráfego tomou em conta o acréscimo decorrente do novo campos universitário? A área comercial proposta levou em conta a futura localização do novo CorteInglês mais a norte da freguesia? Esta área em especial merece-nos algumas preocupações, já que o comércio local nesta área sofre já de graves problemas, que com estas duas intervenções o pode definitivamente estrangular, fazendo desaparecer um importante pilar da normal vivência urbana de Carcavelos. É nosso entender que esta proposta caracteriza-se pela ausência de uma interligação dinâmica e estrutural com o centro antigo da vila de Carcavelos, não existindo inclusive qualquer estudo sobre o seu impacto económico sobre o comércio tradicional. Mas não só as intervenções envolventes devem ser tidas em conta, a inexistência do aumento de tráfego sazonal no estudo de tráfego é algo inexplicável, já que é evidente que o volume de tráfego da marginal em época balnear é completamente diferenciado daquele que é contabilizado no estudo como sendo ponto de partida. Qualquer proposta para o espaço em questão deverá no que diz respeito à mobilidade, articular uma vez mais todo o desenvolvimento previsto da envolvente, assim como, aproveitar para propor uma estação de TPSP, junto à já existente Estação de Caminhos-de-ferro, fomentando não só o uso de transportes de menor impacte ambiental como também estimular a implementação de um sistema intermodal. Ainda nesta matéria, não é conclusiva a proposta sobre a extensão deste proposto TPSP. Outra deficiência desta proposta será a remissão da construção dos equipamentos para o final do horizonte temporal do plano, não acautelando a qualidade de vida e o aumento da oferta da rede de equipamentos prevista nos objectivos do próprio plano de pormenor. Argumentos haverá que o Plano de Financiamento prevê esta calendarização, com o fundamento que o Plano terá de ser auto-sustentável financeiramente, ou seja, a realização de mais-valias decorrentes das vendas dos fogos financiarão os equipamentos propostos, no entanto não nos poderemos esquecer que muito tempo antes estarão pessoas a viver nesta área. 4
Esta proposta suscita-nos ainda várias preocupações ao nivel ambiental bem como patrimonial, a saber: Qual o impacto desta proposta na praia de Carcavelos, na extensão do seu areal, na sua duna primária e consequências sobre os ventos e ondulações, essenciais à prática do surf e de outros desportos náuticos? Qual o destino da estrutura do cabo submarino existente no local? Existe a intenção da sua preservação num núcleo museológico a edificar no local? Em conclusão, a Câmara Municipal, ao propor esta intervenção nestes termos, demonstra no fundo estar de acordo com a sua natureza. Ou seja, apresentando este empreendimento neste local com estes parâmetros, e ainda que sejam inferiores àqueles chumbados na proposta de plano em 2001, não pode continuar a refugiar-se nos direitos adquiridos e nos processos judiciais. Em nosso entender há muito que a CM perdeu a capacidade de negociação, demonstrada por esta proposta, com co-autoria municipal e que não equilibra o interesse público com o interesse privado. O Partido Socialista, augura uma solução que traduza menos impactes no meio ambiente e na envolvente próxima, uma solução que represente uma melhoria da qualidade de vida da área de intervenção, nomeadamente com a criação de novos equipamentos, espaços verdes e melhores acessibilidades bem como uma solução que aposte na mobilidade através de transportes públicos. Justifica-se, portanto, que o PPERUCS, ora em análise, seja preparado e alterado e que essa alteração tenha em conta as propostas apresentadas durante o período de Consulta Pública. Uma visão para Cascais é muito mais do que retalhar o concelho em planos de pormenor desarticulados entre si e desenraizados de qualquer estratégia global. Cascais, 17 de Fevereiro de 2014 O Presidente da CPC do PS Cascais Luís Miguel Reis 5