XII Salão de Iniciação Científica PUCRS Análise morfológica do arco inferior de portadores de fissura lábio-palatal após expansão rápida da maxila com dois tipos de parafusos: convencional e em leque Giovana Anzilago Tesser 1, Fabiane Azeredo 1, Juliana Lindemann Rizzato 1, Susana Maria Deon Rizzato 1, Luciane Macedo de Menezes 1 (orientador) 1 Faculdade de Odontologia, PUCRS Resumo A expansão rápida da maxila (ERM) visa corrigir a discrepância maxilar transversa, sendo um dos procedimentos adotados no tratamento de pacientes com fissura lábio-palatal. O objetivo deste trabalho foi avaliar, em modelos de gesso, as dimensões do arco inferior de indivíduos com fissura transforame incisivo unilateral e atresia maxilar, após realização de protocolo padronizado de ERM com dois tipos de parafusos. A amostra foi composta por 18 indivíduos, com idades entre 8 e 13 anos, distribuídos em 2 grupos de acordo com o tipo de parafuso expansor: Convencional (n=11) e limitador posterior (n=7). As distâncias transversas entre caninos, primeiros pré-molares e primeiros molares permanentes foram mensuradas com paquímetro digital, nos modelos iniciais e 6 meses após ERM. Os resultados foram submetidos ao teste t-student para amostras pareadas e para amostras independentes. Foi observado aumento significativo da distância intercaninos inferior no grupo em que se utilizou parafuso com limitador posterior para ERM. Entretanto, não houve diferença estatisticamente significante no aumento espontâneo da distância intercaninos entre os dois grupos avaliados. Em relação às distâncias inter-pré-molares e intermolares inferiores, não ocorreram diferenças significativas entre os aparelhos. Portanto, a ERM utilizando tanto parafusos com limitador posterior como parafuso convencional produziu alterações semelhantes sobre a arcada inferior. Introdução Considerada uma malformação congênita de elevada incidência, a fissura de lábio e/ou palato é atribuída a fatores genéticos e ambientais. Os fatores ambientais que se destacam são os nutricionais, infecciosos, psíquicos, radiação, idade da mãe, uso de drogas e outros agentes
químicos. Em 25% a 30% dos casos de fissuras de lábio e/ou palato, a hereditariedade é a responsável, e cerca de 70% a 80% dos casos são considerados de etiologia multifatorial. Essas fissuras são consideradas a segunda malformação mais comum na população. Ainda não é possível saber o número exato de fissurados no Brasil, mas estima-se existirem cerca de 180.000 portadores, com a ocorrência de um para cada 650 nascimentos, e cerca de 35% de mortalidade no primeiro ano de vida. (Loffedo MCL, 1990; Thomé S, 1990) O tratamento das fissuras labiopalatais é multidisciplinar e, até a sua conclusão, necessita de vários procedimentos. Sendo assim, de acordo com o desenvolvimento do indivíduo são realizadas as intervenções cirúrgicas e/ou ortodônticas. Para que o paciente seja integrado à sociedade e ao convívio familiar é importante o acompanhamento de outros profissionais da área médica. (Dempf R, Hausamen JE, Kramer FJ, Teltzrow T, 2002) Apesar de controversas, as cirurgias reparadoras na infância são necessárias. Na reabilitação inicial do paciente, a queiloplastia e a palatoplastia têm funções importantes principalmente quanto à nutrição e fala, porém podem causar sequelas. Estas cirurgias restringem progressivamente o deslocamento anterior e espontâneo da maxila ao longo do crescimento crânio facial e também reforçam o deslocamento natural medial dos processos palatinos individualizados pela fissura. Desse modo, em muitos casos, pode-se observar mordida cruzada anterior e um variável retrognatismo maxilar. O acompanhamento do paciente por uma equipe transdisciplinar bem como outras intervenções cirúrgicas e ortognáticas são necessárias. (Carvalho RM, Júnior FMF, Mazzottini R, Silva Filho OG, 1998) A fim de corrigir as discrepâncias transversais e sagitais impostas sobre a maxila, decorrentes, também, das cirurgias primárias, o ortodontista pode empregar a expansão associada à máscara facial para obtenção da protração da maxila em pacientes fissurados. (Vieira GL, 2006) Avaliou-se, em pesquisa anterior, os efeitos de dois tratamentos sobre a maxila: expansão convencional e expansão com limitador posterior. Os parafusos expansores convencionais apresentaram uma proporção de abertura transversal praticamente igual nas regiões anterior e posterior, e os parafusos expansores com limitador posterior permitiram uma expansão em leque, maior na região anterior (Gastaldo AS, Mallet CGR, 2010). Mas existem efeitos sobre a arcada inferior? Quais seriam? Assim, o objetivo da presente pesquisa é avaliar, medindo-se nos modelos de gesso da arcada inferior, os efeitos da expansão rápida da maxila (ERM) no arco mandibular, em dois grupos de pacientes portadores de fissura lábio-palatal com atresia
maxilar, submetidos a dois tipos de parafusos expansores (convencional e com limitador posterior). Metodologia A amostra foi composta por 18 indivíduos, com idades entre 8 e 13 anos, baseada em escolha aleatória de indivíduos quanto ao gênero e etnia, que procuraram tratamento ortodôntico no Centro de Reabilitação Lábio-Palatal (CERLAP) da Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, no ano de 2008, os quais foram informados da Pesquisa através de Termo de Consentimento livre e esclarecido. Os indivíduos foram distribuídos em 2 grupos de acordo com o tipo de parafuso expansor: Convencional (n=11) e limitador posterior (n=7). As distâncias transversas entre caninos, primeiros pré-molares e primeiros molares permanentes foram mensuradas com paquímetro digital, nos modelos iniciais e 6 meses após ERM. Resultados Os resultados foram submetidos ao teste t-student para amostras pareadas e para amostras independentes. Foi observado aumento significativo da distância intercaninos inferior no grupo em que se utilizou parafuso com limitador posterior para ERM. Entretanto, não houve diferença estatisticamente significante no aumento espontâneo da distância intercaninos entre os dois grupos avaliados. Em relação às distâncias inter-pré-molares e intermolares inferiores, não ocorreram diferenças significativas entre os aparelhos. Conclusão A ERM utilizando tanto parafusos com limitador posterior como parafuso convencional produziu alterações semelhantes sobre a arcada inferior. Referências 1. Loffedo MCL. Fissuras lábio-palatais: estudo caso-controle de fatores de risco [tese]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 1990. 2. Thomé S. Estudo da prática do aleitamento materno em crianças portadoras de malformações congênitas de lábio e/ou de palato [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo; 1990.
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