Turma e Ano: 2015 Matéria / Aula: Princípios Institucionais do Ministério Público / Aula 01 Professor: Elisa Pittaro Monitora: Kelly Silva Aula 01 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Organização, Atribuições e Regime Jurídico do Ministério Público, Emerson Garcia; Regime Jurídico do Ministério Público, Hugo Nigro Mazzilli; Princípios Institucionais do Ministério Público, Carlos Roberto Jatahy. PRINCÍPIOS E GARANTIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO Princípio do Promotor Natural este princípio garante que ninguém será processado senão por um membro do Ministério Público que possua atribuição. Trata-se de um princípio constitucional implícito, que surgiu a partir das regras da inamovibilidade e independência funcional. Este princípio foi reconhecido na LOMP (Lei nº 8625), quando ela proibiu o PGJ de designar auxílios sem a concordância do promotor titular. O STF, majoritariamente, já reconheceu que esse princípio não existe, e se existe não foi adotado no Brasil, isso por conta do princípio da unidade que norteia a instituição, que permite que seus membros se substituam sem comprometer a atividade final do Parquet. O promotor da Comarca A ofereceu denúncia na Comarca B, por entender que B era a Comarca competente. O que o juiz da Comarca B deverá fazer? Ele deve rejeitar ou não receber a denúncia? O juiz deve se declarar incompetente? Falta ao promotor da Comarca A atribuição para atuar na Comarca B. Por conta do princípio do promotor natural, a atribuição é um pressuposto processual de validade da relação processual, logo a hipótese seria de não recebimento da denúncia. Não existe uma diferença ontológica entre rejeição e não recebimento, até porque o CPP trata as expressões como sinônimas. Porém, para quem faz distinção, elas seriam as seguintes: as hipóteses de não recebimento envolveriam a análise de questões processuais, como pressupostos processuais e condições da ação. É uma decisão capaz de formar coisa julgada formal, e o recurso correto seria o recurso em sentido
estrito (RSE). As hipóteses de rejeição envolveriam a análise de mérito, é uma decisão capaz de formar coisa julgada material e o recurso correto seria a apelação. Princípio da Unidade todos os membros do Ministério Público pertencem a um único órgão, a uma única instituição. Promotor titular interpõe recurso de apelação e em seguida entra de férias, deixando o substituto com a incumbência de apresentar razões. O substituto pode desistir do recurso, discordando do titular? 1ª orientação (pacífica na jurisprudência) além do art. 576 do CPP proibir a desistência, o princípio da unidade que norteia a instituição não permite a discordância entre seus membros; Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto. 2ª orientação (defendida por grande parte dos membros do MP) por conta do princípio da independência funcional, nada obriga o substituto a concordar com o titular, ou seja, ele pode discordar. No MP do RJ existe resolução estabelecendo que o promotor que recorre deverá apresentar razões. Princípio da Indivisibilidade os membros do MP podem se substituir sem que isso comprometa a atividade final do Parquet. Princípio da Independência Funcional este princípio garante a autonomia de convicção, ou seja, no exercício de suas atribuições, o membro não se subordina a qualquer poder hierárquico, devendo observar apenas a lei. GARANTIAS INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO Autonomia Funcional no exercício de suas atribuições, o membro do Ministério Público não se submeterá a qualquer outro poder, órgão ou autoridade administrativa. Autonomia Administrativa consiste na capacidade de autogestão, autoadministração, com a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares.
Autonomia Financeira o Ministério Público pode elaborar o seu orçamento e, autonomamente, administrar os seus recursos de acordo com os limites e parâmetros estabelecidos em lei. GARANTIAS DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO Vitaliciedade é o período probatório adquirido em dois anos, de efetivo exercício do cargo, após a aprovação de concurso de provas e títulos. Inamovibilidade em regra, o membro do Ministério Público não poderá ser transferido sem a sua própria solicitação ou concordância, salvo por motivo de interesse público com decisão da maioria absoluta dos membros do órgão competente (Conselho Superior do Ministério Público). Irredutibilidade de Subsídios o subsídio do membro do Ministério Público não pode ser reduzido. Isso diz respeito à impossibilidade de redução nominal, mas não real. Paralelo às garantias, existem impedimentos ou vedações previstos na Constituição e na Legislação respectiva: 1. Não pode receber honorários, percentagens ou custas processuais; 2. Exercer a advocacia; 3. Participar de sociedade comercial; 4. Exercer qualquer outra função pública, salvo a de magistério; 5. Exercer função político-partidária. A proibição da advocacia do membro está prevista no art. 128 da Constituição, sem qualquer ressalva, e no art. 38, 1º, II da LOMP pune o membro com demissão. Desta forma, desde a entrada em vigor da Constituição de 1988, membro do Ministério Público não pode advogar. Porém, o art. 29, 3º da ADCT autorizava o exercício da advocacia para aqueles que ingressaram na carreira antes da Constituição, permitindo que ele optasse pelo regime anterior no que diz respeito às garantias e vantagens.
Art. 128. O Ministério Público abrange: 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: II - as seguintes vedações: b) exercer a advocacia; (CRFB/88) Art. 38. Os membros do Ministério Público sujeitam-se a regime jurídico especial e têm as seguintes garantias: 1º O membro vitalício do Ministério Público somente perderá o cargo por sentença judicial transitada em julgado, proferida em ação civil própria, nos seguintes casos: II - exercício da advocacia; (LOMP) Art. 29. Enquanto não aprovadas as leis complementares relativas ao Ministério Público e à Advocacia-Geral da União, o Ministério Público Federal, a Procuradoria- Geral da Fazenda Nacional, as Consultorias Jurídicas dos Ministérios, as Procuradorias e Departamentos Jurídicos de autarquias federais com representação própria e os membros das Procuradorias das Universidades fundacionais públicas continuarão a exercer suas atividades na área das respectivas atribuições. 3º Poderá optar pelo regime anterior, no que respeita às garantias e vantagens, o membro do Ministério Público admitido antes da promulgação da Constituição, observando-se, quanto às vedações, a situação jurídica na data desta. (ADCT, CRFB/88) Porém, no Ministério Público estadual, a lei complementar 40/81 proibia a advocacia para seus membros, ou seja, para que eles pudessem advogar, deveriam optar pelo regime anterior e terem ingressado na carreira antes de 1981. Para o MPF não havia lei complementar dessa natureza, bastando ter ingressado antes da Constituição e observado o art. 29, 3º da ADCT. Art. 24 - É vedado aos membros do Ministério Público dos Estados: II - exercer a advocacia. (LC 40/81) NATUREZA JURÍDICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
1ª orientação o Ministério Público é uma instituição, ou seja, é uma organização que possui finalidades a serem desempenhadas tanto na via administrativa como na via funcional. 2ª orientação (Hugo Nigro Mazzilli) o Ministério Público é um órgão do estado. Mazzilli procura fazer uma distinção entre órgão do Estado e órgão do governo, pois como órgão do Estado a sua função seria em defender o estado, ou seja, sociedade, interesse público. Não se confunde com órgão do governo, cujo interesse seria apenas fazendário. Art. 129, II, CRFB/88. Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; 3ª orientação (Emerson Garcia) - o Ministério Público é um órgão constitucional autônomo, pois as suas tarefas surgem do texto constitucional. Não se trata de um quarto poder, porém não está situado dentro de nenhum outro poder, ou seja, ele fica gravitando em torno dos poderes, defendendo a sociedade. O Ministério Público Estadual pode atuar no STF e no STJ? A Lei Orgânica do MPU (LC 85) estabelece que apenas os seus membros podem atuar no STF e no STJ. Porém, como o Ministério Público estadual é autônomo, gradativamente várias ações foram propostas, sendo que inicialmente foram extintas. Posteriormente, os tribunais começaram a abrir vistas as PGR para que tais manifestações fossem ratificadas. Posteriormente, STF e STJ reconheceram a autonomia dos MPs estaduais para atuarem nos tribunais superiores (Reclamação 7358; Agravo Regimental no REsp 194892/RJ). Art. 2º O processo dos crimes definidos no artigo anterior é o comum do juízo singular, estabelecido pelo Código de Processo Penal, com as seguintes modificações: 2º Se as previdências para a abertura do inquérito policial ou instauração da ação penal não forem atendidas pela autoridade policial ou pelo Ministério Público estadual, poderão ser requeridas ao Procurador-Geral da República. (Decreto lei 201/67).
O art. 2º, 2º do Decreto lei 201/67 estabelece que se o MPE não instaurar inquérito ou não deflagrar ação penal, tais providências deverão ser tomadas pelo MPF. Toda a doutrina critica esse dispositivo, pois além de colocar o MPF numa posição de fiscal do MPE, violando a autonomia das instituições, toda a competência da Justiça Federal está na Constituição. A EC 45 criou o incidente de deslocamento de competência da Justiça Estadual para a Federal sempre que houver grave violação de direitos humanos. O objetivo do incidente foi dar efetividade a compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. Porém, o que é essa grave violação de direitos humanos? Para Daniel Sarmento, a análise deve ser feita de forma casuística, porém o STJ tem considerado a inércia ou não da Justiça Estadual para aceitar o deslocamento. Originariamente, quem possui atribuição para atuar na Justiça Eleitoral é o MPF, mesmo porque trata-se de matéria federal. Porém, como o MPF segue normalmente as instalações da Justiça Federal, isso faz com que não exista MPF em todos os municípios, fazendo com que a atribuição passe a ser dos promotores de justiça. O art. 43, III da LC 106/03 diz que a atribuição é do promotor de justiça, e não do procurador. Art. 43 - Além de outras funções cometidas nas Constituições Federal e Estadual, nesta e demais leis, compete aos Promotores de Justiça, dentro de sua esfera de atribuições: III - oficiar perante a Justiça Eleitoral de primeiro grau, com as atribuições do Ministério Público Eleitoral previstas na Lei Orgânica do Ministério Público da União, que forem pertinentes, além de outras estabelecidas na legislação eleitoral e partidária. (LC 106/03) 4ª orientação o Ministério Público é um órgão e também uma pessoa jurídica, ou seja, tenta aproximar as duas teorias anteriores, pois como órgão ele possui um conjunto de tarefas a desenvolver, sendo sua obrigação fazê-lo, e como pessoa jurídica ele passa a ter capacidade de atuar em juízo na defesa de seus direitos, garantias e prerrogativas. FINALIDADES DO MINISTÉRIO PÚBLICO
1. Defesa da Ordem Jurídica pode ser judicial ou extrajudicialmente; 2. Defesa do Regime Democrático; 3. Defesa dos Interesses Sociais; 4. Defesa dos Interesses Individuais Indisponíveis. ESTRUTURA LEGISLATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: II - disponham sobre: d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; (CRFB/88) Art. 128. O Ministério Público abrange: 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: (CRFB/88) Art. 112 - A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Assembléia Legislativa, ao Governador do Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. 1º - São de iniciativa privativa do Governador do Estado as leis que: II - disponham sobre: c) organização do Ministério Público, sem prejuízo da faculdade contida no artigo 172 desta Constituição, da Procuradoria Geral do Estado e da Defensoria Pública; (CERJ)
O PGR ou o Presidente da República possuem a iniciativa de apresentar projeto de lei complementar dispondo sobre a organização e atribuições do MPU. O Presidente da República possui legitimidade para apresentar projeto de lei ordinária dispondo normas gerais sobre os MPs estaduais. O PGJ ou o Governador podem apresentar projeto de lei complementar com o objetivo de tratar da organização, atribuições do MPE (a iniciativa é reservada). Importante: Constituição arts. 127 a 130; LOMP (Lei 8625/93) apesar de ser lei federal, ela estabelece normas gerais para os MPs estaduais; LC estadual 106/03 (LOMPERJ) ela revogou a LC 28/82, porém manteve os artigos que tratam da atribuição dos órgãos de execução (art. 175 da LC 106); LC 75/93 (Lei Orgânica do MPU) a parte inicial e a parte final que trata das disposições gerais tem relevância para aos MPs estaduais; nos arts. 78 a 80, ela trata do MP eleitoral. ESTRUTURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO O Ministério Público se subdivide em Ministério Público Estadual e Ministério Público da União, e este se subdivide em Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Ministério Público Eleitoral ele não é considerado um ramo do Ministério Público da União, sendo tratado apenas como uma função a ser exercida pelo Ministério Público Federal, conforme artigos 72 e seguintes da LC 75/93. Ministério Público no Tribunal de Contas inicialmente foi considerado uma função do Ministério Público do Estado, sendo a matéria tratada no art. 39, III, b e art. 42, da LC 106/03. Foi ajuizada a ADI 12884, que considerou os dispositivos inconstitucionais, ou seja, o MP possui uma carreira própria, que não pode ser
apropriada por quem é de outra carreira. O STF entendeu que o Ministério Público que atua no Tribunal de Contas é um Ministério Público especial. Art. 39 - Além das atribuições previstas nas Constituições Federal e Estadual, nesta e em outras leis, compete ao Procurador-Geral de Justiça: III - oficiar, como órgão do Ministério Público, inclusive assistindo às respectivas sessões e fazendo uso da palavra, para intervir em qualquer assunto ou feito: b) no Plenário do Tribunal de Contas do Estado; (LC 106/03) Art. 42 - Cabe aos Procuradores de Justiça exercer as atribuições do Ministério Público junto ao Tribunal de Justiça e ao Tribunal de Contas do Estado, desde que não cometidas ao Procurador-Geral de Justiça. (LC 106/03)