AÇÕES DE REVISÃO DE ALIMENTOS. PEDIDOS DE MAJORAÇÃO E DE REDUÇÃO. ADEQUAÇÃO DO QUANTUM. 1. Cabe a ambos os genitores a obrigação de prover o sustento do filho menor, devendo cada qual concorrer na medida da própria disponibilidade, e, enquanto a mãe, que é guardiã presta o sustento in natura, cabe ao pai, não guardião, prestar alimentos in pecunia. 2. O encargo alimentar deve ser fixado de forma a atender o sustento do filho, mas dentro das condições econômicas do genitor, tendo em mira também os seus demais encargos de família. 3. Descabe alterar a verba alimentar fixada na sentença, quando se mostra razoável e atende o binômio necessidadepossibilidade. 4. O pleito revisional de alimentos é cabível quando se verifica alteração do binômio possibilidadenecessidade, ex vi do art. 1.699 do CC. 5. Não tendo transcorrido lapso temporal suficiente do estabelecimento da obrigação alimentar, não se verificando alteração no binômio possibilidade e necessidade, isto é não havendo aumento das necessidades dos filhos nem das possibilidades do genitor, não se justifica nem a redução nem a majoração da verba alimentar. Recursos desprovidos. APELAÇÃO CÍVEL SÉTIMA CÂMARA CÍVEL Nº 70 052 603 909 / 70052603859 COMARCA DE CAPÃO DA CANOA L.F.N.J.E.A.N. R.P.V.M.A.. L.F.N.. APELANTES/APELADOS APELANTE/APELADO A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, negar provimento a ambos os recursos. Custas na forma da lei. 1
Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO E DES. ALZIR FELIPPE SCHMITZ. Porto Alegre, 30 de janeiro de 2013. DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES, Presidente e Relator. R E L A T Ó R I O DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (PRESIDENTE E RELATOR) Trata-se de irresignação de ambas as partes com a r. sentença que julgou improcedentes as ações de revisão de alimentos que LOURENÇO F. N. move contra LOURENÇO F. N. J. e EDUARDO A. N., menores representados por sua genitora VERA M. A., assim como a revisional movida pelos menores contra o genitor. Na Apelação Cível nº 70052603909, sustenta o recorrente LOURENÇO que não tem condições financeiras de manter com os alimentos no patamar que se encontra, pois recebe mensalmente o valor de R$ 4.669,85, paga financiamento bancário no valor de R$ 2.353,19, pensão alimentícia a filha Edilaine no valor de R$ 716,94, mais a pensão dos recorridos no valor de R$ 1.866,00, despesas fixas, descontada diretamente da folha de pagamento, ficando todo o mês com saldo devedor de R$ 236,22. Assevera que, caso venha a prevalecer esta forma de apuração de pagamento da pensão, chegará ao estado de insolvência civil, pois está 2
numa situação financeira tão desfavorável que não lhe permite sequer sobreviver dignamente. Salienta que os alimentados tiveram reduzidas as suas necessidades, pois estudam em escola pública, não utilizam transporte pago, pois residem próximos a escola, não fazem atividade extracurricular e residem em moradia própria, paga por este recorrente. Informa que a recorrida é proprietária de um salão de beleza, com vasta clientela no inverno e no verão. Afirma que um dos motivos para a pensão ter sido fixada no valor de três salários mínimos era justamente pelo fato de os menores estudarem em escola paga e lá deveriam permanecer, o que não ocorreu, pois, um mês após o acordo, a genitora arbitrariamente transferiu os filhos para escola pública, visando assim utilizar a verba alimentar a seu bel prazer. Pretende seja reformada a sentença para fixar os alimentos em um salário mínimo. Pede o desprovimento do recurso. Na Apelação Cível nº 70052603859, sustentam os recorrentes LOURENÇO JUNIOR e EDUARDO que foi comprovada a alegação de excelente situação econômica do requerido, pois recebe o valor bruto de R$ 9.669,26. Alega que a majoração requerida na pensão alimentícia deve ser norteada por estes ganhos brutos, retirados apenas os descontos legais na folha de pagamento. Aduz que o valor líquido a receber R$ 4.415,78, contabiliza os descontos da pensão alimentícia e do empréstimo pessoal firmado pelo alimentante, que devem ser somados com o valor bruto para se chegar ao valor real dos novos alimentos. Assevera ser fato notório na cidade que o recorrido possui expressiva renda extra, pois é proprietário de um dos mais movimentados quiosques à beira-mar na alta temporada. Referem que sua genitora se viu obrigada a retirá-los da escola particular, bem como do uso do transporte pago, pois o valor da pensão não era suficiente para manter o nível de vida, acarretando mudança brusca em suas vidas. Pretende seja reformada a sentença para majorar o valor a título de 3
alimentos, fixando-os no patamar de 35% dos ganhos brutos do recorrido, julgando procedente a ação. Pede o desprovimento do recurso. Intimado, o recorrido LOURENÇO apresentou contra-razões sustentando que os recorrentes não fizeram prova da necessidade de majoração dos alimentos para justificar a ação. Informa que demonstrou efetivamente a mudança brusca na sua situação econômica, não se podendo cogitar de majoração dos alimentos. Aduz que possui outra filha para quem também paga alimentos, no patamar de 10% de seus ganhos líquidos, descontados diretamente em sua folha de pagamento, além da filha nascida em julho de 2012, a quem presta alimentos in natura, conforme documento juntado. Refere que não tem condições de pagar a quantia de 35% do valor de R$ 10.000,00, pois, efetuados todos os descontos legais, seu rendimento líquido é de R$ 4.682,02. Diz que se acolhida a pretensão dos recorrentes de irá cair em total insolvência civil, pois não está conseguindo nem mesmo cumprir com o que foi acordado. Pede o desprovimento do recurso. Intimados, os recorridos LOURENÇO JUNIOR e EDUARDO deixaram transcorrer in albis o prazo para apresentar as contra-razões. Com vista aos autos, a douta Procuradoria de Justiça lançou parecer opinando pelo desprovimento de ambos os recursos, apenas opinando pela conversão em percentual sobre os ganhos líquidos do alimentante e não mais em salários mínimos. Foi observado o disposto no art. 551, 2º, do CPC. É o relatório. 4
V O T O S DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (PRESIDENTE E RELATOR) Estou desacolhendo ambos os recursos. Considerando que ambas as partes recorrem da mesma sentença e que em ambos os recursos a discussão versa acerca do exame da adequação do binômio possibilidade e necessidade dos alimentos, passarei ao exame conjunto. Com efeito, para que seja possível o acolhimento do pleito de redução ou de majoração do encargo alimentar é imprescindível que se verifique a efetiva alteração do binômio possibilidade-necessidade, que constitui em si uma relação de proporcionalidade. Ou seja, é preciso verificar se houve a elevação das necessidades de quem recebe os alimentos ou das possibilidades de quem está obrigado a prestá-los, pois a obrigação alimentar vincula-se à cláusula rebus sic stantibus. A ação de revisão de alimentos, por essa razão, tem por pressuposto o exame da alteração ou não do binômio possibilidadenecessidade dos partícipes da relação obrigacional e se destina à redefinição do encargo alimentar. Assim, para que seja acolhido o pleito revisional, é necessário que tenha havido substancial mudança nas possibilidades do alimentante ou das necessidades do alimentando, bem como que essa modificação contemple o lapso de tempo compreendido entre a data da fixação dos alimentos e a propositura da ação revisional. 5
No caso em exame, o lapso temporal transcorrido após a fixação do valor dos alimentos não é suficiente para justificar nenhuma das pretensões, pois transcorridos pouco meses da homologação do pacto, motivo pelo qual não se justifica nem a redução nem a majoração da verba alimentar estabelecida. Lembro, inicialmente, que cabe a ambos os genitores a obrigação de prover o sustento do filho menor, devendo cada qual concorrer na medida da própria disponibilidade, e, enquanto a mãe, que é guardiã presta o sustento in natura, cabe ao pai, não guardião, prestar alimentos in pecunia. Além disso, observo que o encargo alimentar deve ser fixado de forma a atender o sustento dos filhos, dentro das condições econômicas do genitor. Ou seja, não é possível fixar encargo alimentar que supere a capacidade econômica do alimentante. E, no caso, o pensionamento alimentar anteriormente estabelecido, não desborda do razoável, pois se destina ao sustento de dois filhos, que contam 15 e 12 anos de idade e cujas necessidades são presumidas e compatíveis com a sua faixa etária. Friso que constitui ônus processual do alimentante fazer a prova dos seus ganhos e da impossibilidade absoluta de atender o encargo alimentar fixado, consoante Conclusão nº 37 do CETJRS, ônus do qual não se desincumbiu. 6
Da mesma forma, também não merece guarida o pleito de majoração formulado por LOURENÇO JUNIOR e EDUARDO, pois a verba alimentar foi estabelecida em patamar bastante razoável, atendendo de forma satisfatória ao binômio necessidade-possibilidade. E, acima de tudo, não há prova alguma de que tenha havido qualquer alteração no binômio possibilidade e necessidade no período compreendido entre o estabelecimento da verba alimentar e a propositura das ações revisionais, motivo pelo qual fica mantida a verba alimentar no patamar estabelecido anteriormente. Com tais considerações, estou acolhendo também, em parte, os argumentos postos no parecer do Ministério Público, de lavra da ilustre Procuradora de Justiça Ana Rita Nascimento Schinestsck, que peço vênia para transcrever, in verbis: No mérito, não devem prosperar. Ação Revisional nº 141/1.10.0007676-5 Nesta ação, os menores Lourenço e Eduardo requerem a majoração dos alimentos que recebem do genitor para 35% sobre a renda líquida do mesmo. Afirmam que o valor de três (03) salários mínimos que recebem desde o acordo firmado entre os genitores em 2010, não são suficientes para atender as suas necessidades. Segundo o art. 1699 do CC é possível a redução ou majoração dos alimentos sempre que houver mudança comprovada da situação financeira do alimentante e/ou do alimentado. No presente caso, não há nos autos qualquer comprovação de mudança do binômio possibilidade e necessidade. Não houve por partes dos menores a comprovação de aumento de renda do genitor que justificasse o aumento da verba alimentar. Ação Revisional nº 141/1.11.0001757-4 7
Por sua vez, o alimentante requereu a redução do valor dos alimentos pagos aos filhos menores para um (01) salário mínimo mensal. Alegou que auxilia os menores com o pagamento de diversas despesas extras, entendendo não haver razão para manter o pagamento do valor anteriormente acordado. Destaca-se que o autor alimentante também não se desincumbiu de demonstrar mudança no binômio possibilidade e necessidade. Na verdade, não trouxe qualquer prova de alteração da sua condição financeira ou, ainda, de redução nas necessidades presumidas dos menores. (...). (omissis do Relator) ISTO POSTO, nego provimento a ambos os recursos. DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO (REVISORA) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. ALZIR FELIPPE SCHMITZ - De acordo com o(a) Relator(a). DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES - Presidente - Apelação Cível nº 70052603859, Comarca de Capão da Canoa: "NEGARAM PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: LUIZ AUGUSTO DOMINGUES DE SOUZA LEAL 8