SUBSTRATO, SUPERESTRATO, ADSTRATO. Profa. Marli Quadros Leite

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Transcrição:

SUBSTRATO, SUPERESTRATO, ADSTRATO Profa. Marli Quadros Leite

Substrato Nome que se dá à língua de um povo, abandonada em proveito de outra língua que a ela se impõe, geralmente como consequência de uma conquista política. (CAMARA Jr.) Toda influência que a língua desaparecida imprime no idioma sobrevivente. (CUNHA, C.; CARDOSO, W.) Língua que existia numa certa região, mesmo que não tenha influenciado a língua posterior. (MARTINET, A.) Língua antiga e, eventualmente, desaparecida que deixou vestígios na língua que chegou e predominou. (MARTINET, A.)

Superestrato Nome que se dá à língua de um povo conquistador, que a abandona para adotar a língua do povo vencido. (CAMARA Jr.) Influência de outras línguas sobre a primitiva, que todavia se mantém. (CUNHA, C.; CARDOSO, W.) Conjunto de elementos linguísticos trazidos por uma língua vinda do exterior que coexistiu algum tempo com a língua local. (MARTINET, A.)

Adstrato Toda língua que vigora ao lado de outra (bilinguismo), num território dado, e que nela interfere como manancial permanente de empréstimos. (CAMARA Jr.) Língua que conviveu ou convive em pé de igualdade com a língua local. (MARTINET, A.)

Em outras palavras... 1) Substrato língua nativa desaparecida de um povo dominado, que adotou a língua do dominador. 2) Superstrato língua nativa de um povo dominador, desaparecida, em virtude de este povo ter adotado a língua do povo dominado 3) Adstrato qualquer língua que conviveu ou convive em igualdade de condições (bilinguismo) com outra língua.

Substrato do português 1) Ibérico barro, baía, bezerro, balsa, cama, esquerdo, garra, manto e sapo. 2) Celta bico, cabana, caminho, camisa, carro, cerveja, gato, gordo, lança, légua, peça e touca, menir, dólmen, druida e bardo. 3) Fenício e púnico barca (fenícia); mapa, mata e saco (púnica). 4) Grego elas: bolsa, cara, corda, calma, caixa, ermo, governar, golfo e órfão (anteriores à conquista romana).

Superestrato Palavras de origem germânica, introduzidas pelos visigodos, suevos e vândalos. São mais ligadas à vida militar e aos costumes próprios dos germanos, tais como guerra e saque. Outras são: acha, arauto, arreio, agasalho, albergue, anca, aspa, barão, banco, banho, branco, brasa, brandir, dardo, esgrimir, espiar, elmo, espeto, estaca, estribo, espora, estampar, escarnecer, feudo, fato, feltro, fralda, fresco, ganso, garbo, guarda, grupo, galardão, guia, lata, lasca, liso, marco, morno, rico, roupa, roubar, saga, sopa, tirar, trégua, norte, sul, leste, oeste.

Adstrato Influência árabes: As palavras de origem árabe são fáceis de reconhecer pela presença do artigo invariável al, quer inalterado ou reduzido a a, quando antes de x, z, c e d: arroz, azeite, açougue e aduana. Outras: nomes- álcali, alarde, alarido, alcunha, algazarra, álgebra, azulejo, alvará, almofada, alcatéia, azeviche, azar, cáfila, javali, cifra e zero; os adjetivos garrido, forro, mesquinho e baldio; uns poucos verbos, como alcatifar; e a interjeição oxalá (proveniente do árabe in sha Allah ).

Adstrato Provençal ou occitânico a influência do provençal ou, modernamente, occitânico ( langue d'oc ), concentrando-se, basicamente, em vocábulos relacionados com a vida nas cortes, tais como: alba, balada, bedel, coxim, cadafalso, estandarte, homenagem, jogral, justa, paliçada, refrão, sirventês, trova, truão, tropel, vassalo e vianda. Além dessas, há algumas palavras de uso mais geral: alegre, anel, artilharia, salitre,rouxinol e viagem.

Conclusão No português, a influência do: substrato e do superestrato resumem-se ao léxico; adstrato é a mais importante pois todas as línguas que conviveram com o português (o árabe, em Portugal e a língua geral e o semicrioulo no Brasil) penetraram bastante no nosso léxico, e esse último modificou características do português, principalmente muito mais intensa, principalmente nas populações de menos escolaridade e instrução.

Referências CÂMARA JÚNIOR, J. Mattoso. Dicionário de linguística e gramática. 10ª ed. Petrópolis: Vozes, 1981. p. 42, 227-228 e 230. CARDOSO, Wilton e CUNHA, Celso F. da. Estilística e gramática histórica; português através de textos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1918. p. 133-148 e 238-250. GARCIA, Afrânio da Silva. O português do Brasil: questões de substrato, superstrato e adstrato. Soletras, Ano II, nº 04. São Gonçalo : UERJ, jul./dez. 2002. SILVA NETO, Serafim da. Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Presença, 1977. p. 18-209.