A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO NOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UEPG

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Transcrição:

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO NOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UEPG Resumo PASSOS, Edyson dos 1 - UEPG Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: BIC/Fundação Araucária Este artigo trata de uma pesquisa em andamento de PIBIC, cujo objetivo principal é analisar a construção da identidade docente em professores de ensino superior, no contexto dos programas de pós-graduação da UEPG. Nesse estudo, é abordada uma problemática nos cursos de pós-graduação que, muitas vezes, não preparam adequadamente o futuro professor universitário para atuar em sala de aula; algumas universidades oferecem apenas disciplinas de 60 horas para a formação docente que, na maioria das vezes, não é o suficiente para se formar um bom profissional da área. Assim sendo, o professor não terá a oportunidade da construção da identidade docente. No que se refere à metodologia, trata-se de uma pesquisa de base qualitativa que buscará dados em análise de documentos. Assim, essa objetivará analisar mais detalhadamente e compreender o que as políticas institucionais e as políticas públicas brasileiras estão fazendo para promover a formação pedagógica do professor universitário. Também haverá sugestões e estratégias para a formação pedagógica do docente universitário. Portanto, enquanto estivermos nos contentando com cursos de mestrado e/ou doutorado que não focam a formação pedagógica, teremos um nível mínimo de profissionalismo e de profissionalização no que se refere à docência universitária. Então, não podemos pensar que a situação atual está boa, pois necessitamos formar profissionais capacitados para atuar em sala de aula. Enfim, como resultado, busca-se compreender a importância do conceito de identidade docente na formação do professor universitário em cursos de mestrado e/ou doutorado, pois não é suficiente apenas dominar o conteúdo de sua disciplina e nem ser apenas um bom pesquisador da sua área. Para ser um bom professor, é também necessário ser formado pedagogicamente para isso. Palavras-chave: Identidade docente. Professor universitário. Formação pedagógica do professor universitário. Introdução Este artigo é resultado de uma pesquisa em andamento, a qual está sendo realizada no PIBIC na área de educação da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa). A proposta 1 Graduando do 3o ano do curso de Letras Português/Espanhol da UEPG. E-mail: edysonpassos@hotmail.com.

12998 deste trabalho é a análise da construção da identidade docente dos professores do ensino superior, no contexto dos programas de pós-graduação da UEPG, em especial, proponho discutir a importância que é dada pelos programas de pós-graduação para a construção da identidade docente de seus mestrandos e doutorandos. Dessa forma, analisarei como os programas de mestrado e doutorado da UEPG tratam e preocupam-se com a formação do pósgraduando em relação à sua identidade docente. Além de centrar os programas de pós-graduação, me voltarei para compreender e analisar como as políticas públicas brasileiras e as políticas institucionais estão cooperando para a criação da cultura da docência e a construção da identidade docente do professor universitário em formação inicial (em nível de mestrado e/ou doutorado). Como síntese, a partir dos pontos propostos para a análise, objetivo elencar estratégias e alternativas para a formação pedagógica do professor universitário, focando primordialmente a formação inicial. Algumas autoras abordam que há uma necessidade de mudança estrutural nos cursos de formação docente para os futuros professores universitários (mestrado e doutorado), pois, muitas vezes, disciplinas relacionadas à docência não têm muito valor; assim, os profissionais são preparados para sua área específica de atuação, mas faltam-lhes prática e saberes docentes (PIMENTA e ALMEIDA (2009), CUNHA (2005, 2006), PIMENTA e ANASTASIOU(2005)). Na organização desse artigo, a fundamentação teórica abordará a pedagogia universitária e sua relação com a construção da identidade docente. Após a fundamentação teórica, explicarei a metodologia utilizada para realizar a pesquisa. Depois, analisarei os dados encontrados, e, por fim, trarei, nas conclusões, sugestões e estratégias para a formação inicial pedagógica do professor universitário. Fundamentação teórica Segundo Pimenta e Anastasiou (2005), os profissionais de várias áreas como médicos, engenheiros e advogados, trazem consigo uma imensa bagagem de conhecimento nas suas respectivas áreas de atuação, mas na maioria das vezes nunca refletiram sobre o que significa ser professor. Um dos motivos desse distanciamento da profissão docente pode estar relacionado ao fato de a pós-graduação não necessitar tratar da formação pedagógica. A LDB 9.394/96 descreve, em seu artigo 66, que a preparação para o exercício do magistério far-se-á

12999 em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. E, em seu artigo 52, determina que as instituições de ensino superior tenham um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado; e um terço do corpo docente em regime de tempo integral. Ou seja, para ser um docente universitário, a Lei prevê o diploma de mestre ou doutor, mas não prevê que os programas de mestrado e/ou doutorado tratem da formação pedagógica. Algumas instituições, para suprir essa limitação na formação inicial, estão oferecendo formação pedagógica para professores do ensino superior, conforme observamos abaixo: Inicialmente, houve a inclusão de uma disciplina, nos cursos de pós-graduação, sobre a metodologia do ensino superior. Embora, em geral, resumida a uma duração de 60 horas em média e nem sempre desenvolvida por profissionais que dominam os saberes necessários à docência, essa iniciativa tem sido, para muitos docentes universitários, a única oportunidade de uma reflexão sistemática sobre a sala de aula, o papel docente, o ensinar e o aprender, o planejamento, a organização dos conteúdos curriculares, a metodologia, as técnicas de ensino, o processo avaliatório, o curso e a realidade social onde atuam (PIMENTA e ANASTASIOU, 2005, p.108). No entanto, uma pergunta se faz necessária: é possível apenas este recurso, 60 horas em média, para desenvolver uma identidade docente no profissional que irá atuar no ensino superior? Pimenta e Anastasiou (2005) relatam que, para a construção da identidade docente, são necessários três processos: o desenvolvimento pessoal, que se refere aos processos de produção da vida do professor; o desenvolvimento profissional, que se refere aos aspectos da profissionalização docente; e o desenvolvimento institucional, que se refere aos investimentos da instituição para a consecução de seus objetivos educacionais. No caso dessa pesquisa, focarei o desenvolvimento profissional. Ainda sobre a construção do processo identitário do professor, temos três elementos que se destacam: Adesão, ação, autoconsciência. A adesão, porque pra ser professor e necessário aderir a princípios, valores, adotar um projeto e investir na potencialidade dos jovens. A ação, porque a escolha das maneiras de agir deriva do foro pessoal e profissional. A autoconsciência, porque tudo se decide no processo de reflexão do professor sobre sua ação (PIMENTA e ANASTASIOU, 2005, p.115). Sendo assim, para essa perspectiva, é esperado que o futuro professor conclua a pósgraduação sendo capaz de refletir sobre os processos de ensino/aprendizagem de graduandos.

13000 Mas, na maioria das vezes, não é isso que acontece porque a pós-graduação, geralmente, não tem um enfoque maior na docência. De acordo com Cunha (2005), a escolha do professor como ator especial na definição da prática pedagógica do ensino superior parece fácil de entender, e está correto, mesmo ele não sendo o único elemento significativo do processo, ele é o agente principal nas decisões das práticas pedagógicas, ou seja, ele é o que representa a maior força na estrutura acadêmica. Para Almeida (2012), o fundamento da formação de professores baseia-se no papel desses profissionais como responsáveis também pelo conjunto de decisões que envolvem as opções político-educacionais relativas ao currículo, aos projetos, à disciplina, à articulação entre ensino e pesquisa, à avaliação, etc. O papel do professor está comprometido com várias ações, como encontramos referenciado em Almeida e Pimenta. (...) o professor universitário precisa atuar de forma reflexiva, crítica e competente no âmbito de sua disciplina, explicitando seu sentido, seu significado e sua contribuição no percurso formativo dos estudantes e no projeto político-pedagógico dos cursos, coletivamente consensuado e vivido no cotidiano do ensino e da pesquisa. Projeto esse que é estabelecido a partir do diálogo com o Projeto Político Pedagógico Institucional, a partir da identidade de cada curso (PIMENTA e ALMEIDA, 2009, p.19). Então, os futuros professores universitários devem estar preparados, motivados e sempre buscando conhecimento e inovações para uma boa atuação em sala de aula, sempre re(construindo) sua identidade docente. Agora volto à questão elaborada inicialmente: Um curso de 60 horas em média é capaz de promover a construção de uma identidade docente no profissional que irá atuar no ensino superior? Em minha opinião, não é capaz. Seria necessário mais enfoque na construção da identidade docente, uma vez que os professores universitários sairão da pós-graduação apenas com uma noção muito inicial do que é ser professor. Assim, os cursos de mestrado e doutorado deveriam dar mais atenção à área da docência, pois são esses futuros mestres e doutores que irão ensinar futuros professores, médicos, advogados e demais profissionais das diferentes áreas.

13001 Metodologia Essa pesquisa é de base qualitativa e, como metodologia, utilizará o estudo de caso para analisar programas de pós-graduação da UEPG, no que se refere especificamente à preocupação de formar pedagogicamente o (futuro) professor universitário. A perspectiva do estudo de caso defendida nesta pesquisa está de acordo com Lüdke e André (1986), para quem o estudo de caso é o estudo que busca a descoberta, enfatiza a interpretação no contexto onde o caso ocorre e procura retratar a realidade de maneira completa e profunda, utilizando-se de diversas fontes de informação e permite generalizações naturalísticas que procuram representar os pontos de vista diferentes e às vezes conflitantes presentes numa determinada situação. Os programas de pós-graduação que serão os casos estudados são letras e odontologia. Para tal escolha, nos pautamos no critério de investigar, pelo menos, um programa da área das licenciaturas e um programa que não tivesse vinculação com as licenciaturas. Como técnicas de coletas dos dados, serão utilizados análise documental (os currículos dos programas de pós-graduação da UEPG e as ementas das disciplinas) e questionários com egressos dos programas. A análise documental também se dará no campo das políticas públicas brasileiras e políticas institucionais, no contexto atual, de modo a verificar se tais políticas promovem a formação pedagógica do (futuro) professor universitário. Para esta apresentação, no entanto, nos limitaremos a analisar, ainda que inicialmente, o programa de mestrado do curso de Letras da UEPG. Essa análise parte dos documentos encaminhados à CAPES e que foram aprovados para a abertura do programa. Passamos, então, à análise dos documentos consultados. Análise Um dos cursos de mestrado da UEPG é o curso de Linguagem, Identidade e Subjetividade que está situado na área de Letras e foi aprovado em 2010. A descrição da área de concentração do curso, de acordo com projeto aprovado pela CAPES, se organizou assim:

13002 A opção pela área de concentração em Linguagem, identidade e subjetividade tem como objetivo estudar a linguagem em suas práticas sociais reais, mas também nas recriadas literariamente, procurando articular ao debate epistemológico e metodológico questões que emergem do uso efetivo da língua. As perspectivas teórico-metodológicas que sustentam esta proposta compreendem a linguagem pelo viés da interação social, seja de forma direta, por meio dos usos que os atores sociais fazem dela, seja de forma indireta, por meio de manifestações artísticas. O homem se constitui na e pela língua. Essa língua é heterogênea, plural, multifacetada e, portanto, constitui o homem desse modo. Nesse sentido, os estudos contribuirão, por um lado, para investigar a subjetividade presente no uso da linguagem e, por outro, para determinar como os indivíduos revelam e negociam suas participações em e seu pertencimento a determinados grupos sociais pelo exercício da linguagem. Tratará também das representações literárias, em que os personagens se constituem pela linguagem (Projeto do Programa de Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade, 2009). A partir dessa descrição, conseguimos compreender que haverá investigação sobre o uso da linguagem e representações literárias, no entanto, nesta descrição, não há proposta de formação do professor universitário. E os objetivos desse mestrado, ainda conforme o mesmo documento, são: Formar pessoal qualificado para o exercício das atividades profissionais de ensino e pesquisa em estudos da linguagem. Propiciar a reflexão sobre questões relacionadas ao ensino e à formação de professores de línguas. Desenvolver pesquisas na área de estudos do texto, do discurso e da literatura. Desenvolver pesquisas nos diversos níveis de descrição envolvendo corpora de português falado e/ou escrito, literário ou não, articulando esses dados a aspectos culturais e sociais da comunidade. Estudar as identidades periféricas e suas expressões nas literaturas de língua portuguesa e de línguas estrangeiras (Projeto do Programa de Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade, 2009). Quanto aos objetivos do programa, podemos verificar que, na primeira e segunda propostas, há uma intenção de formação de professores ou uma preocupação com questões relacionadas ao ensino. No entanto, não se explicita se essa formação e se esse ensino seriam no contexto universitário. Na caracterização do curso encontramos o objetivo a ser formado no aluno que é: O objetivo do curso é propiciar reflexões sobre questões relacionadas à linguagem e à formação de professores da área. Com isso, pretende-se formar pessoal qualificado para o exercício das atividades de ensino e pesquisa em estudos da linguagem e fomentar a produção de conhecimento sobre a linguagem e sobre as áreas afins (Projeto do Programa de Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade, 2009). Então, podemos perceber que, nesse objetivo, tem-se uma preocupação em formar um professor da área que seja qualificado adequadamente para exercer a profissão, isso pode ser

13003 que ocorra, mas algumas vezes pode ser que o profissional não seja formado competentemente para a docência. Assim esse curso de mestrado tem como grade curricular: Primeiro Semestre: Estudos de identidade e subjetividade e duas disciplinas eletivas; Segundo Semestre: Pesquisa em Linguagem e duas disciplinas eletivas; Terceiro Semestre: Orientação de dissertação, Leitura orientada, Qualificação de dissertação; Quarto Semestre: Orientação de dissertação, Defesa de dissertação. (Projeto do Programa de Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade, 2009). Vendo essa grade curricular, podemos destacar que não há um enfoque para alguma disciplina que desenvolva o futuro professor universitário. Porém, os mestrandos terão que cumprir quatro créditos em atividades especiais, que incluem o Estágio de Docência na graduação. Mas esse estágio tem carga horária apenas de 60 horas, o que pode não ser suficiente para desenvolver o futuro docente universitário, fazendo com que ele futuramente não tenha os conhecimentos necessários sobre os saberes pedagógicos para desenvolver os processos de ensino/aprendizagem de forma plena. Considerações Finais Com o desenvolvimento inicial desta pesquisa, entendemos que há uma falha nos cursos de pós-graduação, pois esses cursos não, necessariamente, preparam o futuro professor universitário para atuar em sala de aula. Sendo assim, se o docente chega a dar aula no ensino superior, pode fazê-lo sem ao menos refletir sobre o que é ser professor universitário. Essa limitação na formação do mestre e/ou do doutor, por sua vez, pode prejudicar os processos de ensino/aprendizagem dos alunos da graduação. Finalmente, podemos destacar que esse estudo focou a formação da identidade docente do futuro professor universitário e, para desenvolver tal pesquisa, analisou os documentos aprovados pela CAPES de um dos programas de pós-graduação da UEPG. Como resultado dessa análise, descobriu que, no curso de mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade, como especificidade da docência no ensino superior, só existe um estágio em docência com carga horária de 60 horas, o que pode não ser o suficiente para formar adequadamente o docente. Na continuação dessa pesquisa, serão analisados as ementas das disciplinas e os programas de curso e serão entrevistados alguns mestrandos e egressos do programa. O

13004 objetivo dessa continuidade da pesquisa é que outros fatos e análises venham à tona no que se refere à formação pedagógica dos participantes deste mestrado. Portanto, a problemática da falta de formação pedagógica do professor universitário é muito grave, temos que dar mais atenção para ela, pois mestrandos e doutorandos podem estar se formando nos programas de pós-graduação sem problematizar a construção de uma identidade docente. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Isabel de. Formação do Professor do Ensino Superior: Desafios e Políticas Institucionais. São Paulo: Cortez, 2012. ALMEIDA, Maria Isabel de; PIMENTA, Selma Garrido. Pedagogia Universitária. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009. BRASIL. Lei número 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, DF, 1996, n. 8, p. 27.833-27.841. CUNHA, Maria Isabel da. O professor universitário na transição de paradigmas. 2. ed. Araraquara: Junqueira & Marin Editores, 2005. (Org.). Pedagogia universitária: energias emancipatórias em tempos neoliberais. Araraquara, SP: Junqueira&Marin, 2006. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no ensino superior. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005. UEPG. Projeto do Programa de Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade. 2009.