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Transcrição:

PARECER NR. 33/PP/2009-P CONCLUSÃO: A Para o advogado, a matéria de conflito de interesses é uma questão de consciência, competindo-lhe ajuizar se a relação de confiança que estabeleceu com um seu antigo cliente lhe permite, livremente e sem constrangimentos, assumir um patrocínio contra ele. B Não está vedado ao advogado, genericamente, exercer patrocínio contra anterior cliente, impondo-se apenas averiguar se tal patrocínio configurará, ou não, uma situação de conflito de interesses. C Não configura uma situação de conflito de interesses a aceitação de mandato conferido pelo ofendido, quando o mandatário, apesar de ter sido nomeado, no mesmo processo, defensor oficioso do arguido funções entretanto cessadas por despacho judicial -, não teve qualquer intervenção no processo, nem sequer contactou o arguido. I. Em email de 4.05.2009, recebido no dia imediato e distribuído para emissão de parecer ao signatário em 19.07.2009, dirigido ao Exmo. Senhor Presidente do Conselho de Deontologia do Porto da Ordem dos Advogados, depois remetido a este Conselho Distrital, o Senhor Advogado, ( ), titular da cédula profissional nº. ( ), sob o assunto Pedido de esclarecimento art. 94º. EOA, expõe e pergunta como segue: a) O advogado nomeado, oficiosamente, a arguido, que não tenha qualquer intervenção no processo crime para que foi nomeado (nunca tendo, sequer, contactado com o arguido); b) E se, entretanto, o arguido vier a outorgar procuração forense a favor de um, outro, advogado; c) E por despacho judicial cessarem as funções de defensor oficioso; d) Posteriormente o defensor oficioso se contactado pelo ofendido, pode aceitar o mandato e requerer a sua constituição como assistente? Sendo questão de ordem profissional a colocada, tem este Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados, competência para sobre ela se pronunciar art. 50º.-1 f) EOA. II. A questão está relacionada com eventual conflito de interesses, situação prevista no art. 94º. EOA (que se transcreve):

1 O advogado deve recusar o patrocínio de uma questão em que já tenha intervindo em qualquer outra qualidade, ou seja conexa com outra em que represente, ou tenha representado, a parte contrária. 2 O advogado deve recusar o patrocínio contra quem, noutra causa pendente, seja por si patrocinado. 3 O advogado não pode aconselhar, representar ou agir por conta de dois ou mais clientes, no mesmo assunto ou em assunto conexo, se existir conflito entre os interesses desses clientes. 4 Se um conflito de interesses surgir entre dois ou mais clientes, bem como se ocorrer risco de violação do segredo profissional ou de diminuição da sua independência, o advogado deve cessar de agir por conta de todos os clientes, no âmbito desse conflito. 5 O advogado deve abster-se de aceitar um novo cliente se tal puser em risco o cumprimento do dever de guardar sigilo profissional relativamente aos assuntos de um anterior cliente, ou se do conhecimento destes assuntos resultarem vantagens ilegítimas ou injustificadas para o novo cliente. 6 Sempre que o advogado exerça a sua actividade em associação, sob a forma de sociedade ou não, o disposto nos números anteriores aplica-se, quer à associação, quer a cada um dos seus membros. Com este normativo, procura-se, de um lado, defender a comunidade, e os clientes dos advogados em especial, de actuações ilícitas destes, conluiados, ou não, com outros clientes; e, de outro lado, defender o advogado da hipótese de sobre ele recair a suspeita de uma actuação visando qualquer outro fim, que não a defesa dos direitos e interesses do seu cliente. III. Para o advogado, a matéria de conflito de interesses é, pois, em primeira linha, uma questão de consciência. Cabe a cada advogado ajuizar se a relação de confiança que estabeleceu com um seu antigo cliente lhe permite, livremente e sem constrangimentos, assumir agora um patrocínio contra ele. E, então, uma de duas: - ou ao advogado repugna litigar contra quem foi seu cliente, e tal deve ser entendido como causa justificativa da recusa de patrocínio cfr., a propósito, art. 95º.-2 EOA -, ainda que a situação não resulte proibida por norma expressa do EOA; - ou não repugna e, então, impõe-se averiguar, objectivamente, se uma determinada situação consubstancia ou não, conflito de interesses.

Vindo a questão colocada como hipótese, há que analisá-la em concreto. IV. Face ao relato do Exmo. Colega consulente não pode considerar-se que o advogado, apesar da nomeação oficiosa para patrocínio do arguido, tenha efectivamente intervindo em qualquer questão, ou aconselhado, representado ou agido por conta de quem quer que fosse, designadamente do arguido. E, assim sendo, também não ocorrem os riscos ainda que de simples riscos se trate, quer de violação de segredo profissional (o advogado não chegou a conhecer factos, eventualmente sujeitos a sigilo), quer de diminuição da independência, no caso de o advogado resolver aceitar mandato do ofendido. Tratou-se, em suma, de uma nomeação que não teve concretização na prática de actos próprios do patrocínio, nomeadamente em representação do arguido, pelo que haverá de concluir-se pela inexistência de conflito de interesses. Daqui, crê-se, não há fugir. V. Não se desconhece, no entanto, a existência de um parecer do Conselho Geral da Ordem dos Advogados, de 19.03.1987 (in ROA, nº. 47, pág. 634) que, embora proferido ao abrigo, ainda, do anterior EOA (DL 84/84, de 16 de Março), concluiu pela existência de conflito de interesses em situação em tudo idêntica à analisada. O facto de ter sido proferido ao abrigo do anterior EOA, não lhe retira actualidade visto o revogado art. 83º.-1 a) e b) EOA de 84 corresponder, para o que aqui importa, ao art. 94º.-1 do actual EOA, antes transcrito. Reconhece-se, no parecer, que, em rigor, não pode dizer-se que o advogado tivesse intervindo na questão, a não ser de modo meramente formal. Mas aquela intervenção, ainda que formal - prossegue o parecer -, mantém-se para além da caducidade do patrocínio, por razões de obediência às regras de decoro e dignidade profissionais, valores que o EOA pretende salvaguardar, mesmo quando é só aparente o conflito entre as duas intervenções do advogado na mesma causa. Daí que o parecer conclua que, para efeitos do disposto no nº. 1, alínea a), do artigo 83º., do Estatuto da Ordem dos Advogados, deve considerar-se que já teve intervenção

numa questão o advogado nomeado oficiosamente ao réu em processo penal, apesar de aí não ter praticado qualquer acto e de nenhum contacto ter mantido com o assistido. Supomos não dever ser assim. VI. Da leitura do transcrito art. 94º. EOA resulta, com meridiana clareza, que ele não contém uma proibição genérica, para o advogado, de patrocínio contra quem é, ou foi, anteriormente, seu cliente. Ao contrário, o preceito prevê a hipótese de o advogado patrocinar contra anterior cliente. A proibição de patrocínio apenas ocorre: - contra quem seja por si patrocinado noutra causa pendente; - em causas em que já tenha intervindo ou que sejam conexas com outras em que tenha representado a parte contrária; e - em causas que possam colocar em crise o sigilo profissional relativamente aos assuntos de um anterior cliente, ou se do conhecimento destes assuntos resultarem vantagens ilegítimas ou injustificadas para o novo cliente. Já se vê, pois, que o cerne da questão é o advogado não estar, ou não se colocar, em situação que ponha em crise o sigilo profissional com relação a assuntos de um anterior cliente: por isso que o preceito expressamente refere o patrocínio em causa pendente e a intervenção anterior. Ora, interpretar o EOA como no aludido parecer, significaria que o advogado, qualquer advogado, nunca poderia aceitar um patrocínio contra anterior cliente, apesar de tal não lhe estar legalmente vedado. Não se vê como possa afectar o decoro e a dignidade profissionais o facto de o advogado aceitar um patrocínio contra quem, em rigor, nunca foi seu patrocinado. De reiterar que o advogado, na situação em análise, ao aceitar o novo cliente, não esteve nunca em condições de não pôde, portanto! conhecer factos ou conhecer assuntos, revelados pelo anterior cliente. E, assim sendo como inegavelmente é, não há o menor risco de o advogado colocar em crise o segredo profissional ou conhecer factos ou assuntos que possam trazer

vantagens, quaisquer que sejam, muito menos ilegítimas ou injustificadas, para o novo cliente. VII. Em conclusão: A Para o advogado, a matéria de conflito de interesses é uma questão de consciência, competindo-lhe ajuizar se a relação de confiança que estabeleceu com um seu antigo cliente lhe permite, livremente e sem constrangimentos, assumir um patrocínio contra ele. B Não está vedado ao advogado, genericamente, exercer patrocínio contra anterior cliente, impondo-se apenas averiguar se tal patrocínio configurará, ou não, uma situação de conflito de interesses. C - Não configura uma situação de conflito de interesses a aceitação de mandato conferido pelo ofendido, quando o mandatário, apesar de ter sido nomeado, no mesmo processo, defensor oficioso do arguido funções entretanto cessadas por despacho judicial -, não teve qualquer intervenção no processo, nem sequer contactou o arguido. É, s. m. o., o meu parecer. Viana do Castelo, 10 de Agosto de 2009 O Relator António Rio Tinto Costa