Susana Machado Licenciada em Arquitectura em 97 pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e pós-graduada em Direito do Ordenamento do Território, Urbanismo e ambiente, pelo CEDOUA Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 2003. Iniciou funções de Assessora na Ordem dos Arquitectos Secção Regional Norte em 1997, mantendo actualmente a organização e coordenação do serviço de Apoio à Prática Profissional e é formadora no tema Desenho Universal e Acessibilidades. Formou empresa ASM Arquitectos em 1999, com António Mota e tem participado em várias conferências e grupos de trabalho sobre o tema das Acessibilidades ao Meio Edificado. 1
A Ordem dos Arquitectos agradece ao Museu Municipal de Caminha e ao Exmo. Sr. Dr. Sérgio Cadilha o convite que nos foi dirigido em participar nesta Conferência sobre o tema Museus e Sociedade. Esta é uma oportunidade muito positiva para a Ordem dos Arquitectos, ao associarse a um evento que abrange a intervenção do arquitecto no âmbito da acessibilidade e segurança no Museu. E é também gratificante pertencer a um grupo de profissionais especialistas em museus que irão debater várias questões, entre as quais, introduzirei um tema deveras importante que envolve a criação de condições que garantam a acessibilidade para pessoas com mobilidade condicionada. Este é um tema abordado também em vários países europeus e em destaque nos museus das principais cidades da Europa o melhorar as condições de acessibilidade para pessoas com menos capacidades e a introdução de mais-valias nos serviços especiais que se prestam aos visitantes. Considerando que o meio edificado tem um papel determinante na qualidade de vida dos cidadãos e no desenvolvimento do País e que a existência de barreiras físicas em equipamentos colectivos, em edifícios públicos, na habitação e na via pública, atenta contra o direito fundamental de todos os cidadãos à igualdade de oportunidades, a Ordem dos Arquitectos tem vindo a acompanhar os seus membros, através da promoção acções de formação e de esclarecimentos, sobre a aplicação do DL 163/2006, que estabelece as normas técnicas sobre acessibilidade. 2
Fórum Arquitectura Acessível Organização: Ordem dos Arquitectos Secção Regional do Norte em parceria com Provedoria para o Cidadão com Deficiência da Câmara Municipal do Porto Em 2007, realizamos o Fórum internacional Arquitectura Acessível que decorreu no ano de entrada em vigor do já mencionado DL 163/2006 e, por ter sido também aquele, o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidade para Todos. Deste Fórum resultou um manifesto que determinou, que o arquitecto deve projectar atendendo às necessidades dos diferentes grupos de pessoas, incorporando em todas as fases do planeamento ou projecto, as normas técnicas sobre acessibilidade, pois não estamos a projectar para um determinado momento, mas sim para todos os momentos da vida dos utentes desses espaços. Não podemos ainda esquecer que a acessibilidade e segurança nos edifícios constituem aspectos do desenvolvimento sustentável, que resulta em conciliar de forma equilibrada as questões sociais, ambientais, institucionais, patrimoniais, económicas, políticas, legais e jurídicas... Relativamente ao programa exigente de um museu devo dizer que os arquitectos, os conservadores, os proprietários, enfrentam dilemas muito significativos quando se deparam com a intervenção em edifícios existentes, com carácter patrimonial marcante nas cidades, e em que o objectivo é de torná-los mais inclusivos, dando resposta aos padrões e aos regulamentos normativos actuais. Conceito Europeu de Acessibilidade para edifícios, determina que o edifício que recebe o público deve ser: 3
Respeitador isto é, deve respeitar a diversidade de utilizadores; ninguém deve sentir-se marginalizado e todos devem ser capazes de o usufruir. O edifício deve ainda ser Seguro: ficando isento de riscos para todos os utilizadores; portanto, todos os elementos que fazem parte de uma envolvente têm de ser concebidos tendo a segurança em linha de conta. Deve ser: Saudável: não deverá constituir um risco para a saúde ou causar problemas para aqueles que sofrem de determinadas doenças ou alergias. O edifício deve ainda ser: Funcional: deve ser concebido de modo a que se possa realizar, sem qualquer problema ou dificuldade, a função para o qual foi concebido. Deve ser: Compreensível: todos os utilizadores devem ser capazes de se orientar sem dificuldade dentro de um determinado espaço e, portanto, são essenciais as seguintes condições: As informações devem ser claras e a distribuição espacial tem que ser coerente, como por exemplo a escolha de ícones que são comuns a vários países, evitando o uso de palavras ou siglas que podem causar confusão. Outro exemplo será a distribuição espacial coerente e funcional, em vez de segregadora e exclusiva. E por último o edifício deve garantir um resultado esteticamente agradável, pois irá tornar mais provável a sua aceitação por todos. A acessibilidade é assim reconhecidamente um assunto sério a tratar, e este reconhecimento ao nível nacional deve-se muito graças a uma mudança de atitude social, mas também através do surgir de nova legislação que impõe a criação de edifícios sem barreiras, que encorajam a mobilidade e o sucesso na integração dos diferentes grupos de pessoas. As normas técnicas estabelecem que no edifício de acesso ao público em geral, tem de garantir um percurso acessível entre a via pública, o local de entrada e saída principal e todos os espaços interiores e exteriores que sejam fundamentais para o funcionamento do edifício, sendo que nos edifícios novos ou reconstruídos deve ser garantido que este percurso coincida com o percurso dos restantes utilizadores. Assim, vou começar por analisar as normas que estabelecem este percurso acessível. Vou utilizar como exemplo o edifício do Museu Nacional Soares dos Reis, por ser um exemplo de edifício do séc XVIII. Mas antes compete-me fazer uma nota prévia, este Museu sofreu alterações da autoria dos Arquitectos Fernando Távora e José Bernardo Távora, alterações estas concluídas em 2001, como tal, antes das exigências vertidas na legislação que actualmente se encontram em vigor. Chamo a atenção para as soluções preconizadas pela equipa projectista perante os problemas que se colocavam ao nível da acessibilidade. A 4
preocupação dos projectistas foi a de garantir soluções inclusivas sem colidir com os elementos arquitectónicos de referência de um edifício classificado. Esta é uma das grandes mensagens que pretendo deixar. Ao depararmo-nos com a necessidade de eliminação de barreiras físicas, o encontro de soluções inclusivas deve ser garantido pelo desenho e esta é sem dúvida uma tarefa para o arquitecto. Acesso ao Museu Soares dos Reis, Porto.* No acesso ao edifício museu será necessário acautelar no parque de estacionamento medidas que garantam o aparcamento quer de veículos individuais ou colectivos que transportam pessoas com mobilidade condicionada. Este é muitas das vezes um problema para os museus que se encontram localizados nos centros das cidades. A dimensão das vias e o tráfego que circula não é compatível com a chegada de grupos de pessoas com mobilidade condicionada em transporte colectivo, que naturalmente demoram mais tempo para aceder ou sair do veículo. Neste caso, é importante pelo menos acautelar a existência de uma baia para paragem de veículos nas vias próximas do museu que garantam a chegada ou partida em segurança e conforto de pessoas com mobilidade condicionada. Na via púbica surge a entrada e saída principal. 5
Este acesso ao edifício não deverá contemplar ressaltos nos pisos. Caso estes existam e sejam superiores a 2cm, devem ser vencidas por rampas ou por dispositivo mecânico de elevação. As portas devem ter pelo menos uma largura de 90cm e a altura não deverá ser inferior a 2m. As portas devem garantir zonas de manobras desobstruídas. Entrada do Museu Soares dos Reis, Porto.* No átrio de entrada do museu, deveremos garantir zonas de manobras para rotação de 360.º um balcão para o público, com duas alturas que servem crianças, pessoas de baixa estatura, anãs e pessoas em cadeiras de rodas. Esta solução permite ao usuário manter uma posição corporal neutra. 6
Sinalética. Museu Soares dos Reis, Porto.* A sinalética deve ser clara e de fácil identificação, como tal, simples e intuitiva para garantir o acesso à informação. O recurso ao contraste entre fundo e figura, maximiza a legibilidade da informação. 7
Acesso a cafeteria. Museu Soares dos Reis, Porto.* Os percursos no interior do museu e os seus principais espaços, desde as salas expositivas, lojas, cafeterias, bengaleiros, entre outros espaços, devem garantir canais de circulação contínuos e desimpedidos de obstruções, com uma largura não inferior a 1,20m, exceptuandose casos muito concretos. 8
Percursos com rampas escadas. Museu Soares dos Reis, Porto.* No caso das diferenças de nível acentuadas pode ser uma opção o recurso a rampas junto a escadas para impedir a segregação. As instalações sanitárias acessíveis podem estar integradas numa instalação sanitária conjunta para pessoas com ou sem limitações de mobilidade, ou constituir uma instalação sanitária específica para pessoas com mobilidade condicionada. Devem estar equipadas com barras de apoio para permitir a transferência em segurança da cadeira de rodas para a sanita. O lavatório e espelho devem estar rebaixados e as torneiras devem ser com sensores ou com manípulo alongado, permitindo o uso de forças moderadas. Este exemplo de instalação sanitária que trago não está de acordo com as exigências actuais, relembro que se trata de uma obra anterior ao diploma 163/2006. Em equipamentos novos construídos de raiz todas as questões assinaladas devem se escrupulosamente asseguradas. E muitas mais opções poderiam ser referidas como medidas integradoras, devemos sempre pensar que a eliminação de barreiras, não significa apenas a criação de acessos a utilizadores de cadeiras de rodas. Assim sendo, assiná-lo ainda a criação de referências nos espaços que facilita a orientação de pessoas com incapacidades cognitivas e sensoriais, bem como, a criação de locais de descanso para garantir maior conforto ao visitante. 9
Outras medidas integradoras poderão ser: A escolha de portas com sensores, por não exigirem esforço físico; - Sinais sonoros e luminosos nos elevadores ao abrir e fechar as portas, por permitir o uso em segurança de pessoas com incapacidades sensoriais. - Informações que incluam adaptações para cegos, pois o uso de braille ou mapas com relevo, permite uma mais fácil orientação; - Sinais sonoros e luminosos nos elevadores ao abrir e fechar as portas, permite o uso em segurança de pessoas com incapacidades sensoriais. - O Diferenciar os elevadores de acesso ao público dos elevadores de serviços, minimiza o risco de erros; - Os elevadores com sensores nas portas que impeçam que estas fechem durante a passagem de uma pessoa, permite segurança perante a falha humana. - Os puxadores nas portas do tipo alavanca, permite evitar o movimento de girar as mãos. Associada a todas as questões que referi temos uma matéria transversal a todos os espaços edificados, que será o sistema contra incêndios em edifícios. É necessária sinalização da evacuação de emergência de pessoas com necessidades especiais, como por exemplo, a implementação de sistemas para pessoas surdas com iluminação associados aos alarmes sonoros. Ou outro exemplo, a sinalética específica dos locais seguros onde a pessoa com mobilidade condicionada poderá aguardar socorro, e a dotação de meios de auxílio para socorro de pessoas utilizadoras de cadeiras de rodas em edifícios com vários pisos, como por exemplo o recurso a elevadores de emergência ou cadeiras com lagartas, designadas por tratorinos. Assinalo ainda, outras questões ligadas à acessibilidade nos museus, nomeadamente a acessibilidade a grupos de pessoas cegas, surdas, com problemas de compreensão de leitura ou dislexia. Existem actualmente museus em Portugal e na Europa com programas de apoio a pessoas individuais ou grupos de pessoas com necessidades especiais. Poderão ter disponíveis a possibilidade de cedência de cadeiras de rodas ou carrinhos de bebés, o recurso a áudio guias, as placas ou mapas com informação táctil, brochuras com Braille, entre outras. No caso das pessoas cegas ou amblíopes Os serviços poderão ser preparados para os receber, através do apoio de guias com formação adequada para prestar toda a informação necessária sobre os conteúdos expositivos, atendendo ao tipo de incapacidade associada ao visitante. 10
Podem ainda estar programadas visitas em que a pessoa cega pode tocar nos objectos, o que constitui uma verdadeira oportunidade para a pessoa cega de ter um contacto directo com as obras de arte. Ou, para as pessoas surdas as visitas serem realizadas com apoio dos serviços através de guias conhecedores da língua gestual. No caso de pessoas com dificuldades na assimilação de conceitos ou com dislexia existem sistemas de caneta /scanner é colocada sobre o texto que se pretende ouvir, este sistema permite controlar o volume do som, ouvir novamente ou associar uma explicação mais simplificada e de linguagem mais acessível. Pode ainda, palavra a palavra determinar qual o significado. Pode ainda este serviço ser assegurado por guias áudio. Conclusão: As oportunidades sociais das pessoas com mobilidade condicionada, surgem ao serem garantidas, pela sociedade em geral, condições de igualdade para todos, permitindo autonomia para os que possuem necessidades especiais de mobilidade. Uma das conclusões do Congresso da União Internacional dos Arquitectos UIA, em Barcelona, decorrido no ano 1996, foi Uma cidade acessível traduz-se numa cidade amável e confortável para a totalidade dos seus habitantes. Pois bem, Projectar para TODOS, significa o respeito pelos valores fundamentais da igualdade, liberdade e solidariedade. *As imagens foram recolhidas com autorização da Exma. Sra. Directora do Museu Nacional Soares dos Reis, Dra. Maria João Vasconcelos. 11