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Transcrição:

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA GRADUAÇÃO EM DIREITO O PREQUESTIONAMENTO NOS RECURSOS EXCEPCIONAIS Aluno: Aragonê Nunes Fernandes Orientador: Ângelo Aurélio Gonçalves Pariz BRASÍLIA 2006

2 ARAGONÊ NUNES FERNANDES O prequestionamento nos recursos excepcionais Monografia apresentada à Banca examinadora da Universidade Católica de Brasília como exigência parcial para obtenção do grau de bacharelado em Direito sob a orientação do Professor MSc. Ângelo Gonçalves Aurélio Pariz. Brasília 2006

3 TERMO DE APROVAÇÃO Monografia defendida e apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharelado em Direito, aprovada em 07 de novembro de 2006, pela banca examinadora constituída por: Presidente: Prof. MSc. Ângelo Aurélio Gonçalves Pariz Integrante: Professora Clarissa Teixeira Karnikowski Integrante: Professor Marcos Soares Ramos

Aos meus pais, Júlio e Maria Anízia, pelo constante apoio e carinho dedicados; Às minhas irmãs, que comigo compartilharam a ansiedade de entregar ao mesmo tempo as nossas monografias; Aos professores do curso de Direito da Católica, que tanto contribuíram para meu engrandecimento pessoal. 4

Primeiramente, agradeço ao bondoso Deus por me guiar pelos caminhos corretos; Ao Mestre Ângelo Pariz, pela presteza e pelo incomensurável auxílio na elaboração deste trabalho; A todos os amigos que, a seu modo, contribuíram para a concretização deste momento. 5

O fim do direito é a paz; o meio de atingila, a luta. Rudolf von Ihering 6

7 RESUMO FERNANDES, Aragonê Nunes. O prequestionamento nos recursos excepcionais. 2006. Nº. fl. 92, trabalho de conclusão de curso - (graduação) - Faculdade de Direito, Universidade Católica de Brasília, Taguatinga, 2006. Trabalho monográfico que teve como objetivo geral o estudo do prequestionamento nos recursos excepcionais, e, mais especificamente, a sua indispensabilidade como requisito de admissibilidade para a admissão de tais recursos. Para estudar com maior propriedade o tema escolhido, dividiu-se a monografia em quatro capítulos. Discorreu-se sobre a teoria geral dos recursos, o que se mostrou indispensável para compreendermos com maior exatidão o remédio que é disponibilizado à parte como forma de demonstrar seu inconformismo e rever uma decisão desfavorável. Também os princípios que norteiam os recursos cíveis foram tratados, uma vez que estes servem de instrumento para um entendimento mais apurado e para uma visão global dos recursos. Os requisitos gerais de admissibilidade foram estudados em um capítulo próprio. Como visto, eles servem para garantir que a parte possa manejar os recursos de forma adequada, sem deixar perecer um direito legítimo seu por inobservância aos regramentos estabelecidos na legislação processual. O tema objeto da pesquisa foi propositalmente alocado ao final. Desse modo, partiu-se das linhas gerais para a mais específica, visando a uma melhor exposição da matéria e mais fácil compreensão do leitor. O prequestionamento da matéria é instituto que gera controvérsias desde a sua conceituação, passando pela sua necessidade e momento de ocorrência, bem como forma de ser corretamente feito. Procurou-se aqui trazer as mais variadas posições existentes tanto na doutrina como na jurisprudência, com o intuito de possibilitar uma análise isenta por parte do leitor. Isso, sem, contudo, deixar de demonstrar a opinião do autor. Demonstrou-se não se concordar com o exagerado formalismo por vezes presente em sede jurisprudencial, por parecer incoerente com a finalidade do instituto. O estudo realizou-se por meio de pesquisa bibliográfica, especificamente doutrina, legislação e jurisprudência, com observância das normas de apresentação de trabalho da Universidade Católica de Brasília e, supletivamente, as normas da ABNT. Deste trabalho concluiu-se pela real necessidade de as matérias constantes nos recursos excepcionais serem prequestionadas, sob pena de o recurso não ultrapassar o juízo de admissibilidade. Palavras-chave: prequestionamento, recurso, requisitos de admissibilidade, princípio, tribunal superior.

8 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABREVIATURAS Art. por artigo Cf. por confronte ou confira Nº. por número SIGLAS CF Constituição Federal CLT Consolidação das Leis Trabalhistas CPC Código de Processo Civil EC Emenda Constitucional RE Recurso Extraordinário REsp Recurso Especial STJ Superior Tribunal de Justiça STF Supremo Tribunal Federal TFR Tribunal Federal de Recursos TRF Tribunal Regional Federal TSE Tribunal Superior Eleitoral TST Tribunal Superior do Trabalho

9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 11 Capítulo 1 - Teoria Geral dos Recursos...14 1.1. Conceito... 14 1.2. Natureza jurídica... 15 1.3. Atos sujeitos a recurso...16 1.4. Os recursos previstos no código de processo civil... 17 1.5. Da recorribilidade extraordinária lato sensu ou excepcional... 18 1.5.1. Recurso extraordinário... 20 1.5.2. Recurso especial... 21 1.5.3. Recurso de revista... 24 1.5.4. Recurso especial eleitoral... 25 1.6. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito... 27 1.7. Efeitos dos recursos... 29 1.7.1. Efeito devolutivo... 30 1.7.2. Efeito suspensivo... 31 1.7.3. Efeito translativo... 34 1.7.4. Efeito substitutivo... 34 Capítulo 2 Princípios Norteadores dos Recursos Cíveis...36 2.1. Princípio do duplo grau de jurisdição... 36 2.2. Princípio da taxatividade... 37 2.3. Princípio da singularidade... 38 2.4. Princípio da fungibilidade... 39 2.5. Princípio da dialeticidade... 41 2.6. Princípio da voluntariedade... 42 2.7. Princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias... 43 2.8. Princípio da complementaridade... 44 2.9. Princípio da proibição da reformatio in pejus... 45 2.10. Princípio da preclusão consumativa... 47 Capítulo 3 Requisitos de Admissibilidade Recursal... 49 3.1. Requisitos intrínsecos... 50 3.1.1. Cabimento... 50 3.1.2. Legitimidade para recorrer... 51 3.1.3. Interesse em recorrer... 52 3.1.4. Inexistência de fato extintivo ou impeditivo... 53 3.2. Requisitos extrínsecos... 55 3.2.1. Tempestividade... 55 3.2.2. Regularidade formal... 56

10 3.2.3. Preparo... 58 Capítulo 4 Do Prequestionamento nos Recursos Excepcionais... 60 4.1. Generalidades... 60 4.2. Necessidade do prequestionamento... 62 4.3. Momento de ocorrência do prequestionamento... 65 4.4. Prequestionamento explícito e implícito... 68 4.5. Prequestionamento e questão de ordem pública... 71 4.6. Críticas ao prequestionamento... 73 4.7. Das súmulas relativas ao prequestionamento... 75 4.7.1. Súmulas do STF 282 e 356... 76 4.7.2. Súmulas do STJ 98 e 211... 78 4.7.3. Súmulas do TST 184 e 297... 80 CONCLUSÃO... 82 REFERÊNCIAS... 86

11 INTRODUÇÃO O natural inconformismo do ser humano com situações que lhe são desfavoráveis é a principal justificativa para a existência de recursos. Por intermédio desta ferramenta é facultado aos litigantes se insurgir quando alguma decisão lhe causa prejuízo. Ocorre que, para poder fazer uso de recursos e, mais que isso, fazê-lo da forma correta, deve-se conhecer o instrumento e suas peculiaridades. Eis aí o porquê de se dar especial atenção à teoria geral dos recursos. Especificamente, cuida a presente monografia do prequestionamento das matérias submetidas à apreciação dos Tribunais Superiores por meio do manejo dos recursos extraordinários. A escolha do tema objeto do trabalho foi ensejada em razão do papel que o prequestionamento exerce como viabilizador do acesso aos Tribunais Superiores. É de notório conhecimento que um sem-número de recursos não superem o juízo prévio de admissibilidade por desrespeito ao instituto e isso, no mais das vezes, acontece por desatenção dos postulantes quando da interposição do apelo excepcional ou por aguçadas exigências feitas pelos órgãos julgadores. Há uma discussão acerca do que se entende, em verdade, por prequestionamento: se ônus atribuído às partes, quando da formulação de suas razões, na apelação, ou se presença da questão constitucional ou federal na decisão recorrida. Segue-se, pois, a conceituação segundo a qual prequestionamento corresponde ao enfrentamento da questão federal ou constitucional constante no julgado que se busca atacar a partir dos recursos extraordinários. Não obstante a isso, as demais concepções tratadas na doutrina serão apreciadas, até mesmo em razão de sua elevada importância. Assim, o objetivo deste trabalho é, em âmbito geral, estudar a utilização do recurso como meio hábil a rediscutir situações desfavoráveis à parte, bem como apontar os meios adequados para que essa finalidade seja alcançada a contento. Em âmbito especifico, busca-se demonstrar a necessidade de as matérias

12 constantes nos recursos excepcionais serem prequestionadas nas instâncias ordinárias. Elegeu-se partir das linhas gerais até se chegar ao estudo do tema específico, de modo a facilitar a compreensão dos leitores, assim como tornar a leitura mais dinâmica e prazerosa. Para tanto, acolheu-se os métodos histórico e dedutivo, com a apresentação do trabalho em quatro capítulos. No capítulo inicial se debate sobre a teoria geral dos recursos. Nele, é abordado desde o conceito de recurso, atribuído por diferentes doutrinadores, passando-se pela sua natureza jurídica e pela definição de quais os apelos existentes em nosso ordenamento jurídico, bem como listando quais atos se sujeitam a recurso. Por estar diretamente ligado ao tema principal desta monografia, não se pode deixar de falar nos recursos excepcionais em espécie, também chamados recursos extraordinários lato sensu. Para a interposição desses recursos, ao contrário dos demais, não basta a simples situação de sucumbência ou erro da decisão. É necessário que se encontrem presentes as hipóteses de cabimento, previstas tanto no texto constitucional quanto em legislação federal. Não há como se dissociar a análise dos efeitos dos recursos do estudo do cabimento dos mesmos. Os variados entendimentos apregoados pelos estudiosos do direito findam por refletir na controvérsia sobre a necessidade de prequestionamento. No segundo capítulo, discutem-se os princípios norteadores dos recursos cíveis. Alguns deles estão expressamente previstos na Constituição ou na legislação federal. Já os demais decorrem de uma visão sistêmica do direito processual. O terceiro capítulo versa sobre os requisitos de admissibilidade recursal. Lá se discute tanto os requisitos extrínsecos, quanto intrínsecos. É imprescindível que a parte, visando à interposição de um recurso, dedique especial atenção ao preenchimento dos requisitos de admissibilidade, sob pena de ver sua irresignação, ainda que legítima, esbarrar no desatendimento dos pressupostos exigidos. O derradeiro capítulo traz encartado o tema que serviu de inspiração à consecução deste trabalho. O prequestionamento, embora tenha se consolidado

13 como pressuposto de admissibilidade dos recursos excepcionais, não tem recebido por parte dos estudiosos do direito a atenção que lhe é devida. Aqueles que se dedicam a discorrer sobre o assunto muitas vezes não fazem sequer alusão a respeito do que entendem pelo instituto. Tal conceituação, embora num primeiro momento possa parecer dispensável, é, em verdade, essencial para se saber qual o real entendimento do doutrinador, o que ecoará mais adiante nas peculiaridades sobre o prequestionamento. Outros pontos, igualmente relevantes, também serão abordados. Com o intuito de demonstrar os diferentes posicionamentos acerca dos temas trazidos à baila, procura-se colacionar os variados entendimentos existentes tanto na doutrina quanto na jurisprudência oriunda dos Tribunais Superiores. Também não se deixa de referenciar as críticas feitas por doutrinadores de renome, para que, ao final, o leitor possa, de maneira imparcial, extrair suas conclusões. Ao final do capítulo, expõem-se as súmulas editadas pelas Cortes Superioras referentes ao prequestionamento. Elas têm o condão de delimitar aos litigantes os contornos gerais exigidos para a satisfação do requisito. O estudo sobre a necessidade de prequestionamento da matéria nos recursos extraordinários foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, especialmente a partir de doutrina, legislação e jurisprudência. As referências que serviram de apoio para consecução e redação do presente trabalho foram citadas na bibliografia. Optou-se pela remissão completa das obras na nota de rodapé, bem como pelo sistema numérico, por tornar mais fácil o entendimento do leitor e a execução do trabalho. Quanto às citações, serão feitas conforme as normas da ABNT, entre aspas e no corpo do texto quando não ultrapassarem três linhas. As demais serão feitas separadas do texto, com espaçamento simples e recuo esquerdo de 4 cm. O tamanho da fonte será dois pontos menor que o adotado para o texto normal. O itálico será utilizado para palavra ou expressão em língua estrangeira e títulos de obras referenciais.

14 Capítulo 1 TEORIA GERAL DOS RECURSOS 1.1. Conceito A palavra recurso, segundo Nelson Nery Júnior 1, provém do latim (recursus), e significa caminho de volta, já utilizado. Bernardo Pimentel Souza 2 ensina que a origem do termo revela a exata idéia do instituto, que é a nova compulsação das peças dos autos para averiguação da existência, ou não, de defeito na decisão causadora da insatisfação do recorrente. O recurso é conceituado por José Carlos Barbosa Moreira como sendo: [...] o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento, ou a integração da decisão judicial que se impugna. Atente bem: dentro do mesmo processo, não necessariamente nos mesmos autos. 3 Na visão de Nelson Luiz Pinto 4, recurso é uma espécie de remédio processual que a lei coloca à disposição das partes para impugnação de decisões judiciais, dentro do mesmo processo, com vistas à sua reforma, invalidação, esclarecimento ou integração. Preleciona Carlos Eduardo Ferraz de Mattos Barroso que recurso é o ato pelo qual a parte demonstra seu inconformismo com uma decisão proferida nos autos, postulando a sua reforma ou modificação. 5 Para Ovídio A. Batista da Silva recurso é: [...] o procedimento através do qual a parte ou quem seja legitimado a intervir na causa, provoca o reexame das decisões judiciais, a fim de que 1 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 167. 2 SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 21. 3 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. Vol. VII, 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 231. 4 PINTO, Nelson Luiz. Manual dos recursos cíveis. 3. ed. amp. e atual. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 27. 5 BARROSO, Carlos Eduardo Ferraz de Mattos. Teoria geral do processo e processo de conhecimento. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 195.

15 elas sejam invalidadas ou reformadas pelo próprio magistrado que as proferiu ou por algum órgão de jurisdição superior. 6 De forma concisa, pode-se conceituar recurso como sendo um meio utilizado pela parte para impugnar decisão que lhe foi desfavorável, buscando a anulação ou reforma da decisão antes proferida. 1.2. Natureza jurídica Não há consenso na doutrina acerca da natureza jurídica do recurso, tendo duas principais correntes que discutem o tema: Para a primeira, o recurso é uma ação autônoma relativamente àquela da qual se originou, ação essa de natureza constitutiva. Seus principais defensores, aduz Luiz Orione Neto 7, são os doutrinadores italianos Emilio Betti, Renzo Provincialli, Ludovico Mortara e Carlo Umberto Del Pozzo. Aliam-se a eles: na Alemanha, Peter Gilles e, na Espanha, Jaime Guasp. De acordo com Nelson Nery Júnior 8, para essa corrente a ação tem a sua gênese antes de iniciado o processo, pois este é justamente o exercício prático do direito de ação, ao passo que o recurso se origina da própria decisão judicial impugnada. Já para a segunda corrente doutrinária, que é prevalente no ordenamento pátrio, o recurso é uma continuação do exercício do direito de ação. Nelson Luiz Pinto acrescenta que o recurso apenas prolonga a vida do processo e a litispendência existente, dentro da mesma relação processual 9. Defende Gediel Claudino de Araújo Júnior que o recurso é um desdobramento do direito de ação, manifestado quando do ajuizamento do feito e 6 SILVA, Ovídio A. Baptista da. Teoria geral do processo civil. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 308. 7 NETO, Luiz Orione. Recursos cíveis. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 8. 8 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 182. 9 PINTO, Nelson Luiz. Manual dos recursos cíveis. 3. ed. amp. e atual. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 27.

16 que só se tem por efetivamente esgotado com o trânsito em julgado da decisão judicial. 10 Sendo o recurso um prolongamento do direito de ação e defesa, entende-se existir visível correlação entre as condições da ação e os requisitos de admissibilidade. 1.3. Atos sujeitos a recurso Vários são os sujeitos que participam do processo, tais como autor, réu, juiz, ministério público, auxiliares do juízo e terceiros. Destes, apenas os atos praticados pelo juiz é que são atacáveis por recurso. De grande valia a ressalva feita por Bernardo Pimentel Souza ao consignar que nem todos os atos provenientes do Judiciário podem ser impugnados via recurso. 11 Segundo o autor, apenas os atos jurisdicionais são passíveis de combate por meio de recurso, podendo os de cunho eminentemente administrativo e legislativo ser combatidos por outras vias processuais, que não a recursal. Os atos emanados do juiz encontram-se descritos nos artigos 162 e 163 do Código de Processo Civil, constituindo-se em sentenças, decisões interlocutórias, despachos e acórdãos. Em obediência aos ditames dos artigos 513 e 522 do Código, tem-se que somente as sentenças, acórdãos e decisões interlocutórias são passíveis de recurso. Vale ressalvar, por oportuno, que a parte não se deve deixar levar pela simples denominação do ato. Com efeito, é comum se deparar com atos que, mesmo chamados de despachos, são possuidores de caráter decisório, sujeitos, portanto, a recurso. 10 ARAÚJO JÚNIOR, Gediel Claudino de. Recurso de agravo: teoria e prática. 6. ed. rev. ampl e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 2. 11 SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 31. No mesmo sentido posicionam-se Michel Temer (TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 120) e Alexandre de Moraes (MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 416).

17 1.4. Os recursos previstos no código de processo civil O artigo 496 do Código de Processo Civil lista os seguintes recursos: apelação, agravo, embargos infringentes, embargos de declaração, recurso ordinário, recurso especial, recurso extraordinário e embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário. No entanto, tal rol não é exaustivo. José Miguel Garcia Medina 12 esclarece que existem recursos previstos no CPC fora do rol do artigo 496, a exemplo daqueles encontrados nos artigos 532, caput, e 557, parágrafo único, além de outros presentes em leis extravagantes, não contempladas no bojo do Código de Processo Civil. Quanto aos últimos, podemos citar o recurso inominado cabível contra sentença de Juizado Especial, bem como os recursos presentes na Lei de Execução Fiscal e no Estatuto da Criança e do Adolescente. A respeito da possibilidade de criação de recursos por leis esparsas, merecem ser transcritas as considerações feitas por Rui Portanova. Confiram-se: A previsão de recursos em leis federais extravagantes não fere o princípio da taxatividade. Conspira contra a unidade do sistema processual civil brasileiro, pois há requisitos e contornos próprios descritos nas leis especiais, que, não raro, até colidem com as regras dos constantes no CPC. 13 Adverte Nelson Nery Júnior que o impropriamente denominado recurso ex officio (art. 475, CPC) não é, em verdade, um recurso, mas sim condição de eficácia da sentença. 14 Ele ainda explana que nem o recurso adesivo nem agravo retido podem ser considerados recursos autônomos. Quanto ao recurso adesivo, Rui Portanova 15 salienta que o recurso-tipo é aquele mencionado no artigo 496, ou seja, apelação, embargos infringentes, recurso especial e o extraordinário. O adesivo seria então uma das formas de interposição daqueles quatro recursos. Ao recorrente seria facultado utilizar-se da via principal ou 12 MEDINA, José Miguel Garcia. O prequestionamento nos recursos extraordinário e especial. 4. ed. rev. e atual. de acordo com a EC 45/04. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 42. 13 PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, 270. 14 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 256. 15 PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, 270.

18 adesiva, de acordo com sua conveniência e, claro, se preenchidos os requisitos próprios de admissibilidade. A respeito do agravo retido, apregoa Nelson Nery Júnior que a razão para não considerá-lo recurso autônomo reside no fato de que ele nada mais é do que o recurso de agravo previsto no art. 496, inciso II, mas cujo julgamento é deixado para momento futuro, por solicitação do agravante. 16 Embora sejam bastante manejados pelos advogados, os pedidos de reconsideração não podem ser considerados recursos. O mesmo acontece com os agravos regimentais, disciplinados nos regimentos internos dos tribunais. Eles são, na verdade, modalidades do recurso de agravo previsto no Código de Processo Civil. 1.5. Da recorribilidade extraordinária lato sensu ou excepcional Ao contrário dos recursos comuns, a simples situação de sucumbência ou de prejuízo é insuficiente para a interposição dos recursos de natureza excepcional. Estes exigem também a invocação de questões de direito constitucional ou federal e não a simples injustiça da decisão recorrida. Os recursos extraordinários lato sensu possuem dupla finalidade na visão de Márcia Regina Lusa Cadores Weber. A esse respeito, confira-se: Pode-se afirmar, assim, que o recurso extraordinário e o recurso especial possuem dupla conotação: Vistos pelo ângulo do recorrente, objetivam solução de uma situação jurídica individual. Vistos pelo ângulo dos Tribunais Superiores, tais recursos permitem que as Cortes Superiores desempenhem sua missão constitucional de resguardar a observância à Constituição ou à lei federal e, no desempenho desta missão, resolvam situação jurídica individual. 17 Remontando-se as origens históricas do recurso extraordinário, tem-se que ele surgiu no direito norte-americano. Para criar o estado federativo, as colônias americanas abdicaram de sua soberania, repassando-a ao governo central, que 16 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 49. 17 WEBER, Márcia Regina Lusa Cadore. Anotações sobre o recurso extraordinário e especial. Revista dos Tribunais, v. 93, nº 820, p. 98-124, fev/2004, p. 102.

19 passou a reger certas condutas por meio de lei federal. Esta lei era o writ of error e, por meio dela, poderiam ser revisadas as decisões provenientes dos tribunais dos estados pela Suprema Corte. 18 No Brasil, a partir da proclamação da República, no ano de 1889, foi adotado o regime federativo. De acordo com Alcides de Mendonça Lima 19 tal escolha se deu por melhor atender à extensão geográfica do país e à grande variedade de problemas sociais, econômicos e jurídicos. Em decorrência da escolha do modelo federativo, adveio a necessidade da criação de um recurso com a finalidade de preservar a legislação federal em sua inteireza e uniformidade na aplicação em todo o território nacional. Esse recurso, como se sabe, é o recurso extraordinário. Indica José Carlos Barbosa Moreira 20 que a denominação recurso extraordinário surgiu em nosso ordenamento com o regimento interno do Supremo Tribunal Federal órgão responsável pelo seu julgamento e, mais adiante, também na Lei 221, de 20 de novembro de 1894 e no Decreto nº 3084 de 05 de novembro de 1898. Até a Constituição Federal de 1967, o sistema recursal brasileiro de última revisão era exercido pelo recurso extraordinário, julgado pelo Supremo Tribunal Federal, que tinha a atribuição de apreciar tanto a matéria constitucional como infraconstitucional. 21 A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, o recurso extraordinário previsto no sistema constitucional anterior foi desdobrado em recurso extraordinário em sentido estrito (RE) e recurso especial (REsp), sendo o primeiro destinado à tutela das normas constitucionais, tendo como órgão julgador o Supremo Tribunal Federal, e o último incumbido da guarda e uniformização da legislação infraconstitucional, com julgamento a cargo do Superior Tribunal de Justiça. 18 Cf. CAMARA, Bernardo; JUNQUEIRA, Bernardo; FREIRE, William. Recurso especial e extraordinário: doutrina e prática. Belo Horizonte: Mineira. 2002, p. 17. 19 LIMA, Alcides de Mendonça. Recurso extraordinário e especial. In: TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo (Coord.). Recursos no superior tribunal de justiça. São Paulo: Saraiva., p. 135-144, 1991, p. 135. 20 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil, v. V. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 557. 21 Cf. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Recurso especial: prequestionamento. In: Revista síntese de direito civil e processual civil. v. 6, nº 34, p. 131-139, mar-abr 2005, p. 131.

20 1.5.1. Recurso extraordinário Como visto, foi criado no Brasil um recurso baseado no Judiciary Act, de 1789, que previa, para o direito norte-americano, o writ of error, que seria o correspondente ao recurso extraordinário pátrio. Ligado à idéia de Federação encampada pela República, o recurso foi introduzido no direito brasileiro por meio do Decreto 848, de 24.10.1890. 22 Como argumenta José Miguel Garcia Medina 23, ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, a doutrina pátria recebeu com bons olhos o novo recurso, não suscitando maiores questionamentos sobre o tema. Ao Supremo Tribunal Federal compete a guarda da Constituição Federal. Ele é composto por 11 ministros, indicados pelo Presidente da República e por ele nomeados após a aprovação da maioria absoluta do Senado Federal. As hipóteses de cabimento do recurso extraordinário vêm assim dispostas na Constituição Federal: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: [...] III julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição; d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (redação dada pela EC 45/04) 24 Por ter natureza excepcional, o recurso extraordinário não se dirige ao reexame da matéria de fato constante nos autos dos processos que lhe são submetidos. Nesse sentido, é o teor da Súmula 279 proveniente do Excelso Pretório. 22 Cf. FERREIRA, Luís Pinto. Comentários à constituição brasileira. São Paulo: Saraiva, v. 4, p. 532, 1994. 23 MEDINA, José Miguel Garcia. O prequestionamento nos recursos extraordinário e especial. 4. ed. rev. e atual. de acordo com a EC 45/04. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 108. 24 BRASIL. Vade mecum acadêmico de direito. Organização de Anne Joyce Angher. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2006, p. 65.

21 Consoante leciona Celso Ribeiro Bastos 25, antes de esgotadas as vias ordinárias é incabível o manejo do recurso extraordinário. A explicação seria a disposição constitucional que prevê o julgamento, em recurso extraordinário, das causas decididas em única ou última instância. Ao contrário do recurso especial, como se verá mais adiante, o recurso extraordinário não está adstrito às decisões oriundas de Tribunal, podendo ser interposto contra decisão proferida por juiz de primeiro grau, a exemplo das decisões proferidas pela Turma Recursal dos Juizados Especiais, desde que, é claro, preenchidas as hipóteses autorizadoras do texto constitucional. 26 Advirta-se que a Emenda Constitucional nº 45/04 transferiu do STJ para o STF a competência para o julgamento de lei local contestada em face de lei federal. Pedro Lenza 27 relata o acerto da medida, salientando que, ao se apreciar validade de lei de governo local contestada em face de lei federal, se está diante de verdadeiro conflito de competência constitucional e não de legalidade. Veio em boa hora a necessidade de preenchimento do requisito da repercussão geral das questões constitucionais para o conhecimento do recurso extraordinário, presente no parágrafo 3º do artigo 102 da Constituição Federal. A regra serve para evitar que a mais alta Corte do país julgue casos de menor importância, como furtos de galinha ou brigas por conta de papagaio, dedicando-se efetivamente às causas de maior relevo. 1.5.2. Recurso especial O surgimento do Superior Tribunal de Justiça decorreu da chamada crise do recurso extraordinário 28, assim chamada a dificuldade enfrentada pelo Supremo 25 BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à constituição do brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. São Paulo: Saraiva, v. IV, t. III, p. 220, 1997. 26 Cf. SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 322. 27 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 10 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Método. Jul/2006, p. 632. 28 TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. O recurso especial e o superior tribunal de justiça. In: STJ: dez anos a serviço da justiça: doutrina. Brasília: STJ; Consulex, 1999. p. 79.

22 Tribunal Federal no julgamento do excessivo número de recursos que lhe eram submetidos. O constituinte brasileiro de 1988 instituiu o Superior Tribunal de Justiça, que veio a ser instalado no dia 07 de abril de 1989. Embora o Tribunal Federal de Recursos (TFR) tenha sido extinto com o advento do STJ, não é certo dizer que um ao outro suceda, pois, embora tenha aproveitado os magistrados componentes do antigo Tribunal, o STJ herdou pequena parte da sua competência. 29 Acrescenta Celso Ribeiro Bastos 30 que os cinco Tribunais Regionais Federais (TRF s) vieram substituir o Tribunal Federal de Recursos como Corte de Aplicação Federal. Formado atualmente por 33 ministros, ao STJ é deferida a missão de zelar pela integridade e pela aplicação uniforme da legislação federal em todo o território nacional, missão esta exercida por intermédio do recurso especial. O tribunal é composto por um terço de desembargadores provenientes dos Tribunais Regionais Federais, um terço de desembargadores oriundos dos Tribunais de Justiça e outro terço entre membros do Ministério Público e advogados, com mais de dez anos de atividade. Elaborada a lista sêxtupla pelo órgão de onde advém a vaga, ela é reduzida para uma lista tríplice após votação dos ministros integrantes do Superior Tribunal. A partir de então, essa lista é encaminhada para o Presidente da República, a quem incumbe escolher um dos nomes, submetendo o eleito à sabatina do Senado Federal. E aí se encontra mais uma inovação trazida pela EC 45/04, uma vez que agora também é exigida a aprovação do nome indicado pela maioria absoluta dos senadores, e não mais maioria simples, como antes ocorria. 31 As hipóteses de cabimento do recurso especial estão disciplinadas no artigo 105 da Constituição Federal. Confira-se, a propósito, a redação do dispositivo, na parte que interessa: Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: [...] 29 Cf. PRUDENTE, Antônio de Souza. Conselho da Justiça Federal: limite e competência. In: Consulex. A. II, nº. 14, p. 26-27, 28.02.1998, p. 26. No mesmo sentido: SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 298. 30 BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à constituição do brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. São Paulo: Saraiva, 1997, v. IV, t. III, p. 17. 31 Cf. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 10 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Método. Jul/2006, p. 638.

23 III julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. (redação dada pela EC 45/04) 32 Como visto no item anterior, a Emenda Constitucional nº. 45/04 Reforma do Judiciário alterou as hipóteses de cabimento do recurso especial e extraordinário, quando transferiu para o Supremo Tribunal Federal a competência para julgar a validade de lei de governo local contestada em face de lei federal. De acordo com Márcia Regina Lusa Cadore Weber 33, pela redação do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, infere-se que o recurso especial somente é cabível contra decisões provenientes de Tribunal, seja ele Regional Federal ou Estadual. Nesse sentido é o enunciado da Súmula nº. 203, editada pelo Superior Tribunal de Justiça: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais. 34 Compulsando-se os julgados que levaram à edição da citada súmula, vê-se que, embora a decisão seja em grau de recurso, é proferida por um colegiado de juízes de primeiro grau, e não por desembargadores integrantes de um Tribunal. Tal qual ocorre com o Supremo Tribunal Federal, ao Superior Tribunal de Justiça, na via do recurso especial, é incabível o reexame do conjunto fáticoprobatório constante nos autos, conforme consta na Súmula 7 emanada daquela Corte. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, como se verá em tópico específico, é menos rigorosa no que tange ao preenchimento do requisito do prequestionamento, admitindo tanto a modalidade explícita quanto implícita. 32 BRASIL. Vade mecum acadêmico de direito. Organização de Anne Joyce Angher. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2006, p. 68. 33 WEBER, Márcia Regina Lusa Cadore. Anotações sobre o recurso extraordinário e especial. Revista dos Tribunais, v. 93, nº 820, p. 98-124, fev/2004, p. 102. 34 BRASIL. Vade mecum acadêmico de direito. Organização de Anne Joyce Angher. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2006, p. 1558.

24 1.5.3. Recurso de revista O recurso de revista tinha originalmente a denominação de recurso extraordinário. Existia, pois, como defende Sergio Pinto Martins 35, no processo trabalhista a possibilidade de interposição de dois recursos extraordinários, sendo um endereçado ao TST e outro para o STF. O autor anota que revista tem o sentido de rever, de reexame. Acentua Wagner D. Giglio 36 que a denominação anterior foi alterada pelo legislador, uma vez que a existência de dois recursos com a mesma nomenclatura causava confusões no meio jurídico. O autor ainda indica que o CPC anterior também previa um recurso denominado de revista, que não foi acolhido pela atual Lei Adjetiva Civil, o que põe fim a qualquer confusão. A função do recurso de revista é padronizar o entendimento das leis, zelando pela manutenção do respeito a estas, bem como coibindo eventuais ofensas praticadas pelos Tribunais Regionais do Trabalho. As hipóteses de cabimento do recurso de revista estão presentes no artigo 896 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que ora se transcreve na parte que interessa: Art. 896. Cabe Recurso de Revista para Turma do Tribunal Superior do Trabalho das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em dissídio individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, quando: a) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da que lhe houver dado outro Tribunal Regional, no seu Pleno ou Turma, ou a Seção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, ou à Súmula de Jurisprudência Uniforme dessa Corte; b) derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, Convenção Coletiva de Trabalho, Acordo Coletivo, sentença normativa ou regulamento empresarial de observância obrigatória em área territorial que exceda a jurisdição do Tribunal Regional prolator da decisão recorrida, interpretação divergente, na forma da alínea a; c) proferidas com violação literal de disposição de lei federal ou afronta direta e literal à Constituição Federal. [...]. 37 35 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. 22 ed. atual. até 05/2004. São Paulo: Atlas, 2004, p. 421. 36 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva: 2002, p. 433. 37 BRASIL. Vade mecum acadêmico de direito. Organização de Anne Joyce Angher. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2006, p. 727.

25 O requisito da transcendência, previsto no artigo 896-A, da CLT, não vem sendo exigido para o conhecimento do recurso de revista. Atente-se para a crítica feita por Wagner D. Gíglio a respeito de sua adoção no processo do trabalho: [...] justifica-se a adoção do critério da relevância ou transcendência para a seleção de demandas no processo civil, mas não no processo do trabalho, pois a ocorrência excepcional, naquele, constitui a regra, neste, onde praticamente todas as demandas apresentam transcendência. 38 Assim como nos outros recursos excepcionais, na revista somente se discute matéria de direito, sendo vedado o reexame de questões fáticas, que se exaurem na instância regional, por intermédio do recurso ordinário. 39 Uma diferença que merece ser lembrada em relação ao recurso extraordinário e ao especial é que, ao contrário desses últimos, na revista a parte contrária somente será intimada para apresentar contra-razões caso o recurso seja admitido. Essa medida, segundo Sérgio Pinto Martins 40, poupa tempo às partes, alcançando a prestação de uma justiça mais célere e eficaz. Por fim, observa-se que o prazo para a interposição do recurso de revista é de oito dias, bem menor, portanto, daquele previsto nos recursos extraordinário e especial, em que se permite o manejo do apelo no prazo de quinze dias. 1.5.4. Recurso especial eleitoral As hipóteses de cabimento de recurso para o Tribunal Superior Eleitoral estão descritas no art. 121, 4º, da Constituição Federal. A propósito, confira-se a redação do citado dispositivo: Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais. [...] 4º Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando: 38 GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 12. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva: 2002, p. 439. 39 Cf. ALMEIDA, Ísis de. Manual de direito processual do trabalho. v. 2, 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: LTr, 1998, p. 357. 40 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. 22 ed. atual. até 05/2004. São Paulo: Atlas, 2004, p. 423.

26 I forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei; II ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais; III versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; IV anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais; V denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção. 41 Anota Lília Maria da Cunha Fernandes 42 que, nas hipóteses dos incisos I e II acima listados, será cabível o recurso especial eleitoral REspe. Nas demais, o recurso a ser interposto será o ordinário. A par de estar presente no texto constitucional, também o Código Eleitoral, em seu artigo 276, disciplina as hipóteses de cabimento do recurso especial eleitoral. Veja-se a redação do mencionado dispositivo legal na parte que interessa: Art. 276. As decisões dos Tribunais Regionais são terminativas, salvo os casos seguintes em que cabe recurso para o Tribunal Superior: I - especial: a) quando forem proferidas contra expressa disposição de lei; b) quando ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais. 43 Em consonância com os outros recursos excepcionais, no especial eleitoral é vedada a rediscussão de matéria de fato, exaurindo-se sua apreciação nas instâncias ordinárias. A questão, inclusive, encontra-se referendada pelo enunciado da Súmula 279/TSE. 44 Seguindo a exigüidade de prazo que impera em matéria eleitoral, no especial eleitoral o prazo para interposição de recurso pela parte é de três dias. A contagem se inicia a partir da publicação do acórdão, que pode ocorrer na própria sessão de julgamento, atendendo à celeridade necessária à matéria. 41 BRASIL. Vade mecum acadêmico de direito. Organização de Anne Joyce Angher. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2006, p. 70. 42 FERNANDES, Lília Maria da Cunha. Direito eleitoral. Brasília: Fortium, 2005, p. 83. 43 BRASIL. Vade mecum acadêmico de direito. Organização de Anne Joyce Angher. 3. ed. São Paulo: Rideel, 2006, p. 640. 44 Cf. PINTO, Djalma. Direito eleitoral: improbidade administrativa e responsabilidade fiscal noções gerais. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2006, p. 277.

27 1.6. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito Da mesma forma que para o ajuizamento de uma ação devem ser verificadas certas condições, cuja ausência impede o conhecimento do mérito pelo juiz, também os recursos devem observar alguns requisitos sem os quais não serão apreciados. À atividade por meio da qual o juiz ou Tribunal verifica se se encontram ou não presentes tais requisitos dá-se o nome de juízo de admissibilidade. Caso sejam preenchidos tais pressupostos, passa então o órgão competente a apreciar a pretensão recursal, dando ou negando provimento ao recurso. José Miguel Garcia Medina 45 interposto. indica que aí então se estará fazendo o juízo de mérito do recurso Definindo o que seria o juízo de admissibilidade, Nelson Luiz Pinto 46 esclarece que quando se fala em conhecimento ou não conhecimento do recurso, não se está dizendo que o recorrente tem ou não razão, mas somente que o recurso pode ou não ter o mérito julgado pelo órgão competente. Alude Bernardo Pimentel Souza 47 que no sistema recursal cível vigora a regra de que o juízo de admissibilidade é duplo. Primeiro, incumbe ao órgão de interposição verificar se os requisitos necessários ao julgamento do mérito do recurso foram preenchidos. Em caso positivo, o recurso é encaminhado para o órgão ad quem, ocasião em que novamente serão analisados tais requisitos. Ademais, o órgão julgador não está vinculado à decisão proferida pelo órgão da interposição. É o que apregoam José Carlos Barbosa Moreira 48 e Flávio Cheim Jorge. Na visão desse último doutrinador: [...] o que deve ser ressaltado é que o juízo de admissibilidade exercido pelo juízo é provisório. Isto quer dizer que o tribunal julgador do recurso de apelação não fica vinculado ao resultado do julgamento dos requisitos de admissibilidade proferido pelo órgão a quo. O órgão ad quem fica livre para 45 MEDINA, José Miguel Garcia. O prequestionamento nos recursos extraordinário e especial. 4. ed. rev. e atual. de acordo com a EC 45/04. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 53. 46 PINTO, Nelson Luiz. Manual dos recursos cíveis. 3. ed. amp. e atual. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 49. 47 SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 42. 48 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. v. V, 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 232.

28 apreciar os requisitos, inclusive para, se for o caso, declarar insatisfeito algum requisito já tido como preenchido pelo órgão a quo. 49 Excetuam-se à regra da admissibilidade dupla os agravos e os embargos de declaração, já que em tais espécies recursais os requisitos são apreciados apenas pelo órgão julgador. É esse o entendimento defendido por Nelson Luiz Pinto 50 e por Nelson Nery Júnior 51. O juízo de admissibilidade feito pelo órgão de interposição é responsável pelo recebimento do recurso, caso seja positivo. Nessa fase, não há que se falar em conhecimento, pois essa etapa ocorrerá em momento imediatamente anterior ao julgamento do mérito do mesmo, já pelo órgão julgador do recurso. O juízo de admissibilidade negativo é sempre explícito e deve ser fundamentado para que o recorrente saiba as razões por que seu recurso não teve seguimento e, caso queira, possa interpor outro recurso visando à reapreciação daquele negado. Já o juízo positivo de admissibilidade, no mais das vezes, é implícito, pois, se o órgão julgador adentra de logo ao exame do mérito, significa que os requisitos de admissibilidade foram satisfeitos. 52 Ultrapassado o juízo de admissibilidade do recurso, passa-se então ao exame do mérito do recurso. O provimento do recurso depende da existência de vício na decisão, o qual pode variar entre vício de juízo (error in judicando) e vício de procedimento (error in procedendo). No que tange ao error in judicando, ensina Leônidas Cabral Albuquerque 53 que o vício resulta da má apreciação da matéria de fato ou de direito, ou de ambas. O pedido, então, será de reforma da decisão tida por injusta, que apreciou mal o conjunto probatório ou fez uma incorreta interpretação da lei. 49 JORGE, Flávio Cheim. Apelação cível: teoria geral e admissibilidade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 67. 50 PINTO, Nelson Luiz. Manual dos recursos cíveis. 3. ed. amp. e atual. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 50. 51 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 51. 52 Cf. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. v.. V. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 261. 53 ALBUQUERQUE, Leônidas Cabral. Admissibilidade do recurso especial. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1996, p. 71.

29 Para Bernardo Pimentel Souza 54, caso o recurso envolva vício de juízo, a decisão prolatada pelo órgão julgador substituirá aquela que se busca impugnar. Mesmo na situação de o tribunal ad quem afirmar que confirma a decisão recorrida, haverá a substituição, pois não se pode conceber a coexistência de duas decisões acerca da mesma matéria, com a mesma carga de eficácia. Ressalta Tereza Arruda Alvim Wambier 55 que, na presença de error in procedendo, o que se visa é a anulação da decisão recorrida, com a sua conseqüente cassação, para que outra seja proferida pelo juízo a quo, desta vez sem o vício apontado. A autora ainda ressalta que se o recorrente apontar cumulativamente a existência de error in judicando e error in procedendo, esse último vício deve ser examinado antes daquele. Oportuno relembrar que, presente o error in procedendo, é vedado ao órgão julgador do recurso adentrar no mérito da decisão, pois se assim agir, substituindo o julgamento anterior, tido por viciado, estará suprimindo uma instância e cometendo um novo erro de procedimento. 1.7. Efeitos dos recursos A principal conseqüência comum e natural a todos os recursos, acentua Osmar Mendes Paixão Côrtes 56 é evitar a formação da coisa julgada, a partir da prolongação da pendência da causa, a teor do que dispõe o art. 467 do CPC. Este trabalho se limitará a tratar dos efeitos devolutivo, suspensivo, translativo e substitutivo. Há outros efeitos citados na doutrina 57, mas estes constituem desdobramento do efeito devolutivo. 54 SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 44. Em sua obra, o autor ainda referencia que outros doutrinadores perfilham igual entendimento, a exemplo de Chiovenda e Nelson Nery Júnior. 55 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades da sentença. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 144. 56 CÔRTES, Osmar Mendes Paixão. Recurso extraordinário: origem e desenvolvimento no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 29. 57 Regressivo, expansivo e diferido são outros efeitos estudados por PAVAN, Dorival Renato. Teoria geral dos recursos cíveis. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004, p. 206.

30 1.7.1. Efeito devolutivo O efeito devolutivo, leciona Teresa Celina de Arruda Alvim Wambier 58, é aquele em virtude do qual o conhecimento da matéria é devolvido ao órgão judicante, seja superior àquele do qual emanou a decisão regra em nosso ordenamento jurídico, seja ao próprio órgão prolator da decisão impugnada, tal qual ocorre com os embargos de declaração. Noticia Dorival Renato Pavan 59 que a história do instituto remonta aos tempos em que era do rei a competência originária para julgamento das causas, sendo os juízes prepostos do soberano. Não se conformando com a decisão tomada pelos magistrados, a parte podia pleitear que o rei reexaminasse a questão, ocasião em que a matéria lhe era devolvida para análise. Ressalta ainda Nelson Luiz Pinto 60 que a previsão legal para o efeito devolutivo está localizada no artigo 515 do CPC, que trata especificamente do recurso de apelação, mas deveria constar na parte referente às disposições gerais dos recursos, por ser inerente a todos os recursos. Informa José Carlos Barbosa Moreira 61 que o efeito devolutivo não é pleno em relação a todos os recursos, apresentando-se em intensidade variável de acordo com o âmbito de cabimento do recurso. De acordo com Nelson Nery Júnior 62, nos recursos de fundamentação livre o recorrente pode provocar o reexame de toda matéria agitada no juízo a quo. Em outros casos, o âmbito de devolutividade é restrito. Como exemplo, tem-se o recurso especial, que tem devolutividade limitada às hipóteses mencionadas no inciso III do artigo 105 da Constituição Federal. 58 WAMBIER, Teresa Celina de Arruda Alvim. Teoria geral dos recursos. Revista do Processo. São Paulo. v. 15, nº. 58, p. 150-156, abr-jun de 1990, p. 156. 59 PAVAN, Dorival Renato. Teoria geral dos recursos cíveis. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004, p. 189. 60 PINTO, Nelson Luiz. Manual dos recursos cíveis. 3. ed. amp. e atual. 2. tir. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 39. 61 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. v. V, 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 530. 62 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 373.