Álvaro de Campos POESIA edição Teresa Rita Lopes ASSÍRIO & ALVIM
NOTA PRÉVIA Esta edição reúne todos os poemas de Campos (por ele assinados ou a ele atribuíveis) já por mim anteriormente publicados em Álvaro de Campos, Livro de Versos, Lisboa, ed. Estampa, 1993 (3.ª edição: 1997), com exceção de três inéditos que o nosso parceiro nestas lides pessoanas, Richard Zenith, encontrou nas suas incansáveis incursões pela «arca». Bem-haja! por isso e por outras preciosas ajudas na fixação do texto. Agradeço particularmente a Manuela Parreira da Silva pela preciosa colaboração que me prestou nesta edição, como, aliás, na anterior. Para Luísa Medeiros também o meu muito obrigada pelo apoio recebido. O Francisco Silva Gomes, a Ana Freitas e a Inês Alves Mendes ajudaram-me generosa e eficazmente nas últimas leituras à cata dos erros mais relapsos: para eles a minha terna gratidão. Pretendo fornecer ao leitor, na Apresentação que se segue, «Este Campos», elementos que enriqueçam o seu entendimento e fruição do texto. Justifico, com esse objetivo, a minha ordenação dos poemas neste livro, respeitando a dimensão ficcional que Pessoa encarou dar-lhe (o que, até aqui, nenhuma outra edição fez). No Posfácio, «Campos e a Tradição», darei sobretudo notícias das anteriores edições que nos têm dado a conhecer Álvaro de Campos e de como o têm feito. Em notas de rodapé serão fixadas as variantes que Pessoa encarou para o seu texto, isto é: palavra(s) acrescentada(s) por ele sobre, a seguir, entre parêntesis ou ao lado, na margem, 7
numa releitura do texto ou no próprio momento da sua escrita sem, contudo, riscar a(s) palavra(s) assim posta(s) em causa. Não aceito o procedimento de alguns editores que substituem essa(s) palavra(s) na linha corrida pela variante que decidem eleger, por razões que adiante exprimirei. Faço, contudo, questão de fornecer ao leitor essas alternativas que, lidas paralelamente ao texto, ampliam o seu alcance. A permanente insatisfação de Pessoa em relação ao seu texto exprime-se também assinalando a(s) palavra(s) ou passagem que considera de redação provisória procedimento de que dou notícia nas notas finais. Serão igualmente fornecidas, no final, as seguintes informações: cota do original constante no Espólio Fernando Pessoa, depositado na Biblioteca Nacional, ou indicação da proveniência do texto que serviu de base a esta publicação; situação do testemunho transcrito: manuscrito [Ms.], dactiloscrito [Dact.] ou misto, isto é, dactiloscrito com acrescentos manuscritos [misto]; se a atribuição a Campos não foi expressa por Pessoa: [s. atrib.]; se o título do poema não foi indicado para identificar os fragmentos das «grandes odes» de Campos Sensacionista: [s. tit.]; todos os esclarecimentos julgados oportunos, para que remetem os asteriscos assim como a numeração aposta a alguns versos. As datas dos poemas, reais ou fictícias, sempre que expressas, vêm indicadas no final do poema. As minhas intervenções no corpo do texto, devidamente justificadas nas notas finais, serão sempre apresentadas entre parêntesis retos. 8
A ortografia dos textos foi atualizada. Corrigi omissões e lapsos evidentes de redação e pontuação e desdobrei as abreviaturas óbvias. Os versos numerados remetem para uma nota, de rodapé ou final. Chave de Símbolos e Abreviaturas Usados na Fixação do Texto e nas Notas espaço deixado em branco pelo autor [.] palavra ilegível (a cada palavra corresponde um ponto) [??] leitura conjeturada Dact. texto dactilografado EC Edição Crítica de Fernando Pessoa, II, Série maior: Poemas de Álvaro de Campos, ed. Cleonice Berardinelli, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1990 Ined. texto inédito LV Álvaro de Campos, Livro de Versos, edição crítica de Te re sa Rita Lopes, Lisboa, Editorial Estampa, 1993 (3.ª ed., 1997) Ms. texto manuscrito p. página 9
PPC Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer, volumes I e II, Lisboa, Editorial Estampa, 1990 r reto s. atrib. sem atribuição de autoria s. tit. sem título T. seguido de número remete para o texto assim numerado v verso (da página) V. volume vv. versos var. variante VO Vida e Obras do Engenheiro Álvaro de Campos, ed. de Teresa Rita Lopes, 1.ª edição, Lisboa, Editorial Estampa, 1990 (2.ª edição, 1991) 10
15 Ah, os primeiros minutos nos cafés de novas cidades! A chegada pela manhã a cais ou a gares Cheios de um silêncio repousado e claro! Os primeiros passantes nas ruas das cidades a que se chega E o som especial que o correr das horas tem nas viagens Os ómnibus ou os elétricos ou os automóveis O novo aspeto das ruas de novas terras A paz que parecem ter para a nossa dor O bulício alegre para a nossa tristeza A falta de monotonia para o nosso coração cansado! As praças nitidamente quadradas e grandes, As ruas com as casas que se aproximam ao fim, As ruas transversais revelando súbitos interesses, E através disto tudo, como uma coisa que inunda e nunca transborda, O movimento, o movimento Rápida coisa colorida e humana que passa e fica Os portos com navios parados, Excessivamente navios parados, Com barcos pequenos ao pé, esperando 104