Registro: 2015.0000404655 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0001681-05.1995.8.26.0091, da Comarca de Mogi das Cruzes, em que é apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE MOGI DAS CRUZES, é apelado MITRA DIOCESANA DE MOGI DAS CRUZES. ACORDAM, em 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PERCIVAL NOGUEIRA (Presidente sem voto), PAULO ALCIDES E EDUARDO SÁ PINTO SANDEVILLE., 11 de junho de 2015 FORTES BARBOSA RELATOR Assinatura Eletrônica
Apelação: 0001681-05.1995.8.26.0091 Apelante: Prefeitura Municipal de Mogi Cruzes Apelada: Mitra Diocesana de Mogi das Cruzes Interessados: Espólio de João Tabarelli e outro Voto 8546 EMENTA Usucapião extraordinária Procedência Invasão de área municipal Não comprovação Prova pericial Loteamento anterior à vigência da Lei Municipal 3.361/88, de Mogi das Cruzes Cruzamento de vias públicas - Raio de seis metros Curvatura nas esquinas - Desnecessidade - Apelo desprovido. Cuida-se de recurso de apelação interposto contra sentença emitida pelo r. Juízo de Direito da Vara da Fazenda Pública da Comarca de Mogi das Cruzes, que julgou procedente ação de usucapião, declarando, em favor da autora, o domínio da área objeto da ação (fls. 413/417). O apelante afirma que a Lei Municipal 3.361/88 determina, em seu artigo 2º, que, para loteamentos implantados antes de sua vigência, nos cruzamentos de vias públicas, deverão ser adotadas curvas com raio mínimo de seis metros, razão pela qual deve ser excluída do terreno usucapiendo a denominada área de gola, estabelecendo-se curva com raio na metragem acima referida. Pretende reforma (fls. 422/424). Em contrarrazões, a apelada pede a manutenção da sentença (fls. 431/433). Foi colhido parecer ministerial (fls. Apelação nº 0001681-05.1995.8.26.0091 - Mogi das Cruzes - VOTO Nº 8546-2/6
437/439). É o relatório. Na presente demanda, ajuizada em 1º de agosto de 1995 (fls. 02), a Mitra Diocesana de Mogi das Cruzes objetiva a declaração do domínio, em razão de prescrição aquisitiva, sobre o terreno situado na Rua Nito Sona, 2175, Distrito de Jundiapeba, Município e Comarca de Mogi das Cruzes. Noticia que referido terreno decorreu de unificação de quatro lotes, compondo o "Loteamento Santo Ângelo", inicialmente prometido à venda a Carlos Chiari e Palmyra Chiari. Aduz que os promitentes compradores cederam à Paróquia de São José, localizada em referida comarca, os direitos sobre esses lotes. Sustenta ser legítima possuidora do imóvel, exercendo posse mansa e pacífica há mais de vinte anos (fls. 03/04). Foram citados por edital Lourenço de Souza Franco e Manoel Alves dos Anjos (fls. 32, 69, 72). A Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes, informou que não existe levantamento para implantação de projeto sobre a área em questão, a qual não envolve áreas municipais (fls. 40). A Fazenda do Estado manifestou desinteresse no presente feito (fls. 47). A União pugnou pela remessa dos autos à Justiça Federal (fls. 91/98). O confrontante João Tabarelli, citado (fls. 49), não se opôs ao pedido (fls. 50/51). Depois de realizada perícia e retificada Apelação nº 0001681-05.1995.8.26.0091 - Mogi das Cruzes - VOTO Nº 8546-3/6
a área usucapienda (fls. 187/199 e 214/215), os Primeiro e Segundo Registros de Imóvel da Comarca de Mogi das Cruzes informaram que o imóvel usucapiendo não possui transcrição ou matrícula (fls. 154/158, 230/236 e 240/241). Renovadas as citações e intimações, a União e a Fazenda do Estado manifestaram desinteresse na causa (fls. 304/309). O confrontante Espólio de João Tabarelli não se opôs ao pedido (fls. 266/267). A Municipalidade de Mogi das Cruzes sustentou que o terreno em questão invade áreas municipais, pois não foram observados o raio de seis metros e a necessidade de curvatura nas esquinas, conforme estabelece o artigo 2º da Lei Municipal 3.361/88 (fls. 269/271). Os demais interessados foram citados por edital (fls. 268, 288/290) e o Curador Especial ofertou contestação por negativa geral (fls. 340/342 e 372/376). Depois de esclarecimentos periciais (fls. 389/392), a sentença apelada julgou procedente a ação. A apelante pretende reforma, reiterando a alegação de que o imóvel usucapiendo invade áreas públicas municipais, pois não respeita o raio de 6,00 m (seis metros) para a esquina, conforme dispõe o artigo 2º da Lei Municipal nº 3.361/88. O apelo, porém, não comporta provimento. De início, observa-se que, em 12 de setembro de 1974, portanto, mais de vinte anos Apelação nº 0001681-05.1995.8.26.0091 - Mogi das Cruzes - VOTO Nº 8546-4/6
antes do ajuizamento da presente ação (fls. 02), a apelante expediu certidão na qual reconhece que a apelada construiu um templo religioso no terreno usucapiendo, estando quite com os cofres públicos municipais (fls. 65). Destarte, a apelante comprovou posse apta a caracterizar a prescrição aquisitiva, razão pela qual a ação foi julgada procedente. No mais, a prova pericial, depois de constatar que a área objeto de usucapião é proveniente de loteamentos existentes antes da vigência da referida Lei Municipal, conforme autorização Municipal (Alvará 8.916/74), conclui que, "no caso, não consta neste projeto deste loteamento, já implantado, a obrigatoriedade de "curva" nos imóveis situados nas esquinas e que o cruzamento das vias foram implantados o passeio, guia e sarjetas, bem como a pavimentação com as suas curvas de concordância sem a apresentação de contestação". (fls. 392). A perita ponderou, ademais, que, em referido loteamento, não foi implantada curvatura de concordância nos cruzamentos das vias e o próprio diploma legal referido ressalva que os cruzamentos provenientes de loteamento existentes antes de sua vigência poderão ser concordados com as curvas de raios especificados nos respectivos projetos, e na falta destes, deverão ser adotadas para concordância curvas com raio mínimo de 6,00 (seis metros) (fls. 389). Não se pode cogitar da aplicação da lei Apelação nº 0001681-05.1995.8.26.0091 - Mogi das Cruzes - VOTO Nº 8546-5/6
municipal posterior e datada de 1988 sobre uma situação fática estabelecida anteriormente, no ano de 1974, considerado, principalmente, o princípio da irretroatividade (artigo 5º, inciso XXXVI da vigente Constituição da República; artigo 153, 3º da Constituição de 1967, com o texto da Emenda Constitucional 1/1969). A insurgência da apelante, portanto, é descabida. Por fim, comprovada a posse mansa e pacífica da autora por mais de 20 (vinte) anos, com "animus domini", de rigor a procedência do pedido. Tudo somado, nenhum reparo merece a sentença apelada. Nega-se, por isso, provimento ao apelo. Fortes Barbosa Relator Apelação nº 0001681-05.1995.8.26.0091 - Mogi das Cruzes - VOTO Nº 8546-6/6